domingo, 20 de março de 2011

Líbia: hipocrisia, dupla moral, dois pesos e duas medidas

*por Max Altman

O Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou a resolução que autoriza a imposição de uma zona de exclusão aérea em território líbio, salvo os vôos de natureza humanitária e inclui “todas as medidas que sejam necessárias” para a proteção da população civil, excluindo, porém, a ocupação militar de qualquer porção da Líbia. Além disso, endurece o embargo de armas à Líbia e reforça as sanções impostas no mês passado a Kadafi e seu círculo mais próximo de colaboradores.
Paris e Londres encabeçaram a arremetida contra a Líbia numa corrida contra o relógio a fim de que a ONU se pronunciasse antes que o último reduto rebelde, Bengazi, fosse recuperado pelas forças leais a Kadafi.

O documento recebeu a aprovação de 10 países – Grã Bretanha, França, Estados Unidos, Líbano, Colômbia, Nigéria, Portugal, Bósnia e Herzegovina, África do Sul e Gabão -, nenhum voto contra e cinco abstenções – Brasil, Rússia, China, Índia e Alemanha.

A Rússia exigiu a inclusão de um cessar-fogo imediato, medida atendida por Trípoli, e a China insistiu numa solução pacífica da crise, ao reiterar suas sérias reservas quanto à zona de exclusão aérea, ao mesmo tempo em que rechaçava o uso da força nas relações internacionais. Estranhamente, Moscou e Pequim, que detêm poder de veto, não o utilizaram para barrar aspectos da resolução com os quais não concordavam.
Diferentemente da Tunísia e do Egito, quando massas de centenas de milhares, desarmadas, saíram às ruas erguendo as bandeiras de pão, emprego, justiça social, progresso, liberdade e democracia, derrubando por força de seus protestos e pressão os ditadores apoiados pelas potências ocidentais, Ben Ali e Mubarak, na Líbia facções armadas com armamento blindado, artilharia antiaérea, armas individuais modernas e até alguma força aérea ocuparam o leste do país e algumas cidades do oeste determinadas a tomar Trípoli e acabar com o ditador Muamar Kadafi. Estabeleceu-se com isto uma franca guerra civil.

Quando, no curso dos combates, as tropas fieis a Kadafi avançaram sobre os bastiões rebeldes, o chamado Conselho Nacional Líbio de Transição passou a reclamar com insistência o apoio do Ocidente em armas e logística e a exclusão aérea. Ou bem os oposicionistas contavam desde o início com o respaldo dos países hegemônicos e estes estavam roendo a corda ou calcularam mal a capacidade de resistência de Kadafi e o apoio de grande parte da população líbia com que conta. A verdade é que a insurgência armada no leste da Libia é apoiada diretamente por potências estrangeiras. A insurreição em Bengazi ergueu imediatamente a bandeira vermelha,  negra e verde com a meia lua e a estrela, a bandeira da monarquía do rei Idris, que simbolizava o domínio dos antigos poderes coloniais.

A imensa campanha de distorções, omissões e mentiras desencadeada pelos meios maciços de comunicação abriu espaço para uma enorme confusão no seio da opinião pública mundial. Levará tempo antes que se possa estabelecer a verdade do que ocorreu na Líbia e distinguir os fatos reais das falsidades publicadas.

Alguns fatos concretos, porém, merecem atenção. A Líbia ocupa o primeiro lugar no Índice de Desenvolvimento Humano da África e tem a mais alta esperança de vida do continente. A educação e a saúde recebem especial atenção do Estado. O PIB per capita é de 13,8 mil dólares, o crescimento em 2010 foi de 10,6%, a inflação de 4,5%, a pobreza de 7,4% e a colocação no IDH é 53º (Brasil é 73º) todos esses índices melhores que o do nosso país. Seus problemas são de outra natureza. De alimentos e serviços sociais básicos o país não carecia. Nação de pequena população – 6,5 milhões de habitantes - necessitava de força de trabalho estrangeira em boa proporção para levar a termo ambiciosos planos de produção e desenvolvimento social. Milhares de trabalhadores chineses, egípcios tunisianos, sudaneses e de outras nacionalidades labutam em solo líbio. Dispunha de vultosos ingressos, provenientes da venda de petróleo de alta qualidade, e de grandes reservas em divisas depositadas em bancos das potências européias e Estados Unidos, e com isso podiam adquirir bens de consumo e até armamento sofisticado, fornecido exatamente pelos mesmos países que hoje planejam invadi-lo em nome dos direitos humanos.

O tirano, que durante quase três décadas foi considerado o “cachorro louco”, o “inimigo número um” do Ocidente para logo converter-se no vistoso aliado de seus inimigos de agora, voltou ao seu estatuto original.

Ao se aproximar das potências ocidentais, Kadafi cumpriu rigorosamente suas promessas de desarmamento e ambições nucleares. Com isso, a partir de outubro de 2002, iniciou-se uma maratona de visitas a Trípoli: Berlusconi, em outubro de 2002; Aznar, em setembro de 2003; Berlusconi de novo em fevereiro, agosto e outubro de 2004; Blair, em março de 2004; Schröeder, em outubro de 2004; Chirac, em novembro de 2004. Todos exultantes, garantindo o recebimento de petróleo e a exportação de bens e serviços. Kadafi, de seu lado, percorreu triunfante a Europa. Recebido em Bruxelas em abril de 2004 por Prodi, presidente d União Europeia; em agosto de 2004 convidou Bush a visitar seu país; Exxon Mobil, Chevron Texaco e Conoco Philips realizavam os últimos acertos para exploração do óleo por meio de ‘joint ventures’. Em maio de 2006, os Estados Unidos anunciaram a retirada da Líbia dos países terroristas e o estabelecimento de relações diplomáticas.

Em 2006 e 2007, a França e os Estados Unidos subscreveram acordos de cooperação nuclear para fins pacíficos; em maio de 2007, Blair voltou a visitar Kadafi. A British Petroleum assinou um contrato "extremamente importante" para a exploração de jazidas de gás.

Em dezembro de 2007, Kadafi empreendeu duas visitas a França e firmou contratos de equipamentos militares de 10 bilhões de euros. Contratos milionários foram subscritos com importantes países membros da OTAN.

Dentre as companhias petrolíferas estrangeiras que operavam antes da insurreição na Líbia incluem-se a Total da França, a ENI da Itália, a China National Petroleum Corp (CNPC), British Petroleum, o consórcio espanhol REPSOL, ExxonMobil, Chevron, Occidental Petroleum, Hess, Conoco Phillips.

O que se passa para que o “cachorro louco”, que se transformara em grande amigo, volte a ser o “cachorro louco”. De um lado, a evidência de que as potências hegemônicas tudo farão para não perder o controle dessa vital fonte de energia. De outro, fatores geo-estratégicos. Diante da revolta por mudanças democráticas dos países árabes do Norte da África e do Oriente Médio, é fundamental, no caso da Líbia, ter um governo absolutamente confiável, pressionando o vizinho oriental Egito para manter o tratado com Israel e não partir para políticas que desarrumem todo o contexto regional.

Antes de partir para o Brasil, o presidente Obama declarou que o “cessar-fogo tem que ser implementado imediatamente e isto significa que todos os ataques contra civis têm que parar. (...) Esses termos não são negociáveis. (...) Se Kadafi não cooperar haverá consequências". Entrementes, as agências de notícias informam que no Bahrein, ocupado por tropas Arábia Saudita, com prévio conhecimento e anuência de Washington, e debaixo de lei marcial, milhares de pessoas desarmadas são reprimidas violentamente por forças militares que destruíram o monumento da praça Pérola, ponto de encontro de manifestantes. Sabe-se que a V Frota norte-americana está estacionada neste país, distante 25 quilômetros da Arábia Saudita, e funciona como posto de vigilância dos vastos poços de petróleo do Golfo Pérsico. Gravíssima é a situação no Iêmen, aliado incondicional da Arábia Saudita e dos Estados Unidos. Dezenas de civis, desarmados, foram assassinados nas últimas horas. Nem a França nem a Grã Bretanha, tampouco Washington ou a Liga Árabe propuseram “todas as medidas necessárias” para proteger a população civil. Obama, Sarkozy e Cameron não falaram grosso com o Bahrein e Iêmen. A ONU não autorizou uma zona de exclusão aérea contra o Iêmen e Bahrein, nem acha que os direitos humanos de bareinitas e iemenitas mereçam ser respeitados. Nesse caso, só falatório, hipocrisia e dupla moral.

Toda e qualquer intervenção na Líbia terá repercussões graves. Cabe ao povo líbio, e apenas a ele, resolver o problema líbio. A comunidade internacional deve manifestar solidariedade e agir unida para conter a guerra civil e facilitar uma via de transição pacífica para o conflito líbio. Os governos ocidentais, no afã de manter o seu domínio, usam diferentes padrões de avaliação, caso a caso, conforme o país e ao não reconhecer os levantes populares são atropelados pelo curso da História. Os regimes árabes despóticos, fundamentalistas e absolutistas têm de saber que não podem resistir às mudanças. É simples questão de tempo, e todos os que resistirem serão varridos do mapa político.

Setores de esquerda vêm dando interpretações disparatadas sobre os acontecimentos. A mais esdrúxula reside em que desqualificar a revolta das massas populares líbias porque o regime é inimigo aparente de nosso inimigo não é um critério muito saudável. Analistas de esquerda não podem fechar os olhos à realidade do mundo de hoje, desconhecer as forças em confronto e seus objetivos estratégicos, deixar-se levar pelas informações da mídia que tem um claro viés em favor dos interesses neo-coloniais e imperialistas.

Uma intervenção militar aberta implica que os Estados Unidos, Inglaterra, França e demais países optaram por um dos lados da guerra civil líbia, como aumentará brutalmente os riscos sobre a população civil que, cinicamente, anunciam que pretendem proteger.

Max Altman
18 de março de 2011





sábado, 12 de março de 2011

ESTÃO NOS MATANDO-MAIS UM! ATÉ QUANDO?

  • Confederação Brasileira de Boxe convoca o osoriense Tairone Silva.

A confederação Brasileira de Boxe, anunciou nesta tarde de quinta feira a convocação do atleta Osoriense para representar o País no Equador em Dezembro.
Osoriense Tairone Silva é Campeão Sul Americano de Boxe
(07/02/2011 - 16:16)
Texto: Gabriela Pacheco   Foto: Academia Boa Forma
O boxeador osoriense, Tairone Silva, de 15 anos, tornou-se Campeão Sul Americano de Boxe neste domingo, dia 6, no Chile, ao vencer a final do torneio e ainda se destacar como o atleta com nocautes mais rápidos da competição.




Confederação de boxe lamenta assassinato de jovem promessa

O boxeador Tairone Silva, 16 anos, foi assassinado na tarde desta sexta-feira pelo policial militar Alexandre Camargo Ade. O jovem, principal promessa da modalidade no país, levou três tiros em frente à casa em que morava em Osório, Rio Grande do Sul.
De acordo com informações da polícia civil, o policial levou o boxeador, já sem vida, para o hospital depois de dar os disparos. Em seguida, se apresentou à delegacia da cidade e confessou o crime.


 Em seu site oficial, a Confederação Brasileira de Boxe (CBBoxe) lamentou a morte do promissor pugilista, que sonhava disputar os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro 2016.
"O Brasil perde mais que um atleta de futuro que tinha o sonho de se tornar um grande boxeador e participar dos Jogos Olímpicos de 2016. Deixa a saudade de um grande companheiro dos colegas do esporte e a imagem de correção e educação dentro e fora do boxe", diz a nota publicada pela entidade.


Pouco antes do crime

Horas antes de ser assassinado, na manhã da sexta-feira, dia 11, Tairone Silva esteve na Prefeitura de Osório, com a sua mãe Cláudia, pedindo ao prefeito ajuda de custo com passagens aéreas. 

Na ocasião, ele concedeu uma entrevista para a Assessoria de Comunicação da prefeitura. Apesar da distância da família, Tairone se dizia feliz no Rio de Janeiro, para onde retornaria na próxima segunda-feira, dia 14. 

"É uma experiência boa, a gente aprende várias coisas", disse Tairone. A sua mãe, Cláudia Silva, se dizia orgulhosa do filho. "O coração fica meio apertado, mas ao mesmo tempo é uma felicidade, ele está fazendo algo que gosta", disse a mãe na ocasião. 

Desde fevereiro, o jovem estava no Rio de Janeiro, treinando no Cefam, Centro Esportivo da Marinha, onde se preparava para lutar no Panamericano que ocorre no final deste mês.

ENQUANTO ISSO NA SALA DA "JUSTIÇA".

Promessa do boxe, Tairone Silva é assassinado por policial militar



O Soldado Alexandre Camargo Abe de 29 anos virou inimigo público número 1 de Osório.
Após matar o boxeador Tairone Silva, o Policial que há 4 anos está na Brigada teve escancarada uma lista de atos intempestivos.
Testemunhas não faltam para revelar o temperamento explosivo de Alexandre:
* Em uma oportunidade, o Soldado se desentendeu dentro do Makaha Bar em Osório com um outro jovem. Alexandre esperou a vítima ir até o banheiro e lá o ameaçou com uma arma. Ele colocou o revólver dentro da boca do mesmo. Testemunhas apartaram a briga.
* Em outro relato, o Soldado Alexandre circulava de carro quando um outro veículo acabou arrancando o seu retrovisor. O Policial com a arma em punho passou a chutar a porta do outro carro e ameaçando o motorista.
* Testemunhas contam que em uma oportunidade o Soldado Alexandre teve as roupas do seu varal roubadas. Ele pegou três meninos que desconfiava, fez os três se deitarem no chão e apontou uma arma para a cabeça dos mesmos perguntando quem tinha efetuado o furto.

* Em uma sexta-feira, Alexandre matou s
O Soldado Alexandre Camargo Abe de 29 anos virou inimigo público número 1 de Osório.

Após matar o boxeador Tairone Silva, o Policial que há 4 anos está na Brigada teve escancarada uma lista de atos intempestivos.
Testemunhas não faltam para revelar o temperamento explosivo de Alexandre:
* Em uma oportunidade, o Soldado se desentendeu dentro do Makaha Bar em Osório com um outro jovem. Alexandre esperou a vítima ir até o banheiro e lá o ameaçou com uma arma. Ele colocou o revólver dentro da boca do mesmo. Testemunhas apartaram a briga.
* Em outro relato, o Soldado Alexandre circulava de carro quando um outro veículo acabou arrancando o seu retrovisor. O Policial com a arma em punho passou a chutar a porta do outro carro e ameaçando o motorista.
* Testemunhas contam que em uma oportunidade o Soldado Alexandre teve as roupas do seu varal roubadas. Ele pegou três meninos que desconfiava, fez os três se deitarem no chão e apontou uma arma para a cabeça dos mesmos perguntando quem tinha efetuado o furto.









quarta-feira, 9 de março de 2011

O MAPA DA VIOLÊNCIA 2011-OBS: RAÇA/COR

Pessoal,
segue abaixo o link que dá acesso ao mapa da violência 2011(pdf), recém publicado pelo Instituto Sangari em parceria com o Ministério da Justiça. Cabe observar que enquanto as taxas relacionada aos números de homicídios por cor/raça, existe uma queda assertiva de homícidios na população branca, enquanto que na população negra houve um aumento drástico, demonstrando a urgente necessidade de ações para conter essa vitimização entre a população negra.
Segundo o mapa, em 2002, morriam proporcionalmente 45,8% mais negros do que brancos.
- Se esse já é um dado grave, em 2005, esse indicador sobe mais ainda: vai para 77,8%.
- E, em 2008, o índice atinge 127,6%. relacionando número de homicídios por cor/raça (contidas nas bases de dados do SIM) com os respectivos contingentes populacionais da PNAD apresentam problemas metodológicos que devem ser levados em conta. A fonte de dados para população por raça ou cor é a PNAD, que coleta esses dados por autoclassificação do entrevistado, que escolhe uma entre cinco opções: Branca, Preta, Parda, Amarela ou Indígena. Já nas certidões de óbito, nossa fonte para homicídios, a classificação é realizada por um agente externo ou documentação preexistente utilizando as mesmas categorias do IBGE. Ambas as classificações nem sempre, nem necessariamente, são coincidentes. Por tal motivo, não os números absolutos,
mas sim as taxas de homicídio e índices de vitimização expostas nas Tabelas 3.7.2. e 3.7.5 devem ser tomadas com alguma cautela: são mais aproximativas do que assertivas.
http://www.sangari.com/mapadaviolencia/pdf2011/MapaViolencia2011.pdf
Denis Denilto
Coordenador Geral da UNEGRO/PARANÁ