quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Termina hoje prazo para optar por cotas na UFPR



Interessados devem acessar o site do Núcleo de Concursos da Federal e escolher um dos dois sistemas de reserva de vagas da universidade
Os estudantes aprovados para a segunda fase do vestibular da Universidade Federal do Paraná (UFPR) que querem concorrer a uma vaga nos sistemas de cotas adotados pela instituição têm até as 23h59 de hoje para acessar o site do Núcleo de Concursos da UFPR (www.nc.ufpr.br) e fazer a escolha. Esse período de alteração na inscrição foi acrescentado ao edital do concurso para atender às exigências da nova Lei de Cotas, sancionada neste ano.

Os estudantes podem optar pelo sistema de cotas da própria UFPR, que funciona desde 2004, ou pelo modelo estabelecido pela Lei Federal 12.711/2012, a Lei de Cotas. Neste ano, o modelo da UFPR reserva 27,5% das vagas de todos os cursos a cotistas. A metade é destinada a estudantes que fizeram todo o ensino fundamental e médio em escola pública e o restante a afrodescendentes.
Já o sistema estabelecido pela Lei de Cotas destina 12,5% das vagas a alunos que cursaram todo o ensino médio na rede pública. Metade dessas vagas é direcionada a candidatos com renda familiar inferior a 1,5 salário mínimo por pessoa. Além disso, a distribuição pelo sistema federal deve respeitar o porcentual de negros, pardos e indígenas estabelecido pelo IBGE. No Paraná, essa taxa é de 31%.
Passo a passo
Segundo a UFPR, para acessar o sistema no site do NC é preciso ter em mãos o número de inscrição no vestibular e o CPF. O sistema é autoexplicativo e mostra, por curso, o número de vagas disponíveis em cada sistema de cotas e na concorrência geral. Caso o aluno escolha um padrão de cota, a opção estará marcada no comprovante de ensalamento, que será divulgado em 4 de dezembro.
Mesmo o candidato que não optou pelo sistema de cotas no momento da inscrição do vestibular pode fazer essa escolha agora. Aqueles que não fizerem o recadastramento no site da UFPR até hoje seguem na disputa pelas vagas da concorrência geral ou do sistema de cotas da UFPR, conforme a inscrição inicial. Além das 5.087 vagas ofertadas no processo seletivo tradicional, a UFPR também oferece 529 vagas que serão preenchidas pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu). O Sisu seleciona candidatos de todo o país apenas com base nas notas do Enem.
fonte: gazeta do povo

Associação Comercial do Paraná Contra o Feriado 20 de novembro em Curitiba


Carta da ACP contra o feriado de 20 de novembro, dia de Zumbi, dia da Consciência Negra.

A Associação Comercial do Paraná vem se manifestar contrariamente à instituição de mais um feriado em nossa cidade, pelas razões elencadas abaixo.

A Associação Comercial do Paraná considera extremamente louvável a instituição do dia 20 de novembro como “Dia da Consciência Negra”.

Entendemos que esta data presta justa e integral homenagem ao herói da pátria Zumbi dos Palmares e a todos os cidadãos engajados na construção de uma sociedade igualitária, inclusiva e multicultural.

Nossa entidade há anos desenvolve iniciativas para difusão da igualdade racial e promoção da cultura afro-brasileira, com atividades especialmente concebidas para o Dia da Consciência Negra.

Não pretendemos que seja olvidada a trajetória de luta e sofrimento do povo negro. Todavia, consideramos que a eventual instituição de novo feriado civil, consoante Proposição 005.00148.2010 em trâmite na Câmara Municipal, geraria sério e expressivo impacto negativo à atividade econômica e à atração de novos investimentos no município, além de redução na produtividade e crescimento de custos adicionais, comprometendo significativamente a capacidade e competitividade das empresas curitibanas de gerar empregos e tributos.

Ademais, a adoção desse feriado conferiria tratamento desigual a outras etnias que habitam a cidade de Curitiba, que igualmente fazem parte de sua história.

Ressalte-se, ainda, a inconstitucionalidade do projeto, tendo em vista que é competência privativa da União a instituição de feriado civil, pois interfere diretamente nas relações trabalhistas e salariais, constituindo matéria do direito do trabalho, cuja competência para legislar é privativa da União, nos termos do art. 22, I, da CF. A lei n. 9.093, de 12 de setembro de 1995 esclarece claramente a competência municipal para fixar feriado, não contemplando a hipótese aventada na proposta em exame.

Assim conclamamos aos nossos legisladores que não sejam adotadas iniciativas que signifiquem desincentivo à atividade empreendedora em nossa cidade e evitem que tal discussão chegue ao Judiciário.

Isto posto, diante da iminente nova votação da proposição 005.00148.2010, manifestamos posicionamento contrário à criação do feriado em questão, pedindo a Vossas Excelências que não o aprovem.

Edson José Ramon, presidente da ACP.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Assista: Agressão,Tortura e Racismo da polícia no PR

DISCRIMINAÇÃO E COVARDIA

Feriado do Dia da Consciência Negra é aprovado na Câmara de Curitiba



ACP foi ao plenário e criticou proposta, que chegou a ter o adiamento cogitado. Projeto foi aprovado sem emendas e segue direto à sanção do Poder Executivo
O Projeto de Lei (PL) que estabelece como feriado o Dia da Consciência Negra, comemorado no dia 20 de novembro, foi aprovado em segunda discussão na Câmara dos Vereadores de Curitiba nesta terça-feira (27). O texto está apto a ser enviado à sanção do Poder Executivo, já que não foram apresentadas emendas.
A proposta de adiamento da votação chegou a ser cogitada no plenário. O vice-presidente da Associação Comercial do Paraná (ACP), Gláucio Geara, foi à Câmara e criticou a criação de mais um feriado e dizer que a lei não passou pelo devido debate público. Depois desse fato, a vereadora Julieta Reis (DEM) propôs adiar a votação por 10 dias. Com a negação do pedido, o projeto foi votado e aprovado.
A ACP publicou um anúncio em jornais do Paraná, nesta terça-feira (27), no qual se posiciona contra o feriado. No texto, assinado pelo presidente da entidade Edson José Ramon, a associação diz que considera “louvável a instituição do dia 20 de novembro como "Dia da Consciência Negra”.
O texto, no entanto, diz que não concorda “que a data seja transformada em feriado, pois além de causar prejuízos econômicos, conferiria tratamento desigual a outras etnias que habitam Curitiba, que igualmente fazem parte de sua história e que muito contribuíram para a construção de nossa cidade.” O pedido feito na finalização do documento é para que os “senhores vereadores não o aprovem [PL que cria o feriado no dia 20 de novembro].”
fonte:gazeta do povo

Veja: Agressão, Tortura e Racismo da Policia Militar em Curitiba

Discriminação e covardia.
  
Uma perseguição a um motociclista que andava sem capacete terminou de forma desastrosa no último fim de semana, no Bairro Alto, em Curitiba. Moradores relatam que policiais militares invadiram uma casa sem mandado de busca ou de prisão e agrediram moradores e vizinhos, entre eles uma idosa e uma portadora de deficiência. Na sequência, quatro pessoas foram detidas. Elas denunciam que foram torturadas. Uma advogada foi presa por desacato e afirma ter sido vítima de racismo. A Corregedoria da Polícia Militar (PM) instaurou um inquérito para apurar o caso.
A ocorrência foi registrada na Rua Rio Guaíba, na noite de sábado (24). Na descrição da ocorrência, a PM afirma que um motociclista sem capacete fazia manobras perigosas e teria desobedecido a ordem de parada de uma equipe policial, entrando em uma casa. O mesmo registro faz referência ao uso de armas não letais, como bastões e teasers (aparelho de choque), para controlar cerca de 50 pessoas que teriam se aglomerado diante da residência.
O caso só veio à tona nesta terça-feira (27), depois que uma das pessoas que foi presa, a advogada Andréia Cândido Vítor denunciou a truculência da ação da PM. Os relatos dão conta de que os policiais invadiram a casa para onde o motociclista fugiu e agrediram moradores.
Um vídeo divulgado pela Associação Brasileira dos Advogados Criminalistas (AbraCrim) traz depoimento de seis pessoas que afirmam ter sido agredidas pelos policiais. Eles apresentam sinais nas costas e braços, arranhões e cabeças enfaixadas. Uma delas é uma senhora de 74 anos. Outra, uma adolescente que tem problemas de locomoção.
“Eu peguei no braço do policial e falei: ‘pelo amor de Deus, não faz isso’. E quando eu fui ver, o policial me deu uma cotovelada, eu caí no chão e bati com a minha cabeça na parede. Depois disso, eu não vi mais nada”, relata a adolescente. Em vídeos gravados por moradores, é possível ver quando ela é retirada da casa, carregada por um homem.
O dono da casa invadida afirma que um de seus filhos ainda está hospitalizado por causa dos ferimentos. As gravações feitas após a ação policial mostra manchas de sangue em vários cômodos e peças de roupa e até pedaços de um cacetete que teria sido usado pela PM. “Nós não somos vagabundos. Nós somos gente”, lamentou o dono da casa.
Os vídeos gravados pelos moradores mostram ainda o grande contingente policial em frente à casa. Uma policial parece debochar dos moradores. Outro policial se refere à população como “cambada” e chega a gritar um palavrão, quando um morador questiona uma das prisões.
Tortura
Quatro pessoas foram detidas pela PM, entre elas a advogada Andréia Vítor. Ela conta que, acompanhada de uma líder comunitária, questionou o tenente que comandava a ação sobre os motivos da abordagem à residência. O tenente teria xingado as mulheres de “vagabundas” e “vadias” e, quando Andréia se apresentou como advogada, recebeu voz de prisão por desacato.
“Eu disse: ‘Eu preciso de um representante da OAB. Ele gritou: ‘Você não precisa de nada, sua vagabunda. Entra no carro que você vai ter o que você precisa’”, narrou a advogada.
Andréia afirma que ela e os outros três presos foram algemados e levados de viatura até um módulo policial localizado na Praça da Liberdade. Lá, todos teriam sido postos de joelhos e espancados, com tapas no rosto e pontapés. A advogada afirma ainda ter sido vítima de injúria racial. “Uma das policiais olhava para mim e dizia: ‘Você não é advogada? Advogada o quê? Com essa corzinha?’”, relatou.
A denúncia será apresentada na quarta-feira (28) ao Grupo Especial de Atuação e Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público do Paraná (MP-PR). A intenção dos denunciantes é que os policiais respondam criminalmente pelos atos. “Era uma infração administrativa de trânsito, mas resultou nesta barbárie. Barbárie é o nome que resume o que ocorreu”, disse o advogado de Andréia, Elias Mattar Assad.
Apurações
Os policiais envolvidos nas denúncias pertencem à 3ª Companhia do 20º Batalhão da PM. O chefe da Corregedoria, coronel Marcos César Vinícius Kogut disse que já recebeu a denúncia e determinou a abertura de um inquérito policial militar, para apurar o que ocorreu. “Foi solicitado o acompanhamento do MP-PR, para que transcorra tudo normalmente e que se apure o que realmente aconteceu.
Caso os abusos sejam comprovados, as investigações internas conduzidas pela PM podem terminar em punições que variam de repreensão a expulsão dos envolvidos. O coronel reconhece que os policiais terão cometido uma infração grave, se os detidos tiverem sido, de fato, levados ao posto policial antes de serem encaminhados à Polícia Civil. “O padrão da corporação é deslocar com os detidos direto à delegacia da Polícia Civil após a prisão”, disse.
O coronel ressaltou que a corporação tem interesse em apurar o que realmente aconteceu e de punir os excessos. “A PM instrui seu efetivo para atuar dentro da lei. Os abusos não devem nos chocar, mas devem ser apurados com rigor. As denúncias são importantes para que desvios se tornem cada vez menos corriqueiros”, afirmou.
A descrição da ocorrência, feita por policiais da 3ª Companhia do 20º Batalhão menciona que as equipes policiais teriam sido hostilizadas pelos moradores que se aglomeraram diante da residência que foi abordada. O documento diz que os agentes foram xingados pela população a recebidos a pedradas. Um soldado teria sido atingido por um soco.
fonte: gazeta do povo

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Dia da Consciência Negra – 20 de novembro será feriado em Curitiba

A Câmara de Curitiba aprovou em primeiro turno na manhã desta segunda-feira (26) a transformação do Dia da Consciência Negra em feriado municipal. Pelo projeto, que ainda deve passar por mais duas votações antes de ser encaminhado para apreciação do Poder Executivo, o dia 20 de novembro entra para o calendário oficial do Município de Curitiba já a partir de 2013.

A proposta foi apresentada pelo ex-vereador Clementino Vieira (PMDB) e visa alterar um artigo da Lei 10.921 de 2003, que dispõe sobre o combate ao racismo no Município de Curitiba. Vieira foi ao plenário da Câmara nesta segunda para defender o projeto de sua autoria, que contou com apoio do atual vereador peemeebista Algaci Túlio.

Na justificativa do projeto, o ex-parlamentar citou exemplos de outros locais em que o Dia da Consciência Negra é considerado feriado. “Mais do que a questão da folga ou não do trabalho e da escola, o dia da Consciência Negra é uma forma de discutir o assunto da igualdade racial”, afirmou Vieira. A data é alusiva à morte de Zumbi dos Palmares, ocorrida no dia 20 de novembro de 1695.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Guerrilha do Araguaia: sem a verdade não há justiça



Na tarde da sexta-feira 17 de novembro de 2012, os camponeses do Araguaia registraram mais uma importante página da história do movimento guerrilheiro que combateu a ditadura de 1964 no sul do Estado do Pará no começo da década de 1970. Cerca de 200 camponeses e indígenas ocuparam o plenário da Câmara Municipal de Marabá (PA) em audiência pública da Comissão Nacional da Verdade, que ouviu relatos minuciosos sobre as atrocidades que os agentes a serviço daquele regime tirano praticaram contra a população local.

Osvaldo BertolinoCamponeses e indígenas ocupam plenário da Câmara Municipal de Marabá (PA)

A representante da Comissão Nacional da Verdade, Maria Rita Kehl, ouviu relatos dramáticos dos camponeses e indígenas castigados por apoiar os guerrilheiros. Na abertura do evento, ela disse que na distribuição de atividades na Comissão Nacional da Verdade escolheu os camponeses e indígenas para relatar porque em seu entendimento estas pessoas sofreram mais do que os que foram vítimas nas cidades.

Maria Rita Kehl

Foto: Osvaldo Bertolino

Segundo Maria Rita Kehl, em várias regiões do campo no Brasil, pelo isolamento, foram praticadas as piores injustiças. No Araguaia, além das torturas físicas e das mortes, afirmou a representante da Comissão Nacional da Verdade, as vítimas da repressão perderam suas terras pelo simples fato de conviver com os guerrilheiros. “Naquela época, o Estado achava que podia tudo”, afirmou. Apesar dos limites da Comissão Nacional da Verdade, que não tem poderes para punir os responsáveis pelas atrocidades cometidas, o resgate dos fatos ocorridos é importante para que se saiba o que aconteceu com a população local, observou.

Paulo Fonteles Filho, representante do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) no Grupo de Trabalho Araguaia (GTA) e vice-presidente do Comitê Paraense pela Verdade, Memória e Justiça – comandada pela Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos –, anunciou que no dia anterior foi criada, “de forma altiva e corajosa”, a Comissão da Verdade dos índios suruís, a primeira do país destinada a investigar crimes da ditadura contra a população indígena.

UNEGRO/CURITIBA-PROMOVE

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Mulheres negras são maioria entre jovens que não trabalham nem estudam




Isabela Vieira e Thais Leitão
Repórteres da Agência Brasil

Rio de Janeiro e Brasília - Mulheres pretas, pardas e indígenas são a maioria entre os 5,3 milhões de jovens de 18 a 25 anos que não trabalham nem estudam no país, a chamada “geração nem nem”. Cruzamento de dados inédito feito pelo Instituto de Estudos Sociais e Políticos (Iesp) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), a pedido da Agência Brasil, revela que elas somam 2,2 milhões, ou seja, 41,5% desse grupo. Do total de jovens brasileiros nessa faixa etária (27,3 milhões), as negras e indígenas representam 8% - enquanto as brancas na mesma situação chegam a 5% (1,3 milhão).

Para o coordenador do levantamento, Adalberto Cardoso, que fez a pesquisa com base nos dados do Censo 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), várias razões explicam o abandono da educação formal e do mercado de trabalho por jovens. Entre elas, o casamento e a necessidade de começar a trabalhar cedo para sustentar a família. Cerca de 70% dos jovens “nem nem” estão entre os 40% mais pobres do país. A gravidez precoce é o principal motivo do abandono, uma vez que mais da metade das jovens nessa situação têm filhos.



É o caso de Elma Luiza Celestina, 24 anos, moradora da Estrutural, na periferia de Brasília. A jovem deixou de estudar aos 16 anos, com o nascimento do primeiro filho. Ela continuou frequentando as aulas até terminar o 6o ano do ensino fundamental, mas engravidou novamente meses depois. Com isso, precisou adiar a volta às salas de aula. Desde então, dedica-se quase exclusivamente aos filhos, conseguindo, raramente, alguns bicos como faxineira. Há sete meses, no entanto, quando o terceiro filho nasceu, não assume nenhum compromisso profissional e vive com dificuldade financeira.

“Como só tenho o 6º ano, não conseguia coisa muito boa, que ganhasse um bom dinheiro. Era mais para fazer faxina mesmo. Mas, agora, não tenho como [trabalhar]. Com três filhos é difícil sair para fazer qualquer coisa.”

Elma vive apenas com a ajuda da mãe, 57 anos, para sustentar as três crianças. Os dois ex-maridos estão presos e não podem reforçar a renda da casa. “O problema é que agora ela [minha mãe] também não está podendo trabalhar, porque está com problema no joelho. E, sem a ajuda dos pais das crianças, está bem difícil”, conta a jovem que não consegue fazer planos para o futuro.

“Se eu quiser coisa melhor, tenho que voltar a estudar, mas não sei se vou conseguir, porque com esses filhos todos como vou fazer?”, disse. Ela acredita que engravidou cedo por falta de orientação familiar. “Minha mãe não sabe nem escrever, não tinha como me orientar. Eu acabei engravidando, não me cuidei e engravidei de novo.”

A gravidez na adolescência também levou Lucineide Apolinário a abandonar os estudos. Aos 25 anos, a moradora da Estrutural está grávida do quarto filho e, sem ter com quem deixar as crianças, desistiu de trabalhar. O atual marido, que é pai apenas do bebê que ainda vai nascer, é ajudante de obras e, mesmo sem ter emprego fixo, assume sozinho as despesas da casa. O primeiro marido morreu há cerca de dois anos. A jovem cursou até a 7º ano do ensino fundamental e lamenta o casamento e a gravidez precoces.

“Parei de estudar por causa das crianças. Casei aos 15 anos, arrumei filho muito cedo e veio um atrás do outro. Estava apaixonada, era ilusão de adolescente. O problema é que sobra muito para a mulher. A gente tem que se dividir em mil para dar conta dos filhos e da casa e não consegue pensar na gente”, diz.

Enquanto se prepara para dar à luz a mais um menino nos próximos dias, Lucineide diz que sonha em retomar os estudos “algum dia”. Ela espera que os filhos tenham uma história diferente da sua.

“Ainda vai demorar um pouco, mas algum dia eu volto a estudar. Para conseguir um emprego melhor tem que estar pelo menos no 1º ano [do ensino médio] e eu quero voltar a trabalhar para poder dar um futuro melhor para os meus filhos, uma história bem diferente da minha”, diz.

Moradora do Morro do Juramento, na zona norte do Rio de Janeiro, Jéssica Regina Martelo, 22 anos, parou de estudar no 6º ano, quando passou a achar a escola menos interessante do que a vida real. A jovem conta que “era chato” ir à escola e que preferia ficar com as amigas. Órfã de pai e mãe, ela foi criada pelas irmãs e teve a primeira filha aos 17 anos. Envolvido com o tráfico, o companheiro morreu assassinado logo depois do nascimento da menina. Como não pôde contar com o apoio do pai da criança, acabou tendo que trabalhar para se sustentar.

Aos 19 anos, Jéssica teve a segunda filha, da união com Jony Felipe Coli, 24 anos, que também não estuda e já tinha dois filhos ao conhecê-la. Ele também não tem emprego formal tampouco estuda, embora cuide dos filhos do relacionamento anterior e que agora fazem parte da nova família. Para sustentar a casa, Jéssica faz bico. “Prefiro ser manicure por conta própria porque tenho mais tempo para cuidar das meninas e o dinheiro fica comigo e com elas, não com o salão.”

Além da gravidez, outro fator de peso para o abandono da escola, segundo o pesquisador da Uerj, é a falta de perspectiva de vida de jovens pretos, pardos e indígenas, maioria nas escolas públicas, em geral, de menor qualidade. Ele acredita que o estímulo à educação é fundamental para mudar a realidade desse grupo.

“Uma coisa perversa no sistema educacional do Brasil é o fato de pessoas deixarem a escola porque não têm a perspectiva de chegar ao ensino superior”, diz. “As ações afirmativas são importantes por isso. Têm o efeito de alimentar aspirações de pessoas que viam a universidade como uma barreira, mas que vão se sentir estimuladas a permanecer no ensino”, destaca.

Ao analisar os dados do levantamento, a professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA) Rosângela Araújo diz que é preciso entender o que está por trás do comportamento das meninas. “Não é falta de informação. Tenho certeza de que a maioria conhece um preservativo. Mas tem uma questão da mudança de status, de menina para mulher. Elas podem não ver [o abandono escolar] como um passo atrás, mas no futuro, pode pesar.”

Segundo o levantamento, embora a taxa de jovens da “geração nem nem” no Brasil seja considerada alta (19,5% do total de pessoas de 18 a 25 anos), o índice não está distante do verificado em países com características demográficas semelhantes onde é comum que a mulher deixe de trabalhar e estudar para se casar. É o caso da Turquia e do México, segundo estudos da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), citados pelo pesquisador da Uerj.

A pesquisa também identificou entre os “nem nem” jovens com deficiência física grave e os que saíram da faculdade, mas ainda não estão empregados. Os dados completos constam do estudo Juventude, Desigualdade e o Futuro do Rio de Janeiro, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) e deve ter um capítulo publicado em 2013.

Edição: Juliana A

Governo lança editais para produção cultural negra

Camila Maciel - Agência Brasil

São Paulo – Cinco editais do Ministério da Cultura, lançados hoje (20), pretendem incentivar a produção cultural negra no país. Produtores e artistas negros poderão concorrer com projetos nas áreas de audiovisual, circo, dança, música, teatro, artes visuais, literatura, pesquisas acadêmicas e pontos de cultura. De acordo com o ministério, serão destinados cerca de R$ 10 milhões. O lançamento faz parte das comemorações ao Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, celebrado hoje.

A ministra da Cultura, Marta Suplicy, destacou que é a primeira ação afirmativa assumida pela pasta. “O objetivo é aumentar as oportunidades para a comunidade negra poder se inserir na produção cultural”, explicou. Ela apontou que os editais são ainda uma forma de facilitar o acesso aos recursos disponíveis na área da cultura. “Dentro do ministério, percebemos que era difícil entrar na Lei Rouanet e mesmo se conseguisse aprovação, era complicado captar os recursos para fazer acontecer”, avaliou.

Para Luiza Bairros, ministra-chefe da Secretaria Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), a ação abre caminhos para que outros órgãos do governo, especialmente as empresas estatais, adotem critérios semelhantes para patrocínio de projetos. “Tenho certeza que esta decisão do ministério vai ter repercussão nas políticas culturais adotadas pelas empresas. Era este efeito demonstração que precisávamos criar”, aposta.

Segundo a ministra, as medidas de incentivo podem mudar o paradigma ao qual a cultura negra está vinculada. “As artes negras no Brasil, muitas vezes, são lidas como folclore, como algo que não tem relação direta com a dinâmica atual da nossa sociedade. Com os editais, vamos dar visibilidade às formas de expressão que dialogam com o Brasil de hoje e do passado e, sobretudo, apontamos para a possibilidade da cultura se fortalecer em cima da sua diversidade.”

Marta Suplicy negou que a iniciativa de lançar editais específicos para a população negra seja uma forma de preconceito. “Eu acho que preconceito é o negro não ter acesso. Quando você dá oportunidade, você quebra a barreira”, defendeu. Luiza Bairros reforçou que os editais estão amparados no Plano Nacional de Cultura, no Estatuto da Igualdade Racial e em decisões do Supremo Tribunal Federal (STF), que reconhecem a legalidade de ações afirmativas.

O Edital Curta-Afirmativo, sob responsabilidade da Secretaria do Audiovisual, vai apoiar seis produções em curta-metragem, no valor de R$ 100 mil cada, que sejam dirigidos ou produzidos por jovens negros com idade entre 18 e 29 anos. Na primeira edição, a temática e o formato (documentário ou ficção) são livres.

A Fundação Nacional de Artes (Funarte), por meio do Prêmio Grande Otelo, irá financiar 33 projetos nas áreas de artes visuais, circo, dança, música, teatro e preservação da memória, totalizando R$ 4,3 milhões. As premiações variam de R$ 100 mil a R$ 200 mil para cada ação selecionada.

A Fundação Biblioteca Nacional (FBN) será responsável por três editais. Um deles destinará R$ 500 mil para apoiar a coedição de até 25 livros de autores negros. Também serão apoiados trabalhos acadêmicos com o intuito de fomentar o surgimento de novos escritores e pesquisadores na área. Serão destinados R$ 195,6 mil, distribuídos em bolsas de estudo que variam de R$ 500 a R$ 2,5 mil. A FBN vai financiar ainda a criação de 30 pontos de leitura de cultura negra, sendo pelo menos um em cada estado, no valor total de R$ 3,2 milhões.

Edição: Carolina Pimentel


Entre a Senzala e a Ante-Sala

Não podemos pensar que investindo quantias absurdas em policiamento estaremos garantindo segurança à sociedade.

Por Denis Denilto Laurindo*

Somos praticamente a metade da população brasileira, ou seja, pretos e pardos são 96 milhões de pessoas nesse país. Evidente que o número da população não tem representatividade proporcional nas instituições de poder e de gestão da sociedade civil. Não estamos nas TVs, não estamos nos jornais, não estamos nos comerciais nem como queríamos, nem como devemos. Neste sentido é nosso dever gritar para que definitivamente se faça a justiça que realmente coloque nosso país no caminho do desenvolvimento humano.

Insistimos que, falar do negro, falar da negra não é um falar isolado na política brasileira. Não estamos reivindicando somente direitos e deveres que nos foram historicamente negados. Estamos atentando para que a sociedade brasileira perceba que não promovendo o que é de direito à maioria da população, jamais construiremos um mundo democrático pleno de riqueza e segurança neste país.

Não podemos pensar que investindo quantias absurdas em policiamento estaremos garantindo segurança à sociedade. Não podemos pensar que investindo em estrutura garantiremos melhor condições de vida a nossa população. Não podemos conceber em uma sociedade democrática a falsa ideia de que somos iguais, quando somos diferentes em concepção, visão e organização social. E por isso somos a diferença necessária para a formação da brasilidade a tanto profetizada nos anais academicistas. Queremos investimentos em ações afirmativas que cercam o racismo, a homofobia, o sexismo e o preconceito religioso. Isto porque em nossa "casa grande" tem sempre lugar pra mais um. Mais um no sofá, no chão com colchão ou mesmo na cama dividindo espaço, não importa! Em nossa panela por menor que seja, além do arroz e do feijão, cabe o amor que une e reúne em torno da mesa, diferentes cores, formas e mundos. Em nossa "casa grande" não há senzala. Embora a vejamos além da porta, no lado de fora, lá: na rua, na praça, no shopping onde nos rotulam, nos estigmatizam e nos desprezam. Há sempre uma Senzala nos querendo aprisionar e há sempre um navio nos afastando do nosso modo de existir. Mas nós sabemos dizer não. Não concordamos! Quanto ao seu não ele só nós faz resistir. Não! Nós nos reconhecemos. Não! Nós nos empoderamos e a cada seu não, nós nos organizamos.

Os quilombos sempre foram lugares onde a partilha fora o fulcro, ou se melhor, fora o centro e estrutura da comunidade resistente. A maneira mais fiel de fazermos justiça social é a de resgatarmos as sociedades de quilombos. Onde a utopia se fazia presente em sua forma de organização. Onde o agora já, de uma sociedade ideal, se fazia presente mesmo nas relações comerciais entre negros, índios, ciganos e brancos. Pensemos em igualdade de condições como nas comunidades quilombolas.


Se somos filhos de Zumbi! Devemos buscar sempre a justiça, a sabedoria para que ela possa transmitir aos que não entendem, o real sentido de Pertencimento. Se somos filhos de Zumbi! Devemos ensinar o significado e a força de nossa ancestralidade e como ela nos faz viver e resistir. Sim, somos filhos de Zumbi! Por isso nós: do movimento negro, da nação quilombola, da religiosidade de matriz africana, da população negra deste Estado, deste país. Devemos nos revoltar sempre, devemos gritar constantemente, devemos lutar eternamente para que seja feita a justiça conforme está prescrita nos cânones da constituição que fora construção ideal de uma nação sofredora.
"Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade".
*Presidente da Unegro/Paraná

Seu Jorge enfrenta racismo ao recitar Negro Drama em show


Não, não! O texto não é sobre a nova novela da Rede Globo. O texto também não é sobre o santo guerreiro da Capadócia. Este texto (leia desabafo) é uma crônica sobre um acontecimento que ocorreu no show do Seu Jorge, neste sábado (27/10/2012). E o que aconteceu definitivamente precisava e precisa ser relatado de uma forma bem abrangente, as palavras clamam por liberdade dentro de mim; é a agonia do escritor que só cessará após o último ponto final.

Por Bruno Rico, no Blog Sentimento Crítico*

Para que o nobre leitor se ambiente com o que será relatado, primeiramente é preciso dizer que o show ocorreu na Fundição Progresso, uma conceituada casa de shows da Lapa, Rio de Janeiro; e por volta de uma hora da madrugada de domingo, o grande DJ CIA se posicionou na sua pickup, que ficava no centro do palco, e começou a discotecagem para animar o público.

Como sempre, o CIA foi impecável, tocou alguns clássicos da black music mundial, e deixou a plateia no ponto para receber a grande atração da noite: Seu Jorge.

Depois de 15 minutos de DJ CIA, Seu Jorge entrou no palco, o próprio CIA também continuou onde estava, e o show seguiu.

Tudo estava indo muito bem, Seu Jorge dançava e cantava como se fosse o seu primeiro show, e todos estavam curtindo.

A alegria do artista era compreensível, ele que é um cantor que viaja muito pelo mundo, estava fazendo um show no seu país e na sua cidade, ou seja, estava em casa.

E por incrível que pareça, praticamente no meio do show, a própria casa, ou parte dela, o apunhalou.

Agora que começa verdadeiramente o texto, agora é que virá o assunto que dividiu o show em duas partes. E eu vou confessar: tô puto até agora.

Pra quem não sabe – e pelo visto muita gente que estava presente no show não sabia – a apresentação do Seu Jorge tem alguns momentos temáticos, ou seja, em determinado momento ele canta uma sequência mais romântica, em outra mais dançante, e temos também uma sequência politizada/protesto, com a música Zé do Caroço, seguida da declamação de Negro Drama, dos Racionais MC’s.

Antes de qualquer coisa, é preciso dizer que Seu Jorge tem muita autonomia para declamar Negro Dramaem um palco, pois um cara que morou na rua, passou fome, sofreu preconceito, e hoje é o que é mundialmente, tanto músico quanto ator, tem SIM muita propriedade para se intitular um negro drama, afinal de contas... Dinheiro, problemas, inveja, luxo, fama.

Preconceito

Enquanto Seu Jorge declamava com muita paixão os versos de Negro Drama, parte da plateia começou a vaiar, pois é, vaiar! Antes de continuar eu só gostaria de fazer um questionamento: o que leva uma pessoa a pagar R$ 60,00 no show de um artista, e posteriormente vaiá-lo? Pois esse foi o meu questionamento imediato na hora, depois vieram muitos outros, mas enfim...

As vaias não intimidaram Seu Jorge, que prosseguiu firme como o seu homônimo santo da Capadócia.

Quando a declamação chegou na parte do Brown, as vaias já eram bem mais expressivas, alguns até vociferavam um coro de: “canta, canta, canta!” Dando a entender que todo aquele recital negro já estava ferindo os tímpanos de alguns acéfalos – racistas talvez – que só queriam cantar e dançar, apenas isso. Talvez uma declamação de “branco drama” soasse melhor naquele momento, talvez não houvesse a vaia, talvez. Mas como não existe tal poesia, eu só posso ficar no talvez.

Eu estava no show com a minha companheira, meu compadre e minha comadre, e todos nós ficamos profundamente chateados e estarrecidos com o que estava acontecendo, afinal de contas, aquelas vaiais ecoavam vários significados: preconceito, ignorância, intolerância, alienação e etecetera e tal. E isso tudo em pleno 2012. E tem gente que ainda acha que o ser humano evoluiu alguma coisa.

Após declamar Negro Drama por completo, as luzes do palco se apagaram, Seu Jorge se calou por alguns instantes, e ao acender das luzes o artista já estava visivelmente abatido, porém não se curvou, e discursou palavras parecidas com estas:

A resposta

“Quando eu toco na França eles falam muito bem do Brasil, lá eles falam que se você for branco, bonito e tiver uma faculdade, o Brasil é o lugar para ir. Portanto, vocês que são brancos, bonitos, possuem uma faculdade e o papai dá tudo, aproveitem, pois tem alguém de olho no emprego de vocês.”

Em meio a aplausos e vaias ele continuou... “Essa música Negro Drama tem muito significado pra mim, e nos meus shows ela vem seguida de Zé do Caroço. Vivemos em um país onde a maioria das pessoas luta pra caramba e permanece na miséria, um país onde a classe trabalhadora não é respeitada, e tudo isso tem que ser dito.”

E teve mais (dá-lhe Jorge!)... “Joaquim Barbosa lavava o chão do lugar onde hoje ele é ministro chefe, um cara negro, que nasceu pobre, estudou em escola pública, e hoje é o que é, hoje fez o que fez, o cara bateu na cabeça dos políticos, condenou muita gente, mesmo que não dê em nada, ele fez o seu papel, condenou, em um país onde não se condena político ele foi lá e fez, tinha que ser um negão pra fazer um bagulho desses.”

Seu Jorge falou mais algumas coisas que não me lembro, até porque minha mente estava em profunda ebulição, era muita informação e emoção para um momento só.

Bom, depois de tudo isso, depois de todo esse desabafo do artista, eu nem preciso dizer que o clima da casa mudou totalmente, e como eu escrevi antes, o show ficou dividido em duas partes: antes de Negro Drama e depois de Negro Drama. Que simbologia poética isso, hein.

A convidada

Logo depois desse marcante fato, Seu Jorge generosamente chamou uma convidada no seu palco, e fez questão de dizer que ela cantava uma onda diferente da dele, mas que era para todos ouvirem, pois a cantora era de qualidade, e de fato era – se bem que no Brasil isso não tem grande valia.

A cantora era de São Paulo, se chamava Cris Oak, e cantou jazz. E quando eu pensei que os ânimos iriam ficar mais amenos, eis que no meio da música da convidada, as vaias voltaram, e a ignorância cultural do público aflorou outra vez. Talvez, se o convidado fosse um Michel Teló, com seus hits dançantes, as coisas fossem diferentes, mas como era um jazz, e pouca gente sabe apreciar isso, ainda mais no Brasil, a cantora foi obrigada a ouvir algumas vaias também.

Certamente essas vaias ainda faziam parte da insatisfação dos ouvintes que ficaram profundamente ofendidos com a declamação de Negro Drama.

Protesto

Depois de tudo isso, Seu Jorge voltou a “cantar” -- e eu coloquei com aspas, pois o artista não foi mais o mesmo, e nem deveria ser!

Seu Jorge passou a “cantar” com total descompromisso, não dançava mais, e geralmente ficava parado em algum canto, com um braço cruzado nas costas, enquanto o outro segurava o microfone, tudo isso nitidamente sem ânimo algum.

Logicamente que ninguém é obrigado a gostar de nada, mas as pessoas precisam aprender a ter respeito, e foi isso que faltou no show. Muita gente certamente não gostou da declamação de Negro Drama, tudo bem, é um direito, mas chegar ao ponto de vaiar soa muito radical e preconceituoso sim! Até porque depois disso ele fez um discurso bem fundo nos problemas do Brasil, tanto em questões raciais, quanto sociais, e aquilo pareceu ter ferido ainda mais os tímpanos de alguns, pois como diz na própria música que causou toda a discórdia: “periferias, vielas e cortiços, você deve tá pensando, o que você tem a ver com isso”.

E enquanto a sociedade brasileira achar que não tem nada a ver com o problema dos menos favorecidos, as coisas nunca irão progredir de fato, pois a história do Brasil nos mostra isso. E certamente esse foi o pensamento de muitos no show.

Racismo

Os sentimentos preconceituosos estavam tão evidenciados, que eu consegui ler as mentes. Sabe aquela nuvenzinha branca das animações que relatam os pensamentos? Pois então, elas estavam visíveis para mim, a maioria tinha o seguinte texto: “porra, que é que esse negão tá falando aí no palco, eu quero ouvir música, quero entretenimento, foda-se o problema do preto, do pobre, eu quero dançar”.

E com estes pensamentos retrógrados, todos nós seguimos dançando a mesma música: a da ignorância. Ignorância que cega e individualiza os seres cercados em seus condomínios. Ignorância que vaia o artista que discursa sobre os problemas de um país, dando a entender que todos nós vivemos as mil maravilhas. A ignorância sempre foi, e sempre será um dos maiores problemas do brasileiro, e engana-se quem pensa que ignorância tem a ver com pobreza ou grau de instrução, tem muita gente com a conta bancária lotada de cifras, com diploma não sei de onde, que é totalmente ignorante em diversos aspectos.

Como diria uma boa cozinheira: “o bolo desandou”. Essa foi a frase que passou a definir o show do Seu Jorge depois de declamar Negro Drama.

Salve Jorge!

Confesso que depois desse show eu fiquei muito mais fã do artista e da pessoa Jorge Mário da Silva. E também consegui ficar muito mais descrente com a população do meu país, pois a mesma mergulha em uma falta de cultura profunda, eu tenho até medo de ver onde isso vai parar. As pessoas não sabem mais o que ouvem, não sabem mais a origem de nada, querem tudo mastigado, não pesquisam nada, não respeitam nada, não questionam nada, e lutam apenas por um bem individual, e nunca coletivo; esse é o perfil do cidadão brasileiro padrão, um cidadão omisso, que não conhece a sua real cultura. Um cidadão hipócrita, que tem coragem de fazer passeata durante o dia, vestido de branco, enquanto à noite, ele briga na rua após tomar uma simples fechada no trânsito.

É preciso repensar o nível de imbecilidade, intolerância e ignorância que o nosso povo chegou, não sei se isso tem volta ou remédio, o meu pessimismo diz que dias piores virão.

Enquanto isso, só me resta relatar o cotidiano, poetizar as revoltas e os sentimentos de um mundo cada vez mais sem sentimento, que é habitado por seres que não aprenderam a apreciar uma verdadeira arte.

Só me resta terminar esta crônica com uma frase dita pelo próprio Seu Jorge, em meio a todo tumulto: “Viva a alienação carioca!” Embora eu saiba que este mal possui esferas que vão muito além de terras cariocas, infelizmente.

Ah, só pra constar: histórias, registros, escritos, não é conto nem fábula, lenda ou mito.

*Título e intertítulos do Portal Vermelho


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quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Vestibular da UFPR terá dois sistemas de cotas

Candidatos cotistas deverão optar por qual regra querem concorrer à vaga: o da universidade ou o da lei de cotas
publicado:gazeta do povo
 

Os candidatos aprovados na primeira fase do vestibular da Universidade Federal do Paraná (UFPR) que fizeram o ensino médio em escolas públicas terão uma difícil escolha a fazer: migrar ou não para o sistema previsto na Lei das Cotas, sancionada em 29 de agosto pela presidente Dilma Rousseff. A instituição terá de aplicar uma parte da nova norma já nesse ano, mas, para beneficiar um número maior de alunos e manter a sua autonomia, continuará a oferecer o seu próprio sistema de cotas. O anúncio foi feito ontem pelo reitor, Zaki Akel Sobrinho, e representantes do Núcleo de Concursos (NC) da UFPR. “Não haverá redução das vagas para a concorrência geral, essas vagas serão respeitadas. O sistema do governo será contemplado dentro dos 40% de vagas já reservadas para cotistas na UFPR”, explicou Akel Sobrinho.
Para mudar de categoria de cotas, os estudantes que quiserem concorrer às vagas reservadas pela lei federal poderão entrar no site do NC e fazer um recadastramento em 27 de novembro, dia seguinte à publicação da lista dos aprovados na primeira fase. A complexidade da decisão exigida aos candidatos consiste no fato de que não é possível prever quantos alunos irão querer aproveitar essa oportunidade.
A lei federal exige que as universidades federais ofereçam já neste ano 12,5% das vagas para estudantes oriundos de escolas públicas no ensino médio e que, metade delas, seja destinada àqueles com renda per capita familiar de até 1,5 salário mínimo (R$ 933). Além disso, dos 12,5%, é preciso reservar 31% de vagas para negros, pardos e indígenas.
Nesse cenário, como são ainda poucas as vagas nessa categoria, se muitos estudantes migrarem ao sistema federal, a concorrência entre esses cotistas poderá ser maior do que a do sistema de cotas da UFPR. Nesse caso, o benefício de ter prioridade na escolha das vagas pode não ser suficiente para conquistar um lugar na universidade.
No caso dos afrodescendentes e alunos que já são beneficiados pelo sistema de cotas da UFPR – que é mais exigente do que a norma federal, por exigir que o aluno tenha estudado toda a educação básica na rede pública –, também é difícil avaliar se a mudança valerá a pena. Hoje a universidade destina 20% de vagas para cotas raciais e 20% para cotas sociais, mais do que o previsto pela lei federal. A alteração só será benéfica se a concorrência pela lei federal for menor – o que é impossível prever.
“É difícil dizer se é vantagem ou não [optar por um ou por outro]. É a primeira vez que a gente utiliza esse sistema e não temos a mínima ideia do que vai acontecer, pois não podemos prever a escolha dos candidatos”, disse Raul Von der Heyde, coordenador do NC.
Tira dúvidas
Confira perguntas e respostas sobre o novo sistema de cotas da UFPR:
Não sou cotista. Perco alguma coisa com o novo sistema de cotas?
Não. A concorrência geral não vai mudar neste ano.
Sou afrodescendente, devo optar pelo sistema de cotas do governo?
Não parece ser a melhor opção. O número de vagas pelo sistema de cotas da UFPR é maior e, além disso, não exige que o aluno tenha estudado em escola pública. Mas, se permanecer no sistema da UFPR, o estudante terá de passar por uma banca examinadora, o que não acontece no processo do governo.
Fiz ensino médio em escola pública, vale a pena optar pelo sistema de cotas do governo ou continuo na concorrência geral?
É impossível prever qual é a melhor opção. Se muitos alunos optarem pelo sistema de cotas do governo, como são poucas as vagas, a concorrência poderá ser maior se comparada à geral.

Poliglota, Bem Sucedido jogador Betão deseja voltar ao Brasil

Betão, zagueiro do Dínamo de Kiev; jogador fala fluentemente o russo
O ex-zagueiro e capitão do Corinthians Betão sempre foi do tipo de jogador mais politizado, um dos poucos exemplos que tentou conciliar estudos com o futebol. Cursou dois anos de fisioterapia, mas teve que parar. Hoje administra, paralelamente ao futebol, uma empresa de eventos.

Há mais de quatro anos no futebol da Ucrânia, no Dínamo de Kiev, o defensor de 28 anos procurou aprender tudo o que pôde culturalmente no país do Leste Europeu.
“Economicamente, quando cheguei, eles estavam mais estabilizados. Mas depois da crise de 2008, deram uma balançada. Mas é um país que vive dois extremos, uma minoria milionária e a maioria classe média baixa. A Ucrânia tem muito o que crescer e está crescendo. Eu vejo mudanças de quatro, cinco anos atrás”, comentou.

O defensor é um dos raros brasileiros que suportaram tanto tempo nos gelados países do Leste da Europa. Também ao contrário da maioria, consegue falar e entender russo sem dificuldades. Acrescentou o idioma ao inglês, no qual fez aulas quando criança, e ao espanhol, que conseguia se comunicar também por assistir muito a canais estrangeiros.

Diz também saber um pouco de francês e italiano por ter alguns companheiros de time de outros países. Procura se informar sobre o que acontece na economia local. O perfil do jogador, no entanto, até espanta parte dos ucranianos, já que o país viveu muito tempo fechado, quando ainda fazia parte da então União Soviética.


Betão diz nunca ter sofrido nenhum tipo forte de preconceito, mas se recorda do espanto que foi para uma criança ver que ele sabia falar a língua local.

“[Racismo] forte, forte, nunca aconteceu. Tem situações curiosas que não sei se é falta de cultura ou racismo. É curioso com criança, quando te vê e fica olhando. Uma vez, em um mercado, tinha uma criança com a avó e eu pedi licença em russo para elas. Ela falou ´olha vovó, o negro fala russo´. Acho que é mais uma falta de cultura deles”, recordou.

“Eu sou uma pessoa curiosa, diferente de muitos. Em seis meses eu já tentava falar [russo com outros]. Se eu errava, pedia pra alguém me corrigir. Cheguei e não tinha brasileiros no time. Fiquei três ou quatro meses assim. No primeiro dia, o goleiro falou: ´frente, trás, direita e esquerda´. Estava sem tradutor. Fiz uma meta de a cada semana decorar duas ou três palavrinhas. Hoje já consigo falar e entender 80%”, falou.

O ex-corintiano, que também jogou no Santos, já se cansou da aventura que dura quase cinco anos. Diz estar com saudades de um povo mais quente e negocia sua saída. Tem contrato até o meio do ano que vem e assim pode assinar com qualquer clube a partir de dezembro. Mas ressalta ter uma conversa com o presidente do clube para que seja liberado já no final do ano.

“Nós brasileiros estamos acostumados com calor das pessoas, receptividade boa, e aqui foge um pouco disso por tradição e costume. Em termos de contrato está pra acabar, em junho, mas agora no final do ano posso assinar pré-contrato. O presidente já sabe da minha posição, já falei com ele. Ele me ajudou bastante ao confiar no meu trabalho e já sabe da minha solicitação”, falou.

“Eu sou um cara extrovertido e comunicativo e eles [ucranianos] não são. É um povo fechado. O que eu sinto falta é alegria do povo, a maneira de se relacionar. Já pensando nisso, tenho pretensões de voltar ao Brasil. Temos isso bem definido. É momento de analisar o que venha a surgir. Claro que se surgir de um centro mais forte da Europa, é de se pensar, a volta ao Brasil não é descartada”, continuou.

Entre as coisas boas que leva da Ucrânia, Betão aprendeu a fazer mais uma função tática e passou a jogar também nas laterais. No jogo de terça, contra o Porto, pela Liga dos Campeões, jogou na lateral esquerda.

“Essa minha vinda pra cá me fez aprender melhor taticamente o futebol. Me fez ter experiências em outras posições. Não sei se tenho mais jogos como lateral direito ou esquerdo. Aqui você joga por fora e fechando, sem ter obrigação de ir pro ataque. Claro que no Brasil se tiver que fazer lateral com obrigações de fechar, tranquilo”, comentou.

Betão foi formado na base corintiana e jogou lá de 2001 até 2007. Viveu grandes e maus momentos, como o título do Brasileiro de 2005 e o rebaixamento em 2007. Foi para o Santos em 2008, mesmo ano em que migrou para o Dínamo.

BETÃO ANTES DO DÍNAMO

  • Betão dá autógrafo no Corinthians em 2004
  • Betão treina no período em que atuou pelo Corinthians
O zagueiro sempre teve sua imagem condicionada ao clube do Parque São Jorge, mas lembra que foi muito bem tratado no Santos e que não existe uma condição de jogar apenas no Corinthians se voltar ao Brasil. Atua em qualquer clube, sem distinção, desde que seja vantajoso para sua carreira.

“Talvez seja um equívoco [achar que só joga no Corinthians], não sei se é essa a palavra. Eu me identifico fácil com os clubes pelo meu trabalho. No Corinthians, eu me identifiquei porque não negava fogo pra nada, na fase boa e ruim eu estava lá. O torcedor gosta disso, independentemente de ser Corinthians. Quando cheguei no Santos havia desconfiança porque vim do Corinthians. Hoje o torcedor santista manda recado pra eu voltar. No Dínamo é a mesma coisa. A minha entrega em relação é trabalho”, falou.

“Digo equívoco porque tem gente que pensa que só volto pro Corinthians. E se o técnico ,diretor e presidente não me quiserem eu tenho que encerrar, parar? Tem identificação por trabalho, pelo que fiz. Mas não vejo problema jogar em clube nenhum, nenhum, sem restrição nenhuma”, continuou.
fonte: uol

terça-feira, 6 de novembro de 2012

MEC atualiza regras do Sisu para adequação à Lei de Cotas

fonte: agencia Brasil



Vinícius Soares
Repórter da Agência Brasil

Brasília – O Ministério da Educação (MEC) atualizou hoje (6) as regras do Sistema de Seleção Unificado (Sisu), usado por instituições de ensino superior públicas para ingresso de novos alunos. As principais mudanças das regras servem para que o sistema se adeque à Lei de Cotas que estabeleceu reserva de vagas para estudantes que fizeram todo o ensino médio em escolas públicas e aos alunos de famílias de baixa renda.

A lei, que entrou em vigor neste semestre, prevê que as universidades públicas federais e os institutos técnicos federais reservem, no mínimo, 50% das vagas para estudantes que tenham cursado todo o ensino médio em escolas da rede pública, com distribuição proporcional das vagas entre negros, pardos e indígenas. A lei determina ainda que metade das vagas reservadas às cotas sociais – ou seja 25% do total da oferta – sejam preenchidas por alunos que venham de famílias com renda de até um salário mínimo e meio per capita. As instituições têm quatro anos para se adequar à norma.

O Sisu usará como critério a nota de cada candidato no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). No processo seletivo para o primeiro semestre de 2013, valerá a nota do Enem 2012, realizado nos dias 3 e 4 de novembro. A previsão é que as notas sejam divulgas aos candidatos no fim de dezembro.

Pelas regras publicadas no Diário Oficial União, os alunos de escolas públicas serão divididos em dois grupos, segundo a renda familiar: menor ou maior que 1,5 salário mínimo por pessoa.

Esses grupos são separados em mais dois subgrupos, de acordo com a autodeclaração do candidato da cor da pele: os que são pretos, pardos ou indígenas e os demais.

A reserva de vagas também se estenderá à lista de espera das instituições, que podem ainda aplicar regras de programas próprios de ações afirmativas, desde que os 50% definidos pela lei continuem assegurados.

Caso não haja aprovados suficientes para preencher as vagas destinadas a algum dos subgrupos previstos, elas poderão ser oferecidas aos demais subgrupos, na seguinte ordem de prioridade: primeiro, ao que possui a mesma faixa de renda, depois, a qualquer renda, priorizando os pretos, pardos e indígenas. Se o preenchimento não se der mesmo assim, as vagas são disponibilizadas aos demais candidatos.

"1,17 milhão de quilombolas vivem no limite da miserabilidade"

A ministra da Secretaria Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), Luiza Helena de Bairros, disse nesta segunda (5), em audiência pública no Senado, que a falta de interação entre o governo federal e os institutos de terras dos estados é o principal entrave para a regularização fundiária das terras remanescentes de quilombos, prevista pela Constituição Federal de 1988 e que avança há passos ainda mais tímidos do que as das comunidades indígenas.
“Há quilombos em terras devolutas dos estados, que não são contestadas por outras partes. Nós não temos desculpas para que a titulação não aconteça em uma velocidade maior”, afirmou.

De acordo com a ministra, o Brasil possui, hoje, cerca de 1,17 milhão de quilombolas, boa parte deles vivendo no limite da miserabilidade. Ela informou também que há hoje no país 1.948 áreas reconhecidas como terras remanescentes, além de outras 1.834 já certificadas pela Fundação Palmares, órgão ligado ao Ministério da Cultura. São exatos 1.167 processos abertos para titulação de terras. Entretanto, apenas 193 áreas foram, de fato, tituladas. “Nossa prioridade, agora, é dar ao Programa Brasil Quilombola a dimensão estadual que ele sempre deveria ter tido. Precisamos pensar as políticas públicas em todas as suas dimensões”, observou.

Luiza Helena de Bairros informou que o Brasil Quilombola, criado há oito anos pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, estrutura as políticas públicas destinadas aos quilombolas em quatro eixos: acesso à terra; infraestrutura e qualidade de vida; inclusão produtiva e desenvolvimento local; e direitos e cidadania. “Por mais que melhoremos as políticas sociais, a avaliação do governo por parte das comunidades não passa por isso. Passa pela nossa capacidade de dar conta dos problemas fundiários. Do ponto de vista das comunidades, é a questão central. Portanto, além de ampliar cobertura das políticas sociais, temos que fazer com que a regularização fundiária tenha avanços mais significativos”, acrescentou.

Professora da Faculdade de Ciências Sociais, Política e História da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Lilian Cristina Bernardo Gomes destacou a importância do país conter o etnocídio a que o povo negro brasileiro vem sendo submetido historicamente. “A democracia brasileira só se aprofundará na medida em que ela for capaz de refletir o que se passa na sociedade”, afirmou.

Segundo ela, a demanda principal das comunidades quilombolas é a terra, porque a noção de identidade dessas comunidades está diretamente ligada ao território em que vivem. Entretanto, apesar da Constituição Federal reconhecer este direito e aclamar a cultura remanescente como patrimônio nacional, são inúmeras as artimanhas utilizadas para restringir os direitos desta população. “De onze projetos de lei já apresentados na Câmara sobre o tema, sete são restritivos ao direito quilombola”, afirmou.

Como exemplos, citou a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 215/2000, que transfere do governo para o Congresso a responsabilidade pela demarcação de terras indígenas e quilombolas, e o Projeto de Lei 1.836/2011, que descaracteriza o caráter coletivo da propriedade das terras quilombolas. A pesquisadora criticou a supressão, pela Câmara, de um trecho do Estatuto da Igualdade Racial (Lei 12.288/2010) que reafirmava o direito definitivo à propriedade das terras e esclarecia que o benefício é coletivo.

Para Lílian Cristina, se não tivesse sido suprimido da lei, o trecho asseguraria direitos aos quilombolas que hoje são contestados no Supremo Tribunal Federal (STF), em especial a ação apresentada pelo DEM questionando a inconstitucionalidade do Decreto 4.887/2003, que regulamenta o procedimento para identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos. A cientista social avalia que estruturas políticas caducas reverberam o lugar comum de que, no Brasil, o branco é o detentor natural da posse da terra.

Fonte: Carta Maior





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segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Tarefas do Movimento Negro após a eleição


O movimento negro brasileiro foi um segmento do movimento social atuante na disputa eleitoral (2012), há tempo entendemos que as eleições é a principal batalha política e o caminho necessário para, no campo institucional, garantir a implantação de políticas públicas que enfrentem com efetividade e eficácia os nefastos desdobramentos do racismo sobre a população negra e incidam na desigualdade entre negros e brancos no campo econômico, social e político. Não há caminhos para construção da justiça social, tão almejada pelos movimentos sociais e pelo povo, distante da política. A política é nossa mais preciosa e poderosa ferramenta contra as forças racistas e reacionárias que sempre detiveram o poder econômico e político no Brasil.

Temos que compreender a dimensão política e ideológica do racismo, ele avança para muito além dos campos da alteridade e da cultura, as correntes de pensamento antirracismo que focam todas as atenções nesses pontos subestimam ou capciosamente ignoram a luta de classe que o racismo enseja. Ao tempo em que o racismo estabelece conforto, segurança e privilégios para uns, dá suporte as guerras megalomaníacas, como a II Guerra Mundial, promovida a partir de ideários nazistas e o exemplo do genocídio tutsi em Ruanda ocorrido em 1992; justifica pilhagens, saques e superexploração do trabalho barato pelos estados imperialistas e colonialistas; assegura legitimidade para marginalização econômica e social de grandes massas humanas. No Brasil, verificamos que seus desdobramentos têm atendido perfeitamente os interesses da elite dominante e conservadora. A pobreza e a riqueza, aqui tem cor.
A participação do movimento negro no processo eleitoral (2012) cumpriu um ritual que tem se consolidado Brasil afora, envidamos esforços em torno de candidaturas negras a vereança ou a prefeitura; apresentamos nomes de quadros importantes e qualificados para disputar vagas de vereadores, onde não foi possível uma candidatura orgânica do movimento negro apoiamos candidaturas comprometidas com a plataforma da igualdade racial; compomos coordenações de campanhas majoritárias; contribuímos na construção de programas de governos dando enfoque nas medidas que promovam igualdade social e racial, sempre com vista a ascensão de negras e negros em espaços de poder.

É importante destacar que o movimento negro, apesar de não ser um campo monolítico, é majoritariamente de esquerda, há consciência que o embate para superação do racismo tem interface na luta de classe, sabemos que em última instância o objetivo do racismo é delimitar o lugar socioeconômico em sociedades multirraciais. Desse modo, para o movimento negro, apesar de reveses pontuais com a ascensão da direita contrária as ações afirmativas em curso, (Aracaju, Salvador e Manaus), o resultado das urnas foi positivo. Verificamos um virtuoso crescimento da representatividade dos partidos de esquerda e de centro esquerda (PT, PSB, PDT, PCdoB e PSOL), que passarão a administrar 1.446 municípios, 26% dos municípios. Somados aos partidos que compõe a base parlamentar do governo, as forças comprometidas com o governo Dilma administrarão 74,82% dos municípios brasileiros.

Essa acachapante vitória lançou base fundamental para 2014, considerando que em matéria política é pouco prudente antecipar fatos e tendências, hoje é possível afirmar que somente um desastre econômico ou um trágico fato político poderá ameaçar a reeleição de Dilma Rousseff. Estamos diante de um cenário promissor para maior aprofundamento do projeto político que ascendeu ao poder em 2003. No entanto, o ideário liberal, conservador e racista apesar de fragilizado pelo golpe do resultado eleitoral, ainda continua forte, vivo, com densidade social e política, um relaxamento no cumprimento dos programas de governos assumindo no processo eleitoral pode ser cobrado pelo eleitor. O racismo é multifacetado, polissêmico e transversal, combatê-lo exige certa plasticidade nas formas de organização e ação, não há uma determinada tática capaz de superá-lo, por isso não é apenas o movimento social o grande palco para o embate organizado contra o racismo, precisamos fortes presenças nos partidos políticos, nas academias, nos governos, nos parlamentos, no judiciário, nas empresas e em outros espaços de poder, representação e sociabilidade. Assim como precisamos garantir espaços e condições para que a crítica se desenvolva, considero a crítica muito importante, especialmente em processos políticos que incidem na vida de milhões de pessoas.

A partir dos resultados eleitorais e da compreensão sobre o racismo, a tarefa do movimento negro na conjuntura imediatamente posta está ligada a incidir sobre os planos políticos dos governos municipais recém-eleitos em todo país. Para isso defendo que o movimento negro se mobilize nesses próximos meses para:

Exigir incorporação de negros e negras nos cargos comissionados, em todos os escalões.
Exigir a instituição de organismos de promoção da igualdade racial (secretarias, coordenadorias ou assessorias).
Estimular a criação de frentes parlamentares de igualdade racial nas Câmaras de Vereadores de todos os municípios a partir de 200 mil habitantes.
Criar conselhos de igualdade racial em todos os municípios a partir de 200 mil habitantes.
Exigir a elaboração de planos de igualdade racial com metas quantitativas e orçamentárias.
Exigir a imediata implantação do Estatuto da Igualdade Racial.
Incluir o movimento negro como beneficiário de políticas de igualdade racial.

Edson França é Presidente Nacional da UNEGRO.
publicado: www.unegro.org.br