quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Cabo Verde, escravatura e independência


Havana (Prensa Latina) Na história do arquipélago de Cabo Verde, situado no oceano Atlântico em frente à costa ocidental da África, destaca-se a partir do século XV a resistência de escravos -procedentes das regiões continentais- aos abusos de traficantes portugueses e de outras nações.

O território de Cabo Verde está constituído por dez ilhas principais e numerosas ilhotas vulcânicas divididas em dois grupos conhecidos como Barlovento (San Antonio, San Vicente, Santa Luzia, San Nicolás, Buenavista y Sal) e Sotavento (Maiao, Santiago, Fogo e Brava).

O navegante português Diego Gómez descobriu as ilhas em 1456. No entanto, algumas fontes históricas afirmam que foram descobertas por outros navegantes ao redor de 1445, pouco depois da viagem do também navegante português Nuno Tristão pela desembocadura do rio Senegal.

Alguns historiadores quiseram apresentar como inabitáveis a maioria das ilhas, inclusive tratando de tirar a importância das inscrições rupestres encontradas na ilha Santiago, onde está Praia, a capital.

Outros estimam que existiram certos grupos africanos denominados Leboue e Felopes que haviam se estabelecido muito antes da chegada dos colonizadores portugueses atraídos pelas riquezas pesqueiras e pelas salinas.

Depois do estabelecimento dos portugueses no arquipélago foram trazidas algumas famílias do sul de Portugal. A inclemência do clima e a necessidade de estabelecer um sistema de plantações com mão de obra abundante e barata fizeram que os portugueses mantivessem um impiedoso mercado de escravos sobre a costa africana.

Os primeiros escravos que foram levados às ilhas no final do século XV eram fundamentalmente balantes, pissages, feloupes e onalofes, quase todos de etnias existentes na Guiné e em diversas proporções, outras representadas no mosaico de povos do arquipélago.

Depois dos portugueses iniciadores do comércio de escravos chegaram os holandeses, espanhóis, ingleses e pessoas de outras nacionalidades. As ilhas converteram-se em um armazém de escravos capturados em todas as regiões da África Ocidental.

Os escravos eram vendidos aos donos de plantações no Brasil, uma colônia portuguesa desde o século XV, no restante da América e no Caribe. Os traficantes não contaram com a rebeldia dos africanos. As ações dos nativos eram vencidas pela superioridade dos armamentos dos europeus.

Os embarcadouros de escravos de Cabo Verde eram superados só pelos da ilha Gorée, no Senegal, Guiné Bissau e São Tomé e Príncipe. Neste último país produziram-se importantes rebeliões contra os escravistas portugueses. Nos séculos XVI e XVII cresceu o comércio de escravos.

No final do século XVIII os portugueses desenvolveram plantações de café, milho e sementes oleaginosas e estabeleceram uma quantidade de escravos em Cabo Verde. Pela vantajosa concorrência brasileira, os portugueses substituíram o cultivo de café e introduziram o da cana.

Mudança de época

Em 1834, a Coroa britânica decretou a proibição do tráfico em suas posses coloniais e dispôs o castigo aos violadores da norma, que foi recusada pelos donos de plantações e pelos traficantes. Os cabo-verdianos converteram-se em parceiros que tinham que pagar para poder trabalhar a terra que não lhes pertencia. Durante séculos de colonização portuguesa, a situação das ilhas manteve-se igual. A agricultura não foi modernizada, nem foram criadas as bases para uma infraestrutura industrial produtiva. Devido à exploração desenfreada, o arquipélago viu sua ecologia alterada até converter-se num deserto flutuante.

Situação agravada pelos longos anos de seca ininterrupta. As autoridades coloniais alentaram uma emigração em massa para a metrópole, onde trabalhavam na construção, nas minas e nos serviços e em outros trabalhos mal remuneradas. Outros marcharam para São Tomé e Príncipe, Guiné Bissau, Angola e Estados Unidos.

Aqueles que não puderam optar pela via da emigração padeceram grandes fomes. A história conta sete, entre 1901 e 1959, que levaram à morte 290 mil cabo-verdianos.

Historicamente a importância de Cabo Verde tem sido sua estratégica posição geográfica. Primeiro, constituiu para os portugueses a estação para o comércio com a África, Índia e Brasil; depois, dominou a rota atlântica seguida pelos petroleiros que navegavam para a Europa do Golfo Arábico.

Independência

Com o surgimento do Partido para a Independência de Guiné Bissau e Cabo Verde (PAIGC), fundado em 1956 por Amílcar Cabral, fundiu-se a luta pela libertação de ambas colônias do domínio português.

A ação do PAIGC em Cabo Verde teve como primeiro objetivo a criação mediante um trabalho clandestino de mobilização e organização das condições mínimas indispensáveis para garantir a luta política no arquipélago.

A vitória obtida pelos combatentes do PAIGC sobre o exército colonial de Portugal conduziu a que, em 1974, Guiné Bissau surgisse como um estado independente.

Uma nova etapa de luta começou. O governo de Lisboa foi obrigado a aceitar o PAIGC como representante legítimo do povo cabo-verdiano da mesma forma que o de Guiné Bissau, e portanto lhe correspondia encabeçar o governo de transição constituído no início de 1975.

A transição durou só seis meses já que a 5 de julho desse mesmo ano se constituiu a República de Cabo Verde com um governo dirigido pelo PAIGC. Finalizavam cinco séculos de presença portuguesa no país.

*Colaborador da Prensa Latina

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