terça-feira, 14 de outubro de 2014

Ser professor no país que prefere prender a educar jovens:

Há um certo medo carregado de inexplicável rancor de muitos adultos em relação aos jovens: eles são alienados, irresponsáveis, atrevidos, dispersos, inquietos, barulhentos, superficiais, desrespeitosos, entre tantos outros adjetivos. No entanto, um simples olhar mais detido sobre esses adjetivos e fica claro que não são características, mas sintomas de uma juventude cada vez mais desamparada pelos adultos. Pais que não educam, escolas que não formam, mercado que explora, governo que não integra, religião que ilude, violência que coopta e destrói. Como é duro ser jovem em um país no qual os velhos não aceitam a jornada dupla de cuidar da própria vida e da vida deles.



Há tantos professores que são grandes mestres na arte de ouvir e falar com jovens. Há tantos outros que não falam e há uma incômoda maioria que não ouve. O espaço público da escola raramente se torna espaço democrático de acolhimento do jovem como igual. O que se consegue é no grito ou no braço. Espaço que deveria ser de palavras em festa e que se torna ringue de fúria e mágoa. Os lares, tantos e tanto, tornaram-se aquários de seres com as bocas em movimento, mas sem diálogo, muito mais um ambiente de fuga do que de encontro. A rua, as esquinas, os postos de gasolina, os grupos, as tribos, as turmas, os bandos, as gangues, o lugar comum de reconhecimento, de pertencimento negado pelo mundo de muitos adultos atarefados e entediados.

Não é fácil ser professor em uma sociedade que vê o jovem como oportunidade de negócio ou desperdício de energia, como máquina de sucesso e resultado ou como ameaça e perigo para as pessoas “de bem”. Negam ao jovem suas inquietudes e inseguranças, sua imaturidade e falta de referencias e atribuem a eles a responsabilidade por aquilo que não é desprezo e rejeição, mas falta. Simplesmente falta.

Sei que a réplica a esse discurso são os casos de jovens violentos , sádicos mesmo, em sua sanha de destruição e morte. Sei que a réplica a esse discurso são as estatísticas de roubo, estupro e morte envolvendo jovens e que algo precisa ser feito. Concordo com o “algo precisa ser feito”. Precisamos de mais professores que ouçam e deixem falar. Precisamos de mais pais carinhosos e presentes. Precisamos de mais Estado atuante com acolhimento social, cultural, esportivo, educacional. Precisamos de mais religião compreensiva que punidora. Precisamos demais de tudo isso. Para não sermos mais um país que prefere prender a cuidar de seus jovens.

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