publicado: Revista Raça Brasil
TEXTO: Alexandre de Maio | FOTOS: Divulgação | Adaptação web: David Pereira
O cantor e ativista nigeriano Fela Kuti | FOTO: Divulgação
Fela Anikulapo Ransome Kuti nasceu na Nigéria, em 1938, em uma família de classe média do estado de Ogun, cujos membros eram bastante articulados, social e politicamente. Vem de berço a atuação explosiva e transformadora de Fela Kuti que, aos 20 anos, foi morar em Londres para, a princípio, estudar medicina. Na capital, inglesa, porém, enveredou para o curso de música no Trinity College of Music, onde criou a banda Koola Lobitos com um novo estilo de som, o Afrobeat, uma reunião dos elementos do jazz, do rock psicodélico e do Highlife, originário da África Ocidental.
Em 1963, já casado com Remilekum (Remi) Taylor, Fela voltou para a Nigéria e começou a trabalhar como produtor de rádio, em paralelo com as atividades da banda. No final dos anos 60, ele e a Koola Lobitos voltaram aos Estados Unidos. O músico passou a ter contato com o Movimento Black Power e com as músicas de James Brown. Pronto! O movimento negro e suas ideias passaram a influenciar fortemente as canções e a visão política de Fela Kuti. Uma combinação pra lá de explosiva! Nessa mesma época a Koola Lobitos foi rebatizada e ganhou o nome de Nigeria 70.
Uma nova república
Sem visto de trabalho, Fela e os membros da banda foram obrigados a deixar o solo americano, não sem antes realizar uma sessão de gravação em Los Angeles que, mais tarde se tornaria o álbum The '69 Los Angeles Sessions. Revolucionado pelas ideias de Malcolm X, o musico volta para a Nigéria e funda a República Kalakuta, uma pequena comunidade, com um estúdio de gravação, onde os mais chegados podiam viver em harmonia. Fela chegou a declarar que Kalakuta era um Estado independente da Nigéria.
Nessa época se apresentava numa casa que ele próprio criou e mudou seu nome do meio para "Anikulapo" (que significa "aquele que carrega a morte no bolso") . A cada gravação o tom político das letras crescia e sua popularidade aumentava em toda a Africa. Fela gravava sua musica em Pidgin, uma espécie de dialeto usado para ser entendido em todo o continente, baseado em inglês.
Sua fama aumentava e o governo começava a se incomodar e os ataques a Kalakuta eram comuns. A perseguição policial era intensa. Em 1977 ele lançou a musica Zombie onde comparava os soldados nigerianos a zumbis, o sucesso do álbum se traduziu numa brutal invasão de mais mil soldados onde Fela foi espancado, sua mãe morta, a República Kalakuta incendiada e seu estúdio destruído junto com centenas de horas de gravações.
Album The '69 Los Angeles Sessions | FOTO: Divulgação
Fela que quase morreu na ocasião, enviou o caixão de sua mãe para os militares e escreveu duas canções "Coffin for Head of State" e "Unknown Soldier". Em 1978 casou-se com vinte e sete mulheres, muitas delas entre suas vocalistas e dançarinas e fez dois grande shows, em um deles as confusões o levaram a ser proibido de entrar em Gana, no outro toda sua banda o abandonou.
Fela não desistia e montou seu próprio partido chamado Movimento do Povo e 1979 se candidatou a presidente da Nigeria que amargava mais de 10 anos sem eleições, mas sua candidatura foi recusada. Abalado criou a banda Egypt 80 e continuou a gravar e a incomodar a política do país, em 84 foi preso e acusado pelo governo militar por lavagem de dinheiro. Foi solto 20 meses depois e se separou de 12 esposas, continuou gravando e viajando e politicamente ativo.
Em 1989 lançou o álbum Antiapartheid "Beasts of No Nation" que exibe em sua capa o Presidente dos Estados Unidos Ronald Reagan, a primeira-ministra britânica Margaret Thatcher e o primeiro-ministro da África do Sul P.W. Botha com caninos pingando sangue.
No anos 90 começou a se espalhar o boato que teria AIDS e em 3 de Agosto de 1997 Olikoye Ransome-Kuti, seu irmão anunciou sua morte causada pelo Sarcoma de Kaposi em decorrência do vírus da AIDS. Seu enterro foi marcado pela presença de mais de um milhão de pessoas.
Fela foi um ícone da luta contra os regimes ditatoriais da continente africano. Criativo, competente, Kuti colocou a musica Nigeriana no topo, polêmico defendia o pan-africanismo e hoje sua figura influencia e inspira ativistas no mundo inteiro.
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