quarta-feira, 30 de julho de 2014

Paraná precisa triplicar ensino integral

publicado: gazeta do povo

No Centro de Educação Integral Ulysses Silveira Guimarães, 570 crianças estudam das 8 às 17 horas todos os dias

Metade das escolas deve ofertar, por dia, ao menos 7 horas de atividade escolar para 25% dos alunos, segundo meta do Plano Nacional de Educação
O Paraná terá de quase triplicar a oferta de vagas no ensino fundamental em tempo integral para cumprir o que foi estabelecido pelo Plano Nacional de Educação (PNE). Se mantiver o ritmo atual, com base nos dados do Censo Escolar da Educação Básica 2013, o estado levará 19,5 anos para cumprir o que o PNE prevê para uma década: ter 25% dos estudantes da educação básica estudando em tempo integral distribuídos em 50% das escolas públicas. Isso significa criar, em média, 21,7 mil vagas por ano. Para ser considerada educação em tempo integral, os estudantes precisam ter uma jornada de no mínimo 7 horas diárias. Na educação regular, são apenas 4 horas por dia de atividades na escola.

Hoje passam o dia todo na escola 114,3 mil estudantes paranaenses de escolas públicas, ou 121,6 mil se consideradas também as matrículas das particulares, em diferentes modelos de atendimento em tempo integral. Enquanto essa existência de diversos modelos garante uma diversidade que pode ser interessante para preservar a cultura de cada localidade, ela também demonstra uma dificuldade enfrentada na educação integral. Há um clima de indefinição a respeito do que deve fazer parte da nova rotina dos estudantes nessa ampliação de jornada. Não há legislação específica ou qualquer tipo de fórmula que norteie os gestores municipais ou estaduais e a própria comunidade escolar.

Essa indefinição é um dos fatores que torna difícil o caminho para o cumprimento da meta, segundo o professor e pesquisador Angelo Souza, membro do Núcleo de Pesquisa em Políticas Educacionais da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Ele considera ousado ter um quarto dos alunos estudando em tempo integral até 2024, algo que também exige recursos para uma grande ampliação física. “Não temos clareza no Brasil e tampouco no Paraná sobre o que queremos com a educação em tempo integral. E deixar a criança na escola por mais tempo, sem um projeto de formação educativo mais sólido, não faz sentido nenhum”, diz.

Já o especialista em educação Ricardo Falzetta, gerente de conteúdo da organização Todos pela Educação, defende que a meta do PNE foi construída com timidez. Embora considere o caminho da ampliação da educação em tempo integral desafiante, para Falzetta a meta poderia ter ido além. “Estudos mostram que aumentar a exposição de alunos a situações de ensino, que é o que se espera com o tempo integral na escola, melhora o desempenho desses alunos. A meta poderia ser mais ousada. Apenas 25% dos alunos em dez anos é uma determinação muito tímida”, afirma. Confira no quadro ao lado como estão distribuídas as vagas na educação em tempo integral no Brasil e o quanto o Paraná precisa avançar para atingir a meta do PNE.

Curitiba já bateu a meta e quer reorganizar rede
Cerca de 70% dos alunos paranaenses que passam o dia na escola são da rede municipal. Em Curitiba, as escolas de tempo integral existem há 27 anos. Segundo Marcelo Yudi Kimora, gerente da educação em tempo integral da Secretaria Municipal de Educação, a capital paranaense já ultrapassou a meta do PNE de ter ao menos 25% dos estudantes em tempo integral, e deve continuar expandindo essa oferta. Contudo, o momento não é de ampliação de escolas, mas de reorganização, diz Letícia Mara de Meira, diretora do departamento de ensino fundamental.

“Hoje temos uma estrutura física eclética e escolas que foram concebidas de forma diferente ao longo de diferentes gestões. Então estamos reorganizando o tempo e os espaços, o trabalho pedagógico e a distribuição das atividades das crianças para que elas não cansem. Também estamos formando profissionais para atender de forma integral, pois não é replicar o que faz pela manhã e fazer o mesmo à tarde, temos de melhorar a qualidade do ensino”, explica Letícia.

Ela afirma que também está sendo feito o estudo da demanda pelo ensino integral e a análise do que está funcionando melhor em cada região. “A demanda pela educação em tempo integral é oscilante, depende da organização da família e da localização da escola. Tem pai que prefere que o filho faça inglês à tarde e outras atividades, então temos de avaliar para oferecer a quem tem necessidade.”

Recentemente, uma iniciativa da secretaria facilitou a vida de muitas famílias, que passaram a ter mais condições de aderir ao ensino em tempo integral. “Em julho começamos a oferecer transporte da escola à unidade de educação integral, o que antes tinha de ser feito pelos pais e, com isso, aumentou o interesse das famílias em matricular as crianças no período integral”, completa Kimora.



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