sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Censo 2010: IBGE abre inscrição para 191.972 vagas de recenseador em todo o país

Da Redação
Em São Paulo

O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) abre, nesta sexta (26), as inscrições para a seleção de 191.972 recenseadores para o Censo 2010. O contrato de trabalho pode durar de um a cinco meses.
Os aprovados no processo seletivo trabalharão na coleta de dados, utilizando computadores de mão. A jornada será flexível, mas o IBGE recomenda que o candidato disponha de 25 a 30 horas semanais para realizar as entrevistas.
O salário será calculado de acordo com a produção, com base nas quantidades de domicílios, pessoas e registro no controle da coleta de dados. Em média, cada setor censitário irá propiciar remuneração na faixa de R$ 800 a R$ 1.600, dependendo da região. Há cerca de 300 domicílios por setor censitário, que podem ser visitados em menos de 30 dias.
Segundo o IBGE, é possível que um recenseador consiga completar mais de um setor ao longo do período da coleta de dados do Censo 2010. O recenseador também terá direito ao 13º salário e às férias proporcionais aos dias trabalhados e à produção.
Inscrições
Para participar da seleção é necessário ser brasileiro, ter 18 anos completos até a data de contratação e ter concluído o ensino fundamental. Segundo o IBGE, "é importante que o candidato tenha habilidade na comunicação interpessoal".
Há duas maneiras de se inscrever. Pela internet, o prazo termina às 23h59 do dia 4 de abril e o formulário é encontrado no site da Fundação Cesgranrio, empresa organizadora do concurso. Também é possível fazer a inscrição nos postos indicados pela Cesgranrio. A taxa é de R$ 18.
Consulte o edital do concurso para saber os detalhes do processo seletivo (arquivo em .pdf).
Em todos os Estados, existem oportunidades de vagas. Os grandes municípios, por exemplo, foram divididos em áreas de trabalho. É importante que o candidato se informe a respeito e faça a inscrição no posto referente ao local em que pretende trabalhar. Os candidatos que se inscreverem pela internet também deverão optar por uma região. Essas áreas podem corresponder a um ou mais bairros, ou a comunidades.
Confira o quadro de vagas e polos de prova no site da organizadora do concurso, a Cesgranrio.
No caso da cidade de São Paulo, há 11.907 vagas para um total de dez áreas de trabalho, inclusive em comunidades como a Paraisópolis (24 vagas) e Heliópolis (46 vagas). A idéia é que moradores da região se inscrevam no processo seletivo para atuar nas imediações de suas residências.
Prova e treinamento
A prova está prevista para o dia 30 de maio, das 13h às 17h. Ela será aplicada, simultaneamente, em todos os locais a serem informados a partir do dia 18 de maio.
A avaliação é objetiva (com testes de múltipla escolha) e terá 50 questões de língua portuguesa (10), matemática (10), conhecimentos gerais (10) e conhecimentos técnicos (20). As provas de conhecimentos técnicos serão baseadas no documento "Estudo dos Conhecimentos Técnicos a serem aplicados no Censo Demográfico 2010", que está entre as páginas 19 e 26 do edital do concurso (aquivo em .pdf).A divulgação da lista de classificados está prevista para o dia 1 de julho. Serão convocados para treinamento os candidatos aprovados e classificados nas provas objetivas, acrescidos de 10% do total de vagas definido para o município ou área de trabalho. Esse grupo vai passar por um treinamento no período de 19 a 24 de julho.
Depois do treinamento, será realizado um teste cujo resultado será representado em percentual de acertos e o candidato que não obtiver o mínimo de 40% será eliminado. Haverá ajuda de custo para aqueles que tiverem 100% de presença no treinamento.
A contratação dos recenseadores começa a partir de 26 de julho.
As informações foram fornecidas pela Cesgranrio. É recomendável confirmar datas e horários para se prevenir de alterações posteriores à publicação deste texto.
Bernardo Seixas Pilotto
Diretor do Sinditest/PR
Ambulatório do T.M.O. - HC/UFPR
Vamos à Luta

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Cotas na UnB - leia carta da SEPPIR enviada aos jornais O Globo e O Estado de São Paulo



Em sintonia com o espírito democrático vivenciado em nosso tempo, o Supremo Tribunal Federal convocou audiências públicas para ouvir a sociedade e, desta forma, subsidiar o julgamento da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº186/09, de autoria do Partido Democratas, contra a política de cotas raciais para o ingresso nos cursos de graduação da Universidade de Brasília (UnB). Não estarão em jogo apenas as vagas para estudantes negros na UnB, mas todas as ações afirmativas colocadas em prática no Brasil. Pautada nesta compreensão, a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial – em perfeito acordo com suas atribuições – estimula a mobilização dos gestores públicos destas políticas nos estados e municípios em torno das audiências. Lamentavelmente, o avanço destas políticas e a forma equilibrada como o Supremo conduz a discussão vem causando incômodo e despertando reações virulentas dos setores mais conservadores. Um exemplo foi a publicação na última quinta-feira (18), nos jornais O Estado de São Paulo e O Globo, de artigo no qual o STF é comparado a um circo, além de sugerir que o movimento negro estaria organizando um cerco ao Tribunal com o objetivo de constranger seus magistrados. O que é uma inverdade. Os militantes da causa antirracista sempre apostaram no ambiente democrático para o avanço de suas reivindicações. O respeito ao Supremo é tamanho, que jamais ocorreria compará-lo a um picadeiro ou tentar, de forma desqualificada, pressionar o voto de seus ministros.

Edson Santos
Ministro-chefe da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

O violeiro toca



De Almir Sater
http://www.youtube.com/watch?v=JhRdKFyO-mQ

Quando uma estrela cai, no escurão da noite,
E um violeiro toca suas mágoas.
Então os olhos dos bichos, vão ficando iluminados
Rebrilham neles estrelas de um sertão enluarado
Quando o amor termina, perdido numa esquina,
E um violeiro toca sua sina.
Então os olhos dos bichos, vão ficando entristecidos
Rebrilham neles lembranças dos amores esquecidos.
Quando um amor começa, nossa alegria chama,
E um violeiro toca em nossa cama.
Então os olhos dos bichos, são os olhos de quem ama
Pois a natureza é isso, sem medo nem dó nem drama
Tudo é sertão, tudo é paixão, se o violeiro toca
A viola, o violeiro e o amor se tocam...

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

"Quantos Haitis?"



por José Saramago
No Dia de Todos os Santos de 1755 Lisboa foi Haiti. A terra tremeu quando faltavam poucos minutos para as dez da manhã. As igrejas estavam repletas de fiéis, os sermões e as missas no auge…

José Saramago, em seu blog O Caderno de Saramago

Depois do primeiro abalo, cuja magnitude os geólogos calculam hoje ter atingido o grau 9 na escala de Richter, as réplicas, também elas de grande potência destrutiva, prolongaram-se pela eternidade de duas horas e meia, deixando 85% das construções da cidade reduzidas a escombros.

Segundo testemunhos da época, a altura da vaga do tsunami resultante do sismo foi de vinte metros, causando 600 vítimas mortais entre a multidão que havia sido atraída pelo insólito espectáculo do fundo do rio juncado de destroços dos navios ali afundados ao longo do tempo.

Os incêndios durariam cinco dias. Os grandes edifícios, palácios, conventos, recheados de riquezas artísticas, bibliotecas, galerias de pinturas, o teatro da ópera recentemente inaugurado, que, melhor ou pior, haviam aguentado os primeiros embates do terramoto, foram devorados pelo fogo.

Dos 275 mil habitantes que Lisboa tinha então, crê-se que morreram 90 mil. Conta-se que à pergunta inevitável “E agora, que fazer?”, o secretário de Estrangeiros Sebastião José de Carvalho e Melo, que mais tarde viria a ser nomeado primeiro-ministro, teria respondido “Enterrar os mortos e cuidar dos vivos”.

Estas palavras, que logo entraram na História, foram efetivamente pronunciadas, mas não por ele. Disse-as um oficial superior do exército, desta maneira espoliado do seu haver, como tantas vezes acontece, em favor de alguém mais poderoso.

A enterrar os seus cento e vinte mil ou mais mortos anda agora o Haiti, enquanto a comunidade internacional se esforça por acudir aos vivos, no meio do caos e da desorganização múltipla de um país que mesmo antes do sismo, desde gerações, já se encontrava em estado de catástrofe lenta, de calamidade permanente.

Lisboa foi reconstruída, o Haiti também o será. A questão, no que toca ao Haiti, reside em como se há-de reconstruir eficazmente a comunidade do seu povo, reduzido não só à mais extrema das pobrezas como historicamente alheio a um sentimento de consciência nacional que lhe permitisse alcançar por si mesmo, com tempo e com trabalho, um grau razoável de homogeneidade social.

De todo o mundo, de distintas proveniências, milhões e milhões de euros e de dólares estão sendo encaminhados para o Haiti.

Os abastecimentos começaram a chegar a uma ilha onde tudo faltava, fosse porque se perdeu no terramoto, fosse porque nunca lá existiu. Como por ação de uma divindade particular, os bairros ricos, em comparação com o resto da cidade de Porto Príncipe, foram pouco afectados pelo sismo.

Diz-se, e à vista do que aconteceu no Haiti parece certo, que os desígnios de Deus são inescrutáveis. Em Lisboa as orações dos fiéis não puderam impedir que o teto e e os muros das igrejas lhes caíssem em cima e os esmagassem.

No Haiti, nem mesmo a simples gratidão por haverem salvo vidas e bens sem nada terem feito para isso, moveu os corações dos ricos a acudir à desgraça de milhões de homens e mulheres que não podem sequer presumir do nome unificador de compatriotas porque pertencem ao mais ínfimo da escala social, aos não-ser, aos vivos que sempre estiveram mortos porque a vida plena lhes foi negada, escravos que foram de senhores, escravos que são da necessidade.

Não há notícia de que um único haitiano rico tenha aberto os cordões ou aliviado as suas contas bancárias para socorrer os sinistrados. O coração do rico é a chave do seu cofre-forte.

Haverá outros terramotos, outras inundações, outras catástrofes dessas a que chamamos naturais. Temos aí o aquecimento global com as suas secas e as suas inundações, as emissões de CO2 que só forçados pela opinião pública os governos se resignarão a reduzir, e talvez tenhamos já no horizonte algo em que parece ninguém querer pensar, a possibilidade de uma coincidência dos fenômenos causados pelo aquecimento com a aproximação de uma nova era glacial que cobriria de gelo metade da Europa e agora estaria dando os primeiros e ainda benignos sinais.

Não será para amanhã, podemos viver e morrer tranquilos. Mas, di-lo quem sabe, as sete eras glaciais por que o planeta passou até hoje não foram as únicas, outras haverá.

Entretanto, olhemos para este Haiti e para os outros mil Haitis que existem no mundo, não só para aqueles que praticamente estão sentados em cima de instáveis falhas tectônicas para as quais não se vê solução possível, mas também para os que vivem no fio da navalha da fome, da falta de assistência sanitária, da ausência de uma instrução pública satisfatória, onde os fatores propícios ao desenvolvimento são praticamente nulos e os conflitos armados, as guerras entre etnias separadas por diferenças religiosas ou por rancores históricos cuja origem acabou por se perder da memória em muitos casos, mas que os interesses de agora se obstinam em alimentar.

O antigo colonialismo não desapareceu, multiplicou-se numa diversidade de versões locais, e não são poucos os casos em que os seus herdeiros imediatos foram as próprias elites locais, antigos guerrilheiros transformados em novos exploradores do seu povo, a mesma cobiça, a crueldade de sempre.

Esses são os Haitis que há que salvar. Há quem diga que a crise econômica veio corrigir o rumo suicida da humanidade. Não estou muito certo disso, mas ao menos que a lição do Haiti possa aproveitar-nos a todos.

Os mortos de Porto Príncipe foram fazer companhia aos mortos de Lisboa. Já não podemos fazer nada por eles. Agora, como sempre, a nossa obrigação é cuidar dos vivos.

Fonte: O Caderno de Saramago

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Mídia perdeu capacidade de análise: o Haiti não é o Afeganistão



Os 20 mil soldados norteamericanos no Haiti, país com 9 milhões de habitantes perfaz proporção superior às forças conjuntas dos Estados Unidos e da Otan no Afeganistão nesse primeiro ano do governo Obama: 70 mil para uma população de 28 milhões. Nenhuma emissora de televisão e nenhum jornal de renome chamaram a atenção de sua audiência e de seus leitores para esse fato.

Por Washington Araújo*, em Carta Maior

A repórter se aproxima, cria o suspense básico, informa que tem uma pessoa soterrada a menos de três metros de seus pés, aumenta o suspense carregando aflição na voz, aproxima o microfone do chão sem deixar de dizer que “já posso ouvir a voz de uma pessoa, de uma mulher, tem uma mulher aqui embaixo!”

Quantas dessas cenas não assistimos nas últimas semanas? É inegável que havia compaixão nas cenas gravadas pela repórter. Também é inegável que ela já intuíra que aquelas cenas iriam ocupar o melhor espaço na escalada de notícias da noite, levadas ao conhecimento público por seu principal telejornal. Reportagens como esta correram o mundo e imagens das vítimas, vivas ou mortas, fizeram o mesmo trajeto.

Foi assim que o mundo tomou consciência da existência do Haiti. Em nosso imaginário, o Haiti assume as feições de pessoa ferida, impotente, entre a vida e a morte, cercada por destroços de construções e também nas informações dando conta que 150 mil a 200 mil pessoas morreram no país em decorrência do terremoto do dia 12/01/2010. As imagens na televisão capturam aquela poeirinha fina, agregando ao ar respirado partículas de areia, cimento e cal.

Repórteres incluem em suas matérias frases, antes impactantes e agora absolutamente normais, óbvias como: “Aqui, no que foi um prédio de 6 andares, deve haver algumas centenas de pessoas soterradas” ou frases mais elaboradas e não menos dramáticas como “Estamos em um imenso cemitério... Porto Príncipe está todo assim!” A linha que separa jornalismo de sensacionalismo foi, é e continuará sendo tênue, muito tênue.

Nos últimos 21 dias o trabalho da imprensa se resumiu a mostrar imagens da destruição da capital haitiana. Devastação e caos. Resgate das vítimas. Ajuda humanitária a caminho. A cobertura brasileira abriu capítulo especial: estamos de luto também por Zilda Arns, Luiz Carlos da Costa e mais 19 militares que atuavam na Força de Paz mantida pela ONU em Porto Príncipe. A imprensa potencializou as dificuldades do país: para lidar com sua reconstrução e demonstrou que o país caribenho apresentava sérios ´defeitos´ de construção.

Terra de ninguém. Será mesmo?

A história do Haiti verá o terremoto como evento que desnudou de vez a extrema pobreza e miséria em que o país se encontrava aprisionado. É corrente a percepção que se o Haiti fosse menos pobre os efeitos da tragédia seriam imensamente menores. O Haiti aparece no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) relativo a 2008 na 148ª posição, sendo a nação mais pobre das Américas, com uma expectativa de vida de 60,78 anos e analfabetismo atingindo 52,9% da população. Dos quase 9 milhões de habitantes, 80% vivem abaixo da linha da pobreza. Nos últimos anos, empresas multinacionais, principalmente têxteis, se instalaram no Haiti atrás de mão de obra barata.

Um mundo tão permeado de boas intenções, tão rápido em oferecer (e enviar) ajuda humanitária, tão sensível a ponto de oferecer aporte financeiro de monta para a reconstrução do devastado país parece deslocado ou incompetente para criar plano de reconstrução do país calcado em princípios básicos de autosustentabilidade.

O Haiti precisa ser ajudado não apenas por ter sofrido terremoto de magnitude 7 mas porque tem uma história marcada por outras tragédias. No século XIX três potências européias invadiram o Haiti, a França em 1869, a Espanha em 1871 e a Inglaterra em 1877; no século XX os Estados Unidos invadiu o Haiti três vezes: 1914, 1915, permanecendo até 1934; e novamente voltou a invadi-lo em 1969. Cada invasão externa assemelha-se a uma fábrica de saques, ruínas, destruição, dor e morte.

Os haitianos foram, portanto, vítimas de terremotos morais provocados por outras nações tiveram sua autoestima como nação e povo reduzida a nota de rodapé da História. É bom recordar que uma nação não invade outra, mobiliza tropas, gasta fortunas com deslocamentos e guerras unicamente pelo prazer de invadir. Um país é invadido porque tem riquezas a serem saqueadas, possui localização geográfica estratégica e sua população – militar e civil – é despreparada para o exercício bem sucedido da autodefesa.

As invasões, isoladamente, não foram suficientes para exterminar o Haiti e na entressafra de invasões estrangeiras o povo haitiano foi vítima de ditaduras sanguinárias instaladas pelo médico François Duvalier, o temido bicho-papão (tonton macoute) conhecido como Papa Doc (1957 a 1971), sucedido por seu filho Papa Doc (1971 a 1986). Ajoelhado, ante o pedestal dos dominadores estrangeiros, o Haiti viu sua história desaparecer no ralo. E de forma quase ininterrupta.

A imprensa substitui olho humano por olho de vidro

A imprensa vem informando que o maior desafio pós-terremoto é levar a ajuda humanitária aos milhões de necessitados, no menor espaço de tempo possível. E até a guerra de bastidores envolvendo brasileiros e usamericanos para determinar qual país seria o responsável pela coordenação geral das operações recebeu amplo espaço na imprensa. O Brasil tinha 1.266 militares no Haiti, subiu para 2.600. Os Estados Unidos que tinha menos que 1.000 soldados no país apoiando a Força de Paz da ONU para Estabilização do Haiti (Minustah) elevou este contingente para 20.000.

Considerando que a embaixada dos EUA em Porto Príncipe era a terceira maior embaixada americana no mundo e tinha 3 mil homens, o número de americanos no Haiti ronda os 25.000. Neste ponto a imprensa tem deixado vazios abissais como o de não apresentar tabelas comparativas com número de militares, por nacionalidade, chegando e saindo do Haiti e inexistência de “boxes” no estilo “Entenda o caso” para informar sobre a história do país e a relação destes com algumas das potências estrangeiras que no passado ali estiveram como invasores e agora como pontas-de-lança de ajuda humanitária pós terremoto.

A cobertura privilegia o superficial, as imagens da tragédia, as dificuldades para a vida voltar ao normal na capital haitiana, denúncias sobre seqüestro de crianças vem sendo veiculadas. Mas nenhuma emissora de televisão e nenhum jornal de renome chamaram a atenção de sua audiência e de seus leitores para o fato de que os 20.000 soldados norteamericanos no Haiti, país com 9 milhões de habitantes perfaz proporção superior às forças conjuntas dos Estados Unidos e da OTAN no Afeganistão nesse primeiro ano do governo Obama: 70 mil para uma população de 28 milhões.

A imprensa parece ter perdido nos escombros de Porto Príncipe sua capacidade de análise, afinal, em um cálculo preliminar constata-se que numa base per capita haverá mais tropas no Haiti do que no Afeganistão, zona de guerra declarada já há bastante tempo.

Para além das imagens de mães em transe acalentando filhos mortos em seus braços, cenas que perfuraram minha alma como se fossem afiados ganchos, a imprensa apresentou ao mundo o Haiti como um país, como um Estado falido, uma nação desgovernada por completo, como se um terremoto - por maior que fosse sue grau na escala Richter – tivesse o poder letal de transformar em ruína a capacidade de um povo de usufruir o direito à autodeterminação.

Nesse sentido, vemos o terremoto como pano de fundo para que se passe à opinião pública mundial o conceito de que o Haiti é incapaz de se organizar e se governar por si só. Está, então, desfraldada a perversa tese de que o Haiti necessita ser monitorado e seu bem-estar passa por um regresso aos tempos dos protetorados. E tudo isso para o seu bem. Os haitianos que vi nos telejornais eram todos eles sobreviventes da catástrofe.

Procuram-se: 8.800.000 haitianos

Onde se encontram os demais oito milhões e oitocentos mil haitianos, esse formidável contingente populacional não afetado diretamente pelo terremoto? Faltam imagens em minha mente de haitianos não afetados diretamente pelo terremoto e falando de seu país. É preciso destacar que a população do Haiti ultrapassa aos 9 milhões. Onde estão professores, engenheiros e médicos haitianos? E seus comerciantes e donas de casa? Por que não foram alcançados pelos diligentes profissionais da imprensa?

Será que não deveríamos saber a opinião dos próprios haitianos sobre como entendem que deveria ser conduzido o trabalho de reconstrução de Porto Príncipe? Como a população vê a ação de militares estadunidenses ao empreender o resgate de seu país tão terrível e tragicamente empobrecido? Eles entendem que se trata, desta vez, de uma ação humanitária ou de uma nova invasão? Alguém conhece algum jornalista haitiano que tenha se pronunciado sobre o dia seguinte sobre a semana seguinte após o terremoto?

A cobertura sobre o Haiti, como um todo, nos subtraiu a voz e o pensamento dos haitianos. E chega de mais matérias tratando apenas do sofrimento humano.

É mais fácil, claro, tirar um peso da consciência assinando cheque de US$ 375 milhões ou de 50 milhões de euros do que propor e executar políticas públicas de inclusão social e educacional, diminuir sua elevada taxa de mortalidade infantil e criar mecanismos para elevar a qualidade de vida do povo haitiano. Quanto a este aspecto penso que a imprensa tem um importante papel a desempenhar trazendo tais temas para a agenda relacionada à cobertura do Haiti nos próximos meses.

Existem muitas maneiras de ajudar o povo do Haiti, mas nem só de pão vivem vítimas de catástrofes, sejam estas naturais ou históricas. Veículos de comunicação poderiam influir no futuro do Haiti se mantivessem ´acesas´ reportagens críticas ao mero assistencialismo - sábio e oportuno num primeiro momento e danoso como forma de minar a capacidade de seu povo – e colocassem na agenda do dia a necessidade de que governos e organismos multilaterais agissem de forma ousada e consistente para reconstruir a confiança dos haitianos de que é eles quem melhor poderão... escrever seu próprio futuro.

*Washington Araújo é jornalista e escritor. Mestre em Comunicação pela UNB, tem livros sobre mídia, direitos humanos e ética publicados no Brasil, Argentina, Espanha, México

"10 estratégias de manipulação usado pelas elites", por Noam Chomsky



1- A estratégica da distração.
O elemento primordial do controle social é a estratégia da distração
que consiste em desviar a atenção do público dos problemas importantes
e das mudanças decididas pelas elites políticas e econômicas, mediante
a técnica do dilúvio ou inundações de contínuas distrações e de
informações insignificantes.
A estratégia da distração é igualmente indispensável para impedir ao
público de interessar-se pelos conhecimentos essenciais, na área da
ciência, da economia, da psicologia, da neurobiologia e da
cibernética. "Manter a atenção do público distraída, longe dos
verdadeiros problemas sociais, cativada por temas sem importância
real. Manter o público ocupado, ocupado, ocupado, sem nenhum tempo
para pensar; de volta à granja como os outros animais (citação do
texto "Armas silenciosas para guerras tranqüilas")".

2- Crias problemas, depois oferecer soluções.

Este método também é chamado "problema-reação-solução". Cria-se um
problema, uma "situação" prevista para causar certa reação no público,
a fim de que este seja o mandante das medidas que se deseja fazer
aceitar. Por exemplo: deixar que se desenvolva ou se intensifique a
violência urbana, ou organizar atentados sangrentos, a fim de que o
público seja o mandante de leis de segurança e políticas em prejuízo
da liberdade. Ou também: criar uma crise econômica para fazer aceitar
como um mal necessário o retrocesso dos direitos sociais e o
desmantelamento dos serviços públicos.

3- A estratégia da degradação.

Para fazer com que se aceite uma medida inaceitável, é suficiente
aplicar progressivamente, em "degradado", sobre uma duração de 10
anos. É dessa maneira que condições socioeconômicas radicalmente novas
têm sido impostas durante os anos de 1980 a 1990. Desemprego em massa,
precariedade, flexibilidade, salários que já não asseguram ingressos
decentes, tantas mudanças que haviam provocado uma revolução se
tivessem sido aplicadas de forma brusca.
4- A estratégica do deferido.

Outra maneira de se fazer aceitar uma decisão impopular é a de
apresentá-la como sendo "dolorosa e necessária", obtendo a aceitação
pública no momento para uma aplicação futura. É mais fácil aceitar um
sacrifício futuro do que um sacrifício imediato. Primeiro, por que o
esforço não é empregado imediatamente. Em seguida, por que o público,
a massa, tem sempre a tendência a esperar ingenuamente que "tudo irá
melhorar amanhã" e que o sacrifício exigido poderá ser evitado. Isto
dá mais tempo ao público para acostumar-se com a idéia de mudança e de
aceitá-la com resignação quando chegue o momento.

5- Dirigir-se ao público como crianças de baixa idade.

A maioria da publicidade dirigida ao grande público utiliza discurso,
argumentos, personagens e entonação particularmente infantis, muitas
vezes próximos à debilidade, como se o espectador fosse um menino de
baixa idade ou um deficiente mental. Quanto mais se intente buscar
enganar ao espectador, mais se tende a adotar um tom infantilizante.
Por que?
"Se você se dirige a uma pessoa como se ela tivesse a idade de 12
anos, então, em razão da sugestionabilidade, ela tenderá, com certa
probabilidade, uma resposta ou reação também desprovida de um sentido
critico como a de uma pessoa de 12 anos de idade (ver "Armas
silenciosas para guerras tranqüilas")".

6- Utilizar o aspecto emocional muito mais do que a reflexão.
Fazer uso do aspecto emocional é uma técnica clássica para causar um
curto circuito na análise racional, e por fim ao sentido critico dos
indivíduos. Além do mais, a utilização do registro emocional permite
abrir a porta de acesso ao inconsciente para implantar ou enxertar
idéias, desejos, medos e temores, compulsões, ou induzir
comportamentos.

7- Manter o público na ignorância e na mediocridade.
Fazer com que o público seja incapaz de compreender as tecnologias e
os métodos utilizados para seu controle e sua escravidão. "A qualidade
da educação dada as classes sociais inferiores deve ser a mais pobre e
medíocre o possível, de forma que a distância da ignorância que paira
entre as classes inferiores às classes sociais superiores seja e
permaneça impossíveis para o alcance das classes inferiores (ver
"Armas silenciosas para guerras tranqüilas")".

8- Promover ao público a ser complacente na mediocridade.

Promover ao público a achar "cool" pelo fato de ser estúpido, vulgar e inculto.

9- Reforçar a revolta pela culpabilidade.
Fazer o indivíduo acreditar que é somente ele o culpado pela sua
própria desgraça, por causa da insuficiência de sua inteligência, de
suas capacidades, ou de seus esforços. Assim, ao invés de rebelar-se
contra o sistema econômico, o individuo se auto-desvalida e culpa-se,
o que gera um estado depressivo do qual um dos seus efeitos é a
inibição da sua ação. E sem ação, não há revolução!

10- Conhecer melhor os indivíduos do que eles mesmos se conhecem.
No transcorrer dos últimos 50 anos, os avanços acelerados da ciência
têm gerado crescente brecha entre os conhecimentos do público e
aquelas possuídas e utilizadas pelas elites dominantes. Graças à
biologia, à neurobiologia e à psicologia aplicada, o "sistema" tem
desfrutado de um conhecimento avançado do ser humano, tanto de forma
física como psicologicamente. O sistema tem conseguido conhecer melhor
o individuo comum do que ele mesmo conhece a si mesmo. Isto significa
que, na maioria dos casos, o sistema exerce um controle maior e um
grande poder sobre os indivíduos do que os indivíduos a si mesmos.

(*) Fonte: Blog do Miro
"10 estratégias de manipulação das elites", por Noam Chomsky



1- A estratégica da distração.
O elemento primordial do controle social é a estratégia da distração
que consiste em desviar a atenção do público dos problemas importantes
e das mudanças decididas pelas elites políticas e econômicas, mediante
a técnica do dilúvio ou inundações de contínuas distrações e de
informações insignificantes.
A estratégia da distração é igualmente indispensável para impedir ao
público de interessar-se pelos conhecimentos essenciais, na área da
ciência, da economia, da psicologia, da neurobiologia e da
cibernética. "Manter a atenção do público distraída, longe dos
verdadeiros problemas sociais, cativada por temas sem importância
real. Manter o público ocupado, ocupado, ocupado, sem nenhum tempo
para pensar; de volta à granja como os outros animais (citação do
texto "Armas silenciosas para guerras tranqüilas")".

2- Crias problemas, depois oferecer soluções.

Este método também é chamado "problema-reação-solução". Cria-se um
problema, uma "situação" prevista para causar certa reação no público,
a fim de que este seja o mandante das medidas que se deseja fazer
aceitar. Por exemplo: deixar que se desenvolva ou se intensifique a
violência urbana, ou organizar atentados sangrentos, a fim de que o
público seja o mandante de leis de segurança e políticas em prejuízo
da liberdade. Ou também: criar uma crise econômica para fazer aceitar
como um mal necessário o retrocesso dos direitos sociais e o
desmantelamento dos serviços públicos.

3- A estratégia da degradação.

Para fazer com que se aceite uma medida inaceitável, é suficiente
aplicar progressivamente, em "degradado", sobre uma duração de 10
anos. É dessa maneira que condições socioeconômicas radicalmente novas
têm sido impostas durante os anos de 1980 a 1990. Desemprego em massa,
precariedade, flexibilidade, salários que já não asseguram ingressos
decentes, tantas mudanças que haviam provocado uma revolução se
tivessem sido aplicadas de forma brusca.
4- A estratégica do deferido.

Outra maneira de se fazer aceitar uma decisão impopular é a de
apresentá-la como sendo "dolorosa e necessária", obtendo a aceitação
pública no momento para uma aplicação futura. É mais fácil aceitar um
sacrifício futuro do que um sacrifício imediato. Primeiro, por que o
esforço não é empregado imediatamente. Em seguida, por que o público,
a massa, tem sempre a tendência a esperar ingenuamente que "tudo irá
melhorar amanhã" e que o sacrifício exigido poderá ser evitado. Isto
dá mais tempo ao público para acostumar-se com a idéia de mudança e de
aceitá-la com resignação quando chegue o momento.

5- Dirigir-se ao público como crianças de baixa idade.



A maioria da publicidade dirigida ao grande público utiliza discurso,
argumentos, personagens e entonação particularmente infantis, muitas
vezes próximos à debilidade, como se o espectador fosse um menino de
baixa idade ou um deficiente mental. Quanto mais se intente buscar
enganar ao espectador, mais se tende a adotar um tom infantilizante.
Por que?



"Se você se dirige a uma pessoa como se ela tivesse a idade de 12
anos, então, em razão da sugestionabilidade, ela tenderá, com certa
probabilidade, uma resposta ou reação também desprovida de um sentido
critico como a de uma pessoa de 12 anos de idade (ver "Armas
silenciosas para guerras tranqüilas")".



6- Utilizar o aspecto emocional muito mais do que a reflexão.



Fazer uso do aspecto emocional é uma técnica clássica para causar um
curto circuito na análise racional, e por fim ao sentido critico dos
indivíduos. Além do mais, a utilização do registro emocional permite
abrir a porta de acesso ao inconsciente para implantar ou enxertar
idéias, desejos, medos e temores, compulsões, ou induzir
comportamentos.



7- Manter o público na ignorância e na mediocridade.



Fazer com que o público seja incapaz de compreender as tecnologias e
os métodos utilizados para seu controle e sua escravidão. "A qualidade
da educação dada as classes sociais inferiores deve ser a mais pobre e
medíocre o possível, de forma que a distância da ignorância que paira
entre as classes inferiores às classes sociais superiores seja e
permaneça impossíveis para o alcance das classes inferiores (ver
"Armas silenciosas para guerras tranqüilas")".



8- Promover ao público a ser complacente na mediocridade.



Promover ao público a achar "cool" pelo fato de ser estúpido, vulgar e inculto.



9- Reforçar a revolta pela culpabilidade.



Fazer o indivíduo acreditar que é somente ele o culpado pela sua
própria desgraça, por causa da insuficiência de sua inteligência, de
suas capacidades, ou de seus esforços. Assim, ao invés de rebelar-se
contra o sistema econômico, o individuo se auto-desvalida e culpa-se,
o que gera um estado depressivo do qual um dos seus efeitos é a
inibição da sua ação. E sem ação, não há revolução!



10- Conhecer melhor os indivíduos do que eles mesmos se conhecem.



No transcorrer dos últimos 50 anos, os avanços acelerados da ciência
têm gerado crescente brecha entre os conhecimentos do público e
aquelas possuídas e utilizadas pelas elites dominantes. Graças à
biologia, à neurobiologia e à psicologia aplicada, o "sistema" tem
desfrutado de um conhecimento avançado do ser humano, tanto de forma
física como psicologicamente. O sistema tem conseguido conhecer melhor
o individuo comum do que ele mesmo conhece a si mesmo. Isto significa
que, na maioria dos casos, o sistema exerce um controle maior e um
grande poder sobre os indivíduos do que os indivíduos a si mesmos.

(*) Fonte: Blog do Miro