publicado: revista Fórum
O episódio abaixo, relatado por uma dirigente do movimento negro de São Paulo, é uma demonstração de que a democracia e o Estado de direito ainda não chegaram para negros, negras e moradores de periferia. Prevalece ainda uma ação policial típica de ditadura militar, com abordagens que desrespeitam os direitos humanos e seletivas pela cor da pele. Pior ainda que as reações destes agentes quando os cidadãos simplesmente exigem o cumprimento dos seus direitos demonstram não um “despreparo” mas sim uma concepção autoritária e violenta de trato com as pessoas, inclusive mulheres.
Mais preocupante ainda é o fato de que esta prática policial que tem sido a principal responsável pelo genocídio da juventude negra, expresso nos assassinatos de Cláudias e desaparecimento de Amarildos nas periferias afora do Brasil, recebe apoio de parcela significativa da sociedade. Era o caso da sociedade civil se mobilizar contra esta atitude que em nada combina com a democracia. Afinal democracia não se resume apenas e tão somente a ter eleições de tempos em tempos, coisa que acontecia também na ditadura militar, e nem tampouco apenas liberdade de expressão para os donos dos grandes meios de comunicação, mas respeito aos direitos de todos os cidadãos, independente da sua origem, classe e etnia. A tolerância e até mesmo o apoio a este tipo de procedimento tem garantido eleição de parlamentares que formam “bancadas da bala” ou governadores e prefeitos que ainda insistem na proposta de tratar o problema da segurança com mais violência. Por isto, em nome da defesa da democracia plena e dos direitos humanos, repudiamos veemente esta ação da Polícia Militar bem como exigimos pronta apuração e punição dos responsáveis.
Hoje pela manhã pude sentir o racismo de sua forma mais letal, letal porque quando não exterminam o jovem negro, exterminam sua auto estima com uma abordagem violenta, preconceituosa, racista mesmo. A primeira pergunta que fazem ao jovem NEGRO com a ARMA EM PUNHO e se ele tem passagem pela policia. Cenas como essa acontecem a todo momento protagonizada pela famigerada Policia Militar do Estado de São Paulo que com a justificativa de estar investigando denuncia de roubo de carro nos pararam dessa forma. E foi assim que aconteceu hoje pela manhã qdo fomos abordados por policias militares que ao ver o carro passar dirigido por um jovem negro, e portanto um suspeito de estar num carro roubado, não perceberam a minha presença e quando perceberam pra não perder a oportunidade de exercer o seu poder de policia solicitou minha saída do carro enquanto abordavam o Keniuata da forma que citei, passado o impacto daquela abordagem truculenta, peguei o celular pra anotar os dados policiais e da viatura, quanto o sargento indignado me disse de forma grosseira, qual era o motivo de estar anotando os dados, respondi que co mo cidadã tenho o direito de anotar dados quando sou abordada, inconformado começou a me pressionar e como eu respondia que tinha meu direito como cidadã de anotar, ficou mais transtornado e agiu como se estivesse interrogando uma pessoa acusada de roubo, gritava que não era bandido que estava fazendo o trabalho dele e que nos estavamos influenciados pela mídia que queria manchar a imagem da policia etc, é que iria fazer o papel dele de policia iria registrar também a minha abordagem no Copon, ordenou que eu entregasse meu documento para consulta e entreguei a eles e decidi não mais falar nada pque o registro da ocorrência no Copon, daria maior veracidade ao que pretendo fazer com essa ação que sofremos. Eles continuaram nos constrangendo dizendo que iriam fazer o papel deles de policia e revistaram o carro de ponta a ponta, chegaram ao absurdo de pegar um pano e usar a gasolina do recipiente da partida do carro para limpar e anotar o chassi do carro, quase no final dessa tortura se identificaram dizendo que eu não precisava ter me dado ao trabalho de fotografar, devolveram os documentos reafirmaram que não tinham, agido de forma desrespeitosa conosco e que podemos contar sempre com o trabalho da POLICIA MILITAR. Honestamente a indignação e revolta e pouco pra descrever o sinto ao ser confrontada com a realidade dos jovens negros e mães negras que são humilhados e tratados com racismo por essa corporação, pra eles o fato de sermos negros (as) justifica o tipo de abordagem que fazem, legitimados pelo RACISMO INSTITUCIONAL. Eu reafirmo meu compromisso pela luta, CONTRA O GENOCÍDIO DA JUVENTUDE NEGRA E PELA DESMILITARIZAÇÃO DA POLICIA E DO ESTADO. – Rosa Maria Anacleto, presidenta da União de Negros pela Igualdade de São Paulo (Unegro/SP)
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