enviado: José Gil de Almeida
Nota:
Por 6 anos os corruptos políticos paraguaios atrasaram a entrada da
Venezuela no Mercosul. Mas a história avançou e atropelou a elite
política paraguaia reacionária e traidora dos interesses dos povos
latino-americanos.
A carta venezuelana no
Mercosul
A decisão sobre o ingresso da Venezuela
como membro pleno do Mercosul excede em muito a crise paraguaia. Trata-se da
terceira economia da América do Sul, fecha um bloco que articula o extremo sul
com o extremo norte do continente e contribui para a solidez energética por seu
caráter de membro da Organização de Países Exportadores de Petróleo. A data
escolhida, 31 de julho, terá incidência política. Será difícil para a oposição
venezuelana, na campanha eleitoral, atribuir a Hugo Chávez uma política de isolamento
internacional. O artigo é de Martín Granovsky, do Página 12.
Buenos Aires - Os membros plenos
do Mercosul definiram algo que os presidentes do Brasil, da Argentina, do
Uruguai e do Paraguai já tinham resolvido: fixaram uma data para a incorporação
da Venezuela ao Mercosul como o quinto membro do grupo com todos os direitos e
obrigações. A diferença é que, desta vez, o Paraguai não participou da decisão
porque, justamente, teve suspensa parte de seus direitos e obrigações. Até
então, o Senado paraguaio vinha freando a integração de Caracas. Era a única
das oito câmaras legislativas dos quatro membros plenos que se opunha à
ratificação do acordo firmado pela presidência. Mas a decisão de agregar a
Venezuela excede em muito a crise paraguaia.
Os dois maiores países da região, Brasil e Argentina, conceberam a entrada
venezuelana durante os governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Néstor Kirchner.
Trata-se da terceira economia da América do Sul, fecha um bloco que articula o
extremo sul com o extremo norte do continente, contribui para a solidez
energética por seu caráter de membro da Organização de Países Exportadores de
Petróleo e não apresenta obstáculos comerciais porque não tem firmado nenhum
tratado de livre comércio com terceiros países, como é o caso de Colômbia e
Peru, entre outros, com os Estados Unidos.
A data escolhida, 31 de julho, já em plena presidência pro tempore do
Brasil no Mercosul, terá incidência política. A Venezuela adiantou dois meses
as eleições presidenciais programadas inicialmente para dezembro e as realizará
em outubro, ou seja, menos de três meses depois de sua entrada como membro
pleno do Mercosul. Será difícil para a oposição venezuelana construir parte de
sua campanha eleitoral querendo atribuir a Hugo Chávez uma política de
isolamento internacional.
A proximidade entre o 31 de julho e as eleições de outubro fortalece Chávez
politicamente. Mais ainda: em função do câncer, Chávez precisa realizar
demonstrações de poder o mais perto possível das eleições. E um encontro
internacional no Rio de Janeiro, com Dilma Rousseff como anfitriã, pode
funcionar como um modo mais de construção política regional para o atual
presidente venezuelano. Não é que isso defina as eleições. Como ficou
demonstrado, se ainda fosse preciso fazê-lo, pela crise paraguaia, as
intervenções políticas externas podem ser preventivas ou dissuasivas só como
acréscimo de uma realidade interna. O que manda é esta. Isso acaba de ser
confirmado também pela solução da sublevação policial boliviana. Evo Morales,
com poder político, decisão, apoio parlamentar e construção própria pode
encontrar uma solução e negociar o fim do conflito. Para Fernando Lugo, em
troca, foi impossível frear a última tentativa de julgamento político e ele
acabou destituído.
Uma teoria sobre a Venezuela é que Brasil e Argentina exercem tutela sobre
Chávez, uma espécie de irmão menor desvairado que precisa do controle dos mais
velhos. É certo que nenhum desses países tem simpatia, por exemplo, com os
contatos da Venezuela com o regime iraniano. Mas nem Buenos Aires nem Brasília
podem se intrometer nos assuntos internos da Venezuela. Também é certo, ao
mesmo tempo, que a integração gera laços capazes de mediar atitudes. Uma
Venezuela mais conectada física, econômica e politicamente ao resto da América
do Sul pode fazer com que seu governo pense mais antes de tomar certas
decisões. De fato, esse tipo de assunto costuma fazer parte das conversas
íntimas e sinceras entre os presidentes. Antes, com Lula e Kirchner. Agora, com
Dilma e Cristina.
Um papel chave será desempenhado por Alí Rodriguez, várias vezes ministro de
Chávez, ex-secretário da OPEP e novo secretário da União Sulamericana de
Nações, sucedendo um instável mandato da colombiana María Emma Mejía. Rodríguez
disse ao jornal Página/12 que a América do Sul deve se unir em defesa de seus
recursos naturais e em busca de maior desenvolvimento e de níveis mais amplos
de justiça. Ele está sendo assessorado na Unasul pelo argentino Rafael
Follonier, que cumpriu as mesmas funções quando Kirchner mediou o conflito
entre Colômbia e Venezuela, evitando uma guerra em 2010, e que mantém seu
status de secretário de Estado na Casa do Governo argentino.
A América do Sul, pelo que se vê, ainda tem cartas para jogar em meio ao
furacão da economia mundial. Tantas que sequer a deposição ilegal de Lugo e sua
substituição por Federico Franco foram capazes de arruinar o jogo.
Tradução: Katarina Peixoto
Fonte:
Carta Capital
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