quinta-feira, 26 de julho de 2012

Camaronês é jogado em alto mar após ser descoberto em navio

Tripulação está em liberdade vigiada em Paranaguá, impedida de deixar a cidade. Caso é investigado pelo MPF e pela Polícia Federal

Um camaronês que entrou clandestinamente em um navio de bandeira maltesa e de tripulação turca foi jogado à deriva a 8 milhas náuticas da costa brasileira. Antes de ter sido expulso da embarcação, ele teria sido torturado e sofrido ofensas racistas. A vítima foi resgatada por um navio que vinha do Chile e trazido a Paranaguá, no Litoral do Paraná. O caso é investigado pelo Ministério Público Federal (MPF) e pela Polícia Federal (PF) da cidade.
De acordo com nota divulgada nesta quinta-feira (26) pela Procuradoria da República do Estado do Paraná (PRPR), a vítima embarcou no navio clandestinamente em Porto de Douala, em Camarões. Em depoimento, ele relatou que ficou escondido na embarcação por oito dias, até que sua água e comida se acabaram. O camaronês afirma que, assim que foi descoberto, foi agredido com tapas no rosto e chutes no peito, até desmaiar. Ele contou que um dos agressores dizia que “não gostava de preto” e que “todos eram animais”.
A vítima disse ter sido mantida em uma cabine de 2 x 3 metros e que era impedido de dormir. Segundo ele, a tripulação revezava para que sempre houvesse alguém batendo na porta de ferro do pequeno cômodo durante os onze dias nos quais ficou preso. Após esse tempo, segundo o depoimento, o camaronês teria sido expulso do navio. Os tripulantes teriam dado a ele uma lanterna e 150 euros. Ele foi obrigado a deixar a embarcação em um pallet (estrutura de madeira usada no transporte de cargas), no qual permaneceu à deriva por 11 horas, até ser resgatado por outro navio.
Segundo o procurador da república em Paranaguá Alexandro José Fernandes de Oliveira, a tripulação sob suspeita de ter torturado e abandonado o tripulante clandestino é formada por 19 pessoas. Todas elas foram ouvidas e permaneceram em silêncio durante os depoimentos.
O camaronês chegou a Paranaguá na última sexta (20), mas o fato só foi divulgado nesta quinta (26) para que as investigações não sofressem interferência. Oliveira relata que é muito cedo para apontar o que pode acontecer aos tripulantes. “Estamos na fase inicial da apuração, e esses fatos que foram apresentados inicialmente são muito graves. Precisaremos deliberar se a tripulação permanece aqui, mas ainda é muito prematuro. As possibilidades vão desde um arquivamento até a uma ação penal”, alertou.
Buscas
Toda a tripulação do navio está em Paranaguá e em liberdade vigiada, proibida de deixar a cidade, onde permanece sob vigilância da agência marítima. Segundo a PRPR, o MPF está acompanhando as investigações diretamente, a fim de garantir plenamente os direitos constitucionais, tanto da suposta vítima quanto da tripulação sob investigação. Assim que o inquérito for concluído, o MPF verificará se oferece ou não denúncia contra a tripulação do navio.
Segundo nota da PRPR, a tripulação do navio chegou a negar que tenha havido um clandestino a bordo, entretanto, em buscas realizadas pelo MPF e autorizadas pela Justiça, foi encontrada uma fotografia que o camaronês teria escondido para comprovar que esteve na embarcação. Os promotores também constataram que a descrição de detalhes do navio feita pela vítima era compatível com as instalações.

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