terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Nota da UNEGRO: Ausência na posse de Dilma Rousseff


Após o resultado das urnas se confirmou a quarta vitória do povo, com isso acirrou a luta de classes com a direita, apoiada pela grande mídia, blocada tentando tirar a legitimidade da vitória de Dilma e articulando um golpe contra um governo democraticamente constituído numa eleição limpa.

Vimos mobilizações de massa organizada pelos derrotados exigindo a caçassão do mandato de Dilma e a volta dos militares no comando do Brasil.

Diante disso os movimentos sociais, principais responsáveis, pela vitória foram chamados a irem no dia 01 de janeiro em Brasilia, data da posse, para mostrar que Dilma Rousseff tem prestígio com a massa, tem forte apoio popular organizado e que o povo não admitirá golpes e retrocessos.

Face a UNEGRO ter apoiado e ser partícipe da vitória de Dilma, deliberou em sua reunião nacional compor o processo de mobilização em apoio ao resultado eleitoral e a plataforma vencedora, visto que ela expressa anseios do povo e parcela da pauta do movimento negro.
Fizemos todo esforço de mobilização, especialmente em São Paulo, Bahia, Santa Catarina, Espírito Santo e Ceará. Honrando nosso compromisso com a nação, com a democracia, com a esquerda brasileira, com os movimentos sociais e com uma agenda progressista para o pais.

Lamentavelmente houve um corte por decisão unilateral no apoio (ônibus) para todas as delegações geograficamente situadas fora de Brasília e entorno. Nós e entidade co-irmãs, várias lideranças e valorosos companheiros ficamos no caminho.
Considero um erro na interlocução com os movimentos sociais do Governo e do PT.

Malgrado esse fato, fomos surpreendidos ontem pelo anúncio no Jornal Nacional de alguns "ajustes" que o Governo está propondo que mais parece uma mini reforma que ataca direitos trabalhistas e previdenciarios, ou seja, nossa luta é árdua. Sem os movimentos sociais e o povo organizado nas ruas não há como acreditar em mudanças.
No mais, nos prepararemos para novas e necessárias lutas. Sabemos que em ambiente de crise e e perdas de direitos os negros e negras são as vítimas prioritárias.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Dra. Nilma Lino Gomes é a nova Ministra da Seppir

Nilma Lino Gomes é a atual reitora da Unilab.
Ela é pedagoga formada pela UFMG e não tem vínculo com partidos.

Nomeada pela presidente Dilma Rousseff para ocupar a Secretaria de Política de Promoção da Igualdade Racial, Nilma Lino Gomes foi a primeira mulher negra a assumir a reitoria de uma universidade federal no país. Em abril de 2013, Nilma foi empossada reitora da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), com sede em Redenção (CE).
A futura ministra não é filiada a nenhum partido. Nilma é pedagoga, graduada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde também fez o mestrado em educação. Ela tem doutorado em ciências sociais pela Universidade de São Paulo e pós-doutorado, em sociologia, pela Universidade de Coimbra (Portugal).
Entre 2004 e 2006, presidiu a Associação Brasileira de Pesquisadores Negros (ABPN) e desde 2010 integrou a Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, onde participou da comissão técnica nacional de diversidade para assuntos relacionados à educação dos afro-brasileiros.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Ava DuVernay se torna a 1ª diretora negra indicada ao Globo de Ouro

Ava DuVernay, de "Selma", primeira diretora negra a ser indicada ao Globo de Ouro
publicado: uol
A cineasta americana Ava DuVernay, reponsável pelo drama racial "Selma", se tornou nesta quinta (11) a primeira mulher negra a ser indicada ao Globo de Ouro de melhor direção. Histórico, o feito pode ainda ser repetido na próxima edição do Oscar. Os nomeados serão divulgados no dia 15 de janeiro.
Em entrevista ao site da revista "The Hollywood Reporter", Ava afirmou que esperava apenas que o ator David Oyelowo fosse indicado como ator principal. "Este homem colocou cada grama de seu coração e espírito e mente, cada pedaço de seu DNA neste filme. Isso é tudo o que eu queria."
Em 70 anos de Globo de Ouro, apenas dois fro-americanos foram indicados à categoria de melhor diretor: Spike Lee, em 1990, por "Faça a coisa certa", e Steve McQueen, em 2014, por "12 Anos de Escravidão".
A diretora tem como rivais Alejandro González Iñárritu ("Birdman"), Wes Anderson ("O Grande Hotel Budapeste"), David Fincher ("Garota Exemplar") e Richard Linklater ("Boyhood - Da Infância à Juventude").
Além de David Oyelowo, estão na disputa do Globo de Ouro de melhor ator Steve Carell ("Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo"), Benedict Cumberbatch ("O Jogo da Imitação"), Jake Gyllenhaal ("O Abutre") e Eddie Redmayne ("A Teoria de Tudo").
"Selma" retrata as marchas pelos direitos civis dos negros nos Estados Unidos, lideradas por Martin Luther King, nos anos 1960. Com produção de Brad Pitt e Oprah Winfrey, deve estrear dia 25 de janeiro no Brasil.
Os vencedores do Globo de Ouro serão conhecidos no dia 11 de janeiro de 2015, durante cerimônia em Los Angeles que novamente terá Tina Fey e Amy Poehler como apresentadoras.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Ator salva filme sobre Arthur Bispo do Rosário


publicado: gazeta do povo

A cinebiografia O Senhor do Labirinto, sobre o artista plástico Arthur Bispo do Rosário (1911-1989), uma das estreias de hoje nos cinemas, não prima pela ambição. Pouco inventiva, limita-se a apresentar os fatos mais relevantes da vida do esquizofrênico que passou cerca de cinco décadas internado na colônia Juliano Moreira, no Rio de Janeiro.

Felizmente, Bispo do Rosário é um personagem fascinante. Tomado por uma obsessão religiosa que o fazia crer ser uma representação de Jesus, criou uma obra plástica intrigante, cheia de força expressiva, que acabou reconhecida fora do Brasil.

A partir da sucata disponível no manicômio, inventou um mundo paralelo voltado a Deus povoado por peças como mantos minuciosamente bordados, estandartes e miniaturas. Ao desconstruir os objetos originais, gesto de desconstrução simbólica do mundo dos homens “normais”, gerou significados.
Trabalhando isolado em sua cela, ele se esquivou da truculência do sistema manicomial de então, em que práticas como o eletrochoque mal aplicado eram usuais. A arte o “redimiu” da desrazão do mundo, permitiu que o artista afrontasse a loucura.

Apesar do academicismo na forma de narrar, a extraordinária atuação do gaúcho Flávio Bauraqui (que encarna um Bispo do Rosário muito convincente, sem recorrer a estereótipos do louco como esgares e outros cacoetes) salva o filme.




quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Quem é o dono da “piscina nazista”?


O professor, proprietário da piscina que virou notícia no mundo, também batizou o filho de Adolf, exaltou os militares da “contrarrevolução” de 1964, chegou a afirmar que os negros eram coitados – pois ficaram “desempregados” com o fim da escravidão – e chorou, ao receber a saudação nazista em uma festa de formatura de seus alunos

Por Vinicius Gomes
publicado: Revista Fórum

Em entrevista, no dia 31 de março desse ano, Wander Pugliese rejeitou o golpe militar de 1964: “foi uma contrarrevolução” (Reprodução)

Na semana passada, durante uma ação da Polícia Civil de Santa Catarina, descobriu-se uma “homenagem” ao nazismo: uma suástica estampava o fundo de uma piscina. Em pouco tempo, a fotografia com a imagem da piscina chegou aos jornais e às redes sociais. Mas, se em grande parte do país, assim como no exterior (EUA, Reino Unido, Israel), a revelação foi chocante, isso pouco surpreendeu as pessoas que já conheciam Wandecyr Antônio Pugliese. O professor de história é o proprietário da residência localizada na cidade de Pomerode, no interior de Santa Catarina, e admirador confesso da ideologia nazista.

Vinte anos atrás, Pugliese já havia sido notícia pelo Brasil, quando em uma reportagem do programa Fantástico, da Rede Globo, em fevereiro de 1994, ele mostrou sua coleção de objetos históricos relacionados ao nazismo. Entre o material – que seria confiscado anos depois a pedido do Ministério Público Federal – estavam livros, quadros, revistas, fotografias, cartões postais, gravuras do exército alemão, objetos com a cruz suástica, além de uma camiseta estampada com a figura de Adolf Hitler. Por volta dessa época, ele foi ligado a outra denúncia de propagação de ideias racistas por conta de um revisionista do holocausto chamado Siegfried Ellwanger Castan, o qual tem em Pugliese um dos seus maiores admiradores – tanto que é a principal indicação bibliográfica do professor a seus alunos.

Em matéria para o Zero Hora, a jornalista Clara Glock entrevistou Pugliese, que previu que, em 15 anos, levantariam uma estátua para Hitler na Europa e afirmou que os negros eram coitados, pois “ficaram desempregados no dia 13 de maio”, referindo-se à data em 1888, quando foi assinada a Lei Áurea.

Outro ponto polêmico de Pugliese, também conhecido por seus alunos, é o que se refere aos militares da ditadura brasileira. Em 31 de março desse ano, nos 50 anos do golpe militar, ele afirmou na Rádio Nereu Ramos, de Blumenau, que os eventos de 1964 não foram de golpe e, sim, “uma contrarrevolução” (ouça aqui). A reportagem de Fórum buscou entrar em contato com o professor, mas sem sucesso.

Quem é o professor Wander?

Revisionista do holocausto, admirador de Hitler, militares brasileiros e do falecido Enéas Carneiro, Wandercy Antônio Pugliese há anos é professor na rede privada de educação do estado de Santa Catarina e a descoberta da suástica em sua piscina de nada surpreendeu aqueles que foram seus alunos.

“A fama dele é relativamente grande na cidade de Blumenau. Principalmente pelo fato de ele ter lecionado no [Colégio] Energia durante anos. O discurso dele fez a sua fama”, afirma Ricardo Duwe, que, apesar de não ter sido aluno de “Wander”, como é chamado, teve irmão e amigos próximos que foram. “A postura dele sempre foi muito combativa, principalmente por ele se colocar enquanto um revisionista do holocausto”, destaca.

Outros ex-alunos de Pugliese também se lembram desse posicionamento. “A atuação dele era, sobretudo, para a gente questionar a existência do holocausto. Ficava lá falando das pensões que os judeus recebem, chamando isso tudo de ‘indústria do holocausto’, e nunca em um sentido pedagógico, sempre atravessado por ódio. Era impressionante”, relembra Fabiano Garcia, que teve aula com Pugliese em 2005, no Colégio Santa Rosa de Lima, na cidade de Lages, também interior de Santa Catarina.

Larissa Beppler, que foi aluna dele no Energia de Blumenau, em 2002, lembra que, em sala de aula, Pugliese contestava o holocausto e diNa semana passada, durante uma ação da Polícia Civil de Santa Catarina, descobriu-se uma “homenagem” ao nazismo: uma suástica estampava o fundo de uma piscina. Em pouco tempo, a fotografia com a imagem da piscina chegou aos jornais e às redes sociais. Mas, se em grande parte do país, assim como no exterior (EUA, Reino Unido, Israel), a revelação foi chocante, isso pouco surpreendeu as pessoas que já conheciam Wandecyr Antônio Pugliese. O professor de história é o proprietário da residência localizada na cidade de Pomerode, no interior de Santa Catarina, e admirador confesso da ideologia nazista.

Vinte anos atrás, Pugliese já havia sido notícia pelo Brasil, quando em uma reportagem do programa Fantástico, da Rede Globo, em fevereiro de 1994, ele mostrou sua coleção de objetos históricos relacionados ao nazismo. Entre o material – que seria confiscado anos depois a pedido do Ministério Público Federal – estavam livros, quadros, revistas, fotografias, cartões postais, gravuras do exército alemão, objetos com a cruz suástica, além de uma camiseta estampada com a figura de Adolf Hitler. Por volta dessa época, ele foi ligado a outra denúncia de propagação de ideias racistas por conta de um revisionista do holocausto chamado Siegfried Ellwanger Castan, o qual tem em Pugliese um dos seus maiores admiradores – tanto que é a principal indicação bibliográfica do professor a seus alunos.

Em matéria para o Zero Hora, a jornalista Clara Glock entrevistou Pugliese, que previu que, em 15 anos, levantariam uma estátua para Hitler na Europa e afirmou que os negros eram coitados, pois “ficaram desempregados no dia 13 de maio”, referindo-se à data em 1888, quando foi assinada a Lei Áurea.

Outro ponto polêmico de Pugliese, também conhecido por seus alunos, é o que se refere aos militares da ditadura brasileira. Em 31 de março desse ano, nos 50 anos do golpe militar, ele afirmou na Rádio Nereu Ramos, de Blumenau, que os eventos de 1964 não foram de golpe e, sim, “uma contrarrevolução” (ouça aqui). A reportagem de Fórum buscou entrar em contato com o professor, mas sem sucesso.

Quem é o professor Wander?

Revisionista do holocausto, admirador de Hitler, militares brasileiros e do falecido Enéas Carneiro, Wandercy Antônio Pugliese há anos é professor na rede privada de educação do estado de Santa Catarina e a descoberta da suástica em sua piscina de nada surpreendeu aqueles que foram seus alunos.

“A fama dele é relativamente grande na cidade de Blumenau. Principalmente pelo fato de ele ter lecionado no [Colégio] Energia durante anos. O discurso dele fez a sua fama”, afirma Ricardo Duwe, que, apesar de não ter sido aluno de “Wander”, como é chamado, teve irmão e amigos próximos que foram. “A postura dele sempre foi muito combativa, principalmente por ele se colocar enquanto um revisionista do holocausto”, destaca.

Outros ex-alunos de Pugliese também se lembram desse posicionamento. “A atuação dele era, sobretudo, para a gente questionar a existência do holocausto. Ficava lá falando das pensões que os judeus recebem, chamando isso tudo de ‘indústria do holocausto’, e nunca em um sentido pedagógico, sempre atravessado por ódio. Era impressionante”, relembra Fabiano Garcia, que teve aula com Pugliese em 2005, no Colégio Santa Rosa de Lima, na cidade de Lages, também interior de Santa Catarina.

Larissa Beppler, que foi aluna dele no Energia de Blumenau, em 2002, lembra que, em sala de aula, Pugliese contestava o holocausto e dizia que a história do nazismo era mentirosa, pois Hitler “não era o monstro que pintavam e que ele fez muito pelo seu povo”.

Segundo Duwe, o professor citava constantemente essa vertente historiográfica que buscava “revisitar” o holocausto. “[O professor] negava veementemente que seis milhões de judeus tenham morrido na guerra, que as câmaras de gás possuíam outras finalidades e que, em casos extremamente raros, eram usadas para extermínio”, relembra Duwe. Ele cita ainda uma frase clássica de Pugliese: “A História é contada sempre pelos vencedores”, já que o professor atribuía a história da Segunda Guerra Mundial aos EUA e aos “judeus banqueiros”, sendo que a versão dos nazistas nunca havia sido privilegiada.


Matéria de 1995 da jornalista Clara Glock, pelo Zero Hora, do Rio Grande da Sul (Reprodução)

Beppler afirma que o professor era bastante querido por seus alunos, todos o adoravam, e como ela não chegou a encarar o discurso de Pugliese como apologia ao nazismo – nem mesmo quando ele próprio contou que seu filho se chamava Adolf, ou quando teve problemas com a justiça por conta dos objetos nazistas: “Na minha cabeça de 17 anos, o que ele fazia não era apologia. Tudo que ele dizia era muito bem argumentado, ele buscava fatos para justificar, sabe? Eu nem sonhava que ele poderia estar errado. Na minha cabeça da época, e minha colega tem hoje a mesma impressão, era uma coisa dele, um gosto pessoal. Não era apologia”.

Garcia conta que, à época, se impressionou com a facilidade que o professor tinha em elogiar o nacional socialismo alemão: “E então um dia, ao fundo da sala, numa roda, eu perguntei se ele realmente acreditava naquilo, se ele era adepto [ao nazismo], e ele respondeu que sim”.

O ex-aluno conta que, ao final do ano, ele e um colega foram à diretoria para questionar a negação ao holocausto, mas então Pugliese apareceu logo em seguida. A diretora recomendou aos alunos que conversassem com o professor, que, por sua vez, usou o material didático – com fotos e tudo mais – para dizer que eram “montagens” e que não podiam ser acreditadas.

Questionado sobre o quanto enxergava que esse discurso poderia influenciar alunos adolescentes, Garcia afirma que ele pode ser impactante: “[O discurso] tem uma força incrível porque a retórica do professor era muito boa. Era realmente convincente porque, afinal, era algo que ele acreditava. Então, se você para e pensa numa turma com jovens naquela faixa etária – onde o que você mais quer é se revoltar contra alguma coisa, contra o sistema, por exemplo – esse discurso encaixa de uma maneira terrível porque propaga o ódio e te dá a falsa sensação de solucionar alguma coisa. E, então, muita gente que passou pelas aulas dele começou a acreditar que os problemas do mundo estavam ligados aos judeus, aos negros etc.”, argumenta.

Para Beppler, a fala de Pugliese era, de fato, perigosa. “Por mais sutil que seja – porque ele não sai falando: amem Hitler, matem negros, sejam racistas, nem nada disso –, ele apenas alivia a barra de Hitler. Hoje, eu entendo como apologia, sim, mas é algo bem sutil para um adolescente se dar conta. Especialmente vindo de um cara que todos adoram”, conta.

No entanto, Beppler, hoje empresária e com 29 anos, tem uma lembrança amarga sobre esse período: “Na noite da minha formatura, a turma inteira se levantou para saudá-lo com um gesto nazista. Sim, fizemos o Heil Hitler. Morro de vergonha só de lembrar. Mas não porque éramos nazistas e, sim, para homenageá-lo. Como ele relativizou muito a questão do nazismo e de Hitler, nós não percebíamos a gravidade daquele gesto. A ideia era se despedir com algo que o agradasse. Ele até chorou”.zia que a história do nazismo era mentirosa, pois Hitler “não era o monstro que pintavam e que ele fez muito pelo seu povo”.

Segundo Duwe, o professor citava constantemente essa vertente historiográfica que buscava “revisitar” o holocausto. “[O professor] negava veementemente que seis milhões de judeus tenham morrido na guerra, que as câmaras de gás possuíam outras finalidades e que, em casos extremamente raros, eram usadas para extermínio”, relembra Duwe. Ele cita ainda uma frase clássica de Pugliese: “A História é contada sempre pelos vencedores”, já que o professor atribuía a história da Segunda Guerra Mundial aos EUA e aos “judeus banqueiros”, sendo que a versão dos nazistas nunca havia sido privilegiada.


Matéria de 1995 da jornalista Clara Glock, pelo Zero Hora, do Rio Grande da Sul (Reprodução)

Beppler afirma que o professor era bastante querido por seus alunos, todos o adoravam, e como ela não chegou a encarar o discurso de Pugliese como apologia ao nazismo – nem mesmo quando ele próprio contou que seu filho se chamava Adolf, ou quando teve problemas com a justiça por conta dos objetos nazistas: “Na minha cabeça de 17 anos, o que ele fazia não era apologia. Tudo que ele dizia era muito bem argumentado, ele buscava fatos para justificar, sabe? Eu nem sonhava que ele poderia estar errado. Na minha cabeça da época, e minha colega tem hoje a mesma impressão, era uma coisa dele, um gosto pessoal. Não era apologia”.

Garcia conta que, à época, se impressionou com a facilidade que o professor tinha em elogiar o nacional socialismo alemão: “E então um dia, ao fundo da sala, numa roda, eu perguntei se ele realmente acreditava naquilo, se ele era adepto [ao nazismo], e ele respondeu que sim”.

O ex-aluno conta que, ao final do ano, ele e um colega foram à diretoria para questionar a negação ao holocausto, mas então Pugliese apareceu logo em seguida. A diretora recomendou aos alunos que conversassem com o professor, que, por sua vez, usou o material didático – com fotos e tudo mais – para dizer que eram “montagens” e que não podiam ser acreditadas.

Questionado sobre o quanto enxergava que esse discurso poderia influenciar alunos adolescentes, Garcia afirma que ele pode ser impactante: “[O discurso] tem uma força incrível porque a retórica do professor era muito boa. Era realmente convincente porque, afinal, era algo que ele acreditava. Então, se você para e pensa numa turma com jovens naquela faixa etária – onde o que você mais quer é se revoltar contra alguma coisa, contra o sistema, por exemplo – esse discurso encaixa de uma maneira terrível porque propaga o ódio e te dá a falsa sensação de solucionar alguma coisa. E, então, muita gente que passou pelas aulas dele começou a acreditar que os problemas do mundo estavam ligados aos judeus, aos negros etc.”, argumenta.

Para Beppler, a fala de Pugliese era, de fato, perigosa. “Por mais sutil que seja – porque ele não sai falando: amem Hitler, matem negros, sejam racistas, nem nada disso –, ele apenas alivia a barra de Hitler. Hoje, eu entendo como apologia, sim, mas é algo bem sutil para um adolescente se dar conta. Especialmente vindo de um cara que todos adoram”, conta.

No entanto, Beppler, hoje empresária e com 29 anos, tem uma lembrança amarga sobre esse período: “Na noite da minha formatura, a turma inteira se levantou para saudá-lo com um gesto nazista. Sim, fizemos o Heil Hitler. Morro de vergonha só de lembrar. Mas não porque éramos nazistas e, sim, para homenageá-lo. Como ele relativizou muito a questão do nazismo e de Hitler, nós não percebíamos a gravidade daquele gesto. A ideia era se despedir com algo que o agradasse. Ele até chorou”.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Fiéis se mobilizam contra transferência de padre vítima de racismo

Comunidade católica começou a recolher adesões para um abaixo-assinado, nesta terça-feira (2), na tentativa de manter o sacerdote na Paróquia de Santo Antônio, em Adamantina
publicado: ifronteira
A comunidade católica de Adamantina iniciou nesta terça-feira (2), no Centro da cidade, uma mobilização, por meio de um abaixo-assinado, para reivindicar a permanência do padre Wilson Ramos na Paróquia de Santo Antônio.
Segundo Franciele Spina, de 22 anos, participante do movimento, desde que chegou para assumir a paróquia, há aproximadamente um ano e cinco meses, o padre recebe ofensas racistas de algumas pessoas por ser negro e, por conta disso, o bispo da Diocese de Marília, Dom Luiz Antonio Cipolini, quer mudá-lo de cidade.
“Só hoje [2], já recolhemos três mil assinaturas. A mobilização ‘Fica, Padre Wilson’ continuará até a quarta-feira que vem [10], sempre no Centro, das 9h às 16h. Além do ponto fixo, há pessoas passando com livros pelos bairros também. Pretendemos recolher aproximadamente 20 mil assinaturas até a semana que vem”, ressaltou Franciele ao iFronteira.

Padre afastado por ser Negro, mais essa!

publicado:http://www.conversaafiada.com.br/

O papa Francisco bem que poderia ser informado de uma história que está os jornais de hoje, já que ele está manifestamente preocupado com o esvaziamento da Igreja Católica. O padre Wilson Luís Ramos foi afastado da Matriz de Santo Antônio, em Adamantina, cidade do interior paulista entre Presidente Prudente e Araçatuba. O motivo? Padre Wilson é negro mas não é isso, segundo Bispo de Marília, diocese à qual a paróquia pertence, não é esta a causa de seu afastamento. Mas o racismo está lá no cotidiano da elite da cidade . O próprio Wilson admite que viu duas fiéis conversando sobre a troca do galo que fica no catavento da igreja “por um urubu”. Ele falou deste racismo logo que assumiu a Matriz: “As pessoas ainda tem dificuldade de aceitar a raça negra. As pessoas dizem que não, mas eu senti isso da parte de alguns, percebi uma certa rejeição em função da minha cor. Se doeu? Claro que doeu, sou humano, mas isso não pesou na minha missão”. A principal causa para a transferência é a divisão que Ramos teria causado na paróquia. “O padre Wilson tem sofrido com essa questão. Houve preconceito por parte de fiéis, mas o padre foi vencendo e o que está em jogo agora não é o preconceito, mas sim a divisão que ele causou na paróquia”, afirmou o bispo. Que divisão? Um grupo de fiéis tradicionais que enviou cartas ao bispo reclamando do “jeito” simples do padre e, principalmente, do fato de ele atrair pessoas pobres e jovens usuários de drogas para a igreja. O bispo de Marília mandou, então, dois padres para ouvir os fiéis. Quase 700 foram ao Instituto Pastoral de Adamantina, cidade que tem pouco mais de 30 mil habitantes. Segundo o Estadão, a maioria depôs em favor em favor de Wilson. Que, apesar disso, “rodou”. Mas, segundo o Ali Kamel, diretor da Globo, não há racismo no Brasil. Só em Adamantina, né? Com todo o respeito, isso não é um problema de religião. É um problema de humanidade.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

A subversão dos Racionais MC’s




Considerado o nome mais importante do rap brasileiro, grupo paulistano lança disco depois de 12 anos sem um álbum de inéditas Publicado gazeta do povo - em 03/12/2014 | Rafael Rodrigues Costa

O recém-lançado Cores & Valores, sexto disco de estúdio do Racionais MC’s, veio à luz na semana passada já cercado por uma expectativa pesada .

O quarteto paulistano se tornou o mais emblemático grupo de rap brasileiro ao ganhar uma projeção enorme nos anos 1990, se valendo de métodos independentes e músicas com denúncias fortes da desigualdade e do racismo, dotadas de uma lucidez que não apenas elevou os rappers a porta-vozes da juventude pobre e negra brasileira, mas que também foi legitimada e investigada por críticos e acadêmicos.

Disco
Cores & Valores
Racionais MC’s. Independente/Boogie Naipe. R$ 9,99 (digital, no Google Play Música) e R$ 23,90 (CD).

Opinião

Novo disco mostra que grupo não pretende reverenciar o passado

Com uma linguagem por vezes cifrada e ideias densas nas entrelinhas, pode ser que o novo disco não se comunique imediatamente com quem esperava a volta dos Racionais MC’s como eram conhecidos. Mas uma mensagem parece clara: o grupo, embora tenha gravado faixas de tom memorialista como “Quanto Vale o Show”, não pretende reverenciar o próprio passado e entregar aos fãs só aquilo que eles querem ouvir.

Neste sentido, é uma pequena subversão os rappers gravarem um disco de meia hora depois de 12 anos, e uma ousadia levarem diferentes afetos e dimensões mais sensíveis à sua música depois de se firmarem como gurus com um discurso mais direto. Cores & Valores, ainda que aparentemente mais despretensioso e até pop quando traz uma balada romântica, por exemplo, busca o risco, e não a comodidade do status de ícone que os Racionais MC’s conquistaram (talvez, até em parte devido ao silêncio do grupo nesse período em que tanta coisa mudou não apenas no rap). No caso deles, isso é importante para que não se tornem caricaturas de si mesmos. E para que as expectativas diante do próximo disco, que não deve demorar, sejam ainda maiores.

Depois do álbum Nada Como Um Dia Após O Outro Dia (2002), no entanto, Mano Brown, Ice Blue, Edi Rock e o DJ KL Jay entraram em um hiato de novas criações.

Foram 12 anos em que o grupo se absteve de fazer novos comentários sobre a realidade que havia retratado com tanta contundência desde o fim da década de 1980. Considerado o nome mais importante do rap brasileiro, grupo paulistano lança disco depois de 12 anos sem um álbum de inéditas Publicado em 03/12/2014 | Rafael Rodrigues Costa

Isso em pleno período de mudanças na arena política e na sociedade brasileira – em especial, nas periferias das grandes cidades que sempre foram o objeto de sua obra.

A curiosidade sobre o que os Racionais teria a dizer depois de tanto tempo ultrapassou os círculos do rap.

A resposta, um disco fugidio, fragmentado e ambíguo, subverte as expectativas por um trabalho mais concreto e de leitura fácil.

Em pouco mais de meia hora, os Racionais, envoltos por uma sonoridade pesada e francamente aberta a tendências mais recentes do rap norte-americano, dão recados em faixas que chegam a ter menos de um minuto (um choque para fãs apegados a narrativas e crônicas de discos anteriores que chegavam a durar em torno de dez minutos). E se permitem dedicar faixas de pegada pop para falar, por exemplo, de amor (“Eu Te Proponho”), citando Gilberto Gil e Cassiano.

Mas essa é a impressão superficial. Acontece que Brown, Blue, Edi Rock e parceiros como Negreta (do também paulistano Rosana Bronks) estão dizendo mais com menos palavras, em sintonia com a urgência dos tempos digitais.

Os temas (e Ice Blue já disse que, apesar da chegada da tevê, do computador e do micro-ondas, a periferia continua sofrendo com os mesmos problemas) seguem orbitando o universo de denúncia do grupo, que ainda fala sobre racismo e desigualdade – “a fábrica que exporta criminalidade” (“Mal e Bem”).

Os Racionais seguem provocando, de forma parecida com o não menos legítimo funk ostentação, ao lembrar que os bens de luxo nas vitrines dos shoppings, embora destinados a outro segmento da sociedade, podem ser fortemente desejados pelos moleques “de pé no chão, mal vestidos, sem comer” que os cercam do lado de fora (“Eu Compro”); retratam a mentalidade do crime com uma verossimilhança sempre inquietante (“A Escolha que Eu Fiz”); e denunciam a criminalização do rap e da população pobre ao contar, de seu ponto de vista, o que aconteceu na Virada Cultural de São Paulo em 2007, quando o público de seu show entrou em choque com a polícia na Praça da Sé (“A Praça”). São os mesmos Racionais, 12 anos depois. Mais maduros, talvez.

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Cultura negra ainda encontra dificuldade de reconhecimento pelo Estado

Da Agência Brasil Edição: Marcos Chagas

Cultura negra ainda tem dificuldade de ser reconhecida no BrasilMarcello Casal Jr/Agência Brasil

As culturas de matriz africana no país ainda têm dificuldades para fazer valer seus direitos de reconhecimento por parte do Estado. Durante seminário promovido pela Fundação Cultural Palmares, os debates focaram a necessidade de se aliar políticas públicas efetivas de preservação da cultura e da memória, assim como o direito à cidadania das comunidades negras. O evento contou com a parceria da Defensoria Pública da União.

Para o defensor público Carlos Eduardo Paz, do grupo de trabalho Quilombola, Cidadania, Cultura e Identidade, essas comunidades não estão realmente salvaguardadas pelo Poder Público. "A lei, muitas vezes, não tem dispositivos que atendam a todas as especificidades de cada comunidade, com seus problemas mais pontuais”. Ele acrescentou que as leis de salvaguarda da cultura negra em vigor “não dão conta da totalidade da realidade".

Essa situação de falta de políticas públicas é compartilhada por um íider jongueira, Alessandra Ribeiro Martins, da Comunidade Jongo Dito Ribeiro, na Fazenda Roseiras, em Campinas, São Paulo. Ela destaca que as políticas criadas devem estar mais presentes nas comunidades. "A Fazenda Roseiras é um importante espaço simbólico de preservação dos costumes e da memória negra para o país, por defender essa e muitas manifestações de origem africana”.

A professora Elaine Monteiro, da Universidade Federal Fluminense e coordenadora do Pontão de Cultura do Jongo, concorda com a postura de Alessandra Martins. O Pontão é um programa de salvaguarda de patrimônio cultural de natureza imaterial que tem como proposta articular e fortalecer as comunidades jongueiras, além de atender às demandas dessas comunidades para a criação de políticas públicas que contemplem suas necessidades. "Eu enxergo a situação atual de reconhecimento dessas comunidades como um paradoxo.”

O reconhecimento dessa população como patrimônio imaterial não representa, necessariamente, a melhoria de qualidade de vida dss pessoas, adverte Elaine. “Vê-se, por exemplo, esses mesmos detentores [de saberes ancestrais] morrerem de fome e a falta de reconhecimento daquela população no próprio bairro onde moram", disse a professora.