sexta-feira, 25 de julho de 2014

Novo colonialismo na África: Europeus, americanos e chineses se apoderam das riquezas africanas

Por: Jornal La Tribune - Argélia

Na República Centro-Africana, enquanto a mídia se concentra nos riscos de um conflito religioso atualmente em curso entre muçulmanos e cristãos que se massacram a tiros e machadadas, está em curso uma dilapidação das riquezas do país. E tudo acontece longe dos olhares curiosos dos jornalistas e da maioria dos especialistas em assuntos africanos.
Para o comum dos mortais, a República Centro-Africana é apenas uma vasta área florestal, com uma população muito pobre. Ignora-se, como acontece em geral quando se trata de países africanos, a existência de grandes riquezas naturais. Este país de seis milhões de habitantes transborda de petróleo, diamantes e outros recursos naturais. Tesouros que suscitam a cobiça dos países desenvolvidos.

Soldados franceses estacionados na República Centro Africana participam de cerimônia militar em Bangui
A França, que se recusou a intervir no país quando o presidente deposto, François Bozizé, lhe pediu (em dezembro de 2012), acabou por enviar soldados (em dezembro de 2013), quando a crise em Bangui (a capital) assumiu contornos de guerra religiosa entre a minoria muçulmana, que assumiu o poder pela primeira vez em março de 2013, e a maioria cristã, que clama ter sido alvo de genocídio por parte dos rebeldes da Séléka (coligação entre partidos políticos e forças rebeldes).
Oficialmente, o presidente francês, François Hollande, alegou razões humanitárias para justificar o envio de 1600 soldados para Bangui, onde vive grande número de cidadãos franceses.

Garoto centro africano se refugia dentro de carro incendiado em conflito na capital Bangui
Quem chega primeiro às riquezas?
Essa intervenção foi vista por alguns como um ato de neocolonialismo por parte da França, tal como as também recentes intervenções no Mali e na Líbia. Outros consideraram que a ação era necessária, para evitar novo genocídio em solo africano, como o de Ruanda, há 20 anos.

A presença francesa na antiga colônia foi saudada por alguns centro-africanos que consideraram que os soldados franceses em Bangui iriam dar um apoio significativo à missão africana de manutenção da paz no país. Desde a independência, em 1960, ele já passou por seis golpes de Estado.

O caráter supostamente filantrópico da intervenção francesa esconde, no entanto, objetivos econômicos e geoestratégicos. Objetivos traçados, no entanto, longe do conceito neocolonialista avançado por alguns analistas obcecados pela ideologia, numa época em que nada se sobrepõe ao poder do dinheiro e à guerra já pouco disfarçada pelo controle das riquezas do planeta.

Soldado francês ordena ao homem que largue sua arma improvisada.
 que está em questão em Bangui não é salvar os centro-africanos de um genocídio étnico-religioso, à semelhança do que também nos tentam fazer crer no Sudão do Sul, na República Democrática do Congo, no Darfur e em outros países africanos. O que está em causa é saber quem vai chegar primeiro às riquezas do subsolo desses países.
A súbita decisão por parte de Paris de enviar tropas à República Centro-Africana visa, efetivamente, obstruir a presença chinesa, que começou a se reforçar na era de Bozizé (no poder entre março de 2003 e março de 2013).
É isso que justifica a recusa do governo francês em dar suporte a Bosizé no momento em que ele estava prestes a ser derrubado por uma coligação supostamente heterogênea, a Séléka. Paris, que sempre apoiara Bozizé, abandonou-o devido ao namoro cada vez mais assumido desse líder africano com o gigante chinês. A China injetou milhões de dólares na República Centro-Africana para garantir sua presença cada vez maior nos negócios de Bangui.


Familiares de mortos durante conflitos religiosos na periferia de Bangui lamentam suas perdas
Interesses franceses na África
A estratégia chinesa na República Centro-Africana já deu bons frutos, bem como em vários outros países africanos nos quais Pequim conseguiu abocanhar uma boa fatia da exploração dos recursos naturais em troca de uma assistência ao desenvolvimento local. Essa assistência aconteceu sobretudo na construção de estradas em regiões remotas e na edificação de escolas e na implementação de outros serviços públicos.
“A França tem interesses na República Centro-Africana. Atualmente, controla a economia do país e de tudo o que se passa nele. A holding francesa Bolloré controla completamente a logística e o transporte fluvial do país. O grupo Castel impera no mercado de bebidas e do açúcar. A multinacional CFAO domina o comércio de veículos. A France Telecom entrou na dança em 2007. O gigante nuclear Areva está presente no país, embora oficialmente ainda esteja em fase de prospeção. A petrolífera Total tem reforçado a hegemonia no controle das reservas e na comercialização de petróleo, mas tem de negociar com a camaronesa Tradex, especializada no comércio de produtos petrolíferos”, afirmam analistas africanos, entre eles a agência de notícias Bêafrika Sango, órgão de informação independente sediado em Bangui.

Mais de cem mil pessoas obrigadas a abandonar suas casas pelos terroristas acamparam ao redor do aeroporto de Bangui, capital da República Centro Africana
O ímpeto da atitude francesa, bem como o envolvimento do presidente dos EUA, Barack Obama, nos acontecimentos de Bangui, são indícios dos grandes interesses econômicos e geo-estratégicos que estão em jogo neste momento na República Centro-Africana.
No início de dezembro, Washington forneceu apoio logístico e financeiro à França e à União Africana, para que a intervenção militar acontecesse; a 10 de janeiro, o então presidente centro-africano, Michel Djotodia, e o primeiro-ministro renunciaram aos cargos, por pressão da França e do Chade.

Um homem passa informações a soldado francês sobre o paradeiro e os esconderijos de membros das organizações terroristas

Essa mesma política desencadeada por potências europeias e os Estados Unidos não se desenrolam apenas na República Centro-Africana: os vizinhos Sudão do Sul e a República Democrática do Congo passam por crises semelhantes que abalam a estabilidade política e minam a segurança, devido a essa luta renhida pelo controle dos recursos naturais africanos.
Nos três países há importantes grupos rebeldes apoiados por países estrangeiros que tanto lhes fornecem ajuda humanitária como militar e financeira. A atual guerra civil, que na aparência é um conflito entre cristãos e muçulmanos, pode durar muito tempo, mantendo a instabilidade em toda a sub-região da África Equatorial.

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