quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

“MINHA MÃE”

por* Geni Guimarães

Gosto da inocência dela:
Benze crianças,
Faz simpatias,
Reza sorrindo,
Chora rezando.

Gosto da inocência dela:
Apanha rosas,
Poda os espinhos,
Coloca nas mãos,
De meninos branquinhos.

Gosto da inocência dela:
Conta histórias longas,
De negros perdidos,
Nas matas cerradas,
Dos chãos do país.

Ama a todo o mundo,
Diz que a ida à lua,
É conto de fada.

Gosto da inocência dela:
Crê na independência,
E é tanta a inocência,
Que até hoje ela pensa,
Que acabou a escravidão.… Inocência dela…

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Governo do RS sanciona lei de cotas para ingresso no serviço público


Lei assegura percentual de vagas nos concursos realizados no estado conforme censos do IBGE

Aprovada por unanimidade pela Assembleia Legislativa, no dia 27 de novembro deste ano, a lei que institui um sistema de cotas para ingresso no serviço público estadual foi sancionada nesta quarta-feira (19), pelo governador Tarso Genro, em ato realizado no Palácio Piratini. A norma, que recebeu parecer favorável da Procuradoria-Geral do Estado, assegura um percentual de vagas nos concursos públicos do Estado do Rio Grande do Sul para os aprovados que se declararem negros ou pardos.

O número de vagas levará em conta os recenseamentos demográficos realizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Conforme o novo dispositivo legal, o mesmo percentual de negros ou pardos autodeclarados nos censos do IBGE será assegurado na composição das vagas dos concursos públicos estaduais.

No censo de 2010, 15,6% dos 10,7 milhões de gaúchos enquadraram-se nesta condição. Este índice será utilizado a partir dos novos concursos promovidos no âmbito da administração pública direta e indireta, em todos os poderes do Estado, até o próximo recenseamento.

Discriminação positiva
O chefe do Executivo lembrou que, quando ocupava o cargo de ministro da Educação, o Governo Federal instituiu uma política de cotas que ampliou o acesso de pessoas negras nas universidades públicas e privadas do país. Tarso também afirmou que a sociedade ainda precisa vencer uma "batalha ideológica" para colocar todas as pessoas em uma situação real de igualdade. "Isso se faz com políticas de discriminação positiva, criando condições de igualdade, e não de desigualdade", disse.

Autor do projeto, o deputado estadual Raul Carrion destacou a participação dos movimentos sociais na construção da proposta e afirmou que ela significa uma aposta na democratização da sociedade. "Essa dívida impagável que nós temos com a comunidade negra precisa ser, de alguma forma, minorada", afirmou o parlamentar.

A sanção da lei também foi amplamente comemorada pelos movimentos sociais. Militante do movimento negro, o servidor público Stenio Rodrigues classificou o ato como um momento histórico de inclusão social. "Quando a gente fala da igualdade da população negra e das minorias, estamos falando da humanização de todos os homens e mulheres desse país. Estamos falando de um mundo mais igual, onde efetivamente todos tenham as mesmas condições e as mesmas oportunidades", afirmou a liderança.

Com informações do Portal do Estado do Rio Grande do Sul.

Regime de cotas nas universidades é ampliado a partir de 2013

Cotas nas universidades
O Brasil inicia, em 2013, uma das mais importantes mudanças no perfil de calouros para as universidades públicas e, nos próximos quatro anos, o número de cotistas nas escolas superiores tende quase triplicar. A evolução é devido a uma lei federal que exige a reserva, até 2016, de 50% das suas vagas para formados em escolas públicas, no mínimo.
Mais de 42 mil vagas estão reservadas para os estudantes das escolas públicas entre as 224 mil vagas disponíveis nas universidades federais, em 2013. A maior vantagem para esses estudantes, no entanto, é a disputa apenas entre si, durante os processos de seleção disponíveis no próximo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Sem as cotas, essas vagas seriam ocupadas, em sua maioria, por estudantes de escolas privadas, que dispõem de um ensino de melhor qualidade desde a tenra idade.

Segundo as regras federais, grupos específicos de alunos da rede pública serão beneficiados, como aqueles oriundos de famílias com baixa renda, que tentem ocupar metade das vagas reservadas. Há, ainda, vagas reservadas para negros, pardos e indígenas. A distribuição das vagas para esses alunos depende da proporção das populações minoritárias no estado em que prestam os exames seletivos, de acordo com o Censo do IBGE.

Esta regra permaneceu em debate durante 13 anos no Congresso e somente foi sancionada este ano, pela presidenta Dilma. Já em 2013, as instituições precisarão reservar 12,5% das vagas para estudantes da escola pública.

Fonte: Correio do Brasil
publicado: www.vermelho.org.br


domingo, 23 de dezembro de 2012

Para muita gente, saber que alguém é negro já é o bastante

por*Leonardo Sakomoto


Há amigos que nunca foram parados em uma blitz policial. Normalmente, são brancos, caucasianos, bem vestidos, jeito de bom moço ou moça, com todos os dentes ou próteses bem feitas, dirigindo veículos que estão nos comerciais bonitos de TV. Aqueles com montanhas nevadas e cervos.

Um deles, por exemplo, me explicou que pilota uma moto há tempos sem habilitação. “A polícia não para de jeito nenhum.” Enquadra-se perfeitamente na categoria acima descrita.

Recentemente, um rosado conhecido foi parado em uma batida. Ficou transtornado. “Como se atrevem? Acham que sou um qualquer?”

Por outro lado, há aqueles que cansaram de cair na malha fina da polícia. Quase sempre, negros ou pardos.

De tanto ser parado, um outro conhecido já encara como hábito. Perguntei se isso não o revoltava. Explicou, com um certo cansaço, que, desde moleque, era sempre a mesma coisa. Então, se acostumou. Já chegou a cair em duas batidas na mesma noite. Procuravam um meliante.

A Folha de S.Paulo, deste domingo (23), traz um caderno discutindo a questão das cotas. Nele, debate as diferenças entre o perfil genético de estudantes entrevistados e o que eles autodeclaram. Explica que, às vezes, filhos de pais de pele cor parda nascem brancos ou negros. Ou, por vezes, uma pele negra esconde um perfil genético com grande participação de ancestralidade europeia. Mostrando que a história de cada família é mais complexa do que se imagina.

Na minha opinião, a questão genética não deveria influenciar. O preconceito não se traduz quando alguém tem conhecimento da ancestralidade do outro, mas ao observar a cor ou diferenças étnicas. Porque mesmo que essas diferenças visuais digam pouco sobre a origem da pessoa, séculos de racismo deram um significado bem claro para determinada cor de pele. E isso não pode ser alterado sem enfrentamento.

Na prática, muitos não esperam para perguntar o perfil genético do rapaz negro que vem no sentido contrário na rua escura. Simplesmente, atravessam para o outro lado ou correm. Balas perdidas com o DNA da polícia não são guiadas pelo perfil genético e pouco se importam que um rapaz de pele negra tenha 70% de ancestralidade europeia. Talvez, posteriormente, o legista ache interessante.

E a herança desse preconceito não precisa ter sido sentida por gerações e mais gerações. Se uma criança nascer com a pele mais escura que sua família vai sofrer preconceito na sociedade mesmo que seus pais não tenham sofrido. Se for pobre, pior ainda. Tomando como referência a média salarial, os valores pagos para uma mesma função na sociedade coloca, em ordem decrescente: homem branco rico de um lado e mulher negra pobre do outro.

Para Walter Benjamin, passado e presente são uma coisa só. No bafo da pessoa que está viva respiram também as pessoas do passado. Ao me relacionar com os outros, não faço isso só. Imprimo séculos de biografias, séculos de acomodação cultural, de preconceitos e medos, reforçadas pela imagem do que sou hoje. Não só a genealogia pesa sobre os ombros, mas também a história e as condições sociais do país. De certa forma, no “agora” está presente toda a história humana.

A Justiça que se pretende fazer com políticas de cotas não é apenas a de saldar a dívida de uma escravidão mal abolida com os descendentes dos negros escravizados que não foram inseridos como deveriam no pós Lei Áurea. Mas sim a tentativa de mudar o pensamento e a ação de uma sociedade, ainda calcada na relação Casa Grande e Senzala, que trata as pessoas de forma desigual por sua cor de pele.

Ou alguém duvida que, no fundo, Joaquim Barbosa não sofra preconceito por ser negro, mesmo ocupando a cadeira de presidente de nossa Suprema Corte? Quem duvida, leia as entrelinhas e os interditos nas palavras de políticos, de todas as agremiações, e de alguns colegas da mídia sobre ele.

Afinal, para muita gente, saber que alguém é negro já é o bastante.

*Leonardo Sakamoto é jornalista e doutor em Ciência Política. Cobriu conflitos armados e o desrespeito aos direitos humanos em Timor Leste, Angola e no Paquistão. Professor de Jornalismo na PUC-SP, é coordenador da ONG Repórter Brasil e seu representante na Comissão Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo.

Pioneira, Uerj vira "Congo" depois de implantar cotas

MORRIS KACHANI
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
Até dez anos atrás, quando adotou o sistema de cotas, a Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) mais parecia um shopping da zona sul, área nobre da cidade, com o predomínio de alunos brancos da classe média.
Hoje, o apelido da Uerj é "Congo". Surgiu em 2005, em um torneio esportivo envolvendo faculdades de direito, quando as torcidas adversárias assim se referiam, em tom de gozação, à diversidade étnica da universidade.
Os alunos da Uerj decidiram assumir o colorido e, desde então, o país africano se tornou uma espécie de ícone da autoafirmação, a ponto de o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Luiz Fux, que, assim como Joaquim Barbosa, leciona na Uerj, ter citado o Congo no voto sobre cotas para negros em abril.
A Uerj foi uma das primeiras universidades a adotar o sistema, em trajetória de erros e acertos. Hoje, 45% das vagas são reservadas para cotistas -20% para alunos de escolas públicas, 20% para negros e indígenas e 5% para deficientes. O denominador comum é a renda per capita mensal de até R$ 960.
A reportagem da Folha organizou grupos de discussão com alunos -cotistas sociais, raciais e não cotistas- e ouviu professores e a reitoria.
A percepção é que o sistema de cotas implantado na universidade ainda apresenta distorções e que o preconceito existe, porém a avaliação, de maneira geral, é mais positiva do que negativa.
O cotista tem direito a uma bolsa de R$ 400, a cursos de reforço e a material gratuito, além de desconto no bandejão, pelo qual paga R$ 2 no almoço -não cotistas pagam R$ 3. A bolsa, antes restrita ao primeiro ano, foi estendida em 2008 em razão do alto índice de evasão.
De acordo com o estudante Rodolfo Righi e seus colegas Matheus e Rodrigo (todos não cotistas), há um aluno cotista, do primeiro ano de engenharia, que não sabe sobre seno e cosseno. "É claro que a aula anda mais devagar e acaba sendo nivelada por baixo", reclamam os estudantes.
A nota de corte é um ponto sensível. Em 2012, a pontuação mínima em engenharia civil para não cotistas foi 81. A de cotistas de escola pública, 41. A de negros, 36.
Outra distorção está na denúncia de que alguns alunos brancos se autodeclaram negros. "São casos pontuais, mas não há como fiscalizar. A lei se autoaplica", diz a sub-reitora Lená Menezes. "Investigamos os sinais de riqueza apenas quando não correspondem ao teto da cota."
No outro extremo, são vários os exemplos de mobilidade social proporcionada pelo sistema. É o caso de Atilas Campos Filho, 28, criado em Belford Roxo e graduado pela Uerj, filho de empregada doméstica e que hoje atua como jornalista. "Foi um divisor de águas. A universidade mudou completamente minha forma de ver a vida."
Entre os professores, a constatação é que o cotista tem um desempenho inferior no primeiro ano, mas depois deslancha e praticamente se iguala ao não cotista. Estatísticas mostram que homens cotistas e não cotistas apresentam uma média final de 5,9 nas notas. Entre as mulheres, as não cotistas obtêm 7,1 e as cotistas, 6,9.
O tempo de permanência até a conclusão do curso é o mesmo. Mas a taxa de evasão dos cotistas é inferior: 20%, em comparação com 33% dos não cotistas.
"O cotista é mais esforçado, pois ele sabe que essa pode ser a única chance de mudar sua vida", afirma Hilda Ribeiro de Souza, professora de odontologia. "O que mudou é que agora o professor precisa dar mais atenção, não só supervisionar."
Na sala de aula, não é possível saber quem é cotista. A cor da pele pode ser uma pista. A maioria concorda que existe um racismo velado e que a segregação entre os alunos não é incomum.
O cotista com culpa não é um ponto fora da curva. Especialmente em disciplinas que exigem cálculo, nas quais as deficiências de formação são mais visíveis. Segundo um cotista de economia, que preferiu não se identificar, "muitos sentem vergonha no início. E há preconceito".
Por outro lado, o aprendizado resultante do convívio com a diferença é valorizado: "É bom juntar todos na mesma sala. Eu mal saía da zona sul, nunca tinha conhecido ninguém que pegava trem para ir ao colégio", diz a aluna de direito Raissa Oliveira.
O reitor da Uerj, Ricardo Vieralves, afirma que o nível de qualidade do ensino na universidade não caiu depois da adoção das cotas.
A comparação da performance dos formandos da universidade no Enade antes e depois da adoção da medida mostra que a média geral na Uerj se manteve, com pequenas mudanças nas notas, para cima ou para baixo, dependendo da faculdade.

publicado:folha de São Paulo

sábado, 22 de dezembro de 2012

FELIZ NATAL NA ESPERANÇA DE UMA NOVA PALMARES

Que Zumbi Renasça em Nossos Corações e que Nunca percamos de vista a Nova Palmares. Feliz Natal meu Povo!!!

Natal de Jesus a partir de Dandara



por: Frei Gilvander
Com olhos fechados – por estar imerso em uma profunda experiência de amor, ou por estar envolvido em uma grande dor, ou extasiado, ou ... -,nos vemos, pois olhamos para o nosso interior, para nosso eu mais profundo. Com olhos abertos, não nos vemos; ausentes de nós mesmos, vemos o mundo, a partir de onde estão os nossos pés. Jesus, como criança pobre, nasceu há dois mil anos atrás em uma manjedoura, sem-casa e sem-terra. Hoje, o Menino de Belém quer nascer de ovo, no nosso coração, nas comunidades, nos movimentos sociais populares, nas forças vivas da sociedade. Inútil ir aos shoppings. Lá está papai Noel, que é erodes, rei opressor. Nos shoppings não está Jesus. Lá estão mercadorias, imagens adoradas pelos vassalos do deus capital, essa máquina voraz que se deleita 
em moer vidas. 

Vamos fazer como os magos do evangelho de Mateus (Mt 2,1-12): seguir a Estrela, indo para fora do Centro, e lá nos morros, nas periferias, nas ocupações urbanas e rurais, debaixo dos viadutos. Aí encontraremos o Deus que se fez humano a partir dos empobrecidos! O Deus que, como mistério de infinito amor, se apaixonou pela humanidade e por toda biodiversidade e, por amor, acampou entre nós. Chegou de mansinho, como criança frágil, a partir dos porões da humanidade.

No Natal celebramos a luz e a força divina irrompendo na humanidade, em Jesus de Nazaré. Jesus se alegrava ao perceber o Reino de Deus irradiando em todos e em tudo. Jesus se mostrou ecumênico, aberto ao outro que dignifica a convivência social. Libertou-se de preconceitos. Não discriminava ninguém. Conviveu com todos, despertou a beleza e a grandeza existente em nós. Jesus anunciava, pelo seu modo de ser e de agir, basicamente o seguinte: Veja a beleza, a força, a grandeza, a dignidade, o divino existente em você, na comunidade, nos pequenos, nos simples e no universo. Não queira buscar fora o que fervilha em você e em volta de nós. É nas relações humanas, políticas e ecológicas que energia e luz libertadoras se manifestam. Natal é Deus conosco, nós com Deus e nós com nós. Todas essas três dimensões vivenciadas em uma grande sinfonia. Natal é perceber o divino no humano, é ver a sacralidade em todos e em tudo, observando rioritariamente a partir do elo mais fraco ou enfraquecido. É superar todo e qualquer tipo de dualismo, de reducionismos, de simplificações. 

Na Dandara, ocupação que se tornou comunidade, em Belo Horizonte, MG, mil e poucas famílias estão, há 3,8 meses, como a estrela que guiou os magos,brilhando e apontando o caminho para construirmos uma cidade e uma sociedade que caibam todos os seres vivos em igual dignidade. Na Dandara, pelo segundo ano consecutivo, a comunidade canta o NATAL NA DANDARA – composição de Maria do Rosário de Oliveira Carneiro, melodia de Lapinha na Mata - que diz assim:


Um dia numa lapinha / Um grande caso se deu / Um garotinho bacana / De uma mulher nasceu. / Aqui bem longe, bem longe, / Na nossa querida Dandara / Tem
lugar pra você, Jesus / Na nossa humilde casa (bis) / A gente vivia sofrendo / Escravos do aluguel / Mas, eis que surgiu a Dandara / Tornou-se um pedaço
do céu (bis) / A nossa casa é simples / Mas tem flores no quintal / E tem lugar pra você, Jesus / Na noite do seu Natal (bis) / Aqui na nossa Dandara
/ Aprendemos que tem que lutar / Construir em mutirão / Com fé, com garra e união (bis) / As nossas crianças e idosos / Agora tem felicidade / Dandara
está construindo / Uma nova sociedade (bis) / A nossa casa é cheinha / De pessoas pra sustentar / Mas ainda tem pra você, Jesus / Uma vaguinha em
nosso lar (bis) / Nasce na nossa Dandara / Você vai correr e brincar /Passear com nossas crianças / Nós vamos também te cuidar (bis) / Dandara é
uma grande lapinha / Um lugar por Deus indicado / Fazemos reforma urbana / E Deus está ao nosso lado (bis) / A nossa Dandara é feliz / Na luta por
moradia / Nasce com a gente, Jesus / Traz um Natal de alegria (bis).

No último domingo, 16 de dezembro de 2012, uma celebração prévia de natal, encerrando a novena do natal em família, demonstrou o quanto em Dandara se
vive o verdadeiro espírito do natal. Com a inspiração das leituras bíblicas, o povo presente na celebração expressou como experimenta o natal: através da solidariedade entre as famílias e a rede de apoio, das construções em mutirões, da produção de alimentos através das hortas comunitárias e hortas nos quintais, da emancipação das pessoas, da organização popular, da luta por direitos e não somente pelo direito a moradia. Ao final da celebração, um gesto na contramão do espírito do mercado que impulsiona as pessoas a comprar presentes e consumir ao máximo nesta época de natal: um apoiador de Dandara trouxe várias mudas de plantas: pequi (uma raridade), ipê amarelo, siriguela, fruta do conde e presenteou a comunidade. Moradores se ofereceram, com muita alegria, para plantar e cuidar das mudas em nome de toda comunidade. Gestos e experiências como estas revelam o profundo sentido do natal. Como Dandara, milhares de outras comunidades de resistência são verdadeiras lapinhas vivas que sinalizam, como a estrela que guiou os magos, onde está o menino, o messias humano-divino que é sinal de vida vivida com dignidade,mesmo que esta dignidade seja construída de maneira revolucionária, com muita luta, ternura e resistência. A partir de Dandara, das Comunidades Eclesiais de Base, da Teologia da Libertação, dos movimentos sociais populares, do que é mais humano e, por isso, divino, entendemos que a melhor forma de celebrar o Natal não é dando presentes, mas sendo presentes, sendo presença divina no mundo cultivando relações humanas que tecem um novo tecido social justo, solidário, ecumênico e sustentável ecologicamente. Sejamos presente, presença divina, assim como o menino de Belém foi, é e será sempre em nós.

*Frei Gilvander é padre carmelita.

Adeus ao grande Mestre Maé da Cuíca

por:Claudio Ribeiro
O sambista Ismael Cordeiro (Mestre Maé da Cuíca), conhecido pela influência no samba paranaense, morreu nesta sexta-feira (21), aos 85 anos, no Hospital da Policia Militar, em Curitiba. Maé da Cuíca, fundador da primeira escola de samba de Curitiba, em 1945, a Escola de Samba Colorado. Um dos maiores sambistas da nossa terra, Maé é uma lenda, personagem central da história do samba e do Carnaval na capital paranaense.
Cidadão Samba
Binho (musico e filho do Mestre Maé), João Carlos (pesquisador), Cláudio Ribeiro e Mestre Maé da Cuíca.
A história dos sambas-enredo no Paraná começa em 1932. Ismael Cordeiro, então com cinco anos, já era um pia, como se diz no Paraná, um agitador. Tomou a dose e passou mal, a ponto de fazer com que seu pai, ferroviário em Ponta Grossa, tivesse que levá-lo de vagonete para Curitiba no meio da noite. Ficou em tratamento por alguns dias, tempo suficiente para
que o quilômetro 108 da ferrovia – um pátio de manobras de trens anexo à ferroviária – tivesse um novo trabalhador e Curitiba um dos seus primeiros sambistas.
A família Cordeiro se instalou na Vila Tassi (Vila que tem a homenagem em samba do seu parceiro Cláudio Ribeiro), já reconhecida por abrigar trabalhadores ferroviários que tinham no samba o momento de descontração.
Como ele dizia: “quietinho, os pías batendo e cantando. Passou o tempo e fui gostando da coisa. Na hora em que eles paravam para tomar o gorozinho eu batia no tamborim”, disse Cordeiro, que aos 84 anos ainda faz questão de calçar indefectíveis sapatos brancos.
E toda tarde tinha samba na Vila Tasse. A casa de Ismael Cordeiro, que começava ali a virar o Maé da Cuíca, ficava onde hoje é o Moinho Anaconda. “Nunca estudei música, não entendo nada de música, mas um dia aprendi”, explica Maé, em meio a quadros e troféus de carnavais passados.
Vila Tassi e a Escola de Samba Colorado. Berço dosamba curitibano, fundada em 1946, a Escola de Samba Colorado formou batuqueiros de todos os matizes e levou à avenida alguns dos mais belos enredos já compostos na terra dos pinheirais. Em seus 60 anos de história a agremiação
fundada por Ismael Cordeiro, o Maé da Cuíca, cresceu, superou barreiras sociais, conseguiu feitos inimagináveis e conquistou lugar de destaque na história do carnaval paranaense e brasileiro.
Além de formar grandes batuqueiros e semear o samba na cidade, a agremiação boca-negra deu frutos aos primeiros grupos de samba a tocar na noite de Curitiba – como o Partido Alto Colorado e o Maé Samba Show.
Terezinha (companheira de longos anos), Cláudio Ribeiro (parceiro e amigo) e Mestre Maé.
O jogador de futebol
Na batuta de Maé da Cuíca estava o comando do batuque e das canções que embalavam o Ferroviário, que virou Colorado (nome da Escola de Samba fundada por Ismael) e hoje Paraná Clube,  na reta do relógio da Vila. Além de fundador da escola de samba Colorado, ele defendeu as cores do Ferroviário dentro de campo. “Em 1949 fui campeão brasileiro do SESI, no Rio de Janeiro. Na volta me levaram pro Ferroviário. Jogava no meio de campo, lateral também”, recordava.
Maé da Cuíca no Rio de janeiro
Elcio Guiraud, Homero Réboli(arquiteto e compositor), Cláudio Ribeiro e Mestre maé da Cuíca.
Em 1977 quando Cartola (Agenor de Oliveira) ouviu “Não Vou Subir”, que os curitibanos Homero Reboli e Cláudio Ribeiro inscreveram-se para o Festival de Novos Compositores, promovido pela Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira e Riotur, não teve dúvidas: não só elogiou o samba como estimulou seus autores a inscrever outras músicas nesta promoção
destinada a escolher cinco melhores composições, que junto com sete outras
finalistas seriam gravadas num elepê. Resultado: Homero e Cláudio acabaram
tendo quatro músicas inscritas no Festival e foi exatamente o Mestre Maé da
Cuíca com seus “batuqueiros” que foi defender os sambas no Rio de Janeiro.
Sucesso. De forma emocionante, Maé conseguiu empolgar a direção da agremiação,
seus componentes, Carlos Cachaça, Nelson Cavaquinho e o proprio Cartola entre
outros. Resultado: Homero e Cláudio ganharam o festival e tiveram o direito de
pertecerem a ala de compositores da escola e o Mestre Maé marcar seu nome
definitivamente na história da música popular brasileira.
Maé da Cuíca esta sendo velado na Capela do Cemitério Municipal do Água Verde.
O sepultamento será neste sábado (22) ás 13 horas no mesmo Campo Santo

Campanha pede doações para Waltel Branco, hospitalizado

Marcelo Elias / Gazeta do Povo /

Uma campanha de um grupo ligado à área cultural pede doações para o músico paranaense Waltel Branco, 83, que está internado no hospital Cruz Vermelha. O quadro clínico não foi informado pelo hospital até o fechamento desta edição. O músico falou por telefone com a Gazeta do Povo e disse estar aguardando o diagnóstico.
As doações, de acordo com o produtor cultural Rodrigo Fornos, em sua página no Facebook, seriam destinadas ao pagamento das despesas de Branco, já que a situação do músico não seria “nada boa”.
As doações devem ser feitas por meio de depósito bancário na conta do músico: Waltel Branco, Banco do Brasil, agência 4500-4, conta corrente 17.092-5.
Branco, um dos artistas mais importantes do Paraná, é um músico cuja obra foi reconhecida nacional e internacionalmente. Entre os nomes mais famosos com quem trabalhou estão o de João Gilberto, de quem foi arranjador, e de Quincy Jones e Henry Mancini, com quem trabalhou na trilha sonora do filme A Pantera Cor-de-Rosa.
fonte: gazeta do povo

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

USP, Unicamp e Unesp terão cotas por desempenho

FÁBIO TAKAHASHI
DE SÃO PAULO - EDUARDO VASCONCELOS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O governo de São Paulo apresentou ontem seu projeto para aumentar para 50% a presença de estudantes de escolas públicas nos cursos das universidades paulistas (USP, Unicamp e Unesp).
A proposta não prevê reserva direta de vagas. O aluno só será beneficiado se demonstrar alto desempenho acadêmico, ainda que haja risco de que o posto não seja ocupado por um egresso da rede pública de ensino.
O modelo é diferente do adotado nas universidades federais, onde 50% das vagas da graduação serão garantidas a alunos da rede pública -mesmo que as notas deles na seleção sejam mais baixas.
Na proposta desenhada pelos reitores paulistas, os 50% aparecem como uma meta, a ser atingida até 2016 e que pode deixar de ser cumprida caso as políticas de auxílio não tenham o efeito esperado.
A expectativa é que 35% dos beneficiados sejam pretos, pardos e indígenas.
AÇÕES
Para atingir a meta de 50%, o projeto prevê duas ações.
A primeira é a criação de curso preparatório semipresencial, de dois anos, oferecido a alunos selecionados pelo Enem ou pelo Saresp.
Ao final do curso, chamado de "college", o aluno com o equivalente a nota 7 receberá um diploma superior. Quem quiser seguir os estudos poderá entrar nos cursos de graduação, sem vestibular.
Além disso, será dada uma bolsa mensal de R$ 311 aos alunos de baixa renda participantes desse curso.
O "college" terá 2.000 vagas (sendo mil para pretos, pardos e indígenas). Caso todos os alunos se formem e queiram entrar nas universidades, eles representarão cerca de 40% da meta para 2016.
Os outros 60% deverão ser preenchidos com política de atração de bons alunos da rede pública, cujas ações não estão definidas. Algumas estratégias existentes, como bônus nos vestibulares a esses estudantes, serão mantidas.
A proposta foi elaborada pelos reitores a pedido do governador Geraldo Alckmin (PSDB), que está pressionado pela política federal de inclusão no ensino superior.
A ideia é reduzir a distorção do sistema educacional: enquanto mais de 80% dos alunos do ensino médio estudam na rede pública, eles são minoria nessas universidades.
A proposta terá de ser aprovada pelos Conselhos Universitários. A previsão é implantar as regras em 2014.
Editoria de arte/Folhapress

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Morrem duas vezes e meia mais negros do que brancos no Brasil

Os números foram apresentados por Julio Jacobo, autor do Mapa da violência 2012: A Cor dos Homicídios do Brasil, durante o lançamento hoje (29), na SEPPIR. Segundo ele, se somados apenas os homicídios de negros é possível colocar o país no 4º lugar do ranking mundial de violência

Os dados são do Mapa da Violência 2012: A Cor dos Homicídios no Brasil.
A cada dado apresentado pelo autor da pesquisa, Julio Jacobo, do Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos (CEBELA) fica claro que a violência letal no país tem prioritariamente a cor negra. No período de 2002 a 2010 houve uma redução de 25,5% de homicídios de pessoas brancas, já entre os negros houve aumento de 29,8%.

Em 2010, por exemplo, 14.047 brancos foram assassinados, contra 34.983 negros. Se levada em consideração a idade, a diferença é ainda maior: nesse mesmo ano, enquanto a taxa de homicídio do total da população negra foi de 36,0, a dos jovens negros foi o dobro, 72,0.

Comparando todo o período que compreende a pesquisa, percebe-se que, proporcionalmente, morrem duas vezes e meia mais jovens negros que brancos. Em oito anos, a taxa de homicídios de jovens negros, que era de 71,7%, passou para 153,9%.

Segundo a ministra da Igualdade Racial, a estatística é importante para subsidiar políticas públicas e reverter esse quadro. “São dados que precisamos conhecer, abraçar e enfrentar”, afirmou a chefe da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR). A constatação foi reafirmada pelo secretário executivo da pasta, Mario Theodoro. De acordo com ele, são essas informações que têm balizado as ações do governo federal, como o Plano de Enfrentamento à Violência contra a Juventude Negra, o Juventude Viva, lançado em setembro em Alagoas e que deve ser expandido para cinco Estados em 2013.


De acordo com o autor da pesquisa, os altos índices estão se tornando naturais e a educação é a principal alternativa para alterar esse quadro. Ele explicou que o número de negros matriculados no Ensino Médio tem diminuído e que atualmente oito milhões de meninos negros não estudam e nem trabalham, por isso, é preciso fazer políticas públicas de incorporação de jovens nas escolas. “O custo da violência é muito maior do que o da educação”, observou.

O Mapa é uma realização do o Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos - CEBELA e a Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais - FLACSO em conjunto com a SEPPIR. Esse é o 20º relatório, porém, é o primeiro com recorte racial. Os dados que basearam o estudo foram retirados dos Censos Demográficos, das Pesquisas Nacionais por Amostra de Domicílios do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) do Sistema de Informação de Mortalidade (SIM).

Faça o download do mapa no site www.mapadaviolencia.org.br


quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Brasil comemora o centenário do seu maior sanfoneiro



Da Agência Brasil

Brasília - No dia 13 de dezembro de 1912, uma sexta-feira, nascia em Exu (PE) o segundo dos nove filhos do casal Januário José dos Santos e Ana Batista de Jesus, que, na pia batismal da igreja matriz da cidade recebeu o nome de Luiz Gonzaga Nascimento.
Com apenas 8 anos de idade, ele substitui um sanfoneiro em festa tradicional na Fazenda Caiçara, no Araripe, Exu, a pedido de amigos do pai. Canta e toca a noite inteira e, pela primeira vez, recebe o que hoje se chamaria cachê. O dinheiro, 20 mil réis, "amolece" o espírito da mãe, que não o queria sanfoneiro.

A partir daí, os convites para animar festas - ou sambas, como se dizia na época - tornam-se frequentes. Antes mesmo de completar 16 anos, Luiz de Januário, Lula ou Luiz Gonzaga já é nome conhecido no Araripe e em toda a redondeza, como Canoa Brava, Viração, Bodocó e Rancharia.

Um século depois, muitas são as histórias que seus companheiros têm para contar desse homem que fez o povo brasileiro conhecer a dureza da vida no sertão, mas também levou muita alegria com sua sanfona para todo o país.

Edição: Tereza Barbosa



Especialista defende adoção de políticas públicas para reverter “genocídio” de jovens negros

Isabela Vieira
Repórter da Agência Brasil


Rio de Janeiro - A falta de políticas públicas com foco em meninos negros de 12 a 18 anos se refletiu no aumento do Índice de Homicídios na Adolescência (IHA), avalia a coordenadora do

Programa de Redução de Violência Letal contra Adolescentes e Jovens, Raquel Willadino. Em 2010 o índice chegou a quase três mortos para cada grupo de mil jovens, enquanto em 2009 era 2,61. Os dados foram divulgados hoje (13) pelo Laboratório de Análise da Violência (LAV) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

Calculado com base no banco de dados do Ministério da Saúde, o IHA mostra que correm mais risco de serem assassinados, provavelmente por armas, adolescentes do sexo masculino, cuja chance de ser morto é 12 vezes maior do que a de uma menina. Já o risco de um negro ser vítima de homicídio é quase três vezes superior ao de um branco.

De acordo com Raquel, que é doutora em psicologia social, pesquisas recentes da organização não governamental Observatório de Favelas, feita em 16 regiões metropolitanas, revelam que apenas 16% dos programas de enfrentamento da violência desenvolvidos nos últimos anos por estados e municípios levaram em conta a questão de gênero. No caso da questão racial, o percentual cai para 8%.

“O racismo é um elemento estruturante dessa ênfase na letalidade da juventude negra, temos o processo de criminalização não só da pobreza, mas particularmente dos jovens negros moradores de espaço populares”, disse.

Ela lembra que o Mapa da Violência, que traça o perfil das mortes entre pessoas de 15 a 29 anos, já apontava assassinatos generalizados de negros.

Perguntada sobre o Plano de Prevenção à Violência contra a Juventude Negra, chamado Juventude Viva,lançado pelo governo federal em setembro deste ano, Raquel avaliou que a iniciativa é muito recente e não produziu “a reversão do genocídio de negros”.

“Existe investimento para o enfrentamento do genocídio da juventude negra, mas ainda não se traduziu na reversão desse quadro”, acrescentou a especialista.

O Programa de Redução de Violência Letal contra Adolescentes e Jovens, coordenado por Raquel, é uma iniciativa da organização não governamental Observatório de Favelas, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República e do Fundo das Nações Unidas para Infância (Unicef).

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Técnicas do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) Amanhã em Curitiba

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, fundação vinculada à Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, por meio da sua Diretoria de Estudos e Políticas Sociais, está promovendo uma pesquisa sobre reserva de vagas para negros na administração pública.

Por esse motivo o IPEA estará fazendo uma visita técnica ao Paraná para conhecer a experiência do Estado em politicas de ações afirmativas à comunidade afrodescendente. O IPEA já tem entrevista agendada com organizações públicas do Estado e convida o Movimento Social Negro, de modo a conhecer sua participação e opinião a respeito da politica afirmativa implementada pelo Estado.

A visita técnica será realizada pelas pesquisadoras Tatiana Dias Silva e Ana Paula Volpe, entre os dias 11 e 13 de dezembro de 2012.

A reunião com o Movimento Social Negro está agendada para terça dia 11 de dezembro às 17h30min, em Curitiba, no SINDIJOR (Sindicato dos Jornalistas) r. José Loureiro, n°211 praça Carlos Gomes.

Carlos Moore em Curitiba

MÚSICA E LANÇAMENTOS DE LIVROS NA UFPR
Fonte: Eli Antonelli <eliantonellijornalismo@gmail.com>

Um dos mais importantes intelectuais negros da atualidade vem à Curitiba para relançar o livro Racismo e Sociedade – Novas Bases Epistemológicas para entender o racismo da editora Nandyala. O cubano Carlos Moore, radicado na Bahia, participa do encontro na UFPR no próximo dia 11 de dezembro (terça-feira) às 18H30h, num encontro promovido pelo Núcleo de Estudos Afro-brasileiros NEAB/UFPR.

Moore é doutor em ciências humanas e em etnologia pela Universidade de Paris e chefe de Pesquisa na Escola para Estudos de Pós-Graduação e Pesquisas na Universidade do Caribe, em Kingston, na Jamaica. A obra tem a proposta de revelar discussões mais profundas do racismo, busca esclarecer opiniões e quebrar distorções produzidas por informações expostas por tantas vezes na academia e imprensa.

Por meio de análises bibliográficas atualizadas Moore recoloca a problemática da gênese histórica do racismo e questiona a relação que se tenta estabelecer hoje, entre racismo e a modernidade ocidental, por causa da noção de raça, que teria dado sustentação cientifica às raízes do racismo. Uma obra profunda, que chega num momento ímpar das discussões acerca da luta contra o racismo na sociedade brasileira.

Para a diretora do IPEAFRO, viúva do pensador negro que marcou a história brasileira, Abdias Nascimento, as discussões de Carlos Moore são fundamentais para construirmos um embasamento teórico para o conhecimento do que realmente é o racismo, como fenômeno histórico de abrangência mundial. Elisa diz que Moore esta trazendo um enfoque original.

Dra. Sueli Carneiro, educadora da USP e Coordenadora Executiva do Geledés Instituto da Mulher Negra afirma que a obra de Moore é uma leitura obrigatória para todos e todas que rejeitam a reedição de velhos modelos teóricos que, ao invés de iluminarem a compreensão do real, prestam-se ao seu ocultamento.

E tem muita música na programação

Além da ilustre presença do escritor Carlos Moore, o encontro contará com muita música africana e música brasileira com influência africana. O professor Abel Ribeiro dos Santos, especialista na temática da musicalidade, graduado em filosofia, pós graduado em Direitos Humanos, pós graduado em Políticas Públicas e Cidadania e mestre em sociologia pela UFPR, realizará um momento especial falando e cantando a musicalidade afro-brasileira. Mostrando a influência da música africana para a cultura brasileira.
Abel, tem 25 anos de experiência com música. E neste encontro irá mostrar um pouco das músicas de algumas tribos de Angola, algumas manifestações da musicalidade da Bahia e Rio de Janeiro.

Outra importante obra será lançada no encontro

E para quem já se encantou com a noite de terça-feira, fique atento, pois haverá ainda o lançamento da obra: Relações étnico-raciais, educação e produção do
conhecimento: 10 anos do GT 21 da ANPED", organizado pelas Professoras Silvani Santos Valentim (CEFET-MG), Vilma Pinho (UFPA) e Nilma Lino Gomes(UFMG). Lançado pela editora Nandyla durante as atividades da Reunião Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (Anped) de 2012, o livro reúne os trabalhos apresentados durante a reunião da Anped de 2011. O lançamento do livro faz parte das comemorações em torno dos 10 anos de criação do GT 21, o GT Educação e Relações Étnico-Raciais na Anped, que muito contribui para a pesquisa e discussão de políticas no campo da educação das relações étnico-raciais no Brasil. O psicólogo Wellington Oliveira dos Santos falará sobre a obra durante o encontro.


As inscrições para o encontro devem ser feitas por e-mail
<uniafro2008@yahoo.com.br>,
Local: Sala Homero de Barros – UFPR
Reitoria – Ed. D. Pedro I
Endereço: R General Carneiro, 460
Bairro: Centro
11/12/2012
18h30

domingo, 9 de dezembro de 2012

Técnicas do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) estarão em Curitiba

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, fundação vinculada à Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, por meio da sua Diretoria de Estudos e Políticas Sociais, está promovendo uma pesquisa sobre reserva de vagas para negros na administração pública.

Por esse motivo o IPEA estará fazendo uma visita técnica ao Paraná para conhecer a experiência do Estado em politicas de ações afirmativas à comunidade afrodescendente. O IPEA já tem entrevista agendada com organizações públicas do Estado e convida o Movimento Social Negro, de modo a conhecer sua participação e opinião a respeito da politica afirmativa implementada pelo Estado.

A visita técnica será realizada pelas pesquisadoras Tatiana Dias Silva e Ana Paula Volpe, entre os dias 11 e 13 de dezembro de 2012.

A reunião com o Movimento Social Negro está agendada para terça dia 11 de dezembro às 18h, em Curitiba, com local ainda a ser confirmado. Maiores informações e complementares estaremos publicizando neste blog.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Lei de Cotas pode mudar composição social e melhorar qualidade da escola pública, avaliam especialistas

Thais Leitão e Heloisa Cristaldo
Repórteres da Agência Brasil

Brasília - A implementação da Lei de Cotas pode mudar “radicalmente” a composição social da escola pública brasileira, principalmente no ensino médio, e influenciar também na melhoria da qualidade do ensino na rede pública. Na avaliação do coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, “as cotas colocam a escola pública no centro do debate”.

“Acredito que em dois ou três anos já veremos um aumento no número de matrículas das elites ricas nas escolas públicas”, diz.

Pela Lei de Cotas, regulamentada em outubro pelo Decreto nº 7.824, 50% das vagas em universidades e institutos federais serão destinadas a alunos que tenham cursado todo o ensino médio em escolas públicas. As seleções de ingresso já garantem para o próximo ano 12,5% das vagas aos estudantes da rede pública. A Lei, que tem implementação gradual, terá validade até 2022 e também considera critérios como renda familiar e raça.

A professora de políticas públicas em educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Dalila Oliveira, acredita que ainda é cedo para apontar os impactos que as cotas terão na configuração da escola pública. Segundo ela, são necessários pelo menos três anos para verificar a confirmação da tendência de mais matrículas por parte da população mais rica. Caso isso ocorra, ela avalia que a qualidade do ensino nas unidades públicas pode dar um salto de qualidade.

“Por enquanto, é apenas especulação, mas caso a tendência se confirme, será um movimento favorável”, avalia. “Afinal, pais mais escolarizados, com mais tempo, disposição e condições materiais para acompanhar o desenvolvimento dos filhos e participar da gestão escolar podem influenciar positivamente na escola”, completa.

Dados da Síntese de Indicadores Sociais: Uma Análise das Condições de Vida da População Brasileira 2012, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na última quarta-feira (28), mostram que 8,6% dos estudantes do ensino médio matriculados nas escolas da rede pública são de famílias cuja renda per capita se situa na faixa dos 20% mais ricos do país. Na situação inversa, o índice é menor: apenas 3,8% dos estudantes de famílias pobres estudam em escolas particulares. Na rede privada, 53,2% dos estudantes do ensino médio pertencem à faixa de renda mais rica.

Além do sistema de cotas, Daniel Cara avalia que a implementação do Plano Nacional da Educação (PNE), que tramita no Senado Federal, também vai influenciar na mudança do perfil socioeconômico das matrículas na escola pública. “Em dez anos a gente deve mudar as características da educação pública e a tendência é expandir a matrícula nessa rede”, aposta Cara.

O PNE estabelece 20 metas educacionais que o país deverá atingir no prazo de dez anos. A principal delas é a que prevê um patamar mínimo de investimento em educação, a aplicação de 10% do Produto Interno Bruto (PIB). Atualmente, os valores de investimento total em educação, em relação ao PIB, passaram de 5,8% para 6,1%, de 2010 para 2011. O investimento direto em educação em relação ao PIB subiu de 5,1% para 5,3% no mesmo período.

A professora Dalila Oliveira, que também é presidenta da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação, avalia que a convivência no ambiente escolar entre crianças e adolescentes de diferentes classes sociais é enriquecedora, mas destaca a necessidade de o país continuar avançando na redução das desigualdades sociais.

Professor da Universidade de São Paulo (USP), o doutor em educação Rubens Barbosa acredita que as famílias não vão abrir mão do ensino privado, caso tenham condição financeira suficiente. Para ele, as cotas terão outro desdobramento na escola pública.

“Quem pode pagar, vai continuar pagando porque [o ensino privado] faz parte de uma opção familiar. Eu acho que o efeito mais significativo das cotas na escola pública será o estímulo a estudantes negros que, antes, sem perspectiva de acesso ao ensino superior, nem concluíam o ensino médio. Agora, muitos vão se esforçar para conseguir chegar ao fim porque sabem que têm mais chances de entrar na universidade”, avaliou.

Para ele, as cotas garantem, uma “inclusão inédita, com resgate de déficits culturais e históricos” no país.

Performances ousadas da Bahia em Curitiba

Luiz Guarnieri/Divulgação
Luiz Guarnieri/Divulgação / Edital é uma das atrações desta sexta-feira na Casa HoffmannEdital é uma das atrações desta sexta-feira na Casa HoffmannArtistas do grupo Dimenti chegam à cidade com patrocínio da Funarte para mostrar criações que dialogam com as artes visuais

O coletivo Couve-Flor encerrou suas performances sugestivas em Curitiba, mas um de seus integrantes volta à cidade trazendo reforços. Netto Machado vem na companhia do grupo Dimenti para apresentações, de sexta a domingo, na Casa Hoffmann e Teatro José Maria Santos, dentro da programação do Projeto Combo.

Com patrocínio do Prêmio Funarte (do Ministério da Cultura) de Dança Klauss Vianna, os artistas já passaram por Recife, Rio de Janeiro, Belém e Brasília.

Nesta sexta, apresentam-se Fábio Monteiro, com Edital, e Leo França, com Single. Este último, cujo nome poderia sugerir solidão, é uma instalação coreográfica, ou seja, é dança mas dialoga com as artes visuais. O artista contou à Gazeta do Povo que espalha objetos pela sala: uma vitrola que lembra uma caixinha de música; um aquário que sugere uma cidade submersa e aprisionada, e vários tijolos dispostos no espaço. “Queria desconstruir fronteiras muito rígidas e violentas existentes na cidade”, explica Leo. “Por isso o aquário, que se parece com nossos apartamentos, numa redoma de vidro.”

A tensão urbana da ameaça de violência e do medo do contato com o outro surge em movimentos em que o artista se aproxima e se afasta do público. Outro elemento é sugestivo da proposta do baiano: o figurino traz uma coluna vertebral feita de ferros que se assemelham às proteções de muro que afastam meliantes das residências. “É um aparato de violência para prevenir a violência”, critica Leo.

No domingo, a última performance, Souvenir (criação com Netto Machado e outros artistas) faz uma incursão a um quintal da região da Casa Hoffmann, de onde o grupo sairá às 18h30.

publicado - gazeta do povo - 07/12/2012

BA: Niemeyer homenageou Marighella e terreiro de Candomblé

Pouca gente sabe, mas é no Quinta dos Lázaros, cemitério popular de Salvador, que está exposta uma das duas obras que o arquiteto Oscar Niemeyer, morto na última quarta-feira (5/11), tem na Bahia. Lá, em meio a uma imensidão de sepulturas, qualquer funcionário sabe apontar com precisão uma das lápides mais ilustres do local: “A de Marighella? É aquela, logo ali na frente”, indica o vigia.
Comunista declarado, Niemeyer desenhou o túmulo do também comunista Carlos Marighella (1911-1969), guerrilheiro baiano morto por militares, durante uma emboscada, em São Paulo. O projeto foi um presente à família de Marighella, que era um dos símbolos da luta contra a Ditadura Militar (1964-1985), e foi posto em prática no momento que os restos mortais do guerrilheiro chegaram à Bahia, em 10 de dezembro de 1979, dia internacional dos Direitos Humanos.

No trabalho, há um desenho da silhueta de Marighella, que aparece com o braço direito erguido, em alusão à luta. Além disso, estão inscritos os dizeres: “Não tive tempo para ter medo”. Na próxima segunda-feira (10), data de aniversário da vinda da ossada do comunista para a capital baiana, os familiares e admiradores farão uma visita ao túmulo, ritual que já se tornou uma tradição.

Ironia ou não, a morte de Oscar Niemeyer coincide com a data de nascimento do homem para quem ele desenhou a lápide. Também na última quarta-feira, Marighella completaria, se vivo, 101 anos.

Além do Quinta dos Lázaros, o outro local que possui uma obra assinada pelo arquiteto morto, em Salvador, é o Terreiro de Candomblé Casa Branca (Ilê Axé Iyá Nassô Oká), localizado na Avenida Vasco da Gama. A Praça de Oxum, que fica logo na entrada do terreiro, que é o primeiro do Brasil, foi projetada por Niemeyer, na década de 1980, de acordo com o Ogã Léo, o mais antigo de lá.

O Casa Branca surgiu em 1735, primeiro na Barroquinha, no Centro da cidade, e chegou na Vasco da Gama em 1885. Desde o início, sofria perseguições e, na década de 1970, teve o território tomado para a construção de um posto de gasolina. Nesse momento, os movimentos sociais e os artistas e intelectuais, como Pierre Verger, Timóteo Anastácio, lutaram para reconquistar o espaço e venceram.

O trabalho de Niemeyer, que também foi um presente, começou a ser executado no período de retomada do terreiro, e a inauguração da praça aconteceu em 1993. Uma das partes da praça que mais chamam a atenção é um espelho d’àgua, que abriga uma escultura de Yemanjá, pois a sua estrutura traz a principal marca do arquiteto: as curvas.

“Nós nos sentimos muito orgulhosos por ele [Niemeyer] ter se lembrado do nosso terreiro porque, no passado, não éramos valorizados. Mesmo assim, ele se lembrou da gente”, conta Léo.

O Ogã acredita que, a partir de agora, a visitação no terreiro deve aumentar, depois da morte do arquiteto. “Pouca gente sabe que temos esse pedaço de Niemeyer aqui. Sempre visitam pela parte espiritual, pelo axé, mas com essa divulgação, espero que venham também conhecer a nossa praça”, finaliza.
 

publicado: vermelho.org.br
De Salvador,
Erikson Walla

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

“Verás que um filho teu não foge à luta”

Dia da Consciência Negra


por: Marta Alves*

Habitam essa terra brasileira povos de origem indígena, africana e europeia. A pátria amada tem muitos filhos e filhas com uma diversidade cultural que espelha a sua grandeza. Em um passado colonial, imperial e também republicano, o sangue indígena, africano e afrodescendente, lançado no seio desta terra, escravizado, vítima de um trágico e hediondo processo de exploração de Seres Humanos, ergueu-se em brado retumbante na luta pela dignidade e a igualdade.
 E deste sonho intenso, conquistado com braço forte, com sangue e com sofrimento, resplandece o desejo de justiça no presente, de paz no futuro e o reconhecimento das contribuições destes povos no passado. Na história da humanidade os tiranos ficam como marcas de caminhos a não serem seguidos, os poetas da vida, os compositores da dignidade, os pintores da justiça, seguem altivos indicando o caminho para a Humanidade. As suas vozes ecoam, entre tantas outras, lembrando a direção do humanismo, da fraternidade, da justiça social, da democracia, do respeito à dignidade do outro.
E foram essas vozes que ecoaram, denunciando um currículo que apenas privilegiava e valorizava as contribuições de matriz europeia, enquanto ocultava ou negava as contribuições dos povos africanos, afrodescendentes e indígenas para a construção desta pátria chamada Brasil. E foi a força dos filhos desta pátria que não foge a luta, que fizeram com que no ano de 2003 a Lei Federal
no 10.639 fosse aprovada, estabelecendo a obrigatoriedade nos estabelecimentos de ensino no Brasil, do estudo da História e Cultura Afro-Brasileira e incluiu no calendário escolar o dia 20 de novembro como “Dia Nacional da Consciência Negra”.
O dia 20 de novembro de 1695 é a data em que o líder do Quilombo dos Palmares, Zumbi, foi assassinado pelas tropas de Domingos Jorge Velho. O Quilombo dos Palmares representa um marco de resistência contra a escravidão na história do Brasil.
Em 2008 a Lei no 11.645 incluirá também a obrigatoriedade do estudo da História e Cultura Indígena no currículo escolar. Estas duas leis alteram a LDB 9394/96 (lei de diretrizes e bases da educação nacional) e passam a garantir que o currículo contemple em iguais condições as contribuições dos povos africanos, afrodescendentes, indígenas e europeus para a pátria Brasil, reconhecendo as contribuições e as histórias de todos os filhos deste solo. A educação brasileira passa a partir destas leis a ser um espaço propenso a contribuir para reflexões e ações direcionadas ao reconhecimento mútuo, a existência da pluralidade e o exercício da cidadania de forma plena.
Mas o lábaro da justiça social, da dignidade, do respeito, desafia os filhos da pátria a exercitarem a sua irmandade, a praticarem o que prevê a Constituição de 1988. Porque a pátria cresce quando seus filhos crescem! E as vozes dos brasileiros marginalizados, que reivindicam o direito a vida, a educação, a saúde, ecoam em novos brados que cobram da pátria o seus direitos, que foram negados em um regime escravocrata e levam a aprovação em 2010, após dez anos de tramitação no Congresso Brasileiro, o Estatuto da Igualdade Racial (Lei no 12.288).
Em novembro de 2011, a Lei federal no 12.519, instituí dia 20 de novembro,
data do assassinato do líder negro Zumbi dos Palmares, como o “Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra”. A luta de um povo para visualizar a sua face, na sua própria pátria continua!
E os filhos da pátria crescem em solidariedade, uma virtude humana que impulsionou o belo, o forte, o brado Curitibano em 26 de novembro de 2012, em homenagem a Zumbi dos Palmares, aprovando na Câmara Municipal de Curitiba em primeiro turno o “Dia da Consciência Negra”, 20 de novembro
como feriado municipal; reconhecendo a luta de um brasileiro, que identifica tantos outros brasileiros sepultados na história desta nação, que lutaram e os que ainda lutam, contra a humilhação, o desrespeito, a escravização de um povo, do qual a cor da pele e a diferença cultural foram usadas como justificativa para o genocídio de uma população negra (africana e
afrodescendente).
E mesmo diante do registro na história do Brasil e mundial, do genocídio da população negra neste país e em outros países, da exploração desta população como mão de obra no sistema econômico e comercial, o brado, impávido colosso, da Câmara Municipal de Curitiba de transformar o “Dia da
Consciência Negra” em feriado municipal encontra na Associação Comercial do Paraná o posicionamento contrário a este feriado. Ao enaltecer o econômico, decresce o humano!

*Marta Mariano Alves mé Pedagoga na rede estadual de ensino do Paraná;
faz parte do corpo diretivo da UNEGRO/PARANÁ.

sábado, 1 de dezembro de 2012

BA: Homicídio de jovens negros aumenta mais de 300% em oito anos

Na última quinta-feira (29), o Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos (Cebela) divulgou o Mapa da Violência 2012: A Cor dos Homicídios no Brasil, que revelou que a Bahia está em 1º lugar no número de homicídios da população negra jovem. Entre os anos de 2002 e 2010, os homicídios cresceram 318%. No total, foram 3.160 mortes de jovens negros no estado em 2010 e 203 de jovens brancos.

A Paraíba e o Pará ficaram em segundo e terceiro lugar, respectivamente, no ranking. A Bahia também é o estado que mais concentra municípios com mais de 50 mil habitantes que possuem taxas elevadas de homicídios de negros em 2010. Simões Filho conta com a segunda maior taxa (177,8) e Porto Seguro com a quinta mais elevada (153,7).

Apesar de ter o maior número de homicídios de negros, com 1.659 mortos em 2010, Salvador fica após a 40ª posição neste ranking, com taxa de 78,3. Já a cidade de Barreiras não registrou homicídios de negros no ano de 2010. A Bahia também está em 7º lugar entre os oito estados que ultrapassam a preocupante marca dos 100 homicídios por cada 100 mil jovens negros.

Para o dirigente da Unegro (União de Negros pela Igualdade), Jerônimo Silva, o estudo demonstra que, mesmo com os avanços das políticas de promoção da igualdade no Brasil, ainda há muito que se fazer, principalmente porque essas políticas estão concentradas para atender comunidade quilombolas, em cidades com menos de 50 mil habitantes e em comunidades rurais.

“As políticas não atingem os conflitos nos centros urbanos. É necessário implementar uma política de promoção da igualdade racial no mercado de trabalho, nos grandes centros urbanos. O estudo demonstra que a violência tem outros fatores agregados ao racismo, que é a exclusão social de parcela da sociedade de maioria negra. Aí, eles ficam vulneráveis a violência policial e de conflito nas suas comunidades, tanto pela falta de trabalho como pela luta contra o tráfico de droga”, finaliza.

fonte: vermelho.org.br
De Salvador,
Ana Emília Ribeiro