terça-feira, 22 de julho de 2014

Ciclo de Leituras Ebulição Marginal



Nelson Triunfo, pioneiro do movimento hip hop no Brasil, na rua 24 de Maio, em São Paulo
Nascido nos guetos norte-americanos em meados da década de 1970, o hip hop é uma cultura que se estabelece sobre quatro elementos distintos: o rap, o grafite, o break e o MC (mestre de cerimônias). Há ainda um quinto elemento, já amplamente disseminado pelo movimento criado por Afrika Bambaataa: o conhecimento, ou a sabedoria. O Ciclo de Leituras Ebulição Marginal, que começa hoje (21) em Curitiba, utiliza o hip hop para despertar o interesse literário em jovens das periferias.

Em sua segunda edição, a programação é composta por encontros de mediação de leitura e apresentações culturais ligadas à produção artística da periferia. A intenção é revelar conexões entre a literatura e os elementos do hip hop, especialmente o rap – que, do inglês, significa “ritmo e poesia”. “Se pensarmos que é poesia, o rap também é literatura. É um link direto”, diz Anna Carolina Azevedo, idealizadora do ciclo. “Nossa intenção é tornar esses meninos atentos a isso, ao fato de que existe poesia dentro do movimento hip hop e, a partir desse lugar que é tão comum para eles, partir para saltos maiores”.

Para Anna Carolina, dessa forma é possível chegar a outros tipos de leituras, aos cânones e a outros gêneros, mas a primeira aproximação se dá por meio do rap e de referências da literatura marginal contemporânea, como Paulo Lins e Férrez. Neste ano, toda a programação do ciclo é baseada nos sentidos que se desprendem da palavra “marginal”. “Entendemos o termo ‘marginal’ como algo que está fora de um círculo, de um centro”, explica a idealizadora.

Além de rodas de leitura, sessões de grafitagem, batalhas de rimas e de break, oficinas de poesia e saraus literários, também há espaço reservado para o Manguebeat, movimento de contracultura do Recife da década de 1990, e para a censura à época da ditadura militar. Ambos momentos marginais, segundo Anna Carolina. “A literatura durante a ditadura militar, se pensarmos em Rubem Fonseca e Ignacio de Loyola Brandão, corria fora da elite militar – e, por isso, era marginal. E o nordeste, onde aconteceu o Manguebeat, é a margem do Brasil e em si já é uma periferia”.

Do underground literário de Curitiba, o poeta Marcos Prado será homenageado em rodas de leitura e discussões. “Ele foi um cara que morreu muito jovem, aos 35 anos. Em vida produziu incessantemente, mas não fazia parte das instituições oficiais de cultura da cidade”, considera. A obra do autor, assim como todo o legado do movimento hip hop e da literatura marginal, são as bases para a realização do projeto, que busca desmistificar a ideia de que a literatura está reservada apenas para uma parcela da sociedade. “Formando leitores, formamos cidadãos mais sensíveis e mais atentos àquilo que gira em torno deles, às nuances sutis do cotidiano”.

Ciclo de Leituras Ebulição Marginal
Onde: Espaço da Leitura Eucaliptos (R. Pastor Antonio Polito, 2200, Alto Boqueirão – Curitiba/PR)
Quando: 21/07 a 26/07, às 9h30, 14h30 e 19h30
Quanto: grátis
Info.: (41) 3286-2931

Programação:

21 de julho, segunda – feira:
9h30 – Roda de leitura – Grafias Urbanas
14h30 – Roda de leitura – Rua, Ritmo e Poesia.
19h30 – Exibição do Ebulição Marginal 2013 + Apresentação Teatral do grupo de teatro juventude, com peça inspirada na obra de Ferréz.

22 de julho, terça-feira:
9h30 – Roda de leitura – Grafias Urbanas
14h30 – Roda de leitura – A margem da ditadura, literatura no período militar
19h30 – Exibição do Ebulição Marginal 2013 + Roda de leitura em cinema – O Bandido da Luz Vermelha.

23 de julho, quarta-feira:
9h30 – Oficina de poesia Marcos Prado.
14h30 – Roda de leitura – Na periferia do Brasil: O movimento Manguebeat
19h30 – Papo Cabeça – Arte na Periferia

24 de julho, quinta-feira:
9h30 – Roda de leitura – Grafias Urbanas
14h30 – Roda de leitura – Arte e Guerra de Banksy.
19h30 – Filme Cidade Cinza

25 de julho, sexta-feira:
9h30 – Oficina de Poesia Marcos Prado
14h30 – Roda de leitura + Palestra sobre Marcos Prado, com participações de Sérgio Viralobos e Mônica Berger.

26 de julho, sábado:
14h30 – Batalha Ebulição Marginal: Competição de breaking, rima e grafite.
19h30 – Show da banda The Old Street + Inverso: O Som da Poesia Marginal com Zirigdun Pfóin + Apresentações de Rap Freestyle (inscrições feitas na hora)

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