quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Negros representam quase 80% da nova classe média, mostra estudo

dados são do estudo Vozes da Classe Média divulgado nesta quinta-feira (20) pela Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República
“Uma das característica da classe média é que os grupos que entraram eram os que estavam menos representados. Agora ela [classe média] é muito mais heterogênea do que era há dez anos. As empregadas domésticas que eram uma fração menor ampliaram a participação, os negros aumentaram. Quase 80% do aumento na classe média referem-se à população negra”, disse o secretário de Assuntos Estratégicos da SAE, Ricardo Paes de Barros.
Com esse aumento, a representatividade entre negros e brancos na classe média ficou equilibrada. Um total de 53% da classe média é formada por negros e 47% por brancos. O estudo registra que esse equilíbrio, no entanto, não significa que as desigualdades raciais foram superadas, uma vez que perduram nas demais classes. Na classe alta, 69% são brancos e 31%, negros e na classe baixa 69% são negros e 31%, brancos.
O estudo identificou também relações entre o emprego e a classe média. Dos trabalhadores ocupados – formais e informais –, 57% estão na classe média. Quando se leva em conta apenas os trabalhadores formais, esse número sobre para 58%.

pense: não fique fora dessa com MV Bill

MV Bill media debates neste sábado, nas Ruínas
fonte: gazeta do povo
/Se você tinha planos de ficar em casa no final de semana, pense duas vezes. Ou melhor, repense. AGazeta do Povo realiza neste sábado (29), a partir das 14 horas, o Geração Repense, que irá levar música e debates de interesse do jovem às Ruínas de São Francisco, no Largo da Ordem. O encontro terá mediação do rapper MV Bill e shows com as bandas Paranoika, Crocodilla e Sabonetes.

A primeira roda de conversa, logo após o show da Paranoika, irá falar sobre o desinteresse dos jovens por política (será mesmo?), com os convidados Paulo Munhoz, cineasta, Pedro Markun, do site Transparência Hacker, e o professor de cursinho Wella. Já o segundo papo, intercalado com a apresentação da banda Crocodilla, projeta o futuro e pergunta o que cada um pode fazer por uma maior qualidade de vida em nossa cidade. Participam Jorge Goura, cicloativista, e Lina Useche, da Aliança Empreendedora.

Para completar a programação, a banda Sabonetes sobe ao palco.

Para Wonder Bettin, guitarrista do grupo, o fato de o evento ser ao ar livre e gratuito é um grande diferencial. “Só de as pessoas estarem em um maior contato com o público, saírem um pouco de casa e ver o que tá rolando na cidade já é válido. E para a cultura também é bom”, diz o músico.

O Geração Repense segue a onda de eventos a céu aberto que vêm movimentando a cidade recentemente, como a Quadra Cultural (que acontece anualmente e leva muita agitação ao bairro São Francisco), a Virada Cultural (evento da prefeitura que promove shows gratuitos em vários pontos da cidade), o carnaval fora de época, já tradicional em Curitiba, e até outros, organizados via internet, como o revéillon fora de época.

Durante as rodas de debate e os shows, a galera ainda criar painéis e participar de oficinas artísticas mediadas pelo coletivo Mucha Tinta. Para os que realmente querem dizer algo, haverá um local especial: um púlpito com um microfone. Tudo para você dizer o que pensa.

Quem não puder comparecer, poderá acompanhar o Repense via internet. O Gaz+ e o Vida na Universidade farão uma cobertura em tempo real, mostrando todos os detalhes das rodas e das apresentações das bandas. Fique atento em nossas redes sociais. Para contribuir e opinar, basta usar a hashtag #RepenseGaz.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

100 anos - Guerra do Contestado

Contestado também teve fornos de extermínio
Foi com grimpa de araucária e nó-de-pinho que o fogo dos crematórios da Guerra do Contestado esteve aceso a todo vapor. A partir das extremidades de um buraco feito no chão de terra era erguido um muro de taipa e de pedra de mais ou menos um metro que funcionava como forno para queimar corpos humanos. Ali eram jogadas não apenas as maiores vítimas da batalha que completa 100 anos em 2012, os caboclos, mas também os militares que morreram na chamada Guerra Santa (1912-1916). Esses fornos logicamente não chegaram a queimar em igual quantidade aos usados pelo Holocausto, mas tinham também a missão de mascarar a matança e evitar a putrefação dos corpos nos campos da região.
Quem descobriu esses cre­matórios foi o geógrafo e professor da Universidade Estadual de Londrina Nilson César Fraga, em 2000, durante uma expedição exploratória, com seus alunos, na região dos antigos enfrentamentos entre a população cabocla e as forças militares do poder estadual e federal brasileiro, travados em áreas disputadas pelos estados do Paraná e de Santa Catarina. “Não sabíamos dessas coisas tão violentas naquele território”, afirma.

Claro Jansson/ Revelando Contestado


Barricadas do Contestado: disputa por terras foi a causa principal da guerra

Causas
O professor Paulo Pinheiro Machado explica resumidamente quais foram os fatores principais que culminaram na Guerra do Contestado:

Terras
A disputa pela terra é certamente a causa principal da guerra, em decorrência da tentativa de expropriação de posseiros e ervateiros caboclos, que aconteceu em três processos diferentes. No primeiro deles, houve a gradativa concentração fundiária promovida por pecuaristas, que transformavam em agregados os posseiros e sitiantes que viviam independentes, nos limites das fazendas. Posteriormente houve a concessão de até 15 km de cada lado do leito da Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande para a empresa norte-americana Brazil Railway Company. E também a grilagem de coronéis da Guarda Nacional do Paraná sobre os territórios contestados por Santa Catarina.

Coronelismo
Há uma forte crise política nos anos 1911 a 1918, com a quebra de laços clientelísticos, principalmente nos municípios de Curitibanos (SC) e Canoinhas (SC).

Militarização
Muitas autoridades municipais mantinham grupos de vaqueanos armados disponíveis para a ação nas regiões contestadas.

Campanha federalista

A herança política e militar da Guerra Federalista (1893-95), de recrutar agricultores e peões para os dois lados da contenda, trouxe à população do planalto uma tradição de luta e o conhecimento de práticas de combate.

Religiosidade
A trajetória do monge ou dos diferentes indivíduos que assumiram a identidade de João Maria criou um espaço de autonomia e organização da população sertaneja, independente do Estado e do Clero.

Consequências
Consolidou-se a concentração fundiária, reforçaram-se os poderes dos coronéis, diminuíram a autonomia e a independência de pequenos posseiros e sitiantes.

Semana de História
A Academia Paranaense de Letras e o Instituto Histórico e Geográfico do Paraná promovem nos dias 25, 26 e 27 de setembro a 18ª Semana de História. No dia 25, terça-feira, o professor Renato Augusto Carneiro Júnior vai proferir uma palestra sobre “A Questão do Contestado”, das 19 às 21 horas. Os debates serão realizados no Auditório Brasílio Itiberê (Rua Cruz Machado, 138). As inscrições são gratuitas e podem ser feitas pelo 3224-0683 ou ihgpr1900@hotmail.com.

Livro
As imagens que ilustram essa página fazem parte do livro Revelando Contestado, que será lançado em outubro pela Imprensa Oficial do Paraná, em parceria com a RPCTV e a TV Educativa. A obra traz cerca de cem fotos feitas pelo fotógrafo sueco Claro Jansson. Ele foi contratado para fotografar a serraria e a estrada de ferro e acabou flagrando o início do conflito.

Os crematórios, pelo menos 12, ainda existem nas terras do Contestado, segundo o geógrafo, e estão em propriedades privadas sem a devida conservação e manutenção. É impossível quantificar os cremados nesses fornos, até porque o número de mortes na batalha não é algo pacificado entre pesquisadores: dizem que foram de 10 a 20 mil, mas o número poderia chegar a 30 mil. Fraga explica que a maior parte dos crematórios se encontra na cidade de Lebon Régis (SC), numa localidade chamada Perdizinha, para onde a população cabocla avançava nos meses finais do conflito. Mas há outros também perto de Porto União (SC) e União da Vitória (PR).

Centenário

No dia 22 de outubro deste ano se recorda o centenário do início da guerra do Contestado: foi nessa data que o coronel João Gualberto e o monge José Maria foram mortos na Batalha de Irani. O início da guerra, porém, assim como vários fatores que envolvem o conflito, não são questões bem definidas. O historiador Everton Carlos Crema, professor da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do Paraná (Fafi), explica que já havia conflitos de terra na região antes de 1912. Há ainda outros historiadores que definem o início da guerra apenas com a formação do ajuntamento dos devotos do monge, em Taquaruçu, em 1913.



Quem perdeu foi o PR, não os donos de terra
O Paraná saiu perdedor na Guerra do Contestado porque teve de abrir mão de uma grande área de terras para Santa Catarina (todo o oeste catarinense). O acordo da delimitação territorial foi assinado no fim do conflito, em 1916, a pedido do presidente Venceslau Brás. A nova delimitação dividiu ao meio alguns territórios, dando origem a cidades diferentes, como União da Vitória (PR) x Porto União (SC) e Rio Negro (PR) x Mafra (SC).

Entretanto, apesar de o Paraná ter sido derrotado no acordo, os fazendeiros paranaenses não perderam nenhum pedaço de terra. No acordo do limite, uma cláusula dizia que, mesmo nos territórios que estivessem sob nova jurisdição (a catarinense), se houvesse dúvidas sobre a propriedade da terra, valeria o título que estivesse em cartório paranaense, explica o historiador Paulo Pinheiro Machado, autor de livros sobre a guerra, entre eles Lideranças do Contestado: a formação das chefias caboclas.

Já os caboclos foram certamente os mais prejudicados, porque, além de terem perdido a guerra física (no final estavam esgotados e morrendo de fome por causa do cerco feito pela Guarda Nacional), foram escorraçados de suas terras e tiveram ou de ir para regiões mais distantes (montanhas e lugares de terras inférteis) ou voltaram para as fazendas, mas sob a condição de peões. Poucos conseguiram voltar para seus próprios sítios.

Lei
Vale lembrar que o Brasil tinha uma lei de terras de 1850, mas ela beneficiava o acesso à propriedade apenas por compra, herança ou doação, o que quer dizer que os incentivos que existiam no Brasil (de que quem cultivasse a terra seria o proprietário dela) não valiam no papel, porque os caboclos, por exemplo, tomaram posse das terras do Contestado e as cultivaram, mas não conseguiram ter a titularidade das propriedades.

“É óbvio que as terras tinham donos. Eram dos caboclos, dos grupos miscigenados que viviam na região. Mas como eles teriam condições de pagar um agrimensor para fazer a legitimização da terra? Além disso, eram os coronéis da região que determinavam quem seria o pároco, o delegado e o cartorário. Ou seja, o cartorário não iria beneficiar os caboclos”, explica o historiador Everton Crema.
fonte: gazeta do povo

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Doutor “Honoris Causa” Waltel Branco


O renomado maestro Waltel Branco recebeu no dia 19 de setembro da UFPR o título de Doutor "Honoris Causa" em reconhecimento a sua vida dedicada ao estudo da música. O maestro, que está com 82 anos, começou seu aprendizado quando criança e desde então nunca parou.
Nascido em Paranaguá, Waltel Branco começou a estudar em Curitiba. Entre os muitos instrumentos que aprendeu a tocar, o violão sempre foi seu favorito. De Curitiba, viajou para diversos países como Estados Unidos, Cuba, Espanha, Itália, fosse pelo aprendizado, ou pela oportunidade de tocar e trabalhar com grandes nomes da música, como Nat King Cole, Dizzy Gillespie, Perez Prado, Mongo Santamaria, Quincy Jones e Henry Manciny (com este, trabalhou como arranjador da música tema do filme “A Pantera Cor de Rosa”). No Brasil, compôs e arranjou diversas trilhas sonoras para novelas entre as décadas de 60 a 90. Foi arranjador de álbuns de artistas dos mais diversos, como Elis Regina, Gal Costa, Tim Maia, Cazuza, Astor Piazzola, Tom Jobim, Roberto Carlos, Zé Ramalho, entre tantos outros.

Inicio da carreira

Em Curitiba formou uma jazz-band junto com seu irmão Ismael Branco bateria e com a então revelação Gebran Sabag piano, em 1949 rumou para o Rio de Janeiro e em seguida para Cuba ainda na juventude juntamente com a cantora Lia Ray para ser o arranjador, diretor musical e violonista do conjunto que formaram. Neste país, teve a oportunidade de tocar com Perez Prado, Mongo Santamariae Chico O’Farrel ajudando a criar a mistura de jazz, música cubana e brasileira que veio a alterar a Salsa e posteriormente influenciar o Jazz-fusion do qual Waltel é considerado um dos precursores.

Já nos Estados Unidos por volta de 1952/53 integrou o trio do baterista Chico Hamilton, voltando ao Brasil teve importância fundamental na formatação da Bossa Nova morando em uma pensão junto com João Gilberto, com quem desempenhou longa parceria sendo arranjador e amigo desde então. Depois de pequenas passagens pela Europa e Ásia Waltel decide estudar música e trilha sonora, rumando novamente aos Estados Unidos onde teve contato com a música incidental do maestro Instanley Wilston e com o violonista Sal Salvador, que por sua vez tocava com Nat King Cole, com quem Waltel veio a formar um trio além de produzir um disco para o irmão Fred Cole e para a filha Natalie Cole. Mais tarde conheceu a cantora Peggy Lipton (que casou-se com Quincy Jones) e sua irmã Lede Saint-Clair, com quem veio a se casar. Com a carreira agitada pelo jazz e pela música erudita em meio a grandes nomes acabou por conhecer o maestro Henry Mancini e a integrar a equipe que este comandava, responsável por várias trilhas sonoras e composições, entre as quais a famosa Pantera Cor-de-Rosa. Ainda nos Estados Unidos trabalhou e gravou com Franco Rosolino, Charles Mariano, Sam Noto, Dizzy Gillespie, Mel Lewis e Max Bennet.

Foi em 1963, longe de casa, que o maestro veio a se encontrar com o empresário Roberto Marinho que reconhecendo seu talento o chamou para a então jovem Rede Globo onde viria a compor um time seleto de músicos da emissora junto a Radamés Gnatalli, César Guerra Peixe e Guido de Moraes.

No Rio de Janeiro, gravou os discos "Guitarra em Chamas" 1 e 2 juntamente com o violonista Baden Powell e, tendo contato com a então inovadora bossa nova participou dos arranjos de "Chega de Saudade" de João Gilberto, com quem veio a trabalhar por um longo período.
[editar]Do Brasil para o Mundo

Morando na Espanha acabou por vencer um concurso da Rádio Difusora Francesa e veio a estudar violão com Andrés Segovia, um dos maiores violonistas do mundo. Em Roma esteve com Chico Buarque, Elis Regina, João Gilberto e diversos outros músicos brasileiros e estrangeiros. Chegou até mesmo à Índia, onde lecionou música ao lado de maestros renomados. Em Cuba, o governanteFidel Castro solicitou ao maestro Quem Brower que recuperasse a autenticidade da música cubana, e para tanto, Waltel foi chamado. Viajou boa parte da Europa e, aliás, boa parte do mundo.
[editar]Música e mais música

O maestro não parou mais de trabalhar, com inúmeras trilhas, mais de 5000 composições (ao longo da carreira), incontáveis arranjos e participações, além de espetáculos e shows que até hoje realiza em todo o Brasil e exterior.

Waltel Branco tocou com Dorival Caymmi, Nana Caymmi, João Gilberto, fez arranjos para Roberto Carlos, Cazuza, Tim Maia, Djavan,Cartola, Gal Costa,Maria Creuza, Vanuza, Mercedes Sosa, Astor Piazzola, Zé Keti, Peri Ribeiro, Sérgio Ricardo, Tom Jobim, Tomaz Lima e muitos outros, chegando até a fazer um arranjo do Hino Nacional Brasileiro para a Orquestra de Viena executar. Seria difícil encontrar músico brasileiro (e mesmo estrangeiro) com quem Waltel não tenha trabalhado. Teve músicas gravadas por diversos artistas como Elis Regina no Brasil, e Eva Fampas na Grécia. Alguns dos seus discos de início de carreira são hoje considerados raríssimos e já ultapassam o valor de US$200,00 no mercado para colecionadores.
[editar]O Maestro

Em 2001 o Maestro assumiu a regência da OSPG - Orquestra Sinfônica de Ponta Grossa, para a qual musicou o poema "Os poentes da minha terra" de Anita Philipovsky. Em 2004 Waltel Branco foi eleito presidente do Fórum de Música do Paraná, engajando-se na defesa da música brasileira junto as esferas públicas como Câmara Setorial de Música do Ministério da Cultura e Conferência Nacional de Cultura. Ainda em 2004 é destacado no livro A[des]construção da Música na Cultura Paranaense de Manoel J. de Souza Neto o que resulta em série de homenagens ao mestre, que constantemente é chamado para receber comendas, ou proferir palestras, entrevistas e participar de eventos acadêmicos onde divide seus conhecimentos. Além disso, teve um breve relato de sua história contada através do já premiado documentário "Descobrindo Waltel",(2005) de Alessandro Gamo, onde ilustres personalidades comoEd Motta, Roberto Menescal e o Maestro Julio Medaglia entre outros, ajudam a contar a vida do mestre. Recentemente o comentarista Luiz Nassif escreveu artigo referindo-se a Waltel como grande mestre da música brasileira que ainda espera por reconhecimento.

Atualmente, gozando de sua aposentadoria após mais de 20 anos dedicados a Rede Globo, Waltel reside em Curitiba / PRdedicando-se a muitas atividades, não sendo raros seus concertos em teatros de todo o Brasil e eventualmente do exterior. Em 2007 lançou o disco "Meu Novo Balanço" com músicas de outros dos seus álbuns e algumas inéditas como "Fera Pantera" na qual, por sugestão de Chico Buarque faz uma versão da música da Pantera Cor de Rosa voltada para educação. Neste ano ainda foi "Artista Homenageado" pelo Festival de Artes do estado do Paraná. No dia 22 de Novembro de 2008 foi lançado em Curitiba o livro "A Obra para Violão de Waltel Branco", com mais de 40 partituras revisadas por Cláudio Menandro. O livro contém ainda um resumo detalhado de sua biografia.
Citações de outros artistas
(Júlio Medaglia) no encarte de "Recital" - 1976.

"Tecer alguns comentários a respeito do músico Waltel Branco é uma das tarefas mais simples e, por que não dizer, das mais agradáveis. Mais simples porque este disco ao ser tocado falará mais claramente a respeito dos recursos e da grande musicalidade do artista do que qualquer "apreciação verbal". Das mais agradáveis pois não podemos colocar aqui uma biografiazinha na base do "já aos 5 anos de idade…", mas sim chamar a atenção para um músico cuja formação e atividade são absolutamente exemplares para esta música brasileira tão carente de outros "Walteis". Por esta razão vamos deixar de comentar este ou aquele timbre especial de seu toucher, certas peculiaridades de suas composições ou exaltar seu brilho virtuosístico na execução de determinadas passagens. O excelente violão que Waltel toca faz parte de toda uma personalidade e vivência musicais cheias de componentes. Ele não faz parte daquele bando de artistões cuja vida se resume nos 30 centímetros do braço do violão. Waltel atua em mil diferentes faixas porque ele conheceu mil diferentes tipos de música em sua vida. De estudante de música clássica, de aluno de Segóvia a fundador e arranjador da orquestra de Peres Prado - no tempo em que o mambo ameaçava a desviar o eixo terrestre; de estudante de orquestração, jazz, regência e composição na Berklee School de Boston a diretor artístico do Teatro Guaira de Curitiba; de um refinado intérprete a arranjador de discos, programas e festivais de televisão; de um categorizado e criativo autor de músicas para seu instrumento a um eficiente arranjador e compositor de trilhas sonoras para filmes, novelas e coisas assim. Waltel não está na crista de nossas paradas nem é o Quincy Jones brasileiro. Não porque lhe faltem recursos técnicos ou artísticos para tanto e sim porque nesta tão badalada MPB quem pretende fazer uma música que vá além do alpiste melódico de nossos rouxinóis asfáticos é automaticamente marginalizado pela notoriedade. Sua atividade parcialmente anônima, porém, está presente na música de nosso país através dos mais variados veículos de comunicação. Aqui não. Neste L.P. Waltel está presente de nome e alma e você, um destes poucos ouvintes brasileiros que curti música instrumental, vai poder perceber - a respeito de quem estou falando. Aliás, fim de papo pois ouvi-lo é realmente melhor…"
(Roberto Menescal) no documentário "Descobrindo Waltel"

" O Waltel foi o primeiro músico mesmo que eu pensei, músico na concepção total! Músico que estudava, que lia, que tocava bem seu instrumento…"
Discografia

Mais de 20 discos lançados até 2008, além dos quais foi arranjador ou participou de alguma maneira de aproximadamente 1000 discos históricos da música brasileira.
Solos
1960 - Recital Violão
1962 - Guitarras em Fogo
1963 - Guitarra Bossa Nova
1966 - Mancini Também é Samba
1972 - Meu Balanço
1972 - Jungle Bird Black Soul (com o pseudônimo Airto Fogo)
1974 - Seleção de Clássicos, Músicas do século XVI ao Século XX
1975 - Airto Fogo (com o pseudônimo Airto Fogo)
1976 - Recital (II)
1990 - Kabiesi
1997 - Naipi
2007 - Meu Novo Balanço
Conjunto
195… - Românticos de Cuba
1958 - Djalma Ferreira e seus Milionários do Ritmo - Drink (baixo)
1959 - Mariza - A Suave Mariza
1959 - Djalma Ferreira e seus Milionários do Ritmo - Depois do Drink (baixo)
1960 - Os Cobras
1960 - Conjuntos de José Marinho, Netinho, Waltel Branco e João Donato (disco Dance Conosco)
1960 - Elizeth Cardoso e Moacyr Silva - Sax Voz
1961 - Newton Mendonca Tribute - Em Cada Estrela uma Canção (guitarrista)
1961 - Zé Bodega e Orquestra de Severino Araújo: "Um sax no Samba" (guitarrista)
1961 - Rubens Bassini e os 11 Magníficos (guitarrista)
1961 - Elizeth Cardoso - A Meiga Elizeth Vol.2
1961 - Rubens Bassini - Ritmo Fantastico, Rubens Bassini e os 11 Magnificos
1962 - Orlann Divo (LP "A Chave do Sucesso" como guitarrista)
1963 - Trio Surdina
1963 - Moacyr Silva e Seu Conjunto - Sax Sensacional Nr. 3 (guitarrista)
1963 - Miltinho - Bossa e Balanço
196… - Copa Cinco
1964 - Wilson Miranda: "A Outra Face de Wilson Miranda" (guitarrista)
1964 - A Turma do Bom Balanço
1964 - Luiz Carlos Vinhas - Novas Estruturas
1965 - Meirelles e os Copa 5 - O Novo Som
1968 - Quarteto 004 - Retrato em Branco e Preto (regência)
1973 - Cesar Costa Filho - E os sambas viverão (violonista)
1973 - Antonio Carlos & Jocafi (guitarrista)
1977 - Paulo Moura, Formiga, Altamirro Carilho e Abel Ferreira - Interpretam Vivaldi, Webber, Purcell e Villa Lobos com Orquestra Sinfônica Brasileira (alaúde)
1978 - Agepê - Tipo Exportação (Viola e Violão)
1979 - Frank Valdor - Live in Rio (Guitarrista)
1979 - Elizeth Cardoso - O Inverno do Meu Tempo (guitarrista)
1980 - João Bosco - Bandalhismo (violonista)
1980 - Violão em Dois Estilos Waltel Branco + Rosinha de Valença
19.. - Lena Rios (violão 7 cordas)
19.. - Trindade: "Curto Caminho Longo" (trilha do documentário)
19.. - Violão para quem não gosta de Violão
19.. - Orquestra Os Bossambistas - So Danco Samba
Trilhas para Cinema ou TV

(Participou de alguma maneira como diretor musical, arranjador, compositor ou outra)
O Primeiro Amor
Assim na Terra como no céu
Passo dos Ventos
Cavalo de Aço
Supermanoela
Senhora
A Moreninha
Vejo a Lua no Céu
O Feijão e o Sonho
À Sombra dos Laranjais
Anarquistas
A Gata Comeu
Irmãos Coragem (1970)
O Tempo e o Vento (anteriormente encomendado ao Tom Jobim)
Os Senhores da Terra
Selva de pedra (1972)
O Semideus
Os Ossos do Barão
Anjo Mau (1976)
O Bofe
Uma Rosa com Amor
O Bem Amado
Saint Hilaire na Terra dos Diamantes
Cuca Legal
Ti Ti Ti
Vida de artista - Especial Cauby Peixoto
Pirlipimpim
Amizade Colorida
[editar]Arranjador

Participou de alguma maneira do trabalho
Tim Maia (Álbum Tim Maia – 1970)
Evaldo Braga (O Ídolo Negro - 1971, O Ídolo Negro Vol.2 - 1972)
Marcos Valle (Álbum Previsão do Tempo - 1973)
João Bosco (Álbum Linha de Passe - 1979)
Zé Ramalho (Álbum Força Verde – 1982)
João Gilberto (diversos)
Henry Mancini (diversos)
Lover-The Lovers: Vol. I e II
Mita (arranjos e regência)
Odair José
Sérgio Mendes (álbum Horizonte Aberto - 1979)
Pery Ribeiro (álbum Alvorada - 1979)
Freddy Cole (arranjador e regente)
Rosa Maria (disco de 1976)
Toni Tornado
Rosa Passos (Curare - 1991)
Dom Um Romão (Dom Um - 1964)
Jane Duboc (Languidez - 1980)
Maria Creuza (Pecado - 1979, Meia Noite com Maria Creuza - 1977)
Agepê (Tipo Exportação - 1978)
Cazuza (Ideologia – 1988)
Tomaz Lima, "Homem de Bem" (Mantras Indianos - 1990) (Song of India - 1994)
Hilton Barcelos (Olhos de Luz – 1998)
Flora Purim (Flora é M. P. M. - 1964)
Copinha (Jubileu de Ouro – 1975)
Alceu Valença (Molhado de Suor – 1974)
Rogéria Hotz (No país de Alice)
O Sebbo (Porque não sabíamos voar - 2008 - supervisão geral)
Homenagens
2007 - Orquestra a Base de Sopro - Mestre Waltel
2007 - Cláudio Menandro
Publicações
2008 - A Obra para Violão de Waltel Branco (Curitiba, 2008)
Ligações externas
Documentário sobre Waltel Branco
Dicionário Cravo Albin
Uma história entre Waltel, Tom Jobim e João Gilberto
Waltel por Luis Nassif
fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Faculdade Zumbi dos Palmares forma primeira turma de direito

publicado: http://www.memorial.org.br


O dr. Brasílio ao lado do busto do “Libertador” Simón Bolívar

Orgulho. Esse é o sentimento. Foi uma noite de orgulho que entrou para a história da educação. Orgulho de pai, por ver seu filho ostentar um diploma universitário, orgulho de professor, por ver seus alunos completando um ciclo fundamental na vida, orgulho de autoridade política, por ver o resultado concreto de sua ação. E, por que não, orgulho de país, por ver uma ação afirmativa bem sucedida visar a inclusão sem rancor ou ressentimento.

Quem esteve no Auditório Simón Bolívar na noite de sexta, 14 de setembro de 2012, pode experimentar essa sensação. Orgulho. Ali transcorria a formatura da primeira turma do curso de Direito da Faculdade Zumbi dos Palmares. Estavam se formando 70 advogados negros, fato inédito no Brasil. Três nem bem se formaram e já foram aceitos pela OAB. Antonio Marcos Pereira de Almeida, 32, foi aprovado no 6º Exame Unificado quando ainda estava matriculado no 9° nono semestre. Já Carlos Eduardo Buosi, 39, e Jorge Josino da Silva, 48, foram aprovados no 7º Exame. A Zumbi dos Palmares reserva 50% de suas vagas para alunos autodeclarados afrodescendentes. Ela oferece os cursos de Administração, Tecnologia em Transportes Terrestre, Publicidade e Propaganda e Pedagogia, além de Direito. No ano que vem, terá também os cursos de tecnólogos em Recursos Humanos e em Finanças. Atualmente, 87% do seu alunado de 1700 estudantes são afrodescendentes.

Brasílio Mendes Fleury é um dos novos causídicos da cidade. Já com jeito de advogado, trajando a toga negra dos formandos, confessou estar sentindo um “prazer


Dra. Andressa Lima

inenarrável” em estar ali. “Não sei se terei tempo de praticar minha nova carreira, mas estou realizando um sonho que antes era praticamente impossível”, contou Brasílio, ele que trabalha como operador do Metrô de São Paulo. “Me engajei na Faculdade Zumbi dos Palmares desde o início porque é um projeto ambicioso e social”, disse ele que ganhou bolsa de 50% e pagou o restante com esforço. “Foram cinco anos que valeram muito a pena. Dez semestres!”, reforça. Detalhe: Brasílio tem 62 anos. É um emblema do que Zumbi dos Palmares representa.

Entre os paraninfos dos formandos estava o embaixador de Angola no Brasil Nelson Cosme. Ele fez questão de presentear os novos advogados com uma coleção de textos do líder revolucionário angolano Agostinho Neto, um


Alckmin, José Vicente, Michel Temer, Ayres Brito, Mercadante, entre outros, compuseram a mesa

poeta e herói da liberdade de seu país e da África. “Inspirados por ele, vocês agora estão aptos a trabalharem em defesa da força do direito, da inteligência e do conhecimento; em defesa do respeito à diversidade e à dignidade da pessoa humana; e em defesa da igualdade de chances para todos”, disse, com ênfase.

É o desejo de todos os formandos. A jovem Andressa Lima é um exemplo. Além de comemorar a formatura, ela estava alegre por ter sido aprovada na primeira fase do exame da OAB e se prepara para a segunda fase. “Sempre achei que podia exercer um trabalho melhor. Quero ajudar quem vem atrás, devolver para a sociedade o benefício que recebi, trabalhar para as minorias e os que sofrem discriminação”.

A Faculdade Zumbi dos Palmares surgiu em 2004 e está ajudando a formar uma classe média negra, que almeja se integrar à sociedade em que vive. “Quando lançamos essa ideia, fomos criticados, diziam que estávamos fazendo um racismo às avessas”, contou o reitor da Zumbi, José Vicente. “Por isso quero agradecer neste momento ao governador Geraldo Alckmin, que nos apoiou desde o princípio. Estive com ele pelo menos umas 50 vezes desde então e o governador sempre atendeu aos apelos e as necessidades para concretizarmos o nosso sonho”. Alckmin é o patrono da primeira turma de Direito da Zumbi dos Palmares: “Quero dizer da alegria de abraçá-los, primeiro pela formatura do curso de direito, que é a mais bela das atividades humanas, uma defesa da liberdade e da democracia, depois por ser a primeira turma da universidade. Parabéns, vocês fazem história!”

O reitor José Vicente não é apenas um sonhador que concretiza seus sonhos. Ele é também um mediador inspirado, um conciliador que consegue unir em torno de uma causa pessoas de diferentes matizes políticas, condições sociais e até países. Uma das autoridades convidadas por José Vicente a compor a mesa da cerimônia foi o cônsul geral americano, Dennis Hankins, recém chegado a São Paulo. Até recentemente ele servia em Cartum, Sudão, no coração da África. Na solenidade o diplomata representava o presidente americano Barack Obama. “Há dez anos conversamos com o governo americano, queremos aprender com a experiência deles”, contou o reitor José Vicente. Compunham também a mesa personalidades do Judiciário que foram importantes na questão das cotas, entre eles, o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Carlos Augusto Ayres de Freitas Britto. “Poucaspessoas sabem, mas o ministro Ayres Britto”, revelou o reitor, “nos disse que assim que assumisse a presidência do Supremo Tribunal iria colocar a questão das cotas nas universidades federais em votação e vocês vão ganhar!”


O Vice-Presidente da República Michel Temer

O vice-presidente da República, Michel Temer, foi um dos primeiros a manifestar sua alegria: “Vocês todos estão de parabéns e deixaram o país orgulhoso”.Outras autoridades presentes e que de alguma forma apoiaram a trajetória da Faculdade Zumbi dos Palmares foram o Ministro da Justiça José Eduardo Cardoso, o Ministro da Educação Aloysio Mercadante e a Ministra da Integração Racial, Luíza Bairros, bem como a ex-governadora do Rio, Benedita da Silva, e o seu marido, o ator Antônio Pitanga. A Fundação Memorial da América Latina é uma das instituições que apoia a Faculdade Zumbi dos Palmares desde o início. É sempre no Auditório Simón Bolívar que são realizadas as formaturas e festas anuais da Faculdade. O presidente do Memorial, João Batista de Andrade, também compunha a mesa. Também estiveram presentes os banqueiros Pedro Moreira Salles (Itaú-Unibanco) e Luiz Carlos Trabuco (Bradesco), bem como o fundador da Unip e Objetivo, João Carlos di Genio. Os três tiveram participação importante na equipagem, investimentos, doações e contrato de estágios para alunos da Faculdade Zumbi dos Palmares.

“Hoje os negros brasileiros se juntaram no Memorial”, disse o reitor José Vicente se dirigindo à platéia, “para comemorar a vitória dos nossos filhos”. Em seguida, olhando para os alunos perfilados no palco, esperando o canudo, elogiou: “vocês já eram vencedores porque, diante de tantas escolhas possíveis, escolheram o conhecimento, que é a única chave para sair da condição discriminatória”, mas sem deixar o pé na realidade, “não se enganem, vocês serão sempre os filhos da lavadeira, os primeiros da família a ter um diploma de curso superior. A jornada não acabou, a lição de casa continua…”



Texto Eduardo Rascov
Fotos Luiz Tristão

Haitianos devem receber até sexta-feira protocolos para obter documentos no Brasil

Marcos Chagas
Repórter da Agência Brasil


Brasília - A Polícia Federal entregará até sexta-feira (21) um protocolo para que os 215 haitianos que estão irregulares em Brasileia, no Acre, possam legalizar a situação no país. O documento servirá para que eles possam obter o Cadastro Pessoa Física (CPF) e a Carteira de Trabalho.

O protocolo autoriza o imigrante haitiano a conseguir os documentos por prazo inicial de 180 dias, que pode ser prorrogado. Passado um ano e estando devidamente empregados, eles poderão requerer residência fixa no Brasil.

O problema, segundo o representante do governo do Acre que trata da questão, Damião Borges, é que não param de chegar haitianos em situação irregular pela fronteira com Cobija, na Bolívia. “Ontem (18) à noite entraram em Brasileia mais cinco haitianos e vai chegar mais. O governo federal deveria tomar uma providência: ou controla a fronteira ou [os] manda de volta ao Haiti”, ressaltou o representante do governo acriano.

Damião Borges disse que, mais uma vez, terá problemas com a alimentação aos imigrantes ilegais. Ele frisou que os atuais fornecedores deverão cortar o envio de comida aos haitianos.

Empresas de Goiás, Minas Gerais, Santa Catarina e do Rio de Janeiro já fizeram contatos com o governo estadual para a contratação dessa leva de haitianos que terão seus documentos de entrada legalizados. Segundo Damião Borges, outros devem seguir para Porto Velho onde têm parentes já empregados.

Edição: Talita Cavalcante

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Somali Hawa Aden Mohamed recebe prêmio Nansen da ONU

Hawa Aden Mohamed recebeu nesta terça-feira (18) o Prêmio Nansen de Refugiados, concedido pela ONU, por reconhecimento a seu trabalho de apoio a milhares de mulheres e meninas somalis, muitas delas vítimas de estupro.
A ex-refugiada somali, de 63 anos, voltou em 1995 do Canadá para o seu país, cronicamente assolado por guerras. Ela criou um programa educacional na região autônoma de Puntland para abrigar e formar somalis que fogem da guerra, da fome e da violência.
"Quando Hawa Aden Mohamed resgata uma menina deslocada, uma vida é revertida", disse em nota o alto comissário da ONU para refugiados, António Guterres.
Conhecida como "Mama Hawa", ela fundou em 1999 o Centro Educacional Galkayo para a Paz e o Desenvolvimento, que já auxiliou mais de 215 mil pessoas.
"Numa sociedade como a da Somália, é muito frequente que uma mulher ou menina seja estuprada, e elas são severamente marginalizadas depois disso. Então o que ela tem feito é lhes dar um lar, um recomeço, a esperança de uma nova vida, e devolver sua dignidade", disse a jornalistas Melissa Fleming, porta-voz do Acnur (agência da ONU para refugiados).
Meninos somalis também são atendidos pela ONG, onde recebem formação como carpinteiros e soldadores, segundo o Acnur.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

A Revolução na Educação Fundamental de Foz do Iguaçu

Das dez melhores escolas públicas do Brasil nas séries iniciais do ensino funda­­mental, três são de Foz do Iguaçu, incluindo a primeira colocada no Índice de De­­senvolvimento da Edu­cação Básica (Ideb) 2011. A Escola Santa Rita de Cássia conquistou a nota 8,6 na avaliação, a mais alta do país, ao lado da Escola Carmelita Dramis, do município de Itaú de Minas (MG). Dez escolas, das 20 paranaenses com a melhor nota, também são de Foz.

O resultado favorável do município no Ideb deve-se a uma série de medidas adotadas desde 2008 e estabelecidas a partir de uma nova cultura de gestão educacional. Com base em taxas de aprovação e reprovação da rede municipal, foram traçadas estratégias e metas em cada escola para melhorar o desempenho dos alunos. O plano incluiu a oferta de reforço no contraturno escolar; atendimento de fonoaudiólogos, assistentes sociais e psicólogos; aplicação de simulados da Prova Brasil; e a implantação do chamado método fônico na alfabetização, no qual se estabelece a relação entre grafemas e fonemas.

INFRAESTRUTURA

Para aumentar em 25% o desempenho no Ideb (de 2007 a 2009, a nota passou de 4,8 para 6,2), a prefeitura montou um banco de projetos para construir novas escolas, com espaço para atividades físicas e aulas de reforço.

“O primeiro passo é a estrutura física”, diz o prefeito Paulo Mac Donald (PDT). Cinco prédios foram construídos do zero, e 21 escolas foram reformadas ou ampliadas.

“Era tudo sucateado, criança quebrando o braço nas rampas. Todo dia tinha que chamar o Samu”, conta Beatriz Pasqualli, 46, diretora da escola Érico Veríssimo, com 1.300 alunos, média 7 no Ideb (era 4,4 em 2007) e em novo prédio há cinco anos.

A nova estrutura, que é compartilhada por alunos da região nas atividades de contraturno, inclui quadra de esportes, ar condicionado nas salas, refeitório e piscina.

METAS E DIAGNÓSTICO

Todos os alunos da rede pública são avaliados por equipes da Secretaria da Educação pelo menos duas vezes ao ano. Os do 4º e 5º anos fazem provas no estilo Ideb.

“É diagnóstico. Se não estiver bom, a gente toma as medidas necessárias”, diz a secretária Joane Vilela.

A partir da avaliação, traça-se uma meta para o próximo Ideb de cada escola. As que cumprirem ganham 14º salário –todos os funcionários, do porteiro ao diretor.

Uma equipe de professores da pasta visita as turmas com as piores notas, conversa com famílias e professores e produz material didático específico. “Até os cadernos dos alunos eles veem”, diz a diretora Iraílde da Silva Vieira, da escola Elenice Milhorança, média 7 no Ideb.

ENVOLVIMENTO DOS PAIS

As escolas têm associações, que ajudam com rifas e festas para arrecadar dinheiro para melhorias.

Na escola Santa Rita de Cássia, a campeã do Ideb (nota 8,6), que tem 200 alunos, o auditório e o parquinho foram feitos com essa verba.

EVASÃO ZERO

Preocupada com a eficiência do sistema, a prefeitura implantou o Projeto Fica, de combate à evasão escolar, que hoje é zero –em 2005, era de 2%. Assistentes sociais, psicólogos e fonoaudiólogos vão uma vez por semana a cada escola para acompanhar a frequência dos alunos e, se for o caso, visitar as famílias.

CONTRATURNO

Junto com o controle da evasão, vieram as aulas de reforço, no contraturno –dadas por professores dedicados à tarefa. As turmas têm aula de reforço ao menos uma vez por semana e podem fazer atividade física, xadrez, dança e música.



fonte: folha de são paulo / gazeta do povo

sábado, 15 de setembro de 2012

Para Unegro, Chávez representa a mistura racial da América Latina


A TV Vermelho publica hoje o quarto depoimento da série da campanha "Brasil está com Chávez". Quem declara seu apoio ao comandante venezuelano é o presidente da Unegro (União dos Negros pela Igualdade), Edson França. “A mistura que a gente vê na América Latina a gente vê na figura do Chávez. Tem mistura de negro, de índio, de branco, então o Chávez mistura o símbolo desse novo processo civilizatório”, afirma Edson.
 

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Nosso Herói: Steve Bantu Biko

 
“Se somos livres no coração, não haverá correntes feitas pelo homem com força suficiente para sujeitar-nos. Mas, se a mente do oprimido é manipulada (...) até o ponto dele se considerar inferior, não será capaz de fazer nada para enfrentar o seu opressor”. (Steve Biko)

Steve Bantu Biko (18 de dezembro de 1946 - 12 de setembro de 1977) foi um conhecido ativista do movimento anti-apartheid na África do Sul, durante a década de 1960.

Insatisfeito com a União Nacional de Estudantes Sul-africanos (National Union of South African Students), da qual era membro, participou da fundação, em 1968, da Organização dos Estudantes Sul-africanos (South African Students' Organisation). Em 1972, tornou-se presidente honorário da Convenção dos Negros (Black People's Convention).

Em março de 1973, no ápice do regime de segregação racial (Apartheid), foi "banido" , o que significava que Biko estava proibido de comunicar-se com mais de uma pessoa por vez e, portanto, de realizar discursos. Também foi proibida a citação a qualquer de suas declarações anteriores, tivessem sido feitas em discursos ou mesmo em simples conversas pessoais.

Em 6 de setembro de 1977 foi preso em bloqueio rodoviário organizado pela polícia. Levado sob custódia, foi acorrentado às grades de uma janela da penitenciária durante um dia inteiro e sofreu grave traumatismo craniano. Em 11 de setembro, foi embarcado em veículo policial para transporte para outra prisão. Biko morreu durante o trajeto e a polícia alegou que a morte se devera a "prolongada greve de fome empreendida pelo prisioneiro".

Em 7 de outubro de 2003, autoridades do Ministério Público Sul-africano anunciaram que os cinco policiais envolvidos no assassinato de Biko não seriam processados, devido a falta de provas. Alegaram também que a acusação de assassinato não se sustentaria por não haver testemunhas dos atos supostamente cometidos contra Biko. Levou-se em consideração a possibilidade de acusar os envolvidos por Lesão Corporal seguida de morte, mas como os fatos ocorreram em 1977, tal crime teria prescrito (não seria mais passível de processo criminal) segundo as leis do país.

STF debate racismo na obra de Monteiro Lobato

editorial vermelho 13/09/2012

O caso das acusações de racismo contra a obra de Monteiro Lobato, que foi objeto de uma audiência de conciliação na noite de terça-feira (11) no Supremo Tribunal Federal (STF) permite duas reflexões.

A primeira diz respeito à verdadeira histeria que acomete a imprensa brasileira levando-a a considerar como “censura” e ver limitações à liberdade de expressão em qualquer atitude de exame do conteúdo de uma obra escrita. Não há - não houve - pedido de suspensão, proibição ou qualquer restrição à publicação e circulação do livro na denúncia levantada em outubro de 2010 pelo pesquisador Antonio Gomes da Costa Neto (que era então mestrando em relações raciais na Universidade de Brasília) e pelo movimento negro contra o livroCaçadas de Pedrinho, de Monteiro Lobato. O que houve foi um pedido para que fosse excluído do Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE) e de outros programas do governo para a compra de livros e distribuição a estudantes e bibliotecas escolares.

O outro aspecto, pouco ressaltado mas central na proposta de conciliação apresentada ao STF pelo Instituto de Advocacia Racial e Ambiental (IARA) e pelo pesquisador, é o debate absolutamente necessário sobre a obrigatoriedade do ensino da cultura afro-brasileira e das relações étnico-raciais, envolvendo medidas para sua concretização nas escolas públicas e privadas, e em todos os níveis - desde a educação fundamental até aos cursos de pós graduação.

A legislação pela implantação desse ensino antirracista vai completar uma década. Foi em 9 de janeiro de 2003 que o presidente Lula alterou a lei 10.639, de 1996 (que regula as diretrizes e bases da educação nacional) para incluir nela a obrigatoriedade do ensino da “história e cultura afro-brasileira”. As diretrizes a respeito foram aprovadas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) em março de 2004 e reguladas por uma resolução do CNE em junho do mesmo ano.

Desde então, contudo, sua aplicação é pífia: entre os cerca de dois milhões de professores brasileiros, apenas 69 mil receberam cursos de capacitação para o ensino das relações étnico-raciais. Isto é, apenas um em cada grupo de 30 professores; ou menos de 4% do total.

Foi contra esse descaso, esse número irrisório de mestres capacitados para o combate ao racismo, esse flagrante desrespeito à lei antirracista, que o Instituto de Advocacia Racial e Ambiental (IARA) e Antonio Gomes da Costa Neto levantaram a questão e a levaram ao STF.

Embora a audiência da terça-feira não tenha sido conclusiva, ela representou um avanço, na avaliação dos participantes - desde o ministro Luiz Fux, relator do caso, até os representantes do Ministério da Educação (MEC), da Advocacia-Geral da União, da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), do Iara e do pesquisador Antônio Gomes da Costa Neto. Avanço no sentido de haver ampla concordância sobre a necessidade da concreta implementação da lei que instituiu o ensino antirracista.

A proposta de conciliação feita pelo IARA ao STF apresentou duas alternativas: ou o livro de Lobato fica mantido fora dos programas oficiais de compra e distribuição de livros a bibliotecas e estudantes. Ou se avança para o compromisso da implementação de medidas efetivas para a formação e capacitação de educadores sobre a temática racial, com garantia do Ministério da Educação de aplicação da lei em todos os níveis de ensino no país. “Apesar de todo o conjunto de normas existentes, elas não são obrigatórias, e muitos professores as acham desnecessárias, porque não veem racismo em Monteiro Lobato”, afirmou Antônio Costa Neto.

Este é um ponto fundamental - o combate ao racismo não se faz com a proibição de livros. Mesmo porque nenhum autor vive ou produz à margem das circunstâncias e contradições de seu tempo.

Caçadas de Pedrinho, publicado em 1933, reflete o racismo vigente e também a luta pela afirmação do povo brasileiro, na qual Lobato - apesar de suas deficiências - foi um campeão. Amigo da esquerda e do Partido Comunista do Brasil, seu sepultamento em 1948 foi um retrato do carinho que os moradores da cidade de São Paulo dedicavam a ele: a cidade parou, o comércio fechou, e seu féretro foi acompanhado por 200 mil pessoas numa São Paulo que não chegava a ter dois milhões de habitantes. Esta homenagem de um em cada dez paulistanos a um escritor (não a um político ou uma estrela das artes, dos espetáculos ou dos esportes) revela quanto ele estava afinado com os problemas, inquietações e contradições de seu tempo.

Uma dessas contradições mais cruéis - e que ainda se mantém - é o racismo, contra o qual aquele escritor democrata e avançado não foi um combatente de primeira linha embora, apesar daquelas expressões racialmente ofensivas, tenha descrito personagens de pele negra, como Tia Anastácia de Caçadas de Pedrinho e outros livros, com visível simpatia e calor humano.

Daí o mérito da audiência iniciada no STF sobre a questão, e que prosseguirá no próximo dia 25: a obra de Lobato pode ser um instrumento pedagógico para a discussão do racismo em sala de aula e a luta contra ele. Mas para isso, além dos livros, é preciso também ter legiões de mestres preparados para esse combate.
  
fonte: www.vermelho.org.br

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Audiência de conciliação no STF sobre obra de Lobato não chega a consenso

Audiência de conciliação no STF sobre obra de Lobato não chega a consenso 
Mandado de segurança tenta anular parecer do Conselho Nacional de Educação, que liberou a adoção do livro Caçadas de Pedrinho, de Monteiro Lobato, no Programa Nacional Biblioteca na Escola
fonte: Agencia Brasil
A polêmica sobre racismo em obra do autor Monteiro Lobato ainda não foi encerrada. Terminou sem consenso a audiência de conciliação realizada na noite de terça-feira (11) no Supremo Tribunal Federal (STF).
Representantes do Ministério da Educação (MEC), da Advocacia-Geral da União e da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) discutiram, com a mediação do ministro do STF Luiz Fux, o mandado de segurança do Instituto de Advocacia Racial e Ambiental (Iara) e do pesquisador de gestão educacional Antônio Gomes da Costa Neto contra o parecer do Conselho Nacional de Educação (CNE) que liberou a adoção do livro Caçadas de Pedrinho, de Monteiro Lobato, no Programa Nacional Biblioteca na Escola.
Para sanar os pontos críticos do debate foi marcada outra reunião para o dia 25 deste mês, no Ministério da Educação. O ponto central de discordância é a nulidade do parecer do CNE, que determina que Caçadas de Pedrinho seja distribuído às escolas acompanhado de nota técnica instruindo o professor a contextualizar a obra ao momento histórico em que ela foi escrita.
De acordo com o secretário de Educação Básica do MEC, Cesar Callegari, o próximo passo é aprofundar o debate. “Primeiro na formação de professores, segundo nas orientações que chegam às escolas por meio das diretrizes do CNE e do próprio Ministério da Educação. E quando forem compradas novas obras, que tenham essas explicações acerca dos contextos históricos, contextos regionais”, explicou.
Callegari considera que a medida não é censura, pois não permitirá que a obra de Lobato seja banida das escolas públicas e privadas do país “e sim de uma explicação clara do contexto em que foi produzidas e a sua época”, argumentou.
O ministro do STF Luiz Fux explicou que se o MEC e o instituto não entrarem em acordo, a questão será julgada pelo plenário da Suprema Corte. Caso haja acordo, Fux irá apenas homologar a decisão.
O advogado do Iara Humberto Adami considerou a conciliação uma “vitória” do movimento. “Esse grande celeuma foi criado por um cidadão brasileiro [o pesquisador Antônio Gomes da Costa Neto], que resolveu reclamar da situação. O avanço se dará com o detalhamento das propostas que o Ministério da Educação vai elaborar em relação à questão. Há outros livros, inclusive, que podem ser objeto de uma revisão, nesse olhar da sociedade brasileira que não tinha tanto problema com a questão racial”.
Segundo Adami, a mediação conduzida pelo ministro Fux avançou em relação ao pedido inicial do instituto. “Parte para outros pedidos que estão, inclusive, fora do mandado de segurança inicial, como, por exemplo, a formação de professores. No universo de 2 milhões de professores, eles fizeram a capacitação de 69 mil. Eu acho isso muito pouco, o Estado brasileiro deve fazer muito mais”, concluiu o advogado.
Publicado em 1933, Caçadas de Pedrinho relata uma aventura da turma do Sítio do Picapau Amarelo à procura de uma onça-pintada. Entre os trechos que justificariam a conclusão de racismo estão alguns em que Tia Nastácia é chamada de negra. Outra parte diz: "Tia Nastácia, esquecida dos seus numerosos reumatismos, trepou que nem uma macaca de carvão".
Em relação aos animais, um exemplo mencionado é: "Não é à toa que os macacos se parecem tanto com os homens. Só dizem bobagens". Outro é: “Não vai escapar ninguém — nem Tia Nastácia, que tem carne preta”.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Permanência de estudantes cotistas nas universidades públicas

Gilberto Costa
Repórter da Agência Brasil

Brasília – O Ministério da Educação (MEC) e a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) preparam um pacote de medidas para assegurar a permanência de estudantes cotistas que ingressem nas universidades públicas e institutos federais, conforme a Lei de Cotas Sociais (12.711/2012) que destina 50% das vagas para estudantes oriundos de escolas públicas.

Os estudantes cotistas, com dificuldades de permanecer na universidade (por necessidade de trabalhar, dificuldade de deslocamento ou falta de recursos para comprar livros e instrumentos para fazer o curso) poderão ser beneficiados com o pagamento de bolsas e auxílios especiais. Os valores ainda não foram estabelecidos.

Além disso, o governo quer que as comunidades acadêmicas das universidades e dos institutos (que terão quatro anos para implantar progressivamente o percentual de reserva de vagas) estejam preparadas para receber os cotistas. De acordo com a lei, cada instituição deverá preencher as cotas com autodeclarados pretos, pardos e indígenas na mesma proporção populacional de cada estado.

Para o caso dos estudantes negros, uma ideia é criar centros de convivência negra (como o implantado na Universidade de Brasília (UnB), uma das primeiras a ter sistema de cotas no país). “Nós estamos trabalhando junto com o Ministério da Educação num grande programa que vai facilitar a permanência do estudante, não só a partir de auxílio permanência, mas também de adaptar a universidade para esse público”, destaca o secretário executivo da Seppir, Mário Lisboa Theodoro.

O cálculo do governo é que o número de alunos negros cotistas suba dos atuais 8,7 mil para 56 mil estudantes daqui a quatro anos. O crescimento terá grande efeito social, espera o governo. “Se é pela escolaridade que se abrem as portas do emprego, as desigualdades tendem a ser minoradas”, pondera a coordenadora-geral para Educação de Relações Étnica-Raciais do MEC, Ilma Fátima de Jesus.

Mário Theodoro espera, além do impacto social, um efeito “simbólico”. “Teremos profissionais negros de nível superior, gabaritados e em quantidade que não temos hoje. Vamos ter uma elite intelectual mais com a cara de todo o povo”, salientou.

Segundo o secretário, o governo também vai monitorar o desempenho acadêmico e o ingresso no mercado de trabalho dos cotistas formados. “Estamos verificando em alguns momentos e em situações pontuais estigmas com relação aos cotistas, o que é um absurdo. Nós vamos monitorar para saber se há algum problema no mercado de trabalho”, informou.

O MEC e a Seppir participam hoje (11) à noite, em Brasília, da audiência de conciliação no Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília, para discutir o mandado de segurança de autoria do Instituto de Advocacia Racial (Iara) e do pesquisador de gestão educacional Antônio Gomes da Costa Neto contra o parecer do Conselho Nacional de Educação (CNE) que liberou a adoção do livro Caçadas de Pedrinho, de Monteiro Lobato (escrito em 1933), no Programa Nacional Biblioteca na Escola (PNBE).

A posição do governo é contrária à censura ou suspensão do livro. “Não se trata de vetar, mas indicar que precisa ser lido a partir da crítica”, salienta Ilma Fátima de Jesus, do MEC. Segundo ela, o PNBE não deve adotar nenhuma obra que coloque “a pessoa em situação vexatória”.

“É importante que essas obras sejam veiculadas porque fazem parte da história e Monteiro Lobato é uma figura importante. Vejo que têm que ser discutidas criticamente. Algumas passagens que hoje em dia ferem muito mais os ouvidos da sociedade brasileira do que feriam alguns anos atrás. Isso tem que ser contextualizado”, concordou Theodoro.

O advogado Humberto Adami, do Iara, também defende a contextualização e alerta para riscos de preconceitos. “Não se pode permitir que essas expressões racistas de outro momento entrem impunemente e reproduzam ou reinventem o racismo em sala de aula. Depois não adianta fazer campanha contra bullying na escola.”

Edição: Lílian Beraldo

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

ORIRERÊ – CABEÇAS ILUMINADAS 2012

O Centro Cultural Humaitá promove premiação Orirerê - Cabeças Iluminadas 2012

Daniel Dias exemplo de superação

"Daniel é um jovem especial, não por ser deficiente, mas por ser ele mesmo, e por ser como é."mãe de Daniel


Era um sábado como tantos outros se não fosse por um pequeno sangramento, onde começa uma história. A história de um menino que nasceu com trinta e sete semanas (37) de gravidez, pesando 1,970 kg e com quarenta e um (41) centímetros.

Daniel nasceu no dia 24 de maio de 1988 às 3:30 da madrugada, na cidade de Campinas.
Quando Daniel nasceu, chorei muito sem saber o porquê. Mais tarde fui comunicada que meu filho era um garoto e que não tinha os pés e nem as mãos. Chorei muito e pedi forças a Deus. Quando pude me levantar e ir ao seu encontro, aqueles corredores da Santa Casa pareciam não ter fim. Ao me encontrar frente ao meu filho e passar a mão em sua pele e falar que era a mamãe, ele me sorriu. Jamais esquecerei aquele momento de tão grande emoção. Daniel ficou uma semana na incubadora, voltamos para nossa cidade de Camanducaia. O tempo foi passando. Comentários surgiram, mas fomos vivendo nossa vida.

Daniel fez um aninho, era uma alegria poder vê-lo evoluindo a cada dia. Em janeiro de 1991, na AACD – em São Paulo, recebi a notícia de que ele teria que passar por uma cirurgia para poder usar prótese. Em março do mesmo ano Daniel foi operado em Campinas no Hospital Vera Cruz. Foi um dos momentos mais difíceis pelos quais meu marido e eu passamos, nem gostamos de lembrar, pela dor e trauma que isso causou em meu pequenino filho. Daniel se recuperou e com 3 anos começou a usar uma prótese. Nos primeiros meses foi muito difícil. Ele tinha que ir constantemente a AACD em São Paulo para poder a acostumar a usar a prótese e é como se tivesse de aprender a andar. Foi difícil, como já disse, mas ele venceu e começou a andar. Foram momentos de lágrimas e vitórias.

Os anos foram passando. Daniel fez a pré-escola e o ensino fundamental. Nesse período começou a aprender a tocar bateria. Terminou o 3º colegial e pretende fazer faculdade de Engenharia Mecatrônica. No momento está fazendo Educação Física na USF (Universidade São Francisco). É também uma benção na Igreja, sendo o baterista da Banda.

Daniel é um jovem especial, não por ser deficiente, mas por ser ele mesmo, e por ser como é.
Daniel! Você é nosso orgulho e nossa escola diária, pois com você filho, aprendemos cada dia mais.
Deus nos deu a oportunidade de te criar e te formar, e hoje agradecemos a Deus a oportunidade que nos dá de vivermos com você e de estarmos a seu lado, e acima de tudo saber que você é de Deus e que você tem caráter e luta por seus sonhos.

Daniel não tem complexos, vê a vida sempre bela, ama viver e diz que tudo é capaz, basta acreditar nos seus sonhos.
Daniel! Hoje você está com 19 anos, e nós, seus pais aprendemos com você de que a vida é para ser vivida, um dia de cada vez, sem nos preocuparmos com o amanhã, e a noite é para repousar, que o amanhã será um novo dia, um novo despertar, uma nova etapa.

Daniel! Nós te amamos muito, muito, mas muito mesmo.
Parabéns e que Deus continue te abençoando cada vez mais.
Agradecemos a Deus por colocar você em nossas vidas, você é especial, é uma obra prima que ele planejou.
Em nossa vida temos muito que agradecer, primeiramente a Deus, pois colocou você em nossas vidas, e também a várias pessoas que foram colocadas em nosso caminho que nos ajudaram e nos deram forças – nossos pais, irmãos, amigos e irmãos da Igreja.

Daniel! Você é uma obra única e especial. Sua vida é preciosa para o Senhor, que o criou.
2008
Seus pais.
fonte:www.danieldias.esp.br
Daniel Dias - Paraolímpiadas 2008
Daniel terminou sua participação nas paraolimpíadas 2012 com oito ouros (um no revezamento), uma prata (um revezamento) e cinco recordes mundiais
Mais sorridente do que o normal, Daniel bateu o recorde do 100m livre, com 1m10s24, cumpriu seus objetivos e resumiu de forma simples a participação dele e do Brasil nas paraolimpíadas
“A competição foi muito boa para mim e para o Brasil, que continua mostrando evolução. Conquistas como as minhas e do Andre mostram que nada é impossível”, disse.

domingo, 9 de setembro de 2012

Até logo Roberto Silva, o "príncipe do samba"

fonte: folhauol

O sambista Roberto Silva, conhecido como "príncipe do samba", morreu na madrugada deste domingo (9), no Rio, aos 92 anos.
O cantor e compositor lutava há seis meses contra um câncer de próstata e foi internado na última quarta-feira (5), após sofrer um AVC. Silva morreu de falência múltipla dos órgãos.
Foram quase 75 anos dedicados à música. Seus maiores sucessos são "Mandei Fazer um Patuá" e "Meu Sonho É Você".
Pedro Carrilho - 1.abr.10/Folhapress
O cantor Roberto Silva na Pedra do Sal, Saúde, no centro do Rio
O cantor Roberto Silva na Pedra do Sal, berço do samba, no centro do Rio
O sambista trabalhou na Rádio Nacional e na Tupi, onde ganhou o apelido com que ficaria conhecido por toda a vida.
Roberto, que completou 92 anos em abril, deixa sete filhos e 30 netos, bistetos e tataranetos.
O enterro acontece hoje, às 15h40, no Cemitério de Inhaúma, no Rio.

O Homem Medíocre - A Mediocracia


Capítulo VII – A MEDIOCRACIA – O Homem Medíocre – José Ingenieros

O Homem Medíocre (1913)

José Ingenieros (1877-1925)

Capítulo VII – A MEDIOCRACIA

I. O clima da mediocracia. — II. a pátria. — III. a política das piaras. — IV. os arquetipos da mediocracia.— V. a aristocracia do mérito.
I — O clima da mediocridade

Em raros momentos, a paixão caldeia a história, e se exaltam os idealismos; quando as nações se constituem, e quando elas se renovam. Antes, é secreta ânsia de liberdade, luta pela independência; mais tarde, crise de consolidação institucional a seguir e, depois, veemência de expansão, ou pujança de energias. Os gênios pronunciam palavras definitivas; os estadistas plasmam os seus planos visionários; os heróis põem o seu coração na balança do destino.

É, porém, fatal que os povos tenham longas inter-cadências de cevadura. A história não conhece um único caso em que altos ideais trabalhem com ritmo contínuo, para a evolução de uma raça. Há horas de palingenesia, e as há tembém de apatia , como há vigílias e sonhos, dias e noites, primaveras e outonas, em cujo altenar-se infinito está dividida a continuidade do tempo.

Em certos períodos, a nação adormece dentro do pais. O organismo vegeta; o espírito se amodorra. Os apetites acossam os ideais, tornando-os dominadores e agressivos. Não há astros no horizonte, nem auriflamas nos campanários. Não se percebe clamor algum do povo; não ressoa o éco de grandes vozes animadoras. Todos os apinham em torno dos mantos oficiais, para conseguir, alguma migalha da merenda. É o clima da mediocridade.

Os Estados tornam-se mediocracias que os filósofos inexpressivos prefeririam denominar "mesocracias".

O culto da verdade entra na penumbra, bem como o afã de admiração, a fé em crenças firmes, a exaltação de ideais, o desinteresse, a abnegação — tudo o que está no caminho da virtude e da dignidade.

Todos os espíritos se temperam pelo mesmo diapasão utilitário. Fala-se por meio de rifões, como Panzo discorria; crê-se como Gil Blas ensinou. Tudo o que è vulgar, encontra fervorosos adeptos, entre os que representam os interesses militares; os seus mais altos porta-vozes são escravos do seu clima. São atores aos quais foi proibido improvisar: de outra forma, romperiam o molde a que se ajustam as outras peças do mosaico.

Platão, sem querer, dizendo da democracia: "é o pior dos bons governos, mas é o melhor entre os maus", definiu a mediocracia. Transcorram séculos; a sentença conserva a sua verdade.

Na primeira década do século XX, acentuou-se a decadência moral das classes governantes. Em cada comarca, uma facção de parasitas detém as engrenagens do mecanismo oficial, excluindo do seu seio todos quantos recusam altivamente a própria cumplicidade em seus empreendimentos. Aqui são castas adventícias, ali sindicatos industriais, acolá facções de palavreiros. São gave-las, e se intitulam partidos. Intentam disfarçar com os ideais o seu monopólio do Estado. São bandoleiros que procuram a encruzilhada mais impune, para espoliar a sociedade.

Em todos os tempos e sob todos os regimes, houve políticos sem vergonha; mas estes nunca encontram melhor clima, do que nas burguezias ideais. Onde todos podem falar, os ilustrados se calam; os enriquecidos preferem ouvir os mais vis imbuidores.

Quando o ignorante se julga igualado ao estudioso, o velhaco ao apóstolo, o falador ao eloqüente e o mau ao digno, a escala do mérito desaparece numa vergonhosa nivelação de vilania. A mediocridade é isso: os que nada sabem, julgam dizer o que pensam, embora cada um só consiga repetir dogmas, ou auspiciar voracidades.

Essa chatice moral é mais grave do que a aclimação a uma tirania; ninguém pode voar onde todos rastejam. Convenciona-se denominar urbanidade à hipocrisia, distinção à efeminação, cultura à timidez, tolerância à cumplicidade; a mentira proporciona estas denominações equívocas. E os que assim mentem, são inimigos de si próprios e da pátria, deshonrando, nela, seus pais e seus filhos, e carcomendo a dignidade comum.

Nesses parênteses de cevadura, as mediocracias se aventuram por sendas ignóbeis. A obsessão de acumular tesouros materiais, ou o torpe afã de desfrutá-los com folgança, apaga do espírito coletivo todo vestígio do sonho. Os países deixam de ser pátria. Qualquer ideal parece suspeito. Os filósofos, os sabios e os artistas são demais; o peso da atmosiera estorva as suas azas e deixam de voar. A sua presença mortifica os traficantes, todos os que trabalham por lucro, os escravos da economia ou da avareza. As coisas do espírito são desprezadas; não sendo propício o clima, seus cultores sao poucos, nao dentro do país, que mata, a fogo lento, os seus ideais, sem precisar desterrá-los. Cada homem fica preso entre mil sombras que o rodeiam, e o paralisam.

Sempre há medíocres; estes são perenes. O que varia, é o seu prestígio e a sua influência. Nas épocas de exaltação renovadora, eles se mostram humildes, são tolerados; ninguém os nota, não ousam meter-se em coisa alguma. Quando se enfraquecem os ideais, e se substitue o quantitativo peio quantitativo, começa-se a contar com eles. Apercebem então, o seu numero, reúnem-se em grupos, arrebanham-se em partidos. A sua infiuéncia cresce, à medida que o clima se tempera; e o sábio é igualado ao analfabeto, o rebelde ao lacaio, o poeta ao presu-mista. A mediocridade se condensa, converte-se em sistema, torna-se incontrastável.

Enaltecem-se os ganhões, pois que não florescem os gênios; as criações e as proiecias sao impossíveis, se náo estão na alma da época.

A aspiração ao melhor náo é privilégio de todas as gerações. Depois de uma que realizou um grande estorço, arrastaua e comovida por um gênio, a seguinte descansa, e se dedica a viver de glorias passadas, comemo rando-as sem fé; as facções disputam as rédeas administrativas, competindo no manuseio de todos os sonhos. À mingua ciestes é disfarçada com um excesso de pompas e ae palavras; cala-se qualquer protesto, oferecendo participação nos festins; prociamam-se as melhores intenções, e se praticam baixezas abomináveis; mente a arte; mente a justiça; mente o caráter. Tudo mente, com a aquiescência de todos; cada homem põe preço à sua cumplicidade — um preço razoável, que oscila entre um emprego e uma condenação.

Os que governam, não criam tal estado de coisas e de espírito; representam-no. Quando as nações dão em baixios, alguma facção se apodera da engrenagem constituída ou reformada por homens geniais. Florescem legisladores, pululam arquivistas, os funcionários são contados por legiões; as leis se multiplicam, sem, entretanto, ser reforçada a sua eficácia. t

As ciências convertem-se em mecanismos oficiais, em institutos e academias, de onde jamais brota o gênio, e onde até se impede que o talento brilhe; sua presença humilharia, com a força do contraste. As artes tornam-se indústrias patrocinadas pelo Estado, reacionário em seus gostos e adverso a toda previsão de novos ritmos ou de novas formas; a imaginação de artistas e poetas parece que se aguça, para descobrir as gretas do orçamento, e se infiltrar por elas.

Em tais épocas, os astros não surgem. Fazem greve; a sociedade nao necessita deles; basta-lhes a sua coorte de funcionários.

O nível dos governantes desce, até marcar zero; a mediocracia é uma confabulação de zeros contra unidades.

Cem políticos torpes, juntos, não valem um estadista genial.

Somai dez zeros, cem, mil, todos os zeros da matemática, e não tereis quantidade alguma, nem siquer negativa.

Os políticos sem ideal marcam o zero absoluto, nos termômetros da historia, conservando-se limpos da in fâmia e da virtude, equivalentes de Néro e de Marco Aurelio.

Uma apatia conservadora caracteriza esses períodos; enfraquece-se a ansiedade das coisas elevadas, prosperando, ao contrario, o ara de suntuosos jormalismos. Us governantes que não pensam, parecem prudentes; os que nada fazem, intitulam-se repousados; os que não roubam são exemplares. O conceito do mento se torna negativo; as sombras são preferíveis aos homens. Procura-se o originalmente medíocre, ou o mediocrizado peia senilidade. Em vez de heróis, gênios ou santos, reclama-se discre tos administradores. Mas o estadista, o filósofo, o poeta, os que realizam, pregam e cantam alguma parte de um ideal, estão ausentes, Nada tem a lazer.

A tirania do clima é absoluta: nivelar-se ou sucumbir. A regra conhece poucas exceções na história. As mediocracias negaram sempre as virtudes, as belezas, as grandezas; deram veneno a Sócrates; o madeiro a Cristo; o punhal a Cesar; o destêrro a Dante; o cárcere a Galileo; o fogo a Bruno; e, enquanto escarneciam desses homens exemplares, esmagando-os com a sua sanha ou armando contra eles algum braço enlouquecido, ofereciam o seu servilismo a governantes imbecis ou davam o seu ombro para sustentar as mais torpes tiranias. A um preço: que estas garantissem, às classes fartas, a tranqüilidade necessária para usufruir seus privilégios.

Nessas épocas de lenocínio, a autoridade é fácil de ser exercida: as cortes se poviam de servis, de retóricos que palavreiam pane lucrando, de aspirantes a algum "pa chalato", de polichinelos em cujas consciências está sempre arvorado o lábaro ignominioso.

As mediocracias são escoradas pelos apetites dos que esperam nelas viver, e no medo dos que temem perder a pitança.

A indignidade civil é lei, nesses climas. Todo homem declina de sua personalidade, ao converter-se em funcionário: a cadeia não é visível no seu pé, como nos dos escravos, mas êle a arasta, ocultamente, amarrada ao seu intestino. Cidadãos de uma pátria, são os incapazes de viver pelo seu esforço, sem a cevadura oficial. Quando tudo é sacrificado a esta, sobrepondo-se os apetites às aspirações, o sentido moral se degrada, e a decadência se aproxima. Inutilmente se buscam remédios na glorificação do passado. Dessa fadiga, os povos não despertam louvando o que foi, sinão, semeado o porvir.
II — A pátria

Os países são expressões geográficas, e os Estados* são formas de equilíbrio político. Uma pátria é muito mais do que isso, e é outra coisa: sincronismo de espíritos e de corações, têmpera uniforme para o esforço, e homogênea disposição para o sacrificio, simultaneamente na aspiração à grandeza, no pudor da humilhação e no desejo da gloria. Quando falta esta comunhão de espe ranças, não há, nem pode haver pátria: é preciso que haja sonhos comuns, anelos coletivos de grandes coisas é preciso que todos se tintam decididos a realizá-las, com a seguridade de que, ao carcharem juntos, em busca de um ideal, nenhum ficará na metade do caminho, contando as suas taleigas.

A pátria está implícita na solidariedade sentimental de uma raça, e não na confabulação dos politiqueiros que medram à sua sombra.

Não basta acumular riquesa para criar uma pátria: Cartago não o foi. Era uma empresa.

As minas áureas, as indústrias fabris e as chuvas generosas fazem de qualquer país um rico empório; mas é preciso que se formem ideais de cultura, para que nele haja uma pátria. Rebaixa-se o valor deste conceito, quando é aplicado a países que carecem de unidade moral, mais parecidos com feitorias de logreiros autóctonos ou exóticos, do que a legiões de sonhadores, cujo ideal seja um arco teso na direção de um objetivo de dignificação comum.

A pátria tem intermitencias; sua unidade moral desaparece em certas épocas de rebaixamento, quando se eclipsa todo afã de cultura, e passam a predominar os vis apetites de mando e de enriquecimento. O remédio contra essa crise de chatice não está no fetichismo do passado, sinão, na semeadura do porvir concorrendo para criar um novo ambiente moral propício a todo enaltecimento da virtude, do engenho e do caráter.

Quando não há pátria, não pode haver sentimento coletivo da nacionalidade — inconfundível com a mente patriótica explorada em todos os países pelos mercadores e pelos militaristas. Só é possível na medida marcada pelo ritmo unísono dos corações para um nobre aperfeiçoamento, e nunca, para uma ignóbil agressividade que fira o sentimento próprio das outras nacionalidades.

Não há maneira mais baixa de amar a pátria, além dessa que ensina a odiar as pátrias dos outros homens, como se todas não fossem igualmente dignas de engendrar, em seus filhos, iguais sentimentos.

O patriotismo deve ser emulação coletiva, para que a própria nação ascenda as virtudes de que outras melhores dão o exemplo; nunca deve ser inveja coletiva que faça sofrçr em conseqüência da superioridade alheia, e que conduza a desejar o baixamento dos outros, até o próprio nível.

Cada pátria é um elemento da Humanidade; o anhelo da dignificação nacional deve ser um aspecto da nossa fé na dignificação humana.

Ascenda cada raça ao seu nível mais alto, como pátria, e, por esforço de todos, remontar-se-á ao nível da espécie, como Humanidade.

Enquanto um país não é pátria, seus habitantes não constituem uma nação. O zelo da nacionalidade só existe nos que se sentem agrupados para conseguir um mesmo ideal. Por isso é mais profundo e pujante nas mentes conspícuas; as nações mais homogêneas são as que possuem homens capazes de o sentir e de o servir. A exígua capacidade de ideais impede os espíritos espessos de verem, num patriotismo, um alto ideal; os trânsfugas da moral, alheios à capacidade em que vivem, não o podem conceber; os escravos e os servis têm, apenas, um país natal.

Só o homem digno e livre pode ter uma pátria.

Pode tê-la; não a tem sempre, pois há tempos em que ela só existe na imaginação de poucos: um, dez, talvez uma centena de eleitos.

Ela está, então, nesse ponto ideal para onde converge a aspiração dos melhores, de todos quantos se sentem, sem medrar de ofício, escarranchados sobre a política. Nessas poucos está a nacionalidade, que come e aufere lucros no país, então alheios ao seu afã.

O sentimento enaltecedor nasce em muitos sonhadores jovens, mas permanece rudimentar, ou se distrai na apetência comum; em poucos eleitos chega a ser dominante, antepondo-se às pequenas tentações de piara ou confraria.

Quando os interesses venais se sobrepõem ao ideal dos espíritos cultos, oue constituem a alma de uma nação, o sentimento nacional degenera e se corrompe: a pátria é explorada como uma indústria. Quando se vive fartando grosseiros apetites, e ninguém pensa que, no canto de um poeta ou na reflexão de um filósofo, pode estar uma partícula da glória comum, a nação se abisma. Os cidadãos volvem à condição de habitantes. A pátria regressa à condição de país.

Isto acontece periodicamente, como se a nação necessitasse pestanejar, ao olhar para o porvir. Tudo se torce, e se abaixa, desaparecendo a molície individual na comum: dir-se-ia que, na culpa coletiva, se desfaz a responsabilidade de cada um. Quando o conjunto se dobra, como a quilha de um navio, parece, por efeito de relatividade, que nenhuma coisa se dobra. Só aquele que se levanta, e olha para os que navegam, sob outro prisma, adverte o descenso, como se, em face deles, fosse um ponto imóvel: um farol na costa.

Quando as misérias morais assolam um país, a cul-pa é de todos os que, por falta de cultura e de ideal, não souberam amá-lo como pátria: de todos os que viveram dela, sem trabalhar para ela.
III — A política das piaras

A degeneração do sistema parlamentar é, em nossa época, a causa profunda dessa contaminação: todas as formas de parlamentarismo de pacotilha. Antes, presumia-se que, para governar, se requeria certa ciência e a arte de aplicá-la; agora, concordou-se em que Gil Blas, Tartufo e Sancho são os árbitros inapeláveis dessa ciência e dessa arte.

A política se degrada, converte-se em profissão. Nos povos sem ideais, os espíritos subalternos medram em torpes intrigas de antecâmara. Na maré baixa, aparece o desprezível, e se engendram os traficantes. Toda excelência desaparece, eclipsada pela domesticidade. Instaura-se uma moral hostil à firmeza e propícia à relaxação. O governo passa às mãos de gentalha que abocanha o orçamento. Abaixam-se os adarves, e se levantam os muladares. Os loureirais se secam, e os cardais se multiplicam. Os palacianos se encontram com os malandrins. Os funâmbulos e os saltimbancos progridem. Onde todos lucram, ninguém pensa; ninguém sonha onde todos tragam. O que antes era signo de infâmia ou cobardia, torna-se título de astúcia; o que outrora matava, agora, vivifica, como se houvesse uma aclimação ao ridículo; as sombras envilecidas se levantam, e parecem homens; a improbilidade se pavoneia, e se ostenta, ao invés de ter vergonha e pudor. O que, nas pátrias, se cobria de opróbrio, se cobre, nos países, de honrarias.

As jornadas eleitorais se convertem em grosseiras negociatas de mercenários, ou em pugilatos de aventureiros. A sua justificação está a cargo de inocentes eleitores, que vão à paróquia, como a uma festa.

As pacções de profissionais são adversas a todas as originalidades. Homens ilustres podem ser vítimas do voto; os partidos adonam as suas listas com nomes respeitados, sentindo a necessidade de se parapeitarem atrás do brazão intelectual de alguns seletos.

Cada piara forma um estado-maior próprio, que desculpe a sua pretensão de governar o país, encobrindo ousadas piratarias, com o pretexto de sustentar interesses de partidos. As exceções não são toleradas em homenagem às virtudes; as piaras não admiram nenhuma superioridade: exploram o prestígio do pavilhão, para dar passagem às suas mercadorias de contrabando; descontam no banco do êxito, mercê da firma prestigiosa. Para cada homem de mérito, há dez dezenas de sombras insignificantes.

Aparte essas exceções, que existem em todas as partes, a massa de eleitos do povo é subalterna chusma de vaidosos, choldraboldra de desonestos e servis.

Os primeiros esbanjam a sua fortuna, para subir ao Parlamento. Ricos pronrietários de terras, ou poderosos industriais pagam, a peso de ouro, os votos adventícios por agentes imoulicos; pequenos senhores adventícios abrem as suas alcanzias, para comprar o único diploma acessível à sua mentalidade amorfa; asnos enriquecidos aspiram a ser tutores de povos, sem mais capital, do que a sua constância e seus milhões. Precisam ser alguém; c julgam conseguir isso, com a incorporação às piaras.

Os desonestos são legião; assaltam o Parlamento, para se entregaram a especulações lucrativas. Vendem o seu voto a empresas que mordem as arcas do Estado; prestigiam proietos de grandes negócios com o erário, cobrando os seus discursos a tanto por minuto; pagam OS seus eleitores com empregos e dádivas oficiais; fazem comércio da sua influência para obter concessões a favor da sua clientela. Sua gestão política sói ser tranqüila; um homem de negócios está sempre com a maioria. Apóia todos os governos.

Os servis saqueiam por meio dos congressos, em virtude de flexibilidade das suas espinhas. Lacaios de um grande homem, ou instrumentos cegos da sua piara, não ousam discutir a chefatura de um, ou as recomendações da outra. Não se lhes pede talento, eloqüência, probidade: basta a certeza do seu panurgismo. Vivem de luz alheia, satélites sem calor e sem pensamento, unidos ao carro do seu cacique, sempre dispostos a bater palmas quando êle fala, e a se porem de pé, na hora da sua votação.

Em certas democracias noviças, que parecem chamar-se repúblicas, por troça, os congressos se apinham de mansos protegidos das oligarquias dominantes. Medram piaras submissas, servis, incondicionais, efeminadas: as maiorias contemplam o porqueiro, esperando uma piscadela ou um sinal. Se alguém se aparta, está perdido; os que se rebelam, estão proscritos, sem apelação.

Há casos isolados de engenho e de caráter, sonhadores de algum apostolado, ou representantes de anelos indomáveis; se o tempo não os domestica, eles servem ou outros, justificando-os com a sua presença, aquilatando-os.

É ilusão pensar que o mérito abre as portas dos parlamentos envilecidos. Os partidos — ou o governo em seu nome — operam uma seleção entre os seus membros a expensas do mérito, ou a favor da intriga. Um soberano quantitativo e sem ideais prefere candidatos que tenham a sua própria compleição moral: por simpatia e por conveniência.

As mais abstrusas fórmulas da química orgânica parecem balbúcios infantis, em face das reviravoltas do parlamento medíocre. O desprezo dos homens probos nunca o amedronta. Confia em que o baixo nível do representante é aprovado pela insensatez do representado. Por essa razão, certos homens imprestáveis se adaptam maravilhosamente aos desiderata do sufrágio universal; a grei se prosterna diante dos feitiços mais ocos, e os recheia com a sua alambicada tolice.

Esse afã de viver, a expensas do Estado, rebaixa a dignidade. Cada eleitor que cruza as suas ruas, às pressas, preocupado, a pé, em automóvel, com uma simples blusa, enluvado, jovem, maduro, a qualquer hora está se domesticando, está se envilecendo: procura uma recomendação, ou a leva em sua algibeira.

Nas modernas burocracias, o funcionário cresce. Outrora, quando era necessário delegar parte de suas funções, os monarcas elegiam homens de mérito, experiência e fidelidade. Quasi todos pertenciam à casta feudal; os grandes cargos os vinculavam à causa do senhor. Junto a ela, formavam-se pequenas burocracias locais. Aumentando as instituições de governo, o funcionalismo cresceu, chegando a formar uma classe, um ramo novo das oligarquias dominantes. Para impedir que fosse altiva, regulamentaram-na, roubando-lhe toda iniciativa e afogando-a na rotina.

Ao seu afã desmando se opôs uma submissão exagerada. A pequena burocracia não varia: a grande, que é a sua chave, muda com a piara que governa. Com o sistema parlamentar, ela se escravisou pela partida dupla: do executivo e do legislativo. O jogo das influências bilaterais converge em apoucar a dignidade dos funcionários.

O mérito fica excluído em absoluto: basta a influência. Com ela se ascende por caminhos equívocos. A característica do sáfio é fulgar-se apto para tudo, como se a boa intenção salvasse a incompetência.

Flaubert contou, em páginas eternas, a história dos medíocres que ensaiam o insaciável: Buvard e Pécuchel. Não fazem bem coisa alguma, mas a nada renunciam.

Povoam as mediocracias; são funcionários de qualquer função, julgando-se órgãos valiosos para as mais contraditórias fisiologias.

O servilismo e a adulação são as conseqüências imediatas do funcionalismo. Existem desde que houve poderosos e favoritos.

O primeiro se observa, sob cem formas, implícito na desigualdade humana; onde houve homens diferentes, alguns foram dignos, e outros domesticados.

O excessivo comedimento e a afetarão de agradar ao amo, engendram essas carcomas do caráter.

Não são delitos em face das leis, nem vícios diante da moral de certas épocas: são compatíveis com a "honestidade". Mas não com a "virtude". Nunca.

A sensibilidade para os elogios é legítima em suas origens. Eles são u’a medida indireta do mérito: fundam-se na estima, no reconhecimento, na amizade, na simpatia ou no amor.

O elogio sincero e desinteressado não rebaixa a quem o outorga, nem ofende a quem o recebe, mesmo quando é injusto; pode ser um erro, não uma indignidade.

A adulação é semore uma indignidade: é desleal e interessada. O desejo da privança induz a agradar aos poderosos; a conduta do adulador tem isso por alvo, e o seu ânimo servil tudo sacrifica para obter tal coisa. A sua inteligência somente se aguça para farejar o desejo do amo. Subordina seus gestos aos de seu dono. pensando e sentindo como êle manda: sua personalidade não estará abolida, mas pouco falta. Pertence à raca dos "cobardes felizes", como Leconte de Lisle denominou.

A adulação é uma injustiça. Engana. O adulador é sempre desprezível, mesmo quando procede por uma espécie de benevolência banal, ou pelo desejo de agradar a qualquer preço.

Racine, na "Phedra", julgou-o um castigo divino:


Detestable flatteurs, prósent le plus funeste
Que piasse faire aux róis la colére celeste

Não se adulam somente os reis e os poderosos; adula-se também o povo. Há miseráveis afãs de popularidade, mais degredantes do que o servilismo. Para obter o lavor quantitativo das turbas, pode-se mentir, praticando baixos elogios disiarçados em ideal: mais cobardes, porque se dirigem as plebes que não sabem descobrir o embuste. Encomiar os ignorantes, e merecer os seus aplausos, íalando-lhes incessantemente de direitos, e jamais dos seus deveres, é a última renúncia da própria dignidade.

Nos climas medíocres, enquanto as massas seguem os charlatães, os governantes prestam ouvidos aos aduladores. Os vaidosos vivem fascinados pela sereia que arrulha sem cessar, acariciando a sua sombra; perdem lodo critério para julgar seus próprios atos, bem como os alheios; a intriga os prende; a adulação dos servis os arrasta a cometer ignominias: como essas mulheres que alardeiam a sua lormosura, e acabam por entrega-la àqueles que a corrompem com elogios desmedidos.

O verdadeiro mérito sente-se desconcertado diante da adulação: tem seu orgulho e o seu pudor, como a castidade. Os grandes homens dizem de si, naturalmente, coisas elogiosas que, ditas por lábios alheios, os fariam corar; as sombras gozam, ouvindo os louvores que temem não merecer.

As mediocracias fomentam esse vício de servos. Todo aquele que pensa com a própria cabeça, ou tem um co-ração altivo, apartar-se do tremedal onde os envilecidos prosperam.

"O homem excelente — escreveu La Bruyère — não pode adular; julga que a sua presença importuna nas cortes, como se a sua virtude ou o seu talento fossem uma exprobação aso que a governam".

E, do seu afastamento, os que empalidecem diante dos seus méritos, aproveitam, como se existisse uma perfeita compensação entre a inaptidão e a posição que ocupam, entre as domesticidades e as avançadas.

De tempos a tempos, algum dentre os melhores se ergue sobre todos, e diz a verdade, como sabe e como pode, para que ela não seja extinta, nem se subverta, transmitindo-a ao porvir. E a virtude cívica: o ignóbil é qualiiicado com justeza; a força de velar os nomes, acabaria por perder-se, nos espíritos, a noção das coisas indignas. Os tartufos, inimigos de toda luz astral e de toda palavra sonora, persignam-se diante do herético que devolve os nomes às coisas respectivas. Se dependesse deles, a sociedade se transformaria em uma caverna de mudos, cujo silêncio não seria interrompido por nenhum clamor veemente, e cuja sombra não seria rasgada pelo resplendor de astro algum.

Todo idealista leu, com lírica emoção, as três histórias admiráveis que Vigny contou em seu Stello imperecível. Ter um ideal é crime que as mediocracias não perdoam. Morre Gilbert; morre Catterton; morre André Chenier. Os três são assassinados pelos governos, com armas diferentes, de acordo com o regime. O idealista é imolado nos impérios absolutos, da mesma forma como acontece nas monarquias constitucionais e nas repúblicas burguesas.

Quem vive para um ideal, não pode servir nenhuma mediocracia. Nesta conspira tudo para que o pensador, o filósofo e o artista se desviem do seu caminho; e ái deles, quando se apartam da sua rota; perdem-na para sempre. Temem, por isso, a politiquice, sabendo que ela é o Walhalla dos medíocres. Podem cair prisioneiros em sua rede.

Entretanto, quando reina outro clima, e o destino os leva ao poder, governam contra os servís e os rotineiros; rompem a monotonia da história. Seus inimigos bem o sabem: nunca um gênio foi enaltecido por uma mediocra-cia. Chega contra ela, a-pesar-de tudo; e a desmantela, quando se prepara um porvir.
IV — Os arquitetos da mediocracia

Os pro-homens da mediocracia estão equidistantes do bárbaro legendário — Tibério ou Facundo — e do gênio transmutador — Marco Aurélio ou Sarmiento.

O gênio cria instituições, e o bárbaro as viola. Os medíocres as respeitam, impotentes para forjar ou destruir. Esquivos à glória e rebeldes à infâmia, são reconhecíveis por uma circunstância inequívoca; seus comparsas não ousam denominá-los gênios, por temor ao ridículo, e seus adversários não os poderiam sentar em bancos de imbecis, sem flagrante injustiça. São perfeitos em seu clima; esguelham-se na história, à mercê de cem cumplicidades, conjugam, em sua pessoa, todos os atributos do ambiente que os repuxa, mesclados por equívocas hierarquias militares, por opacos títulos universitários, ou pela amidoada improvisação de nobiliarquias adventícias e açacalam, no seu espírito, as rotinas e os preconceitos que engelham as crenças da mediocridade dominante. Têm sempre os passos curtos; sua marcha, em momento algum, pode ser comparada ao vôo do condôr, nem à reputação de uma serpente.

Todas as piaras inflam algum exemplar predestinado a possíveis enaltecimentos. Selecionam o prototipo acabado, entre os que compartilham as suas paixões e as suas voracidades, os seus fanatismos ou os seus vícios, as suas prudencias ou as suas hipocrisias. Não são privi légio de tal casta ou de tal partido; sua leviandade sur preendente flutua sobre todos os lamaçais políticos. Pensam com a cabeça de algum rebanho, são irresponsáveis: ontem, de sua vacuidade; hoje, de sua proeminência, amanhã, do seu ocaso. Brinquedos, sempre, de vontades aiheias. Entre êles, as repúblicas elegem os seus presidentes, os tiranos procuram os seus favoritos, os reis, os seus ministros, os parlamentares esc oinem seu gabinete. Sob tooos os regimes: nas monarquias absolutas e nas republicas oligárquicas. Sempre que uesce a temperatura espiritual de uma raça, de um povo ou de uma classe, os obtusos e os senis encontram clima propício.

As mediocracias evitam os píncaros e os abismos. Intranqüilas sob o sol meridiano, e timoratas durante a noite, procuram os seus arquétipos na penumbra. Temem a originalidade e a juventude; adoram os que nunca poderão voar, ou os que já têm as azas cobertas de moio.

Adveniícias mantilhas de medíocres, vinculados pelas correias de apetites comuns, ousam chamar-se partidos. Formulam um credo, fingem um ideal, arreiam fantasmas consulares, e recrutam uma hoste de lacaios, isto basta, para disputar, a toda pessoa limpa, a presa das prebendas governamentais.

Cada grei elabora a sua mentira, erigindo-a a dogma infalível. Os tunantes somam os seus esforços, para enaltecer a hombridade do seu fantasma: chama-se lirismo a sua inaptidão; decoro na sua vaidade; ponderação a sua preguiça; prudência a sua pusilanimidade; fé o seu fanatismo; equanimidade a sua impotência; distração aos seus vícios; liberalidade a sua aragem; razão a seu emurchecer. A hora os favorece: as sombras se alongam à medida que o crepúsculo avança. Em certo momento, a ilusão cega muitos, calando toda dissidência voraz.



A irresponsabilidade coletiva apaga a quota individual do erro: ninguém se enrubece, quando todas as faces podem reclamar a sua parte, na soma de vergonha comum.

Dessas barafundas, emergem uns ou outros arquétipos, embora não sejam sempre os menos imprestáveis.

Vivem durante anos à espreita; escudando-se em rancores políticos, ou em prestígios mundanos, atirando-os como agraço aos olhos dos inexpertos. Enquanto jazem em letargo, por irremessíveis inaptidões, simulam-se proscritos por misteriosos méritos. Clamam contra os abusos do poder, aspirando a cometê-los em benefício próprio. Nos maus tempos, os facciosos continuam ludi-briando-se mutuamente, sem que a resignação ao jejum diminua a magnitude dos seus apetites. Esperam pelo seu turno, mansos, sob o torniquete.

Repetem a máxima de De Mestre:


"Savoir attendre est le grand moyen de parvenir".

A espectativa paciente converge para o enaltecimento dos menos inquietantes. Raras vezes um homem superior os arrebanha com pulso vigoroso, convertendo-os em comparsas a medrar à sua sombra; quando lhes falta esse dominador absoluto, saem da órbita, como asteroides, de um sistema planetário cujo sol se extingue. Todos confabulam, então, em tácitas transações, prestando o seu ombro, aos que podem aguentar mais elogios, em equivalência de méritos ambíguos. O grupo os infla com solidariedade de igrejola; cada cúmplice se converte em um fio da teia de aranha lançada para captar o governo.

Compreende-se a arrevezada seleção das facções oligárquicas, e o pomposo desvanecimento do medíocre que elas consagram. Seus encomiastas, empenhados em purificá-lo de toda mancha pecaminosa, tentam obstruir a verdade, chamando romantismo à sua reiterada incompetência para todos os empreendimentos. Outros denominam orgulho àsua vaidade, e idealismo, à sua acídia; mas o tempo dissipa o equívoco, devolvendo o seu nome a esses dois vícios arracimados em um mesmo tronco: o orgulho é compatível com o idealismo, mas o primeiro é a antítese da vaidade e o segundo é a antítese da acídia.

Repuchados os pro-homens de folha, seus cúmplices acabam de azougá-los como demulcente emplastros. Suas cicatrizes chegam a parecer coquetterie, como as rugas das cortezas. Guiando-os à categoria de árbitros da ordem e da virtude, declaram proscritas as suas velhas pústulas: incondicionalismos para com os regimes mais turvos, paixões fraudulentas de jogador, ridículos infortúnios de "donjuanismo" epigramático.

Os lábios dos aduladores se embeberam naquela água do Lethes, que apaga a memória do passado; não advertem que, depois de patinhar uma vida inteira no vício, todo puritanismo cheira a benzina, como as luvas que passam pelo tintureiro.

Onde medram oligarquias, sob disfarces democráticos, prosperam esses pavões reais empolados, tesos pela vaidade: um garoto travesso os esvaziaria, se os picasse, ao passar, descubrindo o nada absoluto que re-touça em seu interior. Vácuo não significa alígero.

A tolice nunca foi esquadria de santidade. Sem sangue de hienas, que é necessário aos tiranos, também não o têm de águia, próprio dos iluminados; corre, em suas veias, uma linfa doudejante, peculiar da estirpe de pavões, requintada na dos reais, ave simbólica, que reúne, candidamente, a tolice e a fatuidade. São termômetros morais de certas épocas: quando a mediocracia incuba frangos, os filhotes de águia não têm atmosfera propícia.

A resignada passividade explica certos enaltecimen tos: o porvir de alguns arquetipos se estriba em serem eles admirados contra outros. Fogem, para se fazer grandes. Com muitos lustros de andar em confusão, não cancelam as suas culpas; à sua passagem, descobrem-se uma inveterada pusilanimidade que não quer escaramuças com inimigos que os humilharam até sangrar.

Não pode haver virtude sem galhardia; não a demonstra quem se esquiva, com trêmulos afastamentos, à batalah por tantos anos, oferecida à sua dignidade. Esse descoroçoamento não é, por certo, o clássico valor gaúcho dos coronéis americanos; nem se parece ao gesto do leão, encolhido para dar maior impulso ao salto. Eles vagabundeiam com o "dom de espera do batráquio otimista" de que fala Ramos Mejia.

O homem digno pode emudecer-se, quando recebe uma ferida, temendo, porventura, que o seu desdém exceda a ofensa: mas a sua sentença chega com estilo nunca usado para adular nem para pedir, mais ferino do que cem espadas. Cada verbo é uma flexa cujo alcance está na potência de elasticidade do arco; a tensão moral da dignidade. E o tempo não apaga uma sílaba daquilo que assim se diz.

Os arquetipos soem interromper seus humilhados silêncios com inócuas pirotécnicas verbais; de longe em longe, os cúmplices apregoam alguma elocubração misteriosa, bulbuciada ou não, diante de assembléias que, certamente, não a ouviram. Eles não atinam em sustentar a reputação com que os exornam: desertam do parlamento no mesmo dia em que são eleitos, como se temessem ser descobertos, comprometendo os empresários da sua fama.

Completa-se a inflação destes aeróstatos, confiando-lhes subalternas diplomacias de festival, em cuja apara-tosidade suntuosa pavoneiam as suas ocas vaidades. Seus cúmplices advinham neles algum talento diplomático ou perspicacias internacionalistas, até complicá-los em lustrosas conezias, onde se apagam em tíbias penumbras junto ao resplendor dos seus colaboradores mais contíguos.

Nunca desalentadas, as oligarquias continuam mimando esses produtos espúrios, com a esperança de que acertarão um golpe no cravo, depois de dar cem na ferradura. Ungidos emissários junto a uma nação irmã, a sua casuística de sacristia envenena profundos afetos, como se, por parte de encantamento, germinassem cizânias inextinguíveis nos corações dos povos.

Arquivistas e papelistas se confabulam para ocultar o fervor dos ingênuos e captar a confiança dos rotineiros. Plutarquinhos, gozando de boa renda, transformam em mel o seu áloe, requintado em elogios os seus vinagres mais crônicos, como si hipotecassem o seu engenho, descontando prebendas futuras. Enchem, com inúteis artigos encomiásticos, a vacuidade do tolo, sem pensar na insuficiência da tramóia. O pavão não parece águia, como a mula não parece corcel; são reconhecidos ao passar, quando mostram a sua crista erétil, ou quando fazem ouvir o estalar da sua ferradura.

Sua gravitação negativa seduz os caracteres domesticados: não pensam, não roubam, não oprimem, não sonham, não assassinam, não faltam à missa — que mais?

Quando as facções forjam o Fénix, enaltecem-n’o, como um símbolo perfeito. Possuem cosmético para as suas fisionomias enrugadas: a grandíloqua rancidez dos programas, em cujo fim buscaríamos, imediatamente, a firma de Bertholdo, se os vastos delíquios não traduzissem as prudentes reticências de Tartufo. É preferível que estejam coalhadas de vulgaridades e escritos em péssimo estilo; agradam mais à clientela. Um programa abstrato é perfeito: parece idealista e não lastima as idéias que cada cúmplice julga possuir. De cada cem, noventa e nove mentem da mesma forma: a grandeza do país, os sagrados princípios democráticos, os interesses do

povo, os direitos do cidadão, a moralidade administrativa. Tudo isto, se não é falta de vergonha consuetudinária, é de uma tolice enternecedora; simula dizer muito e não significa coisa alguma. O medo das idéias concretas oculta-se sob o antiface das vaguezas cívicas.

Não se envergonham de escalar o poder, indo escarranchados sobre ignomínias. Obtemperam a toda vilania, para oue convenham com o seu objetivo: quando falam de civismo, o seu alento empresta o pântano originário. Sua moral encobre o vício, pelo simples fato de desfrutar. Impelidos por caminhos tortuosos, continuam semeando nos mesmos sulcos. Para anroveitar os indignos, tiveram que se humilhar diante deles, mansamente; as honrarias que não são conquistadas, são pagas com rebaixamentos.

"Não pode ser virtuoso aquele que foi engendrado em um ventre impuro" — dizem as Escrituras; os que sobem fechando os olhos e emaranhando-se em artimanhas de estercorários, sofrendo as apalpadelas dos grosseiros, mentindo a si próprios, para fartar os apetites de toda uma vida, não podem redimir-se do pecado original, muito embora, como Faustos insubordinados, pretendam escapar ao malefício dos seus Mefistófoles.

O povo ignora-os: está separado deles pelo zelo das facções. Para se prevenirem contra os achaques indiscretos, retiram-se da circulação: como se. de perto, não resistissem à revista dos curiosos. Mantêm-se alheios a todos os estremecimentos de raça. Em certas horas, as turba podem ser seus cúmplices: o povo nunca. Não o consente, porque não existe, substituído por certos que medram.

Depositários da alma das nações, os Povos são entidades espirituais inconfundíveis com os partidos. Não basta ser multidão, para ser povo; não o seria a unanimidade dos servis.

O povo encarna a própria consciência dos destinos futuros de uma nação ou de uma raça. Aparece nos países que um ideal converte em nações, e reside na convergencia moral daqueles que sentem a pátria mais alta do que as oligarquias e do que as seitas. O povo — antítese de todos os partidos — não se conta por números. Está onde um só homem não se complica no acanalhamento comum: em face das hostes domesticadas ou fanáticas, esse único homem livre, êle só, é tudo: Povo, Nação, Raça e Humanidade.

Os arouetipos da mediocracia passam pela história com a pomna superficial de fugitivas sombras chinesas. Jamais chega aos seus ouvidos um insulto, ou um louvor; nunca se lhes diz "heróis" ou "tiranos"; na fantasia ponular, despertam um éco uniforme, oue em todas as partes se repete: "o pavão!", numa síntese mais definitiva do aue uma lápide. O seu trinomio psicológico é simples: vaidade, impotência e favoritismo.

Vivem de exclamações exageradas que só dizem respeitado às formas. A austera sobriedade do gesto é atributo dos homens: a suntuosidade das aparências é galardão das sombras. Depois de incubar suas ânsias, trêmulos de humildade diante dos seus cúmplices, enublam-se com fumaeas, empavezam-se com fatuidades; esquecem que, orgulhar-se de uma posição, é confessar-se inferior a ela. Acumulam rumores artifícios, para alucinar as imaginações domesticadas; rodeiam-se de lacaios, adotam pleonásticas nomeclaturas, centuplicam os expedientes, pavoneiam-se em trens luxuosos, navegam em complicados bucentauros, sonham com recepções além dos oceanos. Oferecem os dois flancos à ironia risonha dos burlões, pondo, em tudo, certa magnificência da segunda mão, que recorda as cortes e os senhorios de opereta. A sua ênfase melodramática estaria bem em personagens de Victor Hugo, e faria cócegas ao egoísmo voltariano de Stendhal.

No seu "adonismo" contemplativo, não cabe a ambição, que é um enérgico esforço, no sentido de acrescentar, em obras, os próprios méritos. O ambicioso quer subir, até onde as suas próprias azas o podem levantar; o vaidoso julga encontrar-se já nas alturas supremas cubicadas pelos outros.

A ambição é bela entre todas as paixões, enquanto a vaidade não a envilece; por isso, é respeitável nos gênios, e ridícula nos tolos.

Embandeiram-se com permanentes grandiloqüências. Suspeitam que existem ideais, e se fingem seus sustentáculos: incorrem sempre nos que estão mais em conformidade com a moral de sua mediocracia. Suspeitam a verdade, às vezes, porque ela entra em todas as partes, sendo mais sutil do que a adulação: mas a mutilam, atenuam-na, corrompem-na. com acomodações, com muletas, com remendos que a disfarçam.

Em certos casos, a verdade pode mais do que eles; vem, a-pesar-dêles, à luz, e é o seu castigo. Paramen-tam-se de boas intenções, quando menos forças vão tendo para convertê-las em atos; a tolice inata se revela em seus palavreados puritanos. Torna-se cômica a sua inaptidão em seu disfarce de idealismo: são labéus, os vagos princípios que aplicam, ao compasso de conveniências oportunistas. O tempo descobre os que têm a moral empeça, para a mostrar: embora do seu pano jamais condigam cortar um traje para cobrir a sua mediocridade .

São tributários do sétimo pecado capital: na sua impotência, há preguiça. Renunciam à autoridade, e conservam a pompa; aquela poderia brunir o mérito, esta adorna a vaidade. Gostam de folgar; desistem de fazer o muito pouco que poderiam; evitam todo o labor firme; apartam-se de qualquer combate, declarando-se espectadores. Podem praticar o mal por inércia, e bem por equívoco; entregam-se aos acontecimentos, por incapacidade de orientá-los.


"Les paresseux — dizia Voltaire — ne sont jamais que degents medíocres, en quelque genre que ce soit".

Por detestáveis que sejam os governantes, nunca são piores do que quando não governam. O mal que os tiranos fazem, é um inimigo visível; a inércia dos poltrões, ao contrário, implica um misterioso abandono da função pelo órgão, a acefalia a morte da autoridade, por uma caquexia inecessível aos remédios.

Grande inconsciência é governar povos, quando a enfermidade ou a velhice privam o homem, do governo de si mesmo.

A falta de inspirações intrínsecas torna-os sensíveis à coarão dos conspiradores, às pressões dos partidários, às intimidações dos gazetilheiros, às influências das sacristias. Sua conduta revela a sua debilidade, em face de quantos os assaltam: e não basta, para dissimular tal fraoueza. o seu aparatoso investir contra moinhos de vento. Quando chegam ao poder, renunciam-no de fato, convencidos de sua impotência para usá-lo, entregam-se ao curso da corrente, como os nadadores insipientes. Ginetes de potros cujo voltear ignoram, fecham os olhos, e abandonam as rédeas: essa inaptidão para ararrá-las com suas mãos inexpertas, denominam-na "submissão à democracia".

O favoritismo é uma escravidão em face de cem interesses que os acossam: ignoram o sentimento da justiça e o respeito ao mérito. O verdadeiro justo resiste à tentarão de o não ser, quando disso lhe advém benefícios; o medíocre cede sempre. Professa uma abstrata eqüidade nos casos que não ferem a validez dos seus cúmplices; mas se complica, de fato, em todas as suas frioleiras.

Nunca, absolutamente, pode haver justiça em preferir o lacaio ao digno, o oblíquo ao reto, o ignorante ao estudioso, o intrigante ao gentilhomem, o medroso ao valente. É essa a corruptela moral das mediocracias: antepor o valimento ao mérito.

No favoritismo, empantanam-se os que pisam firme, e avarvam os que se arrastam brandamente: como nos tremedais. Quando o mérito enrosta os erros dos arqué tipos, estes respondem humildemente que não são infalíveis: mas a sua vileza está em sublinhar a desculpa com oferecimentos tentadores, acostumados, como estão, a negociar com a honra.

Não pode ser juiz aquele que confunde o diamante com a bazófia: quando se aceita a responsabilidade de governar, "eqnivocar-se é culpa", como sentenciou Epí-teto. Nas mediocracias, ignora-se que a dignidade nunca chega de joelhos aos estrados dos que mandam.

Repetem, com freqüência, o legendário juízo de Mi das. Pã ousou comparar a sua flauta de sete carriços com a lira de Apôlo. Propôs uma justa ao deus da harmonia, sendo árbitro o velho rei frígio. Ressoaram os acordes rústicos de Pã e Apôlo cantou ao compasso das suas melopéias divinas. Todos se decidiram porque a Flauta era incomparável à lira, todos, unanimemente, menos o rei, que reclamou a vitória para Pã. Imediata-mente cresceram sob os seus cabelos, duas milagrosas orelhas. Apôlo ficou vingado, e Pã se refugiu na som bra. O juíz. confuso, quis ocultar as orelhas debaixo da sua coroa. Um camareiro as descobriu; correu a um vale longínquo, cavou um poço, e contou ali o seu segredo. Mas a verdade não se enterra: floresceram rosais que, agitados pelas brisas, repetem eternamente que Midas teve orelhas de asno.

A história castiga com tanta severidade, como a lenda: uma página de crônica dura mais do que um roseiral. Ninguém pergunta se os crucificadores de Cristo, os queimadores de Brunos e os burladores de Colombo foram velhacos ou amolecidos. A sua condenação é a mesma, e irrevogável. A justiça é o respeito ao mérito.

Um Marco Aurélio sabe que, em cada geração, há dez ou vinte espíritos privilegiados, e seu gênio consiste em estimulá-los, a todos: um Panza os exclue da sua ínsula, fazendo uso somente daqueles que se domesticam, isto é, dos piores como caráter e como moralidade.

São sempre injustos aqueles que escutam o servil, sem interrogar o digno. Os que merecem justiça, nunca pedem favor. Nem o aceitam. Acham natural o fato de os parvos darem preferência aos seus iguais; é exato que a "torpeza do burguês, mortificado pela soberba natural da superioridade, procura consagrar o seu igual, cujo acesso lhe é fácil, e em cuja psicologia encontra meios de ser satisfeito e compreendido".

Sempre chega a hora em que as injustiças dos governantes se pagam com formidáveis juros compostos, irremessivelmente. Feitas a um só, ameaçam a todos os melhores; deixá-las impunes, significa ser cúmplice; cedo ou tarde, saldam-se os seus trava-contas, embora seus erros não se liquidem nunca. Os arquétipos de medio-cracias aprendem em carne própria, que, por um cravo, perde-se uma ferradura.

Como fez a Midas o divino Apôlo, os dignos castigam os sem vergonha, com a perenidade da sua palavra; podem errar, porque é humano; mas, se dizem verdade, ela permanece no tempo. Essa é a sua espada; raras vezes a desembainham, pois se gasta logo uma arma que se seca com freqüência: quando o fazem, vai direta ao coração, como a do romance famoso.

E o rancor dos lacaios evidencia a segurança da ponta que toca o amo.

Para serem completos, são sensíveis a todos os fanatismos. A maioria reza com os mesmos lábios que usa para mentir, como Tartufo; inseguros de suportar, na terra, a sanção dos dignos, os medíocres desejariam postergá-la para o céu.

Se estivesse em seu poder, cortariam a língua dos sofistas e as mãos dos escritores; fechariam as bibliotecas, para que nelas, não conspirassem engenhos originais Preferem a adulação do ignorante, ao concelho do sábio. Submetem-se a todos os dogmas. Se são coronéis, usam escapulários, ao invés de espada; se são políticos, consultam a Austúcia, para interpretar as Cartas Magnas das nações.

Sob o seu império, a hipocrisia — mais funesta do que a própria falta de vergonha — torna-se sistema. Nesse combate incessante, renovado em tantos dramas ibsenianos, os amorfos se convertem em colunas da sociedade, e o que despe uma sombra, parece um sedicioso, inimigo do povo. Todos os avisados golpeiam o próprio peito para medrar. As hostes de sacristia crescem e crescem, absorvendo, minando, fartando-se com as herpes morais que se entumescem em silêncio, até murchar ignominiosamente a fisionomia de toda uma época.

As mediocracias negam aos seus arquétipos o direi to de eleger a sua oportunidade. Amarram-no ao governo, quando o seu organismo vacila, e o seu cérebro se apaga: querem o inútil ou o obtuso. Homens repudiados na juventude, são consagrados na velhice; nessa idade, em que as boas intenções são um cansaço dos maus costumes.Elegem os que se habituaram a ser escravos do seu ventre, comendo até fartar-se, e bebendo até se atur dir, devastando a sua saúde em noites brancas, rebaixando a sua dignidade na insolvência dos tapetes verdes, tornando-se impróprios para todo esforço continuado e fecundo, preparando essas decrepittides em que os rins se fossilizam, o fígado se açucara. Essa é a melhor garantía para o rebanho rotineiro; seu ódio à originalidade o impele na direção dos homens que começam a se mumificar em vida.

Enquanto a velhice vai apagando os últimos rasgos pessoais dos arquetipos, seus cúmplices confabulam para ocultar o seu progressivo amolecimento, eximindo-se de toda tarefa, e lhes ministrando ingênuas ficções. Pouco a pouco, a carcassa foge de suas residências naturais e se isola: evita as ocasiões de se mostrar em plena luz, exibindo-se em reduzido número de mostradores, onde os pavões reais podem ostentar, de longe, os cem olhos da Argus postos em sua cauda. Incertos até para pensar, necessitam, mais do que nunca e do que ninguém, dos elogios dos incensadores: a adulação acaba cobrindo-os de lubrificantes. As apologias recrudescem, à medida que eles vão desaparecendo, com o cérebro minado por vergonhosas enfermidades contraídas no trato de lupanar com as cortezas.

O crepúsculo sobrevem, implacável, a fogo lento, gota a gota, como se o destino quisesse desnudar a sua vacuidade: peca por peça, mostrando-a aos outros empeçados, aos que poderiam duvidar, se morressem de repente, sem essa pausada descoloração.

São sombras ao serviço de suas hostes contíguas. Embora não vivam para si próprias, têm de viver para elas, mostrando-se de longe, para garantir que existem, e evitando até o sôpro do ar, que poderia dobrá-los, como a folha de um catálogo abandonado às intempéries.

Mesmo que desfaleçam, não podem abandonar a carga: inutilmente o remorso repetirá aos seus ouvidos as clássicas palavras de Propércio:


"É vergonhoso carregar alguém a cabeça com um fardo que não pode levar: cedo se dobram os joelhos. esquivos ao peso". (III, IX, 5).

Os arquétipos sentem a sua escravidão: mas devem morrer nela, custodiados pelos cúmplices que alimentaram a sua vaidade.

As casas de governo podem ser um féretro; as facções sabem disto, e disputam seus "vices", que ficam à espreita. Seus nomes ficam enumerados nas cronologias; desaparecem da história. Seus descendentes e beneficiá rios se esforçam em vão, para dilatar a sua sombra e dela viver.

Basta que um homem livre os denuncie, para que a posteridade os amortalhe; sobra uma so palavra — se é virtuosa, estóica, incorruptível, decidisa a sacrificar-se sem olhar para trás, contanto que seja leal á sua digni dade — sobra uma só palavra para apagar as adulações dos palacianos, inutilmente acendradas na hora fúnebre. Alguns fartos comensais, não podendo lazer referências ao que foram, atrevem-se a elogiar o que poderiam ter sido… julgam que morre uma esperança, como se esta fosse possível em organismos minados pelas carcomas da juventude e pelos açucaramentos da velhice.

É natural que morra, com cada um deles, a sua piara: seguem-se muitas em cada éra de penumbra. A me-diocracia as tira, como velhos naipes cujas cartas já estão marcadas pelos estafadores, passando a cortar com outros novos, nem melhores, nem piores.

Os dignos alheios às práticas cujas ciladas ignoram, apartam-se de todas as camarilhas que medram à sombra da pátria; cultivam os seus ideais, e deles acendem uma faísca como podem, esperando outro clima moral e preparando-o. E não mancham os seus lábios, proferindo o nome dos arquétipos: seria, porventura, imortalizá-los.


V — A aristocracia do mérito

O progressivo advento da democracia, permitindo a igualdade das maiores, dificultou o enaltecimento dos melhores?

É indiferente tratar-se de monarquias ou de repúblicas; o século XIX começou a unificar a essência dos regimes políticos, nivelando todos os sistemas, aburgue sando-os.

Um pensador eminente glosou esta verdade: a me diocracia não tolera as exceções ilustres. Se o gênio é um soliloquio magnífico, uma voz da natureza, em que fala toda uma nação ou uma raça, pergunta-se: não é um privilégio excessivo esse que permite que um en rouqueça a voz, em nome de todos?

A democracia renega tais soberanos que se enaltecem sem plebiscitos, e não aduzem direitos divinos. O que antes foi verbo, no gênio, torna-se agora palavra, e é distribuída entre todos que, juntos, julgam raciocinar melhor do que um só.

A civilização parece concorrer para esse lento e progressivo desterro do homem extraordinário, exaltando e iluminando as medianias. Quando a maioria não sabia pensar, era justo que um o fizesse por todos: faculdades expostas a perigosos excessos. Mas o homem providencial vai se tornando dispensável, à medida que a maioria pensa e quer.


"Em tanta difusão da soberania, que necessidade há de grandes epopéias, pensadas, realizadas ou escritas?"

Esta parece, transitoriamente, a fórmula do nivelamento, e poderia ser traduzida assim; à medida que se difunde o regime democrático, restringe-se a função dos homens superiores.

Seria verdade inconcussa, se o vir-a ser igualitário fôsse uma orientação natural da história, e se, no casode o ser, se efetuasse com ritmo permanente, sem tropeços. E não é assim. Nunca o foi; nem o será, ao que parece.

A natureza se opõe a toda nivelação, vendo, na igualdade, a morte. As sociedades humanas, para o seu progresso moral e estrutural, necessitam do gênio mais do que do imbecil, e do talento mais do que da mediocracia.

A história não confirma a presunção igualitária; não suprime Leonardo para endeusar Panza, nem esmaga Bertholdo para adorar Goethe. Uns e outros têm a sua razão de viver, e um não prospera no clima do outro.

O gênio, em sua oportunidade, é tão insubstituível como o medíocre na sua; mil, cem medíocres não fariam, então, o que faz um gênio. Cooperam em sua obra os idealistas que os precedem ou que os seguem; nunca os conservadores, que são os seus inimigos naturais, nem as massas rotineiras, que podem ser o seu instrumento, mas não o seu guia.

É irônico repetir que os Estados nunca necessitam do governante genial. O culto do governante de pacotilha, mas honesto, é próprio de mercadores que temem o ruim, sem conceber o superior.

Por que haveria a história de renegar o gênio, o santo e o herói?

Nas horas solenes, os povos tudo esperam dos grandes homens; nas horas decadentes, bastam os vulgares.

Há um clima que exclue o gênio e busca o fátuo: na chatice crepuscular enquanto as academias se povoam de míopes e de funcionários, os charlatães ou os aproveitadores governam o Estado. Mas há outro clima em que estes não servem; então, apinha-se de astros o hori zonte. Na borrasca, um Sarmiento toma o leme, e diri ge um povo a caminho do Ideal; na aurora, olha, e vê

longe Ameghino, descobrindo fragmentos de alguma Verdade em formação. E tudo varia em seus domínios; forma-se, ao seu redor, como o halo em torno dos astros, uma atmosfera particular onde a sua palavra ressoa e â sua chispa ilumina: é o clima do gênio. E um só pensa, e procede; marca um evo.

Ao que diz "igualdade ou morte", a natureza replica: "a igualdade é a morte".

Aquele dilema é absurdo. Se fosse possível uma constante nivelação, se tivesse sucumbido, alguma vez, todos os indivíduos diferenciados ou originais, a humani* dade não existiria. Não teria podido existir, como termo culminante da série biológica. A nossa espécie saiu das precedentes, como resultado da seleção natural; a evolução só se verifica, onde é possível selecionar as variações dos indivíduos. Igualar todos os antropóides, seria negar a humanidade; igualar todos os homens, seria negar o progresso da espécie humana. Seria negar a própria civilização.

Fica o fato atual e contingente: o advento progressivo do regime democrático nas monarquias e nas repúblicas, favoreceu a sua decadência política durante o último século?

Praticamente a democracia tem sido uma ficção, até agora. É a mentira de alguns que pretendem representar todos. Embora nela acreditaram, por momentos Lamartine, Heine e Hugo — e ninguém é mais infiel do que os poetas idealistas ao verbo da equivalência universal — os outros lhe são abertamente hostis. A posição do problema é outra. É simples.

Até agora, não existiu uma democracia efetiva. Os regimes que adotaram tal nome foram ficções. As pretendidas democracias de todera os tempos não foram senão confabulações de profissionais, para tirar proveito

das massas e excluir os homens eminentes. Foram sempre mediocracias. A premissa da sua mentira foi existência de um "povo" capaz de assumir a soberania do Estado. Não há tal: as massas de pobres e ignorantes não tiveram, até hoje, aptidão para se governarem: mudaram apenas de pastores.

Os maiores teóricos do ideal democrático foram, de fato, individualistas e partidários da seleção natural:perseguiram a aristocracia do mérito, contra os privilé gios das castas.

A igualdade é um equívoco ou um paradoxo, conforme os casos. A democracia foi uma miragem, como todas as abstrações que povoam a fantasia dos iludidos ou formam o capital dos mendazes. O povo sempre esteve ausente dela.

As castas aristocráticas não são melhores; nelas há, também, crises de mediocridade, se tornam mediocracias. Os democratas querem a justiça para todos e se enganam buscando-a na igualdade; os aristocratas querem o privilégio para os melhores e o acabam reservando aos mais ineptos. Aqueles apagam o mérito na nive-lução; estes o burlam, atribuindo-no a uma classe. Uns e outros são, de fato, inimigos de toda seleção natural. Tanto faz que o povo seja domesticado por grupos de nobres com brazão ou de adventícios: em ambas, estão igualmente proscritos a dignidade e os ideais. Assim como as assim-chamadas democracias não o são, as pretendidas aristocracias não o podem ser. O mérito estorva, tanto nas cortes como nas tabernas.

Toda a aristocracia é seleta em sua origem, costuma sê-lo; é respeitável aquele que inicia, com o seu merito, uma nobiliarquia ou avoengos. É evidente a desigualdade humana em cada tempo e lugar; sempre há homens e sombras.

Os homens que guiam as sombras são as aristocracia natural do seu tempo, e o seu direito é indiscutível. É justo, porque é natural. Ao contrário, é ridículo o conceito das aristocracias tradicionais: concebem a sociedade como fruto reservado a uma casta que usufrue os seus benefícios, sem ser composta pelos melhores homens do seu tempo.

Por que é que os parentes familiares e lacaios dos que foram outrora os mais aptos, devem continuar a participar de um poder que não contribuíram para criar? Em nome da herança?

Se as aptidões se herdam, esse privilégio lhes é inútil, e poderiam renunciá-lo; se não as herdam, é injusto e devem perdê-lo. Convém que o percam. Toda nobreza hereditária é a antítese de uma aristocracia natural; com o correr do tempo, torna-se o seu obstáculo mais vigoroso.

O direito divino, que uns invocam, é mentira; é a mesma coisa que os direitos do homem, invocados por outros. Aristarcos e demagogos são igualmente medíocres, e impedem a seleção das aptidões superiores, nivelando toda originalidade, coibindo todo ideal.

Poder-se-ia fazer uma concessão. Os países sem castas aristocráticas são mais propícios à mediocrização; neles se constituem oligarquias de adventícios, que têm todos os defeitos e as presunções da nobreza, sem possuir suas qualidades. Na sua improvização, falta-lhes a mentalidade do grão-senhor, composta de atributos que se apoiam numa cultura de séculos: há, sem dúvida, gente de qualidade que têm classe, como os cavalos de corridas. São mais esquivos ao rebaixamento. Nos seus preconceitos, a dignidade pode ter mais parte, do que nos do adventício. É uma diferença que os preserva de muitos envilecimentos.

Ê preferível obedecer as castas que têm a rotina de mando, ou a pandilhas minadas por hábitos de servilismo?

O privilégio tradicional do sangue irrita os democráticos, e o privilégio numérico do voto repugna aos aristocratas. O berço dourado não dá aptidões; mas, também, não as dá a urna eleitoral. A pior maneira de combater a mentira democrática, seria aceitar a mentira aristocrática; nos dois casos, trata-se de idêntica inaptidão, com diferentes rótulos. As massas inferiores — que poderiam ser o "povo e os homens excelentes de cada sociedade — que são a "aristocracia natural" — soem permanecer alheios à sua estratégia.

Entre os democratas inbuídos de igualdades, cabem audazes lacaios que pretendem suplantar os seus amos, corn o auxílio das turbas fanatizadas; entre os aristocratas, pela tradição, cabem os vaidosos que desejam reduzir os seus servidores, com o auxílio dos homens de mérito. A história sempre se repete: as massas e os idealistas são vítimas propiciatórias nessas disputas entre senhores feudais e burgueses de sobrecasaca.

A degenerescência mediocrática, que Faguet caracterizou como um "culto da incompetência", não depende do regime político, senão do clima moral das épocas decadentes. Cura-se quando desaparecem as suas causas; nunca por meio de reformas legislativas, que é absurdo esperar dos próprios beneficiários. Em vão são ensaiadas pelos tolos, ou simuladas pelos chalatães: as leis não criam um clima. O direito efetivo é uma resultante concreta da moral.

O protesto apaixonado dos idealistas pode ser um grito de alarma lançado na sombra; mas o sonho de enaltecer uma democracia, é ilusório, nas épocas de domesticação moral e de sociedade. As facções preferem ouvir o falso idealismo dos seus feitiços envelhecidos, como se, em velhos ôdres, fosse possível conter vinho novo.

É preciso esperar tempos melhores, sem pessimis-mos excessivos, com a certeza de que a reação chega inevitavelmente, a uma certa hora: os homens superiores a esperam, custodiando a sua dignidade trabalhando para o seu ideal. Quando a mediocridade exgota os últimos recursos da sua incompetência, naufraga. A catástrofe devolve a sua posição ao mérito e reclama a intervenção do gênio.

O próprio acanalhamento mediocrático contribue para restaurar, de tempos em tempos, as forças vitais de cada civilização. Há uma vis medicatrix nature que corrige a velhacaria das nações: a formação intermitente de sucessivas aristocracias do mérito.

O privilégio desaparece, e a direção moral da sociedade volve às mãos dos melhores. Respeita-se a sua legitimidade, enaltecem-se essas raras qualidades individuais que implicam a orientação original no sentido de ideais novos e fecundos.

Toda renascença se anuncia pelo respeito das diferenças, pelo seu culto. A mediocracia cala, impotente; a sua hostilidade toma-se fraca, embora inúmera. Se tivesse voz, rebaixaria o próprio mérito, outorgando-o sem discernimento. A maioria não sabe distinguir o que é útil a todos; nunca o rotineiro foi juiz do idealista; nem o ignorante do sábio; nem o honesto do virtuoso; nem o servil do digno. Toda excelência encontra o seu juiz em si mesma. O mérito de cada um é aquilatado na opinião dos seus iguais.

Há aristocracia natural, quando o esforço dos cérebros mais aptos converge na direção dos destinos comuns da nação. Não é prerrogativa dos engenhos mais mais agudos, como quereriam alguns, em cujo ouvido ressoa, como um éco, essa "aristocracia intelectual" que foi a quimera de Renan. Na aristocracia do mérito, iguais direitos têm a virtude e o caráter, como a inteligência: de outra forma, seria incompleta, e o seu esforço, ineficaz.

Um regime onde o mérito individual fosse estimado sobre todas as coisas, seria perfeito. Excluiria qualquer influência numérica ou oligárquica. Não haveria interesses criados. O voto anônimo teria valor tão exíguo, como o brazão fortuito. Os homens se esforçariam por ser cada vez mais desiguais entre si. preferindo oualquer originalidade criadora à mais tradicional das rotinas.

Seria possível a seleção natural e os méritos de cada um seriam aproveitados pela sociedade inteira. O agradecimento dos menos úteis estimularia os favorecidos pela natureza. As sombras respeitariam os homens. O privilégio se mediria pela eficácia das aptidões e se perderia com elas.

É transparente pois, o credo que, em política, o idealismo fundado na experiência poderia sugerir-nos.

Opõe-se à democracia quantitativa, que busca a justiça na igualdade: afirmando o previlégio em favor do mérito.

E à aristocracia oligárquica, que apoia os seus privilégios nos interesses criados, também se opõe: afirmando o mérito como base natural do previlégio.

A aristocracia do mérito é o regime ideal, em face das duas mediocracias que ensombram a história. Tem a sua fórmula absoluta: "a justiça na desigualdade".