segunda-feira, 27 de junho de 2011

Carta ao Prefeito de Curitiba, à Fundação Cultural de Curitiba e ao Instituto Municipal de Turismo

 
Curitiba, 21 de junho de 2011.
 Parabéns Prefeito Luciano Ducci!  

 O evento Mia Cara Curitiba foi um sucesso!  Uma comemoração aos 150 anos da unificação da Itália, realizada pela Prefeitura de Curitiba, Instituto Municipal de Turismo e Consulado Geral da Itália. Com atrações culturais, gastronômicas, religiosas e esportivas gratuitas e em espaços abertos da cidade, a programação foi oferecida a toda a população de Curitiba e do Brasil, descendentes ou não de italianos, como foi ressaltado na imprensa. Com uma abertura impactante e poética, criada por um artista italiano de referência internacional, que encantou o público com esfera gigante e bailarina sobrevoando a praça Generoso Marques (bem próximo ao Pelourinho de Curitiba). A semana, de 27 de maio à 5 de junho, contou ainda com projeção de imagens nas fachadas e iluminação colorida na praça; exposições de fotografias e artes plásticas, danças folclóricas, Setimana Della Gastronomia Italiana, corrida em Santa Felicidade e mostra de filmes. Como diria meu avô, cabelo, barba e bigode! Nossos irmãos italianos (e brasileiros) merecem!
Senhor Prefeito, eu tenho a felicidade de ter minha descendência na África (como o resto da humanidade, segundo especialistas) e gostaria de ver, no Ano Internacional da Afrodescendência, 2011, uma programação especial realizada pela prefeitura de Curitiba.
Uma semana de atividades para toda a população e visitantes da cidade (e da periferia). Uma abertura espetacular, orquestrada por artistas internacionalmente reconhecidos, ou, melhor ainda, valorizando os mestres da cultura popular daqui de Curitiba mesmo, para comemorar o Ano Internacional da Afrodescendência com a grandeza que o povo curitibano merece.

Apenas recentemente tem-se considerado o papel civilizatório que os negros vindos da África desempenharam na formação da sociedade brasileira.”
História Geral da África . VI, Brasília: UNESCO, 2010.
 Com certeza nossa municipalidade, que trata todas as etnias com isonomia, está atenta ao Ano Internacional da Afrodescendência. Desde o começo de 2011 escrevemos ao senhor a este respeito. No entanto, já passamos da metade do ano e ainda não vimos o Movimento Negro e os especialistas serem chamados para tratar do assunto...
Quando a municipalidade quer trabalhar com educação física, chama um professor, quando quer um espetáculo impactante, chama uma referência internacionalmente reconhecida, quando quer cobertura jornalística, assessor de imprensa, quando quer cuidar da saúde, médico.
Senhor prefeito, sugerimos que esta importante comemoração para a população negra curitibana não seja criada por qualquer pessoa ou equipe. Sugerimos que o senhor contrate os (melhores) especialistas do mercado e ouça os anseios da comunidade, não apenas a opinião de um representante ou dois.
O senhor recebeu nossa carta no aniversário de Curitiba deste ano? Protocolamos ao Senhor Prefeito uma carta sugerindo que o Ano Internacional da Afrodescendência fosse ressaltado em maio ou em novembro, meses de consciência e combate ao racismo em todo o Brasil.
Ainda não tivemos resposta. O dia 13 de maio “passou em branco”. O dia 25 de maio, dia da África, data perfeita para um dia de ápice no Portal Africano da Praça Zumbi dos Palmares... no Ano Internacional da Afrodescendência... nada. Nem a morte do ícone do combate ao racismo deu margem a alguma manifestação da nossa municipalidade. Maio, em Curitiba, foi LupaLuna e unificação da Itália. Mas nada que demonstrassem o respeito da municipalidade pelo povo afrocuritibano.
Ano passado, no dia 26 de abril de 2010 (ofício 192/2010-SGM-2 em resposta à solicitação de inclusão do povo afrodescendente nas comemorações do aniversário da cidade de Curitiba, em 2010), fomos informados que “a Prefeitura de Curitiba tem profundo respeito por todas as etnias que compõem a história da cidade” e todas são “eventualmente” citadas.
Lembramos que Curitiba é a capital mais negra do sul do país, conforme dados do IBGE. 23,4% da população curitibana é afrodescendente. Esta porcentagem não é minoritária, os senhores ao de concordar. Muitas dúvidas estão pairando. Se Curitiba realmente não pratica o racismo velado e institucional, de que forma a municipalidade pretende demonstrar sua isonomia para com o povo afrocuritibano? E de que forma fará isso, especialmente, no Ano Internacional da Afrodescendência?
A municipalidade diz que trata a todos com isonomia. Mas então por que já passamos da metade do Ano Internacional da Afrodescendência e ainda não houve nenhuma menção ou atividade marcante da parte da Prefeitura?
“Nossa intenção é fazer com que esse evento se perpetue, seja realizado anualmente e se transforme em mais um atrativo para trazer turistas para a cidade”, afirmou Juliana Vosnika, presidente do Instituto de Turismo, no jornal Metrópole de 30 de maio, sobre o evento italiano. Na opinião do senhor ou dos seus assessores, nossas solicitações de isonomia são infundadas?
Sugerimos alguns eventos afro em Curitiba para sua apreciação e inclusão no calendário oficial: Lavação das Escadarias da Igreja Nossa Senhora do Rosário de São Benedito dos Pretos, Festival Paranaense do Samba, Mês da Consciência Negra, Abolisom – Ecos da Abolição da Escravatura, Dia da África no Memorial Africano, Caravanas da Periferia ao Centro, Aulão de Dança Afro e similares. Esperamos que a prefeitura e suas secretarias, especialmente a FCC, a SMEL, SMAM e Instituto de Turismo possam ajudar a resolver esta lacuna oficial, dando fim a este imbróglio, fanfarra do jeca tatu (ou samba do crioulo doido, como preferir) onde, na prática, a teoria é diferente e algumas etnias têm mais isonomia que outras.
Aliás, parabéns à equipe de Comunicação da Prefeitura por incluir uma mulher negra na Campanha “Doe Calor” e um pai e filho afrodescendentes na Campanha da Família. Obrigado! Rezamos para que os senhores tenham a iluminação de fazer um grande trabalho de transformação da nossa cidade, afinal, até a FIFA tem campanhas anti-racismo.
“É difícil para um negro chegar a um lugar de destaque”, desabafou a curitibana negra Michele Mara, que cantou em rede nacional. Hoje, rasgou-se o manto da invisibilidade e o Brasil inteiro sabe que em Curitiba existe uma negra talentosa. Já é um começo! Imagina quando descobrirem que, contrariamente ao que disseram os historiadores, os discursos oficiais e a mídia, somos mais de 23%, em Curitiba, e 28% de negros auto-declarados no Paraná e desde o surgimento da vila temos ajudando na construção de Curitiba com nossa força, inteligência, conhecimentos, cultura. Quantos Zacarias de Góes, Rebouças, Lápis, Eneidinas, Micheles, Soares, Santos, Silvas escondidos, invisibilizados.
Gratos por sua atenção e pelas singelas respostas que nossas cartas têm recebido, reiteramos nossos protestos de elevada estima e consideração e solicitamos da nossa municipalidade a realização de um evento em comemoração ao Ano Internacional da Afrodescendência
Atenciosamente,
 Adegmar J. Silva Candiero
                                                                      Centro Cultural Humaita
--
            CentroCulturalHumaita

        emaildohumaita@gmail.com
    informativohumaita.wordpress.com
      [41] 9161.7961 | [41] 8875.8336


Seguindo o preceito,
Salvando o respeito,
Guardando o segredo,
Mantendo o axé!

              M. Sodré

segunda-feira, 20 de junho de 2011

O Pensamento de Milton Santos
(10 anos sem Milton Santos)

9ª Semana de História
8º Congresso Curitibano de Geografia
Curitiba 15 a 20 de agosto 2011


PROGRAMAÇÃO:


Inscrições e Credenciamento: 15/08- das 18h00 às 19h00

Cerimônia de Abertura: 15/08–19h00-19h30

Apresentação: Marcelo Toniolo
Coordenador CEBRAPAZ-PR/ Francisco Manoel de Assis França
Coordenadora de Geografia FIES/ Laércio de Mello
Coordenador de História FIES/ Fernando Schinimann
Direção Geral FIES: Jorge Augusto Callado Afonso


1) Homenagem a Milton Santos (Filme/Debate) 19h30-20h00
Apresentação: Zeno Soares Crocetti FIES/UFSC

Diálogo de Abertura: 20h00/22h30
2) O pensamento de Milton Santos
- Armen Mamigonian/AGB/USP/UFSC
Coordenação: Joyce Meri Sera Marques/FIES

O pensamento de Milton Santos

16/08 Mesa Redonda 1
A Influência do Pensamento de Milton Santos I
- Coordenação Laércio de Mello/FIES
- Nilson Fraga/UNICURITIBA – A Questão Regional
- Rosa Moura/IPARDES – Questão Urbana
- Luis Almeida Tavares/IBGE – Questão Agrária.


17/08 Mesa Redonda 2
A Influência do Pensamento de Milton Santos II
Coordenação: Jurandir de Souza/FIES
- Nilton Santos/UFF  ̶  Questão Negra no Brasil
- Denis Denilton Laurindo/UNEGRO-PR ̶  Politicas Afirmativas
- Luiz Henrique Fontes Wanderley/UNEGRO-PR ̶  Objetivos da UNEGRO


18/08 Mesa Redonda 3
A Influência do Pensamento de Milton Santos III
Coordenação: Zeno Soares Crocetti/FIES
- Francisco Mendonça/UFPR – A questão da Epistemologia
- Carlos Espindola/UFSC – A Questão da Tecnologia
- César Augusto Avila Martins/FURG ̶ A Questão do Território Usado

19/08 Mesa Redonda 4
A Influência do Pensamento de Milton Santos IV
Coordenação: Fernando Schinimann /FIES
- Rodrigo Wolff Apoloni/Jornalista/Intelectuais negros na mídia
- Marcello Polinari/SEC-PR/



Serão aberto inscrições de trabalhos sobre a temática de Milton Santos e cursos que contemplem os vários métodos, técnicas trabalhadas ou propostas por Milton Santos.

Dia 20/11/2011 das 08h00 as 12h00
̶ Apresentação de trabalhos:
Comunicações Livres: para a participação nessa sessão serão aceitos, apenas, trabalhos de pesquisas, artigos, etc., concluídos ou em andamento, os quais deverão passar pela avaliação da Comissão Científica. Os trabalhos aceitos serão apresentados em sessões orais, organizados por identidade temática, tendo por tanto total liberdade acadêmica. Todos os participantes das Comunicações Livres deverão estar inscritos no evento e deverão apresentar texto do seu trabalho escrito (modelo de formato dos textos do evento, com 10 a 20 páginas), que serão entregues por ocasião da inscrição da Comunicação, pelo seu autor juntamente com um resumo da apresentação, conforme modelo, em CD ou por e-mail. Todos os resumos e títulos dos trabalhos estarão disponíveis no programa do encontro e, posteriormente, incluídos nos anais do evento.  Prazo final de inscrição: 25 de julho de 2011, sem prorrogações.

Inscrições de Trabalhos: os trabalhos inscritos no O Pensamento de Milton Santos (10 anos sem Milton Santos) farão parte da "Seção Apresentação de Trabalhos". Somente será aceito um trabalho por participante como autor principal e será concedido certificado somente àqueles que estiverem inscritos e efetivamente presentes a "Seção de Apresentação" no qual seu trabalho foi inserido. Os trabalhos devem ser entregues juntamente com a inscrição do congresso nos locais constantes no folheto de divulgação, no seguinte formato: um resumo com 200 palavras (espaço entre linhas 1,15 fonte Times New Roman, corpo 11), contendo título do trabalho, autor e instituição a qual se encontra vinculado, características principais de seu trabalho objetivos e metas a serem alcançadas (três ou cinco palavras-chave). Será publicado no Caderno de Contribuição Cientificas do Evento e os trabalhos completos, com ilustrações ou gráficos, no formato A-4 (2 cm de margem superior e inferior e margem esquerda de 3 cm. e direita de 2 cm.), Times New Roman, corpo 11, espaço 1 ½, em Word-2000-03 (ou compatível), que constará dos anais, em CD-ROM. Deverá ser entregue CD-ROM ou via e-mail (o resumo, o trabalho completo e a ficha de inscrição) no momento de sua inscrição. Cada CD deverá conter somente uma inscrição de trabalho, cabeçalho dos trabalhos (em espaço simples) deve conter as seguintes informações: Nome(s) do(s) autor(es), Instituição, Nível do Trabalho (graduação, conclusão de curso, mestrado, doutorado, profissional, etc.), Estágio/Fase do Trabalho (projeto, em andamento - em qual fase -, concluído, etc.), e o resumo em língua estrangeira (espanhol, francês ou Inglês) e E-mail. O autor, ao inscrever o trabalho, deverá estar consciente que por ser um evento temático (O Pensamento de Milton Santos) só serão aceitos com as teorias e métodos defendidos por Milton Santos. O prazo para inscrição de trabalhos; Prazo final de inscrição: 25 de julho de 2011, sem prorrogações.


̶ Mine Cursos: Poderão ocorrer ofertas de cursos de aperfeiçoamento.


Enceramento 20/08/2011 das 12h00 as 15h30
Feijoada, capoeira e uma roda de samba por adesão, onde o ingresso estará à venda durante o evento de 2ª a 5ª.


Debate Cinemateca – 16h00 as 19h00

Filme: Encontro com Milton Santos/O Mundo Global Visto do Lado de Cá.
Coordenação: Marcelo Toniolo/FIES
- Silvio Tendler/Caliban-RJ
- Rodrigo Wolff Apolloni/Gazeta do Povo
- Adilar Antonio Cigolini/UFPR

Estrutura e ficha de inscrição:
Estrutura de Funcionamento

Horário
15/08/2011
16/08/2011
17/08/2011
18/08/2011
19/08/2011
20/08/2011
18h00 19h00
Credenciamento

2) Debate
19h15
22h30


3) Debate
19h15
22h30


4) Debate
19h15
22h30



5) Debate
19h15
22h30


6) Trabalhos
08h às 12h
7) Filme
Cinemateca
16h às 19h
19h00 19h15
Abertura
19h15 29h00
Homenagem
20h00 22h30
Debate

Descrição: Descrição: cid:image001.png@01CC2E87.B7D6C4B0

Apoio:

NEPU
Núcleo de Estudos Estratégicos “Professor Ulysséa”
CEBRAPAZ-PR
Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz
SEED-PR
Secretaria de Estado da Educação do Paraná
SMED
Secretaria Municipal Educação de Curitiba
IBGE,
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
UNICURITIBA,
Centro Universitário Curitiba
IPARDES,
Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social
UNEGRO
União de Negros e Negras Pela Igualdade
FEPAL
Federação Árabe Palestina do Brasil
IBEI
Instituto Brasileiro de Estudos Islâmicos
FIES
Faculdades Integradas Espirita/Cursos de Geografia e História
UFPR
Universidade Federal do Paraná
UFSC
Universidade Federal de Santa Catarina
FURG
Universidade Federal do Rio Grande

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Conselho de Segurança aprova resolução sobre extermínio de jovens negros

Atendendo a reivindicações da juventude negra, documento pede combate prioritário ao genocídio.

A luta contra o extermínio de jovens no Brasil conta, agora, com um novo instrumento. Trata-se de uma resolução aprovada por unanimidade pelo Conselho Nacional de Segurança Pública (CONASP), em sua última reunião ordinária, entre os dias 8 e 10 de junho, no Rio de Janeiro. O documento aborda a necessidade de um combate prioritário ao genocídio da juventude negra no país.

De acordo com o Mapa da Violência 2011, a probabilidade de morte de um jovem negro, entre 15 e 25 anos, é 127,6% maior que a de um branco da mesma faixa etária. Foi essa realidade que provocou uma resolução específica que aponta “a grave situação da segurança pública no país, a qual tem como situação emblemática o crescente número de homicídios e encarceramento de jovens negros”, de acordo com o documento.

“Essa é a primeira ação proposta pelo Fórum de Juventude Negra dentro do Conselho”, conta Luiz Inácio, coordenador do Fórum, o qual somente este ano tem uma representação na instância. Foi a partir da proposição da entidade de jovens negros e do Coletivo de Entidades Negras (CEN) que a proposta foi apresentada e aprovada.  Luiz Inácio avalia que a principal medida a ser atendida será o diálogo em torno dessa questão. “Precisamos construir uma agenda conjunta que possa atacar esse problema, que tem como pano de fundo o abandono de um Estado que não desenvolve políticas públicas que garantam direitos a esses jovens”, afirma o coordenador.

A recomendação dá um prazo de trinta dias para que sejam instituídos mecanismos de elaboração dessa agenda. Com objetivo de buscar “soluções e definição de responsabilidades setoriais em relação às políticas públicas de combate a violência letal contra a juventude negra”, assinala o documento. Além de políticas sociais, como educação, cultura, esporte, profissionalização, também é preciso reverter a lógica da atuação policial, pois esses “agem mais como violadores de direitos dessa juventude do que como promotores de direitos humanos”, reforça. Nesse sentido, demonstra-se fundamental a participação desse segmento no Conselho que discute políticas de segurança.

Dentre as recomendações, está a retomada do Grupo de Trabalho Interministerial proposto pela Secretaria de Promoção da Igualdade Racial e Ministério da Justiça, que foi criado em maio de 2010, mas que foi desarticulado com a mudança de governo federal. O GT tem como objetivo elaborar uma matriz de formação sobre questões étnicas raciais destinadas aos agentes de segurança.

Em linhas gerais, a resolução pede que, ao instituir esses mecanismos de agenda para o combate ao extermínio da juventude negra, sejam observadas questões como: as normas nacionais e internacionais sobre os direitos humanos e a não discriminação racial; e que sejam realizadas ações de combate ao racismo institucional nos órgãos públicos.

Como forma de articular as ações de diferentes entes governamentais, o documento indica, ainda, que sejam enviadas recomendações aos estados e municípios para que os Conselhos de Segurança Pública e Gabinetes de Gestão Integrada contemplem a participação de organizações da juventude negra.

Por Infojovem.

“O Samba Que Mora em Mim”: Voz do povo

Cloves Geraldo *

Em filme sensível, diretora brasileira Georgia Guerra-Peixe dá voz aos moradores do bairro da Mangueira, mostra seu cotidiano e capta suas memórias 

  A câmera da diretora brasileira Georgia Guerra-Peixe, em “O Samba Que Mora em Mim”, mais do que destoar do filme-favela, capta instantes da comunidade da Mangueira que são verdadeiros poemas-visuais. Não é a visão da pobreza, da violência provocada pelo crime organizado, mas reflexo da memória de quem documenta o cotidiano de um dos centros irradiadores da cultura brasileira. Num registro de sua própria identidade, centrada em seres comuns, não em figuras emblemáticas da escola de samba ou do próprio samba, ela desmonta clichês e estigmas tão comuns hoje no cinema e, mais do que isto, na mídia. Seus “personagens” são mulheres e homens com suas histórias e memórias, que se confundem com o da própria cidade.
           Podem ser as da bem humorada afro-descendente, que entre um caso e outro, não consegue mais contar o número de filhos que teve e, por conseqüência o de parceiros. “Eu gostei deles, nenhum deles gostou de mim”, comenta sem traço de mágoa. Não reclama da vida, “vai-levando”, como diz Tom Jobim, tampouco deixa de procurar, indo de um lado ao outro de seu barraco de escassos móveis. Podem ser também as de Vó Lucíola, que se fundem com a história do bairro, surgido em 1852, que começou a ser habitado de fato no fim do século XIX. O marido trabalhou no porto e ela na Fábrica de Chapéus Mangueira e hoje é referência na comunidade.
         Entre esses passeios pela memória, a diretora, num diálogo com seus “personagens”, faz sua câmera passear pelo bairro. Fraga becos, ruelas, horizontes com uma luz cálida, quase de sonho. Crianças, mulheres, jovens, homens, trabalhadores, indo por esses espaços, sem a urgência ditada por tiroteios, traficantes armados nas Lages. É o fluir de vidas ditando seu próprio ritmo, ainda mais depois da presença da UPP. Porém, ela, a diretora, não se furta de mencionar a presença do tráfico neste complexo de mais de 20 núcleos populares. Ela, se não o mostra, não deixa de a ele fazer referência. A presença dele é antevista nas falas dos “personagens”, na maneira como a ele se referem, sem lhe dar destaque.
          Porém, o que a diretora quer mesmo é dar voz a homens e mulheres que, normalmente, não são vistos na mídia. Como a jovem, dona de botequim, que sustenta os filhos, frequenta os bailes funk e escapa ao estereótipo da mulata. Quando ela centra a narrativa em figuras mais conhecidas, eles destoam do conhecido. O DJ Glauber, que mostra suas preferências musicais, enfatizado através delas a não prevalência de nenhum deles. “Eu gosto de samba, de pagode e de funk”. A raiz e o moderno convivendo com o rapp. E o mestre da bateria da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira, mestre Taranta, que traz para o espectador o universo com o qual está familiarizado.
Tráfico é quase
invisível no filme
         Então a câmera de Georgia Guerra-Peixe deixa correr, por instantes, a história da escola de samba, criada entre outros por Carlos Cachaça e Cartola, em 1928. São sequências mais para cobrir falas, não para transitar por espaços por demais vistos. Entre eles estão a quadra de ensaios e, por que não, a pista do sambódromo. E logo retorna à rua, à vista panorâmica de parte da zona norte, atestando o contraste entre os bairros de alta classe média e o complexo de moradias populares. A beleza da paisagem, reforçada pelas imagens, distancia realidades, chama atenção para a desigual divisão da riqueza. E, embora não seja esta a intenção da diretora, comprova a urgência de mudanças na estrutura urbana da Mangueira, mais drásticas do que a já instalada UPP.
        Além disso, o que chama atenção em “O Samba Que Mora em Mim” é o tratamento dado pela diretoraàs imagens e a condução das entrevistas. Há predominância do claro escuro, que reforça a dureza dos ambientes em que vivem os entrevistados e, ao mesmo tempo, lhes dá o caráter de memória. Quando passeia pelos ambientes, não há deleite com a pobreza. E os entrevistados, desacostumados às câmeras, se soltam, deslindando suas vidas, como numa conversa entre amigos. Escapa aos enquadramentos chapados, de retratinho falante; tão comuns na TV e em muitos documentários.
        Enfim, “O Samba Que Mora em Mim” é daquelas jóias que mesmo não buriladas, brilham. Difícil não deixar o cinema com a sensação de que há vida e ela pulsa na Mangueira. Não é á toa que saiu da 34º Mostra Internacional de São Paulo com o Prêmio Especial do Júri.
O Samba Que Mora em Mim”. Brasil. Documentário. 2011. 72 minutos. Fotografia: Marcelo Rocha. Roteiro: Ticha Godoi, Georgia Guerra-Peixe. Direção: Georgia Guerra-Peixe. Elenco: Timbaca, Los Ninho, Lila, Vó Lucíola, Hevalcy, Mestre Taranta, DJ Glauber.


* Jornalista e cineasta, dirigiu os documentários "TerraMãe", "O Mestre do Cidadão" e "Paulão, lider popular". Escreveu novelas infantis,  "Os Grilos" e "Também os Galos não Cantam".

 *publicado no www.vermelho.org.br

sexta-feira, 17 de junho de 2011

UNEGRO/PARANÁ-MANIFESTO DA MARCHA DA LIBERDADE

MANIFESTO UNEGRO/PARANÁ-MARCHA DA LIBERDADE
 por*Denis Denilto
 A 348 anos nós negros e negras fazemos nossa marcha libertária. Fomos arrancados de nossas terras, massacrados foram os nossos sonhos, mutilaram nossos corpos e satanizaram nossas divindades. Mas ei-nos aqui, na Marcha da Liberdade. Viemos denunciar a farsa da abolição, viemos denunciar a farsa do Estado democrático, viemos denunciar a violência deste estado sobre nossa população. Liberdade de expressão em primeiro lugar passa pelo direito de existir. Existir nos jornais com nosso modus vivendi, nossa alegria e tradição. Existir nos jornais não é nos vir como sobreviventes ante a notícia de homicidio de mais um irmão. Existir e garantir nossa liberdade de expressão.A Razão da ausência de maior participação de nós negros e negras nesta Marcha, se dá por ainda estarmos no estágio anterior a ela.O estágio dos meios necessários de sobrevivência. Ainda estamos na Casa Grande garantindo o mínimo para que na Senzala continue a conspiração e a resistência.Mais estamos chegando, estamos nos organizando, estamos acordando e vamos nos juntar a essa força, a essa massa que grita, que luta e reinvidica os direitos das minorias.
 Marchem movimentos sociais, marchem organizados, marchem por justiça, marchem gritando, pois assim derrotaremos o racismo e o racista, a homofobia e o homofóbico, derrotaremos qualquer forma de repressão. Liberdade de expressão agora!

Zumbi Vive!
Rebele-se contra o Racismo!

Denis Denilto
Coordenador Geral da Unegro/Paraná


quarta-feira, 15 de junho de 2011

Conselho abre processo contra Bolsonaro; relator defende investigação

Agência Câmara de Notícias
 

O Conselho de Ética e Decoro Parlamentar instaurou nesta quarta-feira (15) processo disciplinar contra o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), acusado pelo Psol de abusar das prerrogativas de parlamentar ao disseminar preconceito e estimular violência com declarações contra negros e homossexuais. O relator, deputado Sérgio Brito (PSC-BA) adiantou que vai apresentar parecer prévio no dia 29 de junho defendendo o andamento da investigação.
“É praticamente impossível que isso [o arquivamento prévio da representação] aconteça. Não se trata de representação de um deputado, mas de um partido, por isso é improvável que eu vá decidir pela inépcia ou falta de justa causa da representação”, adiantou o relator.

Esse juízo de admissibilidade é obrigatório pelas novas regras do Código de Ética (Resolução 2/11).

Sérgio Brito esclareceu que o prazo para a defesa de Bolsonaro só começa a ser contado após a aprovação do relatório prévio. “A partir daí, são 60 dias úteis para investigação: 10 dias para a defesa, 40 dias para a apuração e 10 dias para a elaboração do relatório final”, disse. Se for cumprido o cronograma apresentado pelo relator, o parecer final será votado pelo Conselho de Ética no fim de agosto.

Acusação
A representação cita declarações de Bolsonaro contra homossexuais e a discussão com a senadora Marinor Brito (Psol-PA) no dia 12 de maio, durante debate sobre o projeto que criminaliza a homofobia (PLC 122/06, que tramita no Senado). Segundo o Psol, o deputado teria ofendido a senadora.

O texto também relata a participação de Bolsonaro no programa CQC, da TV Bandeirantes. Quando perguntado sobre o que faria se o filho namorasse uma negra, o deputado disse que não discutiria “promiscuidade”. Depois da exibição do programa, Bolsonaro afirmou ter entendido errado a pergunta, confundindo negra com gay. O caso é alvo de outra representação na Corregedoria da Câmara.

“Apresentamos uma série de documentos comprobatórios das posturas indecorosas de Bolsonaro contra homossexuais, negros e mulheres”, disse o líder do Psol, deputado Chico Alencar (RJ).

“Lei Jair da Penha”
Bolsonaro não participou da reunião do conselho. Questionado sobre o processo, acusou a senadora Marinor Brito de agredi-lo e ironizou, dizendo que, assim como a Lei Maria da Penha, deveria haver uma “Lei Jair da Penha”.
Luiz Alves
Bolsonaro: "Confio no voto da maioria."
“As imagens vão comprovar que eu fui agredido, fui chamado de corrupto pela senadora”, disse o deputado. “A representação diz que eu feri a feminilidade dela, mas a maneira como ela me tratou não representa a feminilidade da mulher brasileira. Se assim fosse, teria de criar a Lei Jair da Penha porque eu quase apanhei no Senado.”

O parlamentar afirmou estar certo de que não será punido pois, segundo ele, a discussão faz parte da natureza do embate parlamentar. “Não estou sendo acusado de desvio de recursos ou de conduta. O julgamento é político. Eu sei que tem gente que quer me ver pelas costas, mas confio no voto da maioria”, disse Bolsonaro.

LGBT
Membro da frente parlamentar em defesa dos direitos LGBT, o deputado Jean Wyllys (Psol-RJ), disse que não espera a cassação de Bolsonaro, mas uma punição que o alerte sobre seu comportamento inadequado.

“Algum tipo de punição tem de haver. Para todo direito de liberdade de expressão, há o dever de respeitar o outro e o deputado Jair Bolsonaro vem sistematicamente ofendendo a dignidade de homossexuais e de negros”, apontou Wyllys.
Reportagem - Carol Siqueira
Edição – Daniella Cronemberger

sexta-feira, 3 de junho de 2011

RACISMO MALDITO!

 
Excelente reportagem: Conexão Reporter, sobre Racismo.
Rebele-se Contra o Racismo