segunda-feira, 26 de julho de 2010

MULHER NEGRA: Visibilidade e Desafios

Venha participar do Seminário "Mulher Negra"!


DATA: 31 de Julho das 9h às 17h
LOCAL: Instituto Cervantes de São Paulo - Av. Paulista, 2439 - Metrô Consolação - Auditório Térreo - SP
TEMAS:
Manhã - Trabalho
Tarde - Mulher no Parlamento
INSCRIÇÕES NOS E-MAILS:
rosa.anacleto@metrosp.com.br

VAGAS LIMITADAS!

terça-feira, 20 de julho de 2010

CARTA DE SÃO PAULO

Por UNEGRO/PE
.
Nos seus vinte e dois anos de existência a UNEGRO vem pautando sua atuação no combate o racismo em todas as suas formas de manifestação, particularmente as ações sistêmicas que impedem o usufruto pleno dos direitos de cidadania. A entidade expandiu-se e hoje está organizada em vinte e cinco estados. Consolidou-se como uma das principais alternativas de luta da população negra contra as opressões de raça, gênero e classe, sempre em harmonia aos princípios de sua fundação.
.
Uma das faces dessa luta é a superação do Estado Mínimo, parte integrante do processo de mundialização do capital sem as barreiras dos outrora fortes Estados Nacionais. A face mais cruel dessa globalização conforme defendia o geógrafo Milton Santos é a perversidade com que trata as populações pobres, não brancas e de países periféricos em todo o mundo. O neoliberalismo intensifica o racismo, as exclusões, renova disparidades, cria novas desigualdades, esmaga as realidades nacionais.
.
Por estes motivos, a UNEGRO sempre foi parte da trincheira de resistência global aos ataques do capitalismo neoliberal nas diversas nações sul-americanas e africanas. No Brasil, sempre organizou a população negra na criação de alternativas a este perverso projeto.
.
Assim, iniciamos com a eleição de Lula em 2002, um novo ciclo de mudanças no país que redefiniu o papel do Estado, agora não mais mínimo, para o atendimento às demandas da população represadas por mais de uma década. Começou a ser delineado um projeto de desenvolvimento nacional centrado no crescimento econômico associado à distribuição de renda, na diminuição da pobreza e elevação dos mais pobres às classes consumidoras. Conseguimos também, construir uma Política Nacional de Promoção da Igualdade Racial, implementar o PROUNI, regularizar e titular dezenas de comunidades remanescentes de quilombos e aprovar instrumentos com o Estatuto da Igualdade Racial que consolida nossas demandas como políticas de Estado.
.
Entretanto, esse projeto pode ser ameaçado com a eleição do PSDB/DEM, herdeiros da era FHC, e forças políticas comprometidas com o capital financeiro e defensoras da criminalização da juventude através da redução da maioridade penal e do extermínio físico deste segmento. A experiência do PSDB/DEM no estado de São Paulo demonstra esta linha política. São ferrenhos defensores da terceirização das ações sociais do Estado, transformando-as em instrumentos de repasse de verbas públicas para instituições privadas, aprofundaram a falência da educação pública, reprimiram os movimentos sociais com extrema violência.
.
Cientes dos desafios postos no cenário eleitoral estamos convictos de que precisamos avançar ainda mais nas conquistas para a população negra, realizar transformações estruturais necessárias à superação do racismo e das desigualdades sociais, aprofundar os mecanismos de participação democrática da população. Dessa forma, a UNEGRO resguardada sua autonomia como entidade suprapartidária do movimento negro aponta o grande perigo representado pela eleição de um candidato representante do projeto neoliberal capitaneado pela coligação PSDB/DEM e defende a eleição de Dilma como a primeira mulher presidente da República para aprofundar o ciclo de mudanças iniciados nos dois mandatos da era Lula.
.
Como herdeiros de Zumbi e Dandara, acreditamos e lutamos por um mundo onde não haja exploradores e explorados, nem senhores e nem escravos. E isto se faz com rebeldia.
REBELE-SE CONTRA O RACISMO!!
4ª PLENÁRIA NACIONAL DA UNEGRO – NELSON MANDELA

SÃO PAULO, 18 DE JULHO DE 2010.
Retirado de http://unegro-pe.blogspot.com

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Plenária termina com significativos avanços na discussão de um Novo Projeto de Desenvolvimento Nacional para o Brasil

Da Assessoria


A 4ª Plenária Nacional da UNEGRO, realizada no ultimo final de semana, em São Paulo/SP, chegou ao fim e deixou marcos importantes para avançar no debate étnico, racial e social contemporâneo e vindouro.


Composto pelas delegações vindas de 15 estados da federação, o encontro contou com intervenções de várias figuras do Movimento Negro brasileiro. Entre eles, o Secretario de Comunidades Tradicionais Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), Alexandro Reis. Este fez um breve histórico da luta do movimento social negro no Brasil e, segundo ele, apesar dos progressos já conseguidos, é preciso avançar mais rumo a uma sociedade mais justa. “A população negra ainda sofre com o preconceito, o racismo e a desigualdade, há comunidades tradicionais negras passando por sérias dificuldades; ainda há dúvida quanto a existência de racismo em nosso país, precisamos mostrar onde ele está e lutar pela sua extinção”, ressaltou.

Sobre o evento, o Dirigente Nacional da UNEGRO, Edson França, acredita que fo
ram estabelecidas diretrizes importantes para a unidade do movimento de lutas pela igualdade racial, sem contar que a participação das delegações, além de ampla, foi surpreendente. “Na Plenária Nacional anterior, tivemos a participação de quatro ou cinco estados; hoje, temos, aqui 15 participando qualitativamente do debate. Este é um dado importante para a consolidação da nossa luta”. A Coordenadora Geral de Regulação Fundiária dos Territórios Quilombolas do Incra, Givania Silva, destaca o momento como propício à reflexão de todo o movimento. "É um espaço interessante, com temas fortes e significativos para nós", afirma Givania.


Ainda de acordo com França, o time formado pelas delegações, unificado na ocasião, voltará melhor capacitado no jogo contra a desigualdade racial, cada qual no seu campo de atuação, pois existem desafios maiores a serem enfrentados, a começar pela maior e mais efetiva presença no processo eleitoral. “Vamos somar forças para a eleição, que é um momento muito importante no cenário das nossas lutas, fortalecer o diálogo com as outras esferas do movimento pela igualdade racial brasileiro, interferir na elaboração de políticas públicas pela igualdade e lutar por um novo projeto de desenvolvimento social, onde o negro possa ocupar mais espaços de poder”. Além disso, é preciso que o movimento negro se insira nos mais diversos segmentos sociais. “O movimento negro tem que discutir para onde vai, por exemplo, o dinheiro do BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Sustentável], não dá para exclusivisar nossa pauta”, finaliza.

Orlando Silva, Ministro do Esporte, também esteve presente e pediu força, determinação e altivez ao povo negro nessa busca. “Não conseguiremos nada de graça, somente na luta poderemos avançar efetivamente”, constatou.

Além das discussões que permearam as mesas e os debates, o evento também tratou de construir as primeiras bases para a realização do Congresso da UNEGRO, que deve acontecer em Brasília, em Julho do próximo ano.

A delegação da Unegro/PR esteve presente em todas as mesas, participando e intervindo nos debates da Ple
nária. A Secretária Geral, Cristiane Brito, entende que o encontro propiciou, além de um bom espaço de mobilização, um momento importante de trocas de experiências.

sábado, 17 de julho de 2010

Primeiro dia de Plenária discute exclusão e reconhecimento de espaço na sociedade

Da Assessoria
Ontem (16), iniciou a 4ª Plenária Nacional da UNEGRO na capital paulista. Duas mesas foram compostas para a primeira discussão do encontro. Uma se inteirou de apresentar as principais diretrizes do evento e apresentar as direções unegrinas presentes. A segunda mesa, formada pelo Coordenador de Disseminação de Informações da Bahia, Joilson Rodrigues de Souza e pelo Jornalista José Carlos Ruy, tratou da referência da população negra nos diversos segmentos sociais, inclusive no mercado de trabalho.

Depois de apresentar a pesquisa mensal de emprego realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Coordenador destacou a necessidade de atitude de identificação de cidadania e reconhecimento de espaço. Segundo ele, para que a realidade da população não branca no Brasil possa mudar, é necessário que se tome a atitude auto-declaração e reconhecimento de capacidade. “Tem algo que eu devo fazer para que essa minha relação com o mundo seja repensada, pois a forma como eu me vejo também tem contribuído para que se mantenha um estado de injustiça, ou teremos sempre a sensação de que estamos num lugar que reservaram para nós, e este lugar é apertado, é mínimo”, complementa.
.
O Jornalista complementou a fala do colega de mesa e ressaltou a idéia de “povo brasileiro”. Ruy acredita que o divisionismo que ocorre em nossa nação já não é mais válido, pois o país é diverso e miscigenado. “Temos, por exemplo, famílias nas quais há filhos de pele clara e pele escura, eles deixam de ser irmãos? Como, então, podemos nos separar em povos diferentes?”.

Outra vertente em pauta na ocasião foi do racismo camuflado por que passam as pessoas de pele negra. Os dois palestrantes discorreram sobre o posicionamento tomado por muitas pessoas quando se fala em exclusão social no Brasil. De acordo com o Jornalista, quando se fala em desigualdade social, muitos questionam se ela realmente existe. Sobre a luta por uma legislação que garanta a amenização das disparidades sociais, a consideração que geralmente se faz e a de que os negros querem ser favorecidos perante o restante da população. ”Isso é dizer que, perante a lei, somos todos iguais. É, no mínimo, hipócrita!”.

O debate ficou para o segundo dia de Plenária e várias pessoas fizeram suas intervenções e questionamentos. A Unegro/PR teve fala na voz do presidente, Denilto Laurindo, que falou da necessidade de elevar os níveis de representação política da população negra no Brasil, a fim de aumentar e melhorar as políticas públicas pela igualdade social. “O caminho para o avanço da luta é a eleição de nossos representantes”, finaliza.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Paulo Moura um dos maiores clarinetistas do Brasil

                                                                   Paulo Moura*
 Músico de 77 anos morreu enquanto realizava tratamento para curar um linfoma (câncer no sistema linfático)

SÃO PAULO -  O clarinetista e saxofonista, Paulo Moura, de 77 anos, estava internado desde o último dia 4 na Clínica São Vicente, na Gávea, zona sul do Rio, e realizava tratamento para tentar curar um linfoma (câncer no sistema linfático). Morreu às 23h30 desta segunda-feira e o velório do corpo do músico no Salão Nobre do Teatro Carlos Gomes será realizado nesta quarta, das 11h às 16h.
 Ganhador do Grammy por seu disco Pixinguinha: Paulo Moura e os Batutas, tem mais de 40 discos lançados desde 1956. Paulista de São José do Rio Preto, onde nasceu em 15 de julho de 1932, tocava clarinete desde os 9 anos, mas era também trompetista, saxofonista, compositor e arranjador. O músico, considerado um dos maiores instrumentistas da música brasileira, tocou com grandes nomes como Ary Barroso, Tom Jobim, Elis Regina, Milton Nascimento e Raphael Rabello.
Paulo Moura, figura sempre afável nos palcos, palmilhou uma longa estrada, apresentando-se com grandes nomes nacionais e estrangeiros. Foi assim desde seu primeiro registro fonográfico, em 1951, quando logo de cara acompanhou Dalva de Oliveira cantando nada mais, nada menos que Palhaço (Nelson Cavaquinho), até seu último trabalho, AfroBossaNova, ao lado de Armandinho, lançado no ano passado.
É difícil citar todos, mas é impossível não lembrar de trabalhos antológicos, como os álbuns gravados com a pianista Clara Sverner; Paulo Moura Interpreta Radamés Gnattali, de 1959; Confusão Urbana, Suburbana e Rural, de 1976; Mistura e Manda, de 1984; Dois Irmãos, de 1992, com Raphael Rabello; Wagner Tiso e Paulo Moura, de 1996; K-Ximblues, de 2001, em homenagem à obra do genial e pouco lembrado saxofonista e compositor K-Ximbinho; Dois Panos Pra Manga, de 2006, com João Donato; e El Negro del Branco, de 2004, com Yamandu Costa.
Amigos e familiares do músico disseram que ele tocou seu clarinete pela última vez no sábado passado, 10, internado no hospital, onde executou Doce de Coco (Dulce de Coco), de Jacob do Bandolim e Hermínio Bello de Carvalho.
A TV Cultura reprisa hoje, às 23 horas, programa gravado em 2006, com Paulo Moura e João Donato, em bate-papo sobre música, amigos e lugares que frequentavam. (Colaborou Lucas Nobile)
Leia a repercussão da morte de Paulo Moura:
Nivaldo Ornelas, saxofonista e flautista - "Ele não me deu aula de música, mas de vida. Tem músicos admirados só do palco pra fora, mas ele era pra dentro também. Gerações ficaram órfãs com a morte dele."
Leo Gandelman, saxofonista - "Doente, Paulo se preocupava com os outros, não queria que sofressem por ele, tentava minimizar. Ninguém podia esperar que estivesse com uma bomba-relógio dessa."
Mauro Senise, saxofonista, ex-aluno - "Sofri uma paulada. Nos shows que fizemos recentemente, ele parecia um adolescente. Paulo foi meu único professor. Era um escultor de melodias, me iniciou na improvisação."
Juca Ferreira, Ministro da Cultura - "Era um instrumentista e solista primoroso, além de compositor, arranjador e regente, conhecido e admirado no mundo todo. Uma figura humana singular."
Marcello Gonçalves, violonista - "Estava com o Paulo no sábado, na clínica São Vicente. Ele teve coragem de mostrar as ideias dele, sempre novas. Deu direção a muitos músicos da minha geração."
Yamandu Costa, violonista - "Nosso último show juntos foi no Equador, há 8 meses. Ele era muito divertido, simpático e malandro ao mesmo tempo. Tinha muita vontade de produzir coisas novas sempre."
*publicado no site Estadao.com.br 13/07

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Candidatura de Leci abre as portas para uma discussão mais ampla e democrática sobre a liberdade religiosa

Da Assessoria

Unegro/SP promove encontro entre Leci Brandão e filhos do Axé e lança candidatura da compositora












Na presença de várias lideranças religiosas, representantes partidários e do movimento negro de SP e de enviados da Unegro/PR ocorreu o encontro sobre a liberdade de expressão que as religiões afro têm no estado de São Paulo. A sambista e militante negra, Leci Brandão, foi quem comandou a discussão.

Na ocasião, a Unegro/SP lançou a ilustre cantora como candidata à Deputada Estadual da unidade de federação paulista, que se comprometeu com a bandeira religiosa do Movimento Negro, embora também considere importantes as outras frentes do Movimento. Segundo Leci, são necessários mais negros no Congresso fazendo uso das leis para garantir uma sociedade mais igual entre pares e ímpares. “Quantas pessoas nos representando [a comunidade negra] temos no Congresso?”, questionou.

Depois de contar sua história de vida, falou sobre a decisão de candidatura.

Por não saber quais eram suas atribuições de um Deputado Estadual, questionou: “Quem é o Deputado? Deputado faz escola, faz hospital, faz estradas...?”. Depois de obter não para todas as alternativas, frustrada, novamente perguntou: “Então Deputado faz o quê?”. Foi então que Leci resolveu encarar o desafio. “Deputado faz leis e pode alterar a constituição vigente através de emendas e leis complementares, isso é muito importante para nós negros”.

A Unegro/PR, na oportunidade, apoiou a decisão e colocou-se à disposição para auxiliar a nova candidata do Estado vizinho. “Se for preciso, a gente vem pra cá ajudar”, comentou o Coordenador de Organização e Finanças da entidade, Luiz Henrique Fontes.


Para finalizar o encontro, Edson França, Coordenador Nacional da Unegro, fez um breve respaldo sobre o próximo Censo Demográfico do IBGE e pediu que todos aqueles que seguissem religiões de matrizes africanas o dissessem aos recenseadores. “O ultimo Censo anunciou a diminuição de 2% de seguidores, e nós sabemos que isso não é verdade. Quem é de Axé diz que é!”, finalizou.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

A Lei, Loucuras e Alegorias

A Lei, Loucuras e Alegorias

sábado, 3 de julho de 2010

Amenização das disparidades sociais ou institucionalização do racismo?

Após quase dez anos de implementação, a Cotas Raciais ainda causam divergências

Por Juliane de Oliveira

A superação das desigualdades socioecônomicas impõe-se como uma das metas de qualquer sociedade que aspira a uma maior equidade social. Em face aos problemas sociais, algumas alternativas são propostas para atenuação de desigualdades que mantém em condições díspares cidadãos de estratos distintos. Uma das alternativas propostas no Brasil é o sistema de cotas no ensino superior que visaria a acelerar um processo de inclusão social e racial de grupos à margem da sociedade.

No centro dos debates mais polêmicos das políticas públicas da educação brasileira estão as Cotas Raciais, que se constituem em reservas de vagas para negros no ensino superior e, apesar das divergências, vem sendo implantadas pelas universidades brasileiras. A instituição dessas reservas foi a primeira política pública de impacto nas ações afirmativas empreendidas pelo Governo Federal. Depois da experiência da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, a Universidade de Brasília (UnB), foi a primeira instituição federal a adotar o pleito, destinando 20% das vagas dos cursos de graduação para candidatos que se declarassem negros, já no vestibular de 2003.

A justificativa para o sistema de cotas é que certos grupos específicos, em razão de algum processo histórico depreciativo, teriam maior dificuldade para aproveitarem as oportunidades que surgem no mercado de trabalho, bem como seriam vítimas de discriminações nas suas interações com a sociedade. O conceito de cotização de vagas aplica-se a populações específicas, geralmente por tempo determinado. Estas populações podem ser grupos étnicos ou raciais, classes sociais, imigrantes, deficientes físicos, mulheres, idosos, dentre outros.

A Universidade Estadual de Ponta Grossa foi a terceira instituição estadual de ensino superior do Paraná a implementar essas políticas, a partir de 2006. Segundo a Pró-Reitora de Graduação, Graciete Tozetto Góes (Prograd/UEPG), os dados destes quatro anos iniciais referentes à adoção da reserva de vagas pela Universidade remetem à eficácia do sistema em produzir seus efeitos esperados que são: “a viabilização ou ampliação do acesso à Universidade por parte de uma minoria étnica regional no Sul do país, os negros, e de uma maioria estatística, os alunos concluintes do ensino básico público”.

No entanto, o sistema de cotas é considerada uma medida polêmica, gerando debates acalorados principalmente nos círculos acadêmico e político. É algo que divide opiniões, embora seja um consenso de que algo deva ser feito para diminuição das desigualdades entre os cidadãos e grupos sociais. Alguns argumentam que o problema é de base e que atacar as conseqüências não resolve o problema, apenas cria outro. Outros, no entanto, afirmam que são medidas emergenciais e necessárias diante da condição da comunidade negra no Brasil. Antonio Ozaí da Silva, Professor e membro do Núcleo de Estudos Sobre Ideologia e Lutas Sociais (NEILS – PUC/SP) acredita o que está em jogo são interesses bem definidos para aqueles que insurgem contra as Cotas Raciais. “O que contribui para intensificar a polêmica é o fato de que, por nossa formação histórica e o racismo disfarçado, mas latente em nossa sociedade, bloqueamos e nos recusamos a enfrentar o racismo”, pondera.

Uma das contradições relacionadas às cotas de cunho racial frequentemente citadas diz respeito à institucionalização do racismo: para alguns críticos, a distinção de etnias por lei acabaria por agravar o racismo já existente. É o caso da estudante de Engelharia de Alimentos, Roseli de Almeida, que acredita que as cotas apenas aumentam a questão do preconceito. “Quando alguém diz que precisa de cotas raciais para passar no vestibular e como se dissesse que uma raça é inferior à outra, que é menos inteligente, menos capaz”.

Já a estudante de Engenharia Civil, Maria Adelaide Ramos, ingressou na Universidade mediante vaga destinada às cotas e acredita que, para além das críticas e das falhas, a cota proporcionou à ela uma disputa mais justa no vestibular. “Meus pais faleceram num acidente em 2003 e, desde então, morei com minha avó que é aposentada e não poderia me ajudar com cursinhos de preparação para o vestibular ou pagar uma faculdade para mim. Eu trabalhava com serviços gerais, mas ganhava menos que a maioria”. Segundo ela, seria praticamente impossível entrar na universidade pelo sistema de seleção Universal, ou mesmo por cotas sociais (para egressos de escolas públicas sem diferenciação étnica). “Mesmo quem estuda em escolas públicas, faz um cursinho, ou tem maiores oportunidades”, salienta.

Outras controvérsias às cotas de cunho racial residem no fato de que seria difícil definir quem teria direito a tais políticas. Alguns defendem o critério de auto-declaração, outros defendem a instauração de uma comissão de avaliadores que, baseados em critérios objetivos e subjetivos, decidiriam quem teria direito às cotas. Esta questão não é ponto pacífico, pois não há consenso sobre o tema. Em geral, as cotas raciais são voltadas para a população autodeclarada negra - podendo abranger os pardos que se declarem negros. Um caso ocorrido em 2007 na Universidade de Brasília reacendeu a polêmica, pois dois gêmeos univitelinos foram classificados como sendo de etnias diferentes. Há, inclusive, ações de inconstitucionalidade já foram propostas por alguns políticos e entidades da sociedade civil contra o sistema de cotas. Guilherme Alves, professor do Departamento de Direito da UEPG, acredita que as cotas sejam “um testado de incompetência do Estado e uma forma esdrúxula de pagar uma dívida histórica (impagável) com o povo negro”. Na opinião dele, dever-se-ia investir mais na educação de base que nas cotas universitárias. “Ou o governo poderia dar bolsas de estudos em escolas particulares para essa comunidade”.

Sem extremismos, porém, o coordenador do Núcleo de Estudos Afrobrasileiros (Neab), professor Paulo Vinícius Baptista da Silva, ao analisar o sistema de cotas, sua aplicabilidade e seus possíveis bônus ou ônus, ressalta que se deve perceber que qualquer ação afirmativa, que busca transpor as desigualdades e a igualdade material (utopicamente), deve ser aplicada por um determinado tempo, ou seja, não é um instituto que deva ser aplicado com um finalidade definitiva. “Juntamente a isso, há de se entender que as ações afirmativas, como o sistema de cotas, devem possuir ações conjuntas, atacando o problema desde a sua raiz, pois nenhum problema social foge da deficiência das estruturas de base, como educação, distribuição de renda, falta de oportunidade, e outros”, conclui.
.
Avaliação da UFPR
.
As primeiras turmas formadas pelo sistema de cotas da Universidade Federal do Paraná (UFPR) se formaram-se em 2008, quando foi realizado um seminário para avaliar os primeiros quatro anos de implantação da medida. Segundo da Silva, são vários os resultados positivos. Estudantes oriundos de escolas públicas e afrodescendentes, por exemplo, apresentaram desempenho igual ou superior aos demais, além de ter menor índice de evasão.
.
As cotas foram implantadas em 2005 na UFPR e, desde então, já beneficiou cerca de 5,2 mil alunos. Pelo sistema, 20% das vagas da universidade em cada curso são destinadas a alunos de escolas públicas e outros 20% para alunos negros, além de vagas para indígenas. Foram cerca de dois anos de discussão até a implantação. O professor Paulo lembra que uma das questões levantadas pelas pessoas que eram contrárias ao sistema dizia respeito a qualidade do ensino. Mas isto não representou problema, pelo contrário. O professor afirma que os alunos de escolas públicas apresentaram rendimento superior aos classificados no quadro geral, e os alunos afrodescedentes tiveram desempenho similar aos demais.
.
Outro dado positivo é o índice de evasão. Entre os alunos negros a desistência é três vezes menor do que entre os alunos do quadro geral. Entre os alunos de escolas públicas chega a ser duas vezes menor. “Mostra que o investimento público nesses alunos é ótimo. O dinheiro é bem aplicado, com menos desistência, mais alunos são formados”, comenta. O estudante afrodescendente Roberto Jardim, 30 anos, disse que sempre estudou em escola pública e já havia tentado duas vezes vestibular na UFPR. “O sistema facilitou a entrada no curso de ciências sociais”, ressalta.
.
A vice-presidente do Conselho Permanente de Direitos Humanos do Estado do Paraná, Maria de Lourdes Santa de Souza, diz que o sistema é importante para a história do Paraná. “Nunca tivemos tantos alunos negros na universidade”, comenta. Ela diz ainda que a presença e o convívio com outros alunos ajuda também a acabar com o preconceito que ainda existe, mesmo que muitas vezes de forma velada.
.
Cotas em concursos públicos

No dia da Consciência Negra, a Câmara dos Deputados aprovou projeto que estabelece cotas raciais e sociais nas universidades públicas federais de todo o país. Pelo texto, 50% das vagas nas universidades serão reservadas para alunos vindos de escolas públicas. Metade dessas vagas será distribuída de acordo com critérios raciais e estabelecidas proporcionalmente de acordo com a distribuição populacional do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A outra metade será distribuída de acordo com a renda familiar per capita que deve ser menor que um salário mínimo e meio.
.
Quem defende a reserva de vagas tem se apóia nas estatísticas brasileiras. O professor Claudio Henrique Faustino argumenta que o povo brasileiro precisa saber mais sobre a realidade do negro no Brasil antes de criticar as chamadas “ações afirmativas” que visa incluir os negros em universidades, empresas públicas e até em algumas particulares através do sistema de cotas. “Apesar da tese de que no Brasil não há discriminação racial entre negros e brancos as oportunidades não são as mesmas e fica mais evidente quando confrontamos a realidade com dados de institutos de alta credibilidade como o Dieese [Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos]”, afirma. Segundo ele, as pesquisas apontam que o trabalhador negro ganha menos que o trabalhador branco mesmo quando o tempo de estudo, grau de instrução e experiências são iguais.
.
Para ele, esse quadro se agrava quando essas estatísticas estão presentes na maioria dos estados brasileiros e o valor do salário do trabalhador negro chega a ser quase metade do que recebe o trabalhador branco. “Além disso a maioria dos negros trabalham na informalidade são os maiores em índices de desemprego e mesmo com curso superior raramente ocupam cargo de chefia, conforme matéria publicada no Correio Popular em 6 de junho deste ano”.
.
Texto disponível também em: http://laragazzadiparole.wordpress.com/