terça-feira, 16 de setembro de 2014

“Luta contra racismo é necessariamente luta de classe”, diz Edson

publicado: geledes.org.br


O militante do movimento negro e também historiador se refere ao tema da Conferência “Democracia e Desenvolvimento sem racismo: Por um Brasil Afirmativo”. Apesar dos 10 anos de avanços após a criação da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República (Seppir), que promove a Conferência, o movimento negro aponta para uma guinada no debate sobre conceitos e temas caros à população negra como economia e democracia, mas que ainda não têm recebido a devida atenção do movimento.

“É um tema muito caro para nós da Unegro. Porque obriga o movimento negro, a partir de seu olhar, pensar na nação. Você não discute desenvolvimento e democracia pensando somente em uma parcela da sociedade. Portanto, obriga o movimento a avançar na pauta que é exclusivamente racial e pensar como maioria populacional já que somos 50,6% da nação e pouco temos contribuído para a estratégia nacional”, explicou.

Democracia sob a ótica do movimento negro
Discutir a questão racial de uma forma mais abrangente é um dos objetivos da Unegro durante a Conferência.”Nos acreditamos que o movimento negro sairá com um nível maior de entendimento, de como estruturar sua luta daqui para frente. Não vamos ficar presos ao campo da política publica e ao campo da denúncia. Vamos pensar um pouco o Brasil. Porém, com uma limitação obviamente porque o movimento social negro nunca fez essa reflexão. Se tem é algo individual, isolado. O movimento negro tem uma dificuldade crônica, por exemplo, de discutir um tema como Economia e de considerar esse debate importante para a questão. O movimento também subestima a discussão da democracia também, entende democracia de uma maneira muito limitada”, pondera Edson França que acredita que o racismo não será combatido somente com políticas públicas. “Nos temos que construir uma nação diferente, mais inclusiva, são outras dimensões de luta, de reivindicação de construção”, completa.

O principal gargalho do movimento negro é a representatividade nos espaços de representação: “Temos direito ao voto e tudo aquilo que a democracia formal oferece à população negra. Mas, precisamos avançar na representação de negros e negras nos espaços de poder. Vamos chamar a atenção, para um maior envolvimento do movimento com a reforma política, por exemplo”.

A sub-representação da população negra é absolutamente evidente. Apenas 8% dos parlamentares brasileiros são negros. Dos atuais 40 ministérios do Governo Dilma, somente um é liderado por uma mulher negra, que é justamente a Seppir. Das 50 maiores estatais brasileiras, apenas uma delas tem um negro na presidência.

Cotas

Outro ponto que será amplamente debatido na conferência são cotas raciais e sociais. Edson lembra que ainda não é uma luta vencida. “Apesar de haver uma lei federal, não temos em todos os estados, em todos os municípios. Além disso, precisamos dar condições aos estudantes que entram a partir da lei de cotas. Não adianta ter cota e não ter dinheiro para a condução ou para as refeições. Então é preciso consolidar essas políticas”, avalia.

A violência contra a juventude negra também é um tema bastante caro à Conferência. “Estamos com um problema grave que seremos cobrados pelos historiadores no futuro, que é o extermínio da juventude negra. A presidenta Dilma, inclusive, reconheceu esse problema recentemente”, destaca Edson, referindo-se ao assassinato do estudante Douglas Rodrigues, 17 anos, no domingo (27/10) por um policial militar na zona norte de São Paulo.

A questão quilombola também será abordada pelos militantes da Unegro durante a Conferência. “Atualmente, existem 2600 comunidades quilombolas. Dessas, nem uma dezena chegou a ser reconhecida. Tivemos um retrocesso”, lamenta Edson. Segundo o presidente da Unegro, a judicialização dos processos é o maior impeditivo para a regularização dos territórios quilombolas.

Deborah Moreira
Da redação do Vermelho

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