Tripulação está em liberdade vigiada em Paranaguá, impedida de deixar a
cidade. Caso é investigado pelo MPF e pela Polícia Federal
Um camaronês que entrou clandestinamente em um navio de bandeira
maltesa e de tripulação turca foi jogado à deriva a 8 milhas náuticas da
costa brasileira. Antes de ter sido expulso da embarcação, ele teria
sido torturado e sofrido ofensas racistas. A vítima foi resgatada por um
navio que vinha do Chile e trazido a Paranaguá, no Litoral do Paraná. O caso é investigado pelo Ministério Público Federal (MPF) e pela Polícia Federal (PF) da cidade.
De acordo com nota divulgada nesta quinta-feira (26) pela Procuradoria da República do Estado do Paraná (PRPR), a vítima embarcou no navio clandestinamente em Porto de Douala, em Camarões.
Em depoimento, ele relatou que ficou escondido na embarcação por oito
dias, até que sua água e comida se acabaram. O camaronês afirma que,
assim que foi descoberto, foi agredido com tapas no rosto e chutes no
peito, até desmaiar. Ele contou que um dos agressores dizia que “não
gostava de preto” e que “todos eram animais”.
A vítima disse ter sido mantida em uma cabine de 2 x 3 metros e que
era impedido de dormir. Segundo ele, a tripulação revezava para que
sempre houvesse alguém batendo na porta de ferro do pequeno cômodo
durante os onze dias nos quais ficou preso. Após esse tempo, segundo o
depoimento, o camaronês teria sido expulso do navio. Os tripulantes
teriam dado a ele uma lanterna e 150 euros. Ele foi obrigado a deixar a
embarcação em um pallet (estrutura de madeira usada no transporte de
cargas), no qual permaneceu à deriva por 11 horas, até ser resgatado por
outro navio.
Segundo o procurador da república em Paranaguá Alexandro José Fernandes de Oliveira,
a tripulação sob suspeita de ter torturado e abandonado o tripulante
clandestino é formada por 19 pessoas. Todas elas foram ouvidas e
permaneceram em silêncio durante os depoimentos.
O camaronês chegou a Paranaguá na última sexta (20), mas o fato só
foi divulgado nesta quinta (26) para que as investigações não sofressem
interferência. Oliveira relata que é muito cedo para apontar o que pode
acontecer aos tripulantes. “Estamos na fase inicial da apuração, e esses
fatos que foram apresentados inicialmente são muito graves.
Precisaremos deliberar se a tripulação permanece aqui, mas ainda é muito
prematuro. As possibilidades vão desde um arquivamento até a uma ação
penal”, alertou.
Buscas
Toda a tripulação do navio está em Paranaguá e em liberdade vigiada,
proibida de deixar a cidade, onde permanece sob vigilância da agência
marítima. Segundo a PRPR, o MPF está acompanhando as investigações
diretamente, a fim de garantir plenamente os direitos constitucionais,
tanto da suposta vítima quanto da tripulação sob investigação. Assim que
o inquérito for concluído, o MPF verificará se oferece ou não denúncia
contra a tripulação do navio.
Segundo nota da PRPR, a tripulação do navio chegou a negar que tenha
havido um clandestino a bordo, entretanto, em buscas realizadas pelo MPF
e autorizadas pela Justiça, foi encontrada uma fotografia que o
camaronês teria escondido para comprovar que esteve na embarcação. Os
promotores também constataram que a descrição de detalhes do navio feita
pela vítima era compatível com as instalações.
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