quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Comentários preconceituosos contra nordestinos na web podem ser punidos, diz ONG


Andreia Verdélio - Repórter da Agência Brasil Edição: Fábio Massalli

Assim que o resultado das eleições presidenciais foi divulgado, às 20h de ontem (26), os comentários sobre a participação dos votos do Nordeste na vitória da candidata do PT, Dilma Rousseff, começaram a surgir nas redes sociais. Segundo o diretor-presidente da organização não governamental (ONG) SaferNet Brasil, Thiago Tavares, as páginas na internet e nas redes sociais que têm violações aos direitos humanos serão investigadas e seus autores poderão ser punidos. Tavares explica que, assim como quem cria, quem compartilha um conteúdo de ódio e preconceito também pode ser responsabilizado criminalmente.

Tavares, que é professor de direito da informática da Universidade Católica de Salvador, disse hoje (25) que, desde ontem, a ONG recebeu 421 denúncias referentes a 305 novas páginas nas redes sociais, especialmente no Twitter e no Facebook, com o objetivo de promover o ódio e a discriminação contra a população de origem nordestina. “Lamentavelmente, tudo indica que hoje essas manifestações devem continuar crescendo e ao longo desta semana também”, disse o professor.

As denúncias feitas após a divulgação do resultado do segundo turno são 342,03% maiores em relação àquelas recebidas no dia 5 de outubro, do primeiro turno das eleições. E, segundo Tavares, 662,5% maiores em relação às no dia 26 de outubro de 2013, fora do contexto eleitoral. Tavares diz que as pessoas precisam valorizar a diversidade e respeitar os direitos humanos. “Mas, diante de uma campanha tão polarizada e tão radicalizada, é difícil muitas vezes conter o ímpeto de alguns usuários que resolvem descarregar nas redes sociais as suas frustrações e todo seu preconceito em relação à população nordestina”, disse.


A ONG foi criada em 2005 com foco na defesa dos direitos humanos na internet e é operada em parceria com a Polícia Federal e o Ministério Público Federal. As denúncias podem ser feitas de forma anônima na página da SaferNet, apenas copiando o link da página que tem a violação.A Lei 7.716, de 1989, pune, com pena que pode chegar a cinco anos de reclusão, aquele que utiliza os meios de comunicação social, como a internet, para promover o ódio e a discriminação em razão da raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.Para Tavares, o mais preocupante é que existem usuários que não são tipicamente criminosos, mas compartilham mensagens de ódio que muitas vezes são postadas “por grupos de extrema direita, de orientação neonazista, inclusive, que se sentem legitimados, fortalecidos e encorajados em momentos como este e encontram nesses eleitores inconformados uma espécie de instrumento para propagar esse tipo de mensagem de ódio e desestabilizar o

Para o professor do Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília, Sadi Dal Rosso, algumas pessoas acusam os nordestinos de votar apenas por causa de algum benefício financeiro que recebam do governo, sem se preocupar com o projeto social como um todo. “O governo agora tem esse papel de dialogar, há um laço comum no país, até porque a Dilma [Rousseff] teve votos de Norte a Sul. Não há desunião no país, mas questões ideológicas que debatemos quando o ‘sangue sobe à cabeça’; ações concretas para elevar as condições de vida da população são importantes, políticas reais e afirmativas para diluir essas questões”, disse o sociólogo.

Para Dal Rosso seria problemático se surgissem movimentos de rua truculentos, como alguns que atuaram nas manifestações de junho de 2013, mas ele diz que já viu um usuário pedindo desculpas nas redes sociais por ter usado “expressões muito duras”, reconhecendo os exageros, o que, para ele, indica que o clima pode estar esfriando.

Segundo Thiago Tavares, da SaferNet, há dois exemplos emblemáticos de crime de ódio na internet. “Nas eleições de 2010, a estudante de direito da Universidade Mackenzie, Mayara Petruso, de 21 anos, declarou no Twitter, logo que saiu o resultado, que os usuários da rede deveriam fazer um favor a São Paulo e matar um nordestino afogado. Em razão dessa mensagem, ela foi condenada pela Justiça Federal, perdeu o estágio, teve que prestar serviço comunitário, pagar multa, o que gerou um transtorno para a vida dela”, contou.

O outro caso aconteceu nas eleições deste ano. Segundo Tavares, uma auditora do Trabalho da Bahia foi indiciada por usar as redes sociais para pregar a violência física e o ódio contra nordestinos. “Os casos estão começando a chegar ao Judiciário e ele tem se pronunciado no sentido de condenar as pessoas que tem usado a internet para essa finalidade”, completou.

Indígenas reivindicam que Educação respeite suas identidades culturais

Da Agência Brasil Edição: Marcos Chagas
Mais de 100 professores indígenas, representando 49 etnias de todas as regiões do país, se reuniram, hoje (29), na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, em Brasília, para o lançamento do Manifesto sobre a Educação Escolar Indígena no Brasil – Por uma Educação Descolonial e Libertadora. A intenção é reforçar o direito a educação específica para esses povos e dar visibilidade à importância que os processos de educação próprios dos indígenas têm na manutenção e preservação de sua cultura e identidade.

De acordo com Eunice Dias de Paula, missionária do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), para que a preservação desse universo sociocultural dos indígenas seja possível é importante a presença de uma pessoa que transmita, no papel de professor, a cultura daquele povo baseado na vivência e experiência autêntica. "Um professor indígena é fundamental para essa escola funcionar, porque ele faz parte daquela cultura”."Hoje, o projeto que é apresentado para as escolas das comunidades indígenas é idêntico ao apresentado para o sistema não indígena. Isso não é bom para gente porque a gente perde nossos valores, destratando nossa própria identidade cultural, nossas crenças e religiões”, ressalta Flauberth Guajajara, professor e representante da etnia Guajajara, do Maranhão.

Dados divulgados em 2012, pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), apontam que a realidade é diferente. O quadro que compõe as 2.954 escolas indígenas, distribuídas em 26 estados, a maioria dos professores é representado por pessoas que não fazem parte daquela sociedade. Os indígenas professores são 7.321 de um total de 15.289, menos da metade.

Eunice avalia que essa situação é reflexo de um desrespeito dos governos, principalmente os estaduais. "No MEC [Ministério da Educação] tem o setor da diversidade onde o pessoal faz força para que o respeito às leis sejam implementadas. O problema todo é que a responsabilidade da educação escolar indígena ficou para os estados e dentro dos estados isso não se efetiva”, ressalta.

Em busca do equilíbrio, Criolo lança single e se diz feliz por estar vivo

Leonardo Rodrigues
Do UOL, em São Paulo
Robert Astley Sparke

Aos 39 anos, Criolo é um sujeito que prima pela gratidão. Dá graças ao rap, por ter lhe ensinado tudo na música, aos fãs, que abarrotam e dão ares messiânicos a suas apresentações, à chance de ter virado parceiro de ícones da MPB, como Milton Nascimento, Caetano e Tom Zé, e, principalmente, por estar vivo, em plena atividade.

"Segundo os noticiários do final da década de 1980, início da década de 1990, eu, um jovem que nasci onde nasci, com os pais que tinha, não passaria dos 13, por subnutrição, ou dos 17, por violência urbana. Isso para termos um pouco de poesia, para não falarmos de outra forma", afirma o músico, que recebeu a reportagem doUOL na sede de seu selo, Oloko Records, em uma pacata casa de vila na Vila Ipojuca, bairro da zona oeste de São Paulo.

Voz da renovação do rap na atualidade, Criolo lança nesta quarta (29) a primeira faixa de seu novo álbum, a incisiva "Convoque Seu Buda". Assim como versa na música, ele vive uma espécie de momento "zen", de busca constante pelo equilíbrio e pela comunhão das forças positivas. É essa a mensagem otimista por trás da faixa. Mas experimente dizer isso a ele.

"Isso aí é vocês que vão avaliar. A gente nunca sabe. Às vezes uma coisa que eu acredito que seja de um jeito você vai ouvir e enxergar de outro. Mas a ideia é de que todos nós temos uma força interna para gerar coisas boas", entende o mestre das rinhas de MCs e das relativizações.

Gravado logo após a Copa do Mundo, o terceiro disco cheio de Criolo dá continuidade às ideias do predecessor, "Nó na Orelha" (2011), que expandiu as fronteiras do rap e fez da antibalada "Não Existe Amor em SP" um hino contemporâneo. Os parceiros Daniel Ganjaman e Marcelo Cabral ("sem eles o disco não existiria") estão novamente no comando da mesa de som –e também dos ensinamentos de vida.

Uma eventual responsabilidade de repetir o êxito do segundo disco é algo que simplesmente não pesa no ombros de Criolo. "É natural", como costuma sempre frisar. Com maior participação dos músicos, revela ele, o mix cederá espaço às rimas, ao reggae, ao samba, ao afrobeat e a tudo mais que caiba em seu intrincado --e por vezes indecifrável-- fluxo de consciência.

É um desafio cognitivo entrevistar a esfinge Criolo, que parece musicar a realidade até comentando sobre o tempo ou sobre si mesmo. "É muito louco. Porque cria-se a expectativa de que eu fale 'como eu estou bem' hoje. Mas, de dez anos para cá, o número de pessoas falando que eu sou extremamente estranho, errado, maluco, e tanta coisa que eu jamais imaginei de que eu seria taxado, aumentou. Então deixe que elas digam."

Leia os principais trechos da entrevista.

UOL - Quem é o seu Buda de "Convoque Seu Buda"? Por que convocá-lo?

Criolo - É uma paz interior. Procurar o equilíbrio, algo positivo dentro de você. Porque, se a gente for deixar se levar por tudo que está acontecendo todos os dias, só vai fortalecer as coisas negativas. A gente vai perder totalmente a esperança na humanidade.

A música ou o novo disco, então, vêm com uma mensagem otimista?

Não sei. Isso aí é vocês que vão avaliar. A gente nunca sabe. Às vezes uma coisa que eu acredito que seja de um jeito você vai ouvir e exergar de outro. Mas a ideia é de que todos nós temos uma força interna para gerar coisas boas.

O disco tem um conceito ou foi composto de forma natural?

Foi tudo natural. Mas acredito que o que contribui para ter uma unidade é a genialidade do Marcelo Cabral e do Daniel Ganjaman. Sem esses dois amigos, certeza absoluta de que não existiria esse disco.

Que tipo de contribuição eles dão?

Cresço muito como pessoa. A gente fica mais tempo com eles na estrada e com os músicos todos do que com a família. São bons amigos, me dão bons conselhos. E mostram onde eu posso melhorar. O que eu estou errando. O que eu estou devendo. O que posso melhorar no trabalho. No dia a dia. Além dessa contribuição de uma amizade sincera, a contribuição do modo como eles enxergam a música. Eles têm olhos muito diferentes.

Quais são as principais diferenças entre "Convoque Seu Buda" e o "Nó na Orelha"?

É justamente ter a felicidade de uma maior participação dos músicos. Além de ter o Marcelo e Daniel capitaneando a direção musical e norteando o lance, a gente teve um momento muito feliz de juntar a banda toda em estúdio e levantar coisas do zero. Todos juntos. Isso para mim foi muito importante. Principal lance desse disco.

E em termos de sonoridade, quais são as diferenças?

É difícil eu te falar isso. Mas houve a oportunidade de ter o sotaque do guitarrista, do Guilherme Held, que é maravilhoso. A oportunidade de ter o [percussionista] Maurício Badé tendo liberdade maior de atuação. O [saxofonista] Thiago França gentilmente participou dessa turma e concebeu arranjos maravilhosos. Sérgio Machado livre, livre com sua bateria. Tem mais temperos ali desses gênios. Desses caras que eu considero tanto.

A música "Convoque Seu Buda" tem uma letra direta, fala de "humilhação demais que não cabe nesse refrão". Foi uma preocupação falar assim nesse momento, em tempos de eleições?

Acontece naturalmente. A construção de texto se dá de modo natural. Às vezes vem dessa forma, direta. Às vezes vem com algum trocadilho. Ou com alguma coisa que você lembrou que sua mãe falou, alguma coisa que você escutou não sei onde. E, quando você vai ver, são um conjunto de coisas que estavam na sua cabeça e que saiu de outro jeito.

Além de se tornar cada vez mais eclético musicalmente, você vem fazendo parcerias com grandes nomes da música brasileira. Caetano, Ney, Milton, Tom Zé. O Criolo está se tornando "MPB"?

Deixo as pessoas à vontade para dar sua opinião. Acho que isso é o mais maravilhoso que existe. [Ser chamado de MPB] Não incomoda, imagina. É maravilhoso.

Você se formou no universo no rap de São Paulo, mas também ouvia MPB? Caetano, por exemplo?

O que todo o mundo escutava. O que tocava no rádio. O que era tema de novela. Nada, infelizmente, falo isso com pesar, de ter alguém que tivesse chegado em você e te dado dois, três discos de um cara. Ou te indicar. Ou te dar a fita cassete --na época, era a fita cassete. A gente não tinha essa felicidade, que muita gente tem. Hoje você conversa com um jovem, ou alguém da nossa idade, chegando aos 40. Ele sabe te falar o nome do álbum, o nome do baixista, do cara que produziu. E acho isso lindo. Um trabalho de pesquisa, mas que é natural. Já vem da cultura de uma pessoa. A gente escutava o que o rádio AM pegava. E mesmo assim não tinha muito tempo, porque tinha que fazer o carreto na feira, ou tinha que ajudar o pai não sei onde. Tinha que varrer a casa porque a mãe estava chegando do trabalho. Senão ela ficava louca. São rotinas diferentes para cada tipo de criança de cada lugar do Brasil.
O Milton é meu amigão. Ao mesmo tempo que é tudo isso e é meu colega, que eu dou um bom dia, boa tarde, boa noite, a gente conversa de alguma coisa. A gente celebra essa felicidade. Não só ele, mas Caetano também. É sempre uma festa quando encontro com Ney. São pessoas muito simples.Criolo

Você acabou de fazer uma turnê com o Milton Nascimento. O que você aprendeu com ele?

Olha que honra! A convite dele. Uma tour com Milton Nascimento. Um orixá (pausa). O que aprendi dele, logo de cara, é o quanto o ser humano pode ser solidário. A forma como ele deixa que as pessoas se aproximem dele. Onde já se viu? Eu, que nunca estudei música, que não sei tocar um instrumento, que desafino mil vezes num show de uma hora e meia, ter a honra de ser convidado por Milton Nascimento para tocar com ele? É ter a generosidade de perceber que as histórias também se encontram. E que música é também para celebrar encontros e passar essas histórias para frente. Possibilidades para frente.

Ney, Tom e Caetano também te passaram esse tipo de mensagem?

Cada um passa de um jeito. Mas isso também. E não só essa generosidade. A genialidade, a simplicidade deles. O modo como eles enxergam o mundo, como cada um conduziu sua vida. Uma vida de trabalho.

Milton Nascimento e Criolo (Rio de Janeiro - Setembro/2014)13 fotos8 / 13
12.set.2014 - Após o susto há duas semanas, Milton apareceu mais solto. Dançava com os movimentos limitados, mas, ainda assim, sorridente. Recebeu abraços e beijos de Criolo e da novata Julia Vargas, que fez participação especial no show -- e foi responsável por um dos pontos altos, ao soltar o vozeirão com o cantor em "Caxangá". Sobrou energia em um show sem percalços.André Lobo/UOL

Como foi ver o Milton passando mal ali do seu lado, em um show em São Paulo, que precisou ser interrompido?

Eu me senti triste, né? Em 50 anos de carreira dele isso nunca tinha acontecido. Eu estava ali do lado do mestre, vendo aquele senhor do mundo pedir uma pausa. Você respira fundo, procura ali naquela hora ver a melhor forma de não atrapalhar, já que tinha toda uma equipe cuidando dele do modo mais carinhoso possível.

Felizmente foi apenas um susto.

Ele está maravilhoso. Retomamos [a turnê] de um jeito lindo. Fomos ao Rio de Janeiro, depois viemos aqui para São Paulo, em dois dias. Foi muito maravilhoso. Você vê um homem daquele, com a idade que tem, por tudo que já passou na vida, abrir um sorriso e ficar olhando na agenda a data que ele tem para cantar, que a felicidade dele é estar no palco. É maravilhoso, uma lição de vida para todos nós.

O Milton é meu amigão. Ao mesmo tempo que é tudo isso, é meu colega, a quem eu dou um bom dia, boa tarde, boa noite, a gente conversa de alguma coisa. A gente celebra essa felicidade. Não só ele, mas Caetano também. É sempre uma festa quando encontro com Ney. São pessoas muito simples.

Você abriu o show do Stevie Wonder no ano passado, em São Paulo, e era impressionante ver sua entrega no palco. Em alguns momentos, parecia um transe, uma catarse.

Porque, cara, passei por umas coisas na vida muito… (pausa). Enfim. Todos os brasileiros têm uma história para contar. Isso não nos faz melhores nem piores do que ninguém. Nossa realidade vigente, na nação. Mas, cara, quando eu subo no palco, passa muita coisa na cabeça. Eu tenho 39 anos de idade agora. Segundo os noticiários do final da década de 1980, início da década de 1990, eu, um jovem que nasci onde nasci, com os pais que tinha, não passaria dos 13, por subnutrição, ou dos 17, por violência urbana. Isso para termos um pouco de poesia, para não falarmos de outra forma.

Chegar aos 39 anos de idade, poder subir em um palco, ser convidado para cantar sobretudo em um evento tão grande, com um grande mestre, maravilhoso, que tive a oportunidade de conhecer. Então emociona muito. Você tem que fazer valer o esforço de todas as pessoas que lhe estenderam a mão.

Quando foi lançado, o "Nó na Orelha" (2011), seu segundo disco, o primeiro a fazer grande sucesso, você já tinha 35 anos. Chegar a um auge artístico com essa idade trouxe alguma vantagem?

Não sei, porque talvez minha cabeça poderia estar melhor quando eu tinha 20. Não teria tanto contato com frustração e seria um jovem cheio de esperança. Teria escrito outras coisas, agido de outra forma. Teria dado outras cores à minha vida. Nunca dá para saber.

Em entrevista ao UOL em agosto você disse que precisava aprender a se comunicar melhor. Você tem pensado nisso?

Não. Foi só um papo que eu tive na época e que me veio em mente. Todas as vezes que as pessoas citam situações para determinados lances, eu falo essa real, né? Acho que todo o mundo tem que aprender a se comunicar melhor. Ou não. Ou todo o mundo tem que entender o outro como ele é. Já seria um bom caminho. Porque senão a gente vai ficar se cobrando sempre por uma questão do outro. O que é se comunicar melhor? Às vezes ficando em silêncio você acaba escolhido na dinâmica pra vaga na firma, né? Aquele que ficou em silêncio é o misterioso, incógnita, não deu bola fora. Vai da cara de quem está te avaliando. Porque, se formos pensar que, a todo segundo, você está sendo avaliado, aí fica meio triste o lance.

Tem gente que fala que você tem um papo meio maluco, né? Tem algo a dizer a essas pessoas?

Nada. Opinião delas. Só de saber que eu existo no cotidiano delas por cinco minutos a ponto de ela fazer uma análise sobre o meu psicológico é uma grande honra. Normal quem é?



Se você quiser desbravar o deserto, você tem que saber como é o deserto minimamente. Ou não, ou apenas ir, saber como é o deserto. Aí, quando você voltar desse deserto, se você voltar, você vai perceber que existem muitas coisas por lá e todas essas coisas são você. Agora, como a gente consegue transportar essa linha de pensamento para uma condição de como se enxerga a política hoje? Estamos em um deserto? É tudo coisa da nossa cabeça? Da cabeça de alguém que colocou na nossa cabeça, nas cabeças dos nossos pais? Onde eu estou nisso tudo?Criolo

Sua cabeça está melhor hoje?

Não sei, cara, como vou saber? É muito louco. Porque cria-se a expectativa de que eu fale "como eu estou bem" hoje. Mas, de dez anos para cá, o número de pessoas falando que eu sou extremamente estranho, errado, maluco, e tanta coisa que eu jamais imaginei de que eu seria taxado, aumentou. Então deixe que elas digam.

Bem, não sei quanto a mim, mas, pelo menos sobre você, as pessoas falam muito mais bem do que mal, não acha?

É uma grande honra. Agora, o que acontece com você acontece com alguém no mundo. O que acontece comigo acontece com alguém também. De repente, algo que para você é piada, para aquele seu irmão não é. Depende de como você está se enxergando. Porque todo o mundo acha que está tudo bem quando é para meter o pau em alguém. E não tem água, né? Você pode falar de todas as questões do planeta aqui comigo. Mas, se acabar a água, do que vai adiantar esse desdobramento mental?

Você é religioso?

Não sei lhe responder isso. Porque religião é um conjunto de leis e de normas de determinadas coisas. Mesmo dando a ideia de ser redundante. Uma vez eu perguntei para minha mãe: "mãe, qual é sua religião?". Ela falou: "eu gosto de gente". Eu procuro ser parecido com minha mãe, apesar de estar longe de ser. Procuro ser um pouco de dona Vilani e seu Cleon [nomes dos pais dele]. É porque esperança pode ser o produto mais caro do mercado. Porque faz com que a pessoa ainda tenha algum pingo de respiração. E, nisso, no decorrer da sua vida, ela vai consumir os produtos não duráveis. Mas esperança pode ser algo que vai tirar o garoto de um ambiente extremamente hostil, seja ele urbano ou mental, e essa esperança pode mover esse jovem para que ele procure um lugar melhor para se viver. Crie um ambiente melhor para se viver.

Você tem planos para continuar lançando discos ou mesmo parar?

Eu não penso nisso, não, cara. Eu lembro que uma das primeiras perguntas que me fizeram quando saiu o "Nó na Orelha", no dia que saiu, foi "como vai ser o próximo disco?". Como é que faz? Eu não sei.

Mas você quer continuar, não?

A gente não tem que querer, cara. Isso é uma parada muito louca de a gente absorver. A gente não tem que querer. Você sabe no papel da certidão de nascimento seu dia de nascimento. Mas ninguém falou o dia que expira a sua matéria nesta passagem pela vida. Então a gente pode viver devaneios, pode viver um querer. A gente pode experimentar para ter ao redor da gente um bom ambiente. Aquilo que nos faz feliz. Mas a gente não sabe, né?

Como é sua vida fora dos palcos e estúdios? A gente sabe muito pouco sobre ela.

Minha rotina é estar perto da minha família. É difícil eu falar assim para você: "pô, vou fazer uma viagem". É muito louco isso porque a gente nunca teve essa felicidade, essa oportunidade de fazer uma viagem, mesmo que seja de fim de semana. Ali pertinho, em um cantinho. A vida sempre foi meio dura pra gente. São culturas, né? Minha vida é muito simples. Gosto de ficar em casa. Gosto muito de encontrar com meu amigo Ricardo Rabelo, com o Nenê Partideiro, o Jefferson Santiago, Rogério Borges. Eles fazem um samba muito refinado lá na 27, e eu tenho alguns sambas também. Eles tiram aquele samba no cavaquinho, e a gente passa a tarde legal. Ficamos conversando sobre a vida, sobre as coisas. Vida muito simples. Um amigo ou outro me visita. Ou eu vou visitar alguém. 

A gente viveu nos últimos meses um momento de muito acirramento político, com as eleições. País dividido. Militantes de PT e PSDB brigando na rua. O Brasil precisa encontrar o equilíbrio e convocar seu Buda?

Eu vejo o quanto é bonito as pessoas acreditarem naquilo que elas acreditam. Eu concordando ou não. Porque é um problema meu eu concordar ou não. E eu devo respeitar a pessoa com sua concepção. Eu acho extremamente importante as pessoas se manifestarem. E depois contarem essa história para os filhos. Daqui a cinco anos, o cara pensar se faria diferente. Isso faz parte do crescimento humano. Da sua mente. De como você enxerga o mundo.

Mas você se identificou mais com algum candidato nas eleições? Dilma, Aécio?

Difícil te responder isso e extremamente simples também. É que, se você quiser desbravar o deserto, você tem que saber como é o deserto minimamente. Ou não, ou apenas ir, saber como é o deserto. Aí, quando você voltar desse deserto, se você voltar, você vai perceber que existem muitas coisas por lá e todas essas coisas são você. Agora, como a gente consegue transportar essa linha de pensamento para uma condição de como se enxerga a política hoje? Estamos em um deserto? É tudo coisa da nossa cabeça? Da cabeça de alguém que colocou na nossa cabeça, nas cabeças dos nossos pais? Onde eu estou nisso tudo?

O Brasil mudou muito desde 2004, quando você começou a fazer o álbum…

(Interrompendo) O que você acha que mudou?

O Brasil cresceu. As pessoas têm mais renda, mais oportunidades, mais chance de ascender socialmente. Você não pensa sobre isso?

A gente sempre pensa, né?

E acha que a vida está melhor?

Acho que não. Mas não é um "não" com peso, aplaudindo por ser uma resposta negativa. Mas é você saber reparar a proporção das coisas, de 2004 para 2014. Tudo aumentou em proporção. Não significa que essa melhora tenha atingido na proporção no quanto tudo aumentou.

Sua formação foi toda calcada no rap. Qual é a importância desse gênero hoje para você?

Tudo. O rap não só no momento da escrita. Mas o cara do bailinho, que me deu oportunidade de subir no palco e cantar na Associação de Moradores do Jardim Macaná, que foi a primeira vez que subi no palco para cantar um rap. Eu ia cantar no Ester Garcia, num bailinho de colégio, e o cara falou: "olha, o microfone você liga desse jeito". Você vê uma mesa de som, o cara mexendo no grave e no agudo. Tentando tirar uma microfonia de uma caixa de som que foi emprestada. Então não é só o texto. É a solidariedade. O suor de cada dia para conseguir uma oportunidade para cantar num bailinho de formatura no colégio. Então isso também faz parte do ensinamento.

Você está com mais público agora. O que esperar da nova turnê?

Não dá para saber, não, cara. Só na hora. Uma vez o Arthur Verocai lançou o disco dele, em 72, e ninguém gostou do disco. E foram descobrir o disco dele em 2002. E hoje todo o mundo ama o disco. Não dá para saber. É o que eu falo. Nós abrimos nosso coração, cantamos a coisa que está na nossa cabeça, no nosso coração. Mas não está em nossas mãos.

sábado, 25 de outubro de 2014

CARTA DO MOVIMENTO NEGRO BRASILEIRO -

A eleição presidencial de 2014 é um momento singular da vida política do Brasil, especialmente para a população negra. Não podemos permitir retrocessos e nem a volta dos grupos conservadores e contrários às ações afirmativas.
É preciso garantir o emprego e ascensão econômica, política e social da população negra. Trata-se de medida fundamental de combate ao racismo e às desigualdades sociais.
por isso defendemos mais investimentos e melhoria da qualidade do ensino público e do Sistema Único de Saúde, tendo em vista o avanço das ações afirmativas na educação e na saúde.

O Pré-Sal é importante para o desenvolvimento do País e deve ser estrategicamente utilizado para a melhoria da qualidade de vida do povo brasileiro. Por isso, apoiamos a decisão do Governo Federal de destinar recursos do Pré-Sal para o financiamento e melhoria da educação e da saúde.
O extermínio seletivo da juventude negra é uma questão aguda a ser enfrentada e resolvida de forma consistente e imediata. Exigimos ações decisivas a fim de extirpar as causas e efeitos desse fenômeno nefasto em nossa sociedade.

Defendemos uma reforma política democrática e com a efetiva participação do povo e que resulte no aumento significativo da presença negra no Executivo e no Legislativo.
Defendemos o recorte orçamentário exclusivo para o fomento e preservação da cultura negra, bem como a democratização dos meios de comunicação, incentivo à produção artística e audiovisual da cultura afro-brasileira.

É necessário acelerar o processo de titulação das terras quilombolas e demais segmentos da população negra, nas áreas urbanas e rurais do País, assim como garantir a implementação de políticas públicas nas comunidades reconhecidas e tituladas, assegurando as condições necessárias para o nosso desenvolvimento.

Defendemos a continuidade das ações e programas que asseguram o fortalecimento da agricultura familiar, bem como a ampliação e o aperfeiçoamento de medidas que assegurem o atendimento qualificado da população negra.
A intolerância religiosa contra as religiões de matriz africana é uma afronta à democracia e aos direitos humanos consagrados na Constituição Brasileira. Defendemos o Estado Laico, a liberdade religiosa e o respeito aos povos e comunidades tradicionais de matriz africana.

É preciso garantir a aprovação de novo marco legal que proteja os direitos fundamentais dos Povos de Terreiros, povos e comunidades tradicionais de matriz africana, quilombolas, indígenas, ciganos e demais comunidades tradicionais.
O racismo, a pobreza e o machismo impactam a cidadania das mulheres negras e as mantêm em situação cotidiana de violências física e psicológica.
Entendemos que o Programa de Governo iniciado em 2003, com o Presidente Lula, é fortemente comprometido com a pauta política do movimento negro brasileiro, motivo pelo qual as organizações signatárias desta carta apoiam a reeleição da Presidenta Dilma Rousseff.

ACBANTU – Associação Nacional Cultural de Preservação do Patrimônio Bantu
APNs – Agentes de Pastoral Negro do Brasil
ARATAMA – Articulação Amazônica de Povos Tradicionais de Matriz Africana
BLOCO AFRO ILÊ AIYÊ
BLOCO AFRO OLODUM
CCN – Centro de Cultura Negra do Maranhão.
CENARAB – Centro Nacional de Africanidade e Resistência Afro-Brasileira
CEN – COLETIVO DE ENTIDADE NEGRA
CONAQ – Coordenação Nacional de Articulação das Entidades Negras Rurais Quilombolas
CONERUQ – Associação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas do Maranhão
CONEN – COORDENAÇÃO NACIONAL DAS ENTIDADES NEGRAS
ENEGRECER – Coletivo Nacional da Juventude Negra
FALA PRETA – ORGANIZAÇÃO DE MULHERES NEGRAS
FÓRUM AMAZÔNIA NEGRA
FÓRUM DE MULHERES NEGRAS
FÓRUM NACIONAL DE JUVENTUDADE NEGRA
MALUNGU – Coordenação das Associações das Comunidades Remanescente de Quilombo do Pará
MUDA – Movimento Umbanda do Amanhã
REDE NACIONAL DE RELIGIÕES AFROBRASILEIRAS E SAÚDE
REDE KÔDYA – Rede de Comunidades Organizadas da Diáspora Africana pelo Direito Humano à Alimentação.
SOCIEDADE PROTETORA DOS DESVALIDOS
UNEGRO – UNIÃO DE NEGROS PELA IGUALDADE”

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Xenofobia se converte em agressões contra imigrantes haitianos

Desde julho, 13 trabalhadores do Haiti denunciaram espancamentos sofridos dentro de empresas em que trabalhavam, em Curitiba
publicado: gazeta do povo


O tórax do haitiano Mau­­rice*, de 26 anos, ainda dói quando faz movimentos bruscos. Há pouco mais de um mês, ele foi espancado até perder os sentidos, por dois colegas de trabalho. As agressões ocorreram dentro da cerealista da qual eram empregados. O rapaz foi surrado depois de pedir que parassem de lhe ofender por sua cor e condição de migrante. Além de, por mais de um mês, ter sido chamado diariamente de “escravo” e de “macaco”, aguentava colegas que lhe atiravam bananas, como forma de ofendê-lo. Mais do que os ferimentos físicos, é a dor do preconceito que incomoda o haitiano.
“Eu falava pra eles: ‘Você é meu irmão. Sou humano igual a você, criado pelo mesmo Deus’. Mas me bateram, bateram e ninguém separou”, disse o migrante. “Eu não entendo porque isso, se sou gente como eles”, lamenta.

Antes velada, a xenofobia em Curitiba parece ter ultrapassado os limites da injúria e do racismo. Se antes o ódio se manifestava em olhares, em xingamentos e em algumas reações mais contidas, agora alguns casos passaram a se cristalizar em atos violentos.
Desde julho, a Casa Latino Americana (Casla), organização que acolhe migrantes na capital paranaense, recebeu 13 haitianos que foram espancados por causa do preconceito.

Assim como Maurice, os relatos detalham atitudes que escancaram a discriminação e que terminaram com agressões físicas graves. As vítimas estão recebendo assessoria jurídica da Casla, com apoio da Ordem dos ADVOGADOS do Brasil (OAB), por meio da Comissão de Direitos dos Migrantes.

“Todos estes casos ocorreram por preconceito e xenofobia. As vítimas foram agredidas por serem haitianas. Estamos assustados, porque estes são apenas os casos que nos chegam. Muitos devem ficar ocultos”, diz a advogada Nádia Pacher Floriani, presidente da comissão da OAB. “Às vezes, temos que nos segurar para as lágrimas não rolarem diante das histórias”, conta.

No trabalho

As agressões recentes reúnem uma característica em comum: foram cometidas dentro de empresas em que os haitianos trabalhavam. Por precisarem do emprego, muitas das vítimas acabam suportando as humilhações e as agressões, silenciando diante do preconceito. “Ao mesmo tempo em que essas aberrações acontecem, muitos são obrigados a permanecer no trabalho para garantir seu sustento. É xenofobia. É um problema cultural de não aceitar o outro”, define o ADVOGADO trabalhista Adriano Falvo, que presta assessoria jurídica voluntária às vítimas.

As ocorrências extrapolam a esfera trabalhista e têm gerado, também, ações criminais. Um dos homens que espancou Maurice chegou a se preso poucas horas depois, por crime de racismo. Posteriormente, no entanto, foi solto, porque as autoridades consideraram que o ato se enquadrava em injúria racial. Mesmo diante do patrão, ele teria mantido as ofensas. “Ele disse ao chefe que tinha me batido porque não gostava de preto e de haitianos. Eu fico muito triste com isso”, desabafa Maurice.

* Os nomes das vítimas e das empresas foram omitidos, porque os casos correm na Justiça sob sigilo.




Proibido de trabalhar após casos suspeitos de ebola


A suspeita recente de ebola no Paraná parece ter colocado em ebulição o preconceito e a xenofobia contra migrantes negros, mesmo aqueles que não vêm da zona de maior risco para a doença, ainda circunscrita a países da África. Na última semana, um imigrante do Haiti I (país da América Central), contratado de uma empresa terceirizada que presta serviços a uma construtora, foi impedido de entrar na obra em que trabalhava. “Ele foi barrado na portaria, por um funcionário que disse: ‘Você é haitiano, negro e vai trazer doenças. Aqui você não trabalha’. Ele não pôde sequer pegar suas coisas, que ficavam num armário da obra”, disse o advogado Adriano Falvo.


Na última segunda-feira, a Gazeta do Povo mostrou que, após a suspeita de um guineano ter sido contaminado com o vírus do ebola em Cascavel, parte da população local se voltou contra os migrantes negros. “Apesar de o Haiti ficar a milhares de quilômetros da Guiné, depois desse caso a xenofobia e o preconceito parecem ter aflorado por aqui. Só com informação é que vamos reverter isso”, opina a advogada Nádia Floriani.


Chefe que agredia haitiano foi demitido após denúncia


Além de ter apanhado do chefe de cozinha do restaurante em que trabalha, em Curitiba, Jean* afirma que ainda foi espancado no ALOJAMENTO da empresa, onde o agressor também morava. O haitiano, de 24 anos, foi ameaçado de morte e, ainda hoje, sente medo. “Eu estava no computador. Ele chegou em casa e já me deu um soco na cabeça. Eu perdi os sentidos. Quando acordei, ele continuou me batendo e pegou uma faca. Eu consegui correr para fora e voltei ao restaurante. Ele queria tirar a minha vida”, conta o haitiano.


Perseguido


Antes mesmo de ter sido agredido no alojamento, Jean vinha sendo perseguido pelo chefe de cozinha, que o chamava com palavrões e de “preto”. O rapaz continua trabalhando no restaurante, enquanto o chefe foi demitido. Ainda assim, ele pensa em mudar de emprego. “Eu faço de tudo para segurar este trabalho, mas tenho muito medo”, confessa.

Curitibano tem restrições a imigrantes


publicado: gazeta do povo

Pesquisa mostra que 51% aprovam a acolhida de estrangeiros. Mas 13% são contra e 36% fazem ressalvas
Os recentes casos de xenofobia, racismo e intolerância denotam que Curitiba não pode se esquivar do debate sobre a imigração. O fantasma assusta. Ontem, a Gazeta do Povo mostrou que, nos últimos três meses, 13 haitianos foram espancados dentro de empresas na capital. Pesquisa feita pela Brain Bureau Inteligência Corporativa demonstra que, apesar de a maioria dos curitibanos ver com bons olhos a vinda de estrangeiros, o índice de rejeição a imigrantes ainda é grande.


O levantamento aponta que 51% dos entrevistados se manifestaram favoráveis a Curitiba acolher pessoas de outros países. Por outro lado, 36% só aprovam o fenômeno dependendo do imigrante e 13% são contrários a qualquer tipo de imigração. E 15% acreditam que o trabalho dos estrangeiros radicados em Curitiba prejudica a economia. Para 48%, depende: os imigrantes podem ajudar ou atrapalhar. Só 37% consideram que os forasteiros contribuem com a cidade por meio do trabalho.

Parte da Europa, que vive às voltas com casos de xenofobia, tem números semelhantes aos de Curitiba. Em um referendo realizado em fevereiro na Suíça, 50,3% da população local consideraram que o país deveria instituir cotas de imigração. Na ocasião, nações como França e Alemanha manifestaram preocupação com as reações que a iniciativa (ainda não implantada) poderia causar.

No Brasil, segundo o Mi­nistério da Justiça, três principais fluxos migratórios convergem atualmente para a capital paranaense com maior força: africanos, sulamericanos e, principalmente, haitianos. Curitiba é a quarta cidade brasileira que mais recebe imigrantes do Haiti. Estima-se que mais de 2,5 mil deles estejam vivendo na capital. De acordo com a pesquisa, 71% dos curitibanos aprovam a vinda de haitianos. Outros 17% rejeitam a presença dos imigrantes do Haiti e 12% disseram não ter opinião formada. A reprovação é sentida de forma velada por quem teve de deixar sua terra e buscar uma vida melhor.

“Às vezes, a gente senta em um banco de praça e as pessoas fazem cara feia, se levantam e vão para outro lado”, disse o haitiano Morales Moralos, de 38 anos. “Eu vim aqui para trabalhar, para ajudar. Mas parece que não temos direitos [trabalhistas]. E os piores trabalhos ficam para haitianos. Se tiver um haitiano e um brasileiro, a empresa vai escolher o brasileiro”, acrescentou Feguner Toussaint, de 30 anos. Ambos estão desempregados.

Preconceito

O debate ocorre 140 anos depois de Curitiba receber as primeiras levas de estrangeiros. No fim do século 19, vieram os alemães, italianos, poloneses e ucranianos. Hoje, o fluxo migratório envolve estrangeiros de pele negra. Para o sociólogo Lindomar Bonetti, professor da PUCPR, a rejeição pode estrar atrelada aos laços europeus de Curitiba e ao pensamento “branco”.

“Parece que, quanto mais desenvolvida a região, maior é um grau de conservadorismo. É a dificuldade de compreender o diferente e o medo de perder espaço para este. O branco se vê ameaçado do ponto de vista cultural e da conquista dos espaços sociais.”

As vítimas à espera de Justiça

O haitiano Jean* é uma das vítimas recentes da xenofobia. Auxiliar em uma rede de restaurantes, ele foi espancado pelo chefe de cozinha no ambiente de trabalho e no ALOJAMENTO da empresa. O rapaz acredita que tenha sido agredido por ser negro e imigrante. “Eu acho que quem faz isso é quem não tem um nível intelectual. Quem estudou não vai fazer uma coisa dessas, porque sabe que julgar pela cor é errado”, diz. Enquanto isso, aguarda Justiça.

Para a presidente da Co­­missão de Direitos dos Mi­gran­tes da Ordem dos Ad­vogados do Brasil, Nádia Floriani, é preciso superar o preconceito. “Os migrantes não vêm para um cruzeiro. É uma migração forçada. Vêm porque precisam”, diz. “As pessoas deveriam ver o lado positivo. Como nossos antepassados, os imigrantes são pessoas que vieram para contribuir com o desenvolvimento econômico e cultural da sociedade.”

Outro braço forte na defesa dos estrangeiros tem sido o Ministério Público do Trabalho (MPT). Neste ano, o órgão inspecionou quatro obras para checar se os direitos trabalhistas estavam sendo assegurados. Em duas delas, houve irregularidades. “Havia haitianos trabalhando sem contrato ou sem anotação na carteira”, diz o procurador Alberto Emiliano de Oliveira Neto. “Toda essa violação de direitos sociais nos preocupa muito. Temos de não só combater as irregularidades, mas atuar de forma pedagógica, de forma a derrubar certos mitos e dogmas.”

Os 13 haitianos agredidos desde julho no trabalho em Curitiba estão sendo acompanhados pelo MPT, OAB e Casa Latino-Americana (Casla), que precisa de ADVOGADOS voluntários. Cada ocorrência gerou uma ação trabalhista e uma criminal. Ontem, uma das vítimas – um rapaz espancado depois de ser chamado de “macaco” e “escravo” – distribuía currículos no Centro da capital.

*nome fictício, porque o caso corre sob segredo de Justiça.

SOS Racismo terá de esperar 2015

Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial é finalmente empossado, com a expectativa de dar força às denúncias. Mas canal telefônico completará uma década sem implementação


Criado legalmente há um ano para especializar o encaminhamento e a apuração de denúncias de discriminação étnico-racial, o Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial só teve seus integrantes empossados no início deste mês. E eles ainda precisam se reunir para definir o regimento interno e a periodicidade dos encontros do órgão, de caráter deliberativo, consultivo e fiscalizador. Já o Programa SOS Racismo, que inclui um canal telefônico para receber as demandas raciais no Paraná, ficou para 2015 – uma década depois de sua criação por lei estadual.

Para a secretária de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos (Seju) do Paraná, Maria Tereza Uille Gomes, o grande ganho do conselho é “especializar a matéria”, uma vez que até hoje as denúncias são encaminhadas genericamente via Ministério Público. “Não há tratamento especial para esses casos, nem canal direto. As denúncias são feitas pelo Disque 100 ou por protocolo junto ao Departamento de Direitos Humanos da Seju.”

O órgão, explica Maria Teresa, é paritário, formado por 14 representantes de órgãos públicos e outros 14 da sociedade civil organizada. “O objetivo é deliberar sobre políticas públicas que promovam igualdade, para combater a discriminação étnico-racial e reduzir desigualdades sociais, econômicas, políticas e culturais. E também fiscalizar as políticas públicas, de acordo com o Estatuto da Igualdade Racial, de 2010.”


O intervalo de um ano entre a criação e a posse do Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial, segundo a secretária, deveu-se às dificuldades no trabalho de articulação. “Cada entidade tem seu tempo. Até cada um indicar um titular e um suplente... Não temos domínio sobre isso”, justifica. Embora com atraso, a consolidação do conselho coincide com uma série de decisões da Justiça favoráveis a pessoas discriminadas no trabalho.

Pena por omissão

Há quatro anos, o então entregador de bebidas Rodrigo Menezes Reis, 33 anos, foi vítima de discriminação racial no trabalho e acabou demitido por querer relatar a situação a um dos donos da empresa, que viria para uma confraternização na filial de Curitiba. “Esse rapaz, o Vanderlei, trabalha lá até hoje. Um dia, ele me disse ‘você é muito folgado, seu macaco. Você mora em um buraco’. E esse buraco é o Parolin, onde fica a Schincariol, de onde ele tira o pão”, lembra.

Ignorado pelos superiores imediatos, Reis procurou uma delegacia no bairro Água Verde e ouviu do atendente que o “caso não era de muita urgência”, por isso deveria procurar outro local para fazer a denúncia. No dia seguinte, foi dispensado da empresa. No fim do mês, o Tribunal Regional do Trabalho (TRT-PR) condenou a empresa a pagar R$ 20 mil a Reis por omissão diante da agressão. No entendimento dos desembargadores, é papel da empresa garantir a harmonia e o respeito no ambiente de trabalho.

“Comentários alusivos à cor ou etnia da pessoa classificam-se como de cunho discriminatório e não podem ser tolerados”, diz o acórdão. Uma semana antes, a 5.ª Vara do Trabalho de São José dos Pinhais condenou UM HOTEL a indenizar em R$ 100 mil uma auxiliar de cozinha que desenvolveu depressão e síndrome do pânico após sucessivas agressões por parte de uma supervisora. Segundo a sentença, ela era chamada de “preta, gorda e de cabelo ruim”, e ouvia frases como “você tem que fazer serviço de branco para ficar bem feito e não de preto”. Cabe recurso nas duas situações.

Para agredido, punição serve para educar

Vítima de discriminação racial no trabalho, sem ter a quem recorrer, o trabalhador do ramo da construção Rodrigo Menezes Reis acabou procurando um ADVOGADO. “Procurei porque eu não poderia ter sido demitido com dois filhos para dar pensão, mas também porque eles [empregadores] precisavam ter tomado alguma atitude. Não queria que demitissem [o agressor], mas que dessem um ‘gancho’, senão o pessoal vê que nada acontece e vira fervo.” Ele reclama da ausência de canais ao cidadão para viabilizar denúncias desse tipo. “Falta bastante.”

Criado por lei estadual em 2005, o Programa SOS Racismo está em fase de implementação, de acordo com a Seju. A expectativa era de que o canal telefônico passasse a funcionar no início deste ano, mas acabou não saindo do papel por “atrasos em algumas liberações e consecução dos editais”, segundo a assessora técnica do Departamento de Direitos Humanos e Cidadania da Seju, Fátima Ikiko Yokohama.

Segundo ela, o canal telefônico é apenas uma parte do SOS Racismo – papel que neste momento é exercido pelo Disque 100, do governo federal. “Criamos um setor específico de igualdade racial dentro do departamento, temos um grupo técnico com três pessoas, que atendem ao SOS Racismo, com esse caráter de ouvidor das demandas da sociedade.”

Apuração dos casos

Fátima afirma que, mais do que registrar ligações, o programa tem como objetivo apurar as denúncias. “Esperamos implantar esse atendimento a partir de 2015.”

Ela destaca que, mesmo sem um conselho, o movimento étnico-racial sempre se organizou e encaminhou as denúncias. “Mas eles nos colocam essas dificuldades de encaminhamento, ações mais diretas de acompanhamento, cobrança e apuração das denúncias. Agora, eles ganham esse ‘locus’ específico para trazer as discussões.” Fátima não sabe precisar o volume de denúncias recebidas pela Seju, mas afirma que “elas existem”.

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Alunos da Uninove fazem protesto contra o racismo em São Paulo

Daniel Santos
Do BOL, em São Paulo

Na quarta-feira (15), uma mensagem racista foi encontrada em um dos banheiros da Uninove, no campus da Barra Funda, em São Paulo. A mensagem foi apagada

Um grupo de estudantes se reuniu em frente à Universidade Uninove, nesta sexta-feira (17), no campus da Barra Funda, em São Paulo (SP), para protestar contra racismo na instituição. Na quarta-feira (15), uma mensagem racista foi encontrada em um dos banheiros da faculdade. "Lugar de negro macaco é na senzala, não na faculdade", dizia o texto, fotografado por alunos. Com alto-falante e cartazes, os manifestantes chamaram a atenção ao gritarem, em coro, "racistas não passarão".

Segundo Danilo Gonçalves, 26, estudante de ciências sociais, o objetivo do ato é "transbordar a aculdade", ou seja, mostrar que o preconceito é está em toda parte. "O racismo, ou qualquer outro preconceito, não acontece só aqui. Queremos também conscientizar quem passa e vê o nosso protesto. A mensagem nazista do banheiro foi o que nos motivou, mas estamos aqui para repudiar qualquer tipo de discriminação".
Danilo também contou que a segurança do prédio foi alertada sobre a mensagem, mas disse aos alunos que se tratava de uma "situação normal e corriqueira".
Para Carina Vitral, 25, do curso de economia, a manifestação é mais um aviso à sociedade. "É importante dar visibilidade a um problema que é tão recorrente. A mensagem do banheiro remete a duas situações abomináveis: o texto fala em 'senzala', que nos leva a sofrer de novo por um período nefasto da nossa história. Além disso, o autor fala em exclusão quando diz que 'lugar de negro não é na faculdade'. Queremos reforçar que, sim, já temos política de inclusão válida para todos".

Na quinta-feira (16), uma nota do site SPresso SP apontou para outras situações de discriminação. Segundo a nota, um indivíduo com uma suástica tatuada no braço teria ameaçado de morte um punk que estava com os estudantes em um bar próximo à faculdade, e um suposto grupo de alunos de direito, ditos nacionalistas, teria ameaçado uma universitária.

Os manifestantes dizem desconhecer os casos. Porém, de acordo com um professor que acompanhava o ato, alunos já reclamaram de grupos integralistas nos arredores ou na própria faculdade. Mas o docente, que não quis ser identificado, diz que não tem como comprovar se essas facções são efetivas ou se foram casos isolados, "talvez motivados pelas discussões polêmicas das Eleições".
A manifestação, que durou cerca de uma hora, foi finalizada com uma música do rapper Criolo.
A universidade
De acordo com o estudante Danilo Gonçalves, a diretoria da Uninove tomou conhecimento da mensagem – que foi apagada - e prometeu se reunir com alunos para conversar sobre o ocorrido. "A faculdade se ateve ao problema e sugeriu que nos juntássemos para elaborar um projeto de conscientização, ainda indefinido e sem prazo".

Procurada para falar sobre o caso, a universidade não se pronunciou.

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Direitos Humanos Ex-secretária do Distrito Federal denuncia policiais militares por racismo

Alex Rodrigues - Repórter da Agência Brasil Edição: Marcos Chagas









 
publicado:agência Brasil


Ex-secretária do governo do Distrito Federal (DF) e militante do movimento negro, a advogada Josefina Serra dos Santos disse ter sido alvo de racismo praticado por cinco policiais militares. Segundo ela, eles a abordaram e a revistaram com violência, ameaçando-a durante todo o tempo.
De acordo com a Doutora Jô, como a advogada é conhecida na capital, o caso aconteceu no último dia 7, próximo ao Museu da República, na Esplanada dos Ministérios. O local fica a menos de 2 quilômetros (km) do Congresso Nacional e a 7 km do Palácio do Buriti, sede do goveesso Nacional e a 7 km do Palácio do Buriti, sede do governo do DF .
Josefina conta que caminhava próximo à Biblioteca Nacional quando viu alguns policiais revistando um grupo de jovens por volta das 18h30. Em dias úteis, neste horário, é grande o movimento de pedestres e de carros. Apesar disso, até o momento, nenhuma testemunha do fato se apresentou ou foi identificada.
Josefina dos Santos apresentou na 1ª Delegacia da Polícia Civil representação criminal contra soldados da Polícia MilitarElza Fiuza/Agência Brasil
Na representação criminal que apresentou à 1ª Delegacia da Polícia Civil, nesta segunda-feira (13), a advogada narra que após os policiais liberarem um dos jovens, negro, se aproximou do garoto e o aconselhou a ir para casa. E que, logo após a conversa, foi abordada por uma viatura.

“Ouvi alguém me mandar parar, senão atiraria. Foi então que olhei para trás e vi uma policial, também negra, apontando uma arma para mim”. A advogada diz que, a fim de se identificar, apresentou sua carteira da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). “Um outro policial, também negro, se aproximou e, gritando comigo, disse que não era para eu falar nada. Quando perguntei o porquê daquilo, uma segunda policial, branca, disse que, como advogada, eu devia saber que aquilo era um procedimento padrão, principalmente com pessoas iguais a mim – e que eu entendesse isso como quisesse”, relatou Josefina.

A advogada destaca que, durante a revista, seu celular foi atirado longe, sua blusa levantada de forma que seus seios ficaram expostos, seu braço torcido com força por um dos policiais e que a policial, branca, declarou que “neguinhas, quando aprendem algo, se acham”, mas que de nada adiantaria ela denunciá-los, pois nada aconteceria. “Tentaram me intimidar dizendo que era mais fácil acontecer algo comigo do que com eles. O que eu ia dizer? Só queria me proteger. Nunca tive medo da polícia. Conheço muita gente boa que faz seu trabalho dentro da PM, mas, infelizmente, há pessoas assim e, apesar de haver um trabalho [de conscientização dos policiais], parece que não está surtindo efeito e pelo que ouvi e passei só posso dizer se tratar de racismo”.
A ex-secretária de Igualdade Racial do DF, Josefina Serra dos Santos disse ter sido alvo de racismo praticado por cinco policiais militares Elza Fiuza/Agência Brasil



O secretário-geral da PM explica que racismo é uma "situação atípica" na corporaçãoElza Fiuza /Agência Brasil

“Infelizmente, a sociedade brasileira ainda é racista e machista. E como as pessoas que compõem a PM vêm dessa sociedade, a corporação empenha todos os esforços para que essas pessoas não coloquem para fora esses sentimentos. Essa é uma situação atípica, pois não é assim que ensinamos os policiais a agirem”, declarou o secretário-geral da PM, coronel Marcos Araújo, garantindo que, há mais de duas décadas, o Curso de Formação dos Policiais Militares de Brasília inclui conceitos de direitos humanos.

A Corregedoria da PM instaurará uma sindicância ou um inquérito policial militar para apurar os fatos. Imagens que possam ter sido gravadas por câmeras de vídeo existentes no local serão analisadas. Se a denúncia for confirmada, os policiais podem ser punidos até mesmo com a expulsão. Como a PM, oficialmente, só tomou conhecimento dos fatos nesta quarta-feira, ainda não se fala em prazo para a conclusão da apuração. Segundo o coronel, mesmo identificados, os policiais não serão afastados de suas funções pelo tempo que durar o processo administrativo.

“Pode ser que alguns policiais não tenham ainda internalizado o que ensinamos na academia, mas a corporação repudia veemente esses fatos. Não coadunamos com essas atitudes. O comandante-geral e o corregedor da PM já estão cientes da denúncia e vamos apurar tudo rapidamente”, disse o coronel. “Não posso adiantar nada, mas, pelo relato, a abordagem fugiu aos padrões e houve sim alguns erros. Vamos ter que ouvir também o policial”.

Apesar de ser uma queixa frequente por parte principalmente de moradores de bairros carentes, o coronel disse não haver, na corregedoria da PM, denúncias formais por racismo. “Há uma quantidade enorme de procedimentos decorrentes da possível conduta irregular de policiais sendo apurada, mas não de racismo”. O coronel revelou que um levantamento feito em 2008 identificou que 62% dos cerca de 15 mil policiais militares do Distrito Federal são negros, mas não soube dizer quantos desses são oficiais e ocupam postos de comando na corporação. “Há alguns, mas não são muitos. Mas o que de fato ajuda a mudar a mentalidade da corporação é o que já estamos fazendo, trabalhando a educação e a internalização de valores de respeito aos direitos humanos. Um fato como esse, que é exceção, nos magoa, pois derruba todo nosso trabalho”.

Além de manifestar solidariedade e oferecer apoio jurídico e psicológico à advogada, a Secretaria Especial da Promoção da Igualdade Racial (Sepir) promete acompanhar a apuração do caso junto à PM e também os eventuais desdobramentos no Ministério Público. "É preciso garantir que a lei seja cumprida. No imaginário brasileiro, os negros são vistos como um objeto, como seres não-humanos, o que resulta não só numa carga de preconceito pessoal, mas também de racismo institucional. Um cidadão negro discriminado e por um agente do Estado negro tem sua própria psiquê agredido. E o agressor, por sua vez, não consegue enxergar no seu semelhante uma vítima dessa discriminação", disse à Agência Brasil a ouvidora da Sepir, Jacira da Silva.

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

STJD puni jogador o Avaí por ofensa racista

publicado:TNonline.com.br
O STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) puniu com cinco jogos de suspensão e multa de R$10 mil o zagueiro Antonio Carlos, do Avaí, por ofensa racista ao atacante Francis, do Boa Esporte, em partida realizada no no dia 27 de setembro, pela Série B do Campeonato Brasileiro.
O jogador foi julgado no artigo 243-G do Código Brasileiro de Justiça Desportiva -praticar ato discriminatório, desdenhoso ou ultrajante, relacionado a preconceito em razão de origem étnica, raça, sexo, cor, idade, condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência. Ele corria o risco de ser suspenso por até dez partidas, além de receber multa de até R$ 100 mil.
Durante o confronto, o atacante Francis, do Boa Esporte, acusou o zagueiro Antônio Carlos, do Avaí, de tê-lo chamado de "macaco do caralho". Imagens da SporTV mostram o suposto momento da agressão verbal.
Francis registrou boletim de ocorrência na 1ª Delegacia de Polícia da Capital, no centro de Florianópolis. A ofensa teria acontecido após uma disputa de bola entre os jogadores e, de acordo com o boletim, o atacante teria reclamado do ocorrido com o árbitro, que teria pedido a continuidade do jogo.
O árbitro Guilherme Ceretta de Lima não relatou na súmula o suposto caso de racismo no jogo entre Avaí e Boa Esporte.
No tribunal, Antonio Carlos alegou ter chamado o adversário de "malaco", gíria que significa "malandro". O procurador Caio Medauar rebateu a explicação do jogador.
"É perfeitamente possível perceber que foi dito macaco e não malaco, conforme provas dos autos", disse.
Logo após, Francis prestou depoimento.
"Houve a jogada e a gente se chocou num lance normal. Acabei caindo e ele (Antônio Carlos) veio de xingar. Ele veio e me chamou de macaco do c*. O companheiro dele percebeu a ofensa e tentou me acalmar. Ele inclusive veio me pedir desculpas após tomar conhecimento da gravidade do que tinha falado", declarou. Antonio Carlos negou ter pedido desculpas.

Reprodução Sportv
Momento em que Antônio Carlos (direita), do Avaí, teria chamado Franci de
Momento em que Antônio Carlos (direita), do Avaí, teria chamado Francis de "macaco"
O STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) puniu com cinco jogos de suspensão e multa de R$ 10 mil o zagueiro Antonio Carlos, do Avaí, por ofensa racista ao atacante Francis, do Boa Esporte, em partida realizada no no dia 27 de setembro, pela Série B do Campeonato Brasileiro. O jogador foi julgado no artigo 243-G do Código Brasileiro de Justiça Desportiva -praticar ato discriminatório, desdenhoso ou ultrajante, relacionado a preconceito em razão de origem étnica, raça, sexo, cor, idade, condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência. Ele corria o risco de ser suspenso por até dez partidas, além de receber multa de até R$ 100 mil. Durante o confronto, o atacante Francis, do Boa Esporte, acusou o zagueiro Antônio Carlos, do Avaí, de tê-lo chamado de "macaco do caralho". Imagens da SporTV mostram o suposto momento da agressão verbal. Francis registrou boletim de ocorrência na 1ª Delegacia de Polícia da Capital, no centro de Florianópolis. A ofensa teria acontecido após uma disputa de bola entre os jogadores e, de acordo com o boletim, o atacante teria reclamado do ocorrido com o árbitro, que teria pedido a continuidade do jogo. O árbitro Guilherme Ceretta de Lima não relatou na súmula o suposto caso de racismo no jogo entre Avaí e Boa Esporte. No tribunal, Antonio Carlos alegou ter chamado o adversário de "malaco", gíria que significa "malandro". O procurador Caio Medauar rebateu a explicação do jogador. "É perfeitamente possível perceber que foi dito macaco e não malaco, conforme provas dos autos", disse. Logo após, Francis prestou depoimento. "Houve a jogada e a gente se chocou num lance normal. Acabei caindo e ele (Antônio Carlos) veio de xingar. Ele veio e me chamou de macaco do c*. O companheiro dele percebeu a ofensa e tentou me acalmar. Ele inclusive veio me pedir desculpas após tomar conhecimento da gravidade do que tinha falado", declarou. Antonio Carlos negou ter pedido desculpas.

- Leia a matéria completa em: http://www.tnonline.com.br/noticias/esportes/1,300433,14,10,stjd-suspende-por-cinco-partidas-zagueiro-do-avai-acusado-de-racismo.shtml
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O STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) puniu com cinco jogos de suspensão e multa de R$ 10 mil o zagueiro Antonio Carlos, do Avaí, por ofensa racista ao atacante Francis, do Boa Esporte, em partida realizada no no dia 27 de setembro, pela Série B do Campeonato Brasileiro. O jogador foi julgado no artigo 243-G do Código Brasileiro de Justiça Desportiva -praticar ato discriminatório, desdenhoso ou ultrajante, relacionado a preconceito em razão de origem étnica, raça, sexo, cor, idade, condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência. Ele corria o risco de ser suspenso por até dez partidas, além de receber multa de até R$ 100 mil. Durante o confronto, o atacante Francis, do Boa Esporte, acusou o zagueiro Antônio Carlos, do Avaí, de tê-lo chamado de "macaco do caralho". Imagens da SporTV mostram o suposto momento da agressão verbal. Francis registrou boletim de ocorrência na 1ª Delegacia de Polícia da Capital, no centro de Florianópolis. A ofensa teria acontecido após uma disputa de bola entre os jogadores e, de acordo com o boletim, o atacante teria reclamado do ocorrido com o árbitro, que teria pedido a continuidade do jogo. O árbitro Guilherme Ceretta de Lima não relatou na súmula o suposto caso de racismo no jogo entre Avaí e Boa Esporte. No tribunal, Antonio Carlos alegou ter chamado o adversário de "malaco", gíria que significa "malandro". O procurador Caio Medauar rebateu a explicação do jogador. "É perfeitamente possível perceber que foi dito macaco e não malaco, conforme provas dos autos", disse. Logo após, Francis prestou depoimento. "Houve a jogada e a gente se chocou num lance normal. Acabei caindo e ele (Antônio Carlos) veio de xingar. Ele veio e me chamou de macaco do c*. O companheiro dele percebeu a ofensa e tentou me acalmar. Ele inclusive veio me pedir desculpas após tomar conhecimento da gravidade do que tinha falado", declarou. Antonio Carlos negou ter pedido desculpas.

- Leia a matéria completa em: http://www.tnonline.com.br/noticias/esportes/1,300433,14,10,stjd-suspende-por-cinco-partidas-zagueiro-do-avai-acusado-de-racismo.shtml
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O STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) puniu com cinco jogos de suspensão e multa de R$ 10 mil o zagueiro Antonio Carlos, do Avaí, por ofensa racista ao atacante Francis, do Boa Esporte, em partida realizada no no dia 27 de setembro, pela Série B do Campeonato Brasileiro. O jogador foi julgado no artigo 243-G do Código Brasileiro de Justiça Desportiva -praticar ato discriminatório, desdenhoso ou ultrajante, relacionado a preconceito em razão de origem étnica, raça, sexo, cor, idade, condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência. Ele corria o risco de ser suspenso por até dez partidas, além de receber multa de até R$ 100 mil. Durante o confronto, o atacante Francis, do Boa Esporte, acusou o zagueiro Antônio Carlos, do Avaí, de tê-lo chamado de "macaco do caralho". Imagens da SporTV mostram o suposto momento da agressão verbal. Francis registrou boletim de ocorrência na 1ª Delegacia de Polícia da Capital, no centro de Florianópolis. A ofensa teria acontecido após uma disputa de bola entre os jogadores e, de acordo com o boletim, o atacante teria reclamado do ocorrido com o árbitro, que teria pedido a continuidade do jogo. O árbitro Guilherme Ceretta de Lima não relatou na súmula o suposto caso de racismo no jogo entre Avaí e Boa Esporte. No tribunal, Antonio Carlos alegou ter chamado o adversário de "malaco", gíria que significa "malandro". O procurador Caio Medauar rebateu a explicação do jogador. "É perfeitamente possível perceber que foi dito macaco e não malaco, conforme provas dos autos", disse. Logo após, Francis prestou depoimento. "Houve a jogada e a gente se chocou num lance normal. Acabei caindo e ele (Antônio Carlos) veio de xingar. Ele veio e me chamou de macaco do c*. O companheiro dele percebeu a ofensa e tentou me acalmar. Ele inclusive veio me pedir desculpas após tomar conhecimento da gravidade do que tinha falado", declarou. Antonio Carlos negou ter pedido desculpas.

- Leia a matéria completa em: http://www.tnonline.com.br/noticias/esportes/1,300433,14,10,stjd-suspende-por-cinco-partidas-zagueiro-do-avai-acusado-de-racismo.shtml
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O STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) puniu com cinco jogos de suspensão e multa de R$ 10 mil o zagueiro Antonio Carlos, do Avaí, por ofensa racista ao atacante Francis, do Boa Esporte, em partida realizada no no dia 27 de setembro, pela Série B do Campeonato Brasileiro. O jogador foi julgado no artigo 243-G do Código Brasileiro de Justiça Desportiva -praticar ato discriminatório, desdenhoso ou ultrajante, relacionado a preconceito em razão de origem étnica, raça, sexo, cor, idade, condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência. Ele corria o risco de ser suspenso por até dez partidas, além de receber multa de até R$ 100 mil. Durante o confronto, o atacante Francis, do Boa Esporte, acusou o zagueiro Antônio Carlos, do Avaí, de tê-lo chamado de "macaco do caralho". Imagens da SporTV mostram o suposto momento da agressão verbal. Francis registrou boletim de ocorrência na 1ª Delegacia de Polícia da Capital, no centro de Florianópolis. A ofensa teria acontecido após uma disputa de bola entre os jogadores e, de acordo com o boletim, o atacante teria reclamado do ocorrido com o árbitro, que teria pedido a continuidade do jogo. O árbitro Guilherme Ceretta de Lima não relatou na súmula o suposto caso de racismo no jogo entre Avaí e Boa Esporte. No tribunal, Antonio Carlos alegou ter chamado o adversário de "malaco", gíria que significa "malandro". O procurador Caio Medauar rebateu a explicação do jogador. "É perfeitamente possível perceber que foi dito macaco e não malaco, conforme provas dos autos", disse. Logo após, Francis prestou depoimento. "Houve a jogada e a gente se chocou num lance normal. Acabei caindo e ele (Antônio Carlos) veio de xingar. Ele veio e me chamou de macaco do c*. O companheiro dele percebeu a ofensa e tentou me acalmar. Ele inclusive veio me pedir desculpas após tomar conhecimento da gravidade do que tinha falado", declarou. Antonio Carlos negou ter pedido desculpas.

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O STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) puniu com cinco jogos de suspensão e multa de R$ 10 mil o zagueiro Antonio Carlos, do Avaí, por ofensa racista ao atacante Francis, do Boa Esporte, em partida realizada no no dia 27 de setembro, pela Série B do Campeonato Brasileiro. O jogador foi julgado no artigo 243-G do Código Brasileiro de Justiça Desportiva -praticar ato discriminatório, desdenhoso ou ultrajante, relacionado a preconceito em razão de origem étnica, raça, sexo, cor, idade, condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência. Ele corria o risco de ser suspenso por até dez partidas, além de receber multa de até R$ 100 mil. Durante o confronto, o atacante Francis, do Boa Esporte, acusou o zagueiro Antônio Carlos, do Avaí, de tê-lo chamado de "macaco do caralho". Imagens da SporTV mostram o suposto momento da agressão verbal. Francis registrou boletim de ocorrência na 1ª Delegacia de Polícia da Capital, no centro de Florianópolis. A ofensa teria acontecido após uma disputa de bola entre os jogadores e, de acordo com o boletim, o atacante teria reclamado do ocorrido com o árbitro, que teria pedido a continuidade do jogo. O árbitro Guilherme Ceretta de Lima não relatou na súmula o suposto caso de racismo no jogo entre Avaí e Boa Esporte. No tribunal, Antonio Carlos alegou ter chamado o adversário de "malaco", gíria que significa "malandro". O procurador Caio Medauar rebateu a explicação do jogador. "É perfeitamente possível perceber que foi dito macaco e não malaco, conforme provas dos autos", disse. Logo após, Francis prestou depoimento. "Houve a jogada e a gente se chocou num lance normal. Acabei caindo e ele (Antônio Carlos) veio de xingar. Ele veio e me chamou de macaco do c*. O companheiro dele percebeu a ofensa e tentou me acalmar. Ele inclusive veio me pedir desculpas após tomar conhecimento da gravidade do que tinha falado", declarou. Antonio Carlos negou ter pedido desculpas.

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