publicado: Revista Fórum
No ritmo de progresso atual, serão necessários 81 anos para conseguir a paridade de gênero nos locais de trabalho, mais de 75 anos para alcançar igual remuneração entre homens e mulheres pelo mesmo trabalho realizado, e mais de 30 anos para conseguir o equilíbrio entre mulheres e homens nos postos de tomada de decisão”, afirma o chamado à ação Unidas Para o Êxito da Igualdade de Gênero Já
Por Marianela Jarroud, da IPS/Envolverde
Mulheres líderes de todos os continentes, convocadas pela ONU Mulheres e pelo governo do Chile, pediram que o objetivo da paridade de gênero esteja transversalmente presente na agenda pós-2015. Só assim, afirmam, se poderá eliminar a enorme brecha de desigualdade que ainda afeta as mulheres e meninas do mundo.
“Celebramos o fato de ter ocorrido progresso nos últimos 20 anos (desde Cúpula de Pequim), e o exemplo, a evidência, são todas as pessoas que vieram a esta reunião em Santiago compartilhar suas experiências: o bom e o ruim, a luta pela frente, os desafios”, declarou à IPS a diretora-executiva adjunta da ONU Mulheres, Lakshmi Puri. E, embora alguns países tenham feito progresso e uns poucos um progresso maior, “nenhum chegou à meta”, acrescentou.
Segundo Puri, “para eliminar a pobreza é preciso a participação das mulheres, para o crescimento econômico são necessárias as mulheres. É preciso educar para que as mulheres possam participar politicamente, mas também é necessário que elas sejam líderes em educação. O mesmo na saúde: devemos ter mulheres líderes para que desenhem e promovam os serviços de saúde e também estejam presentes nos meios de comunicação, porque do contrário nunca acabaremos com os estereótipos”.
A reunião internacional de alto nível As Mulheres no Poder e a Tomada de Decisões: Construindo Um Mundo Diferente, realizada nos dias 27 e 28 de fevereiro, em Santiago, no Chile, explorou os avanços e as dívidas na igualdade de gênero dos últimos 20 anos. Entre estas, o não cumprimento dos compromissos para conseguir o equilíbrio entre mulheres e homens nos postos de liderança e a necessidade de que agora isso mude.
O encontro também delineou o caminho do que deve ocorrer até 2030, quando deverão ser cumpridos os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), desenhados para fechar as brechas estruturais que se mantêm e avançar para sociedades mais resilientes e a prosperidade sustentável.
Os ODS substituirão os oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), que traçaram as metas coletivas da comunidade mundial desde setembro de 2000 e cujo cumprimento tem um saldo de altos e baixos. As líderes mundiais exigem que a igualdade de gênero seja transversal aos 17 ODS previstos, com a finalidade de que o progresso deixe de ser lento e irregular, como aconteceu nos últimos 20 anos com relação à Plataforma de Ação de Pequim, estabelecida na Quarta Conferência Mundial sobre a Mulher, em setembro de 1995.
“No ritmo de progresso atual, serão necessários 81 anos para conseguir a paridade de gênero nos locais de trabalho, mais de 75 anos para alcançar igual remuneração entre homens e mulheres pelo mesmo trabalho realizado, e mais de 30 anos para conseguir o equilíbrio entre mulheres e homens nos postos de tomada de decisão”, afirma o chamado à ação Unidas Para o Êxito da Igualdade de Gênero Já, assinado como conclusão da reunião de Santiago.
Puri recordou que, nos futuros ODS, o de número cinco promoverá a “igualdade de gênero e o empoderamento de mulheres e meninas”. Mas, igualmente importante, “também nas outras metas se conseguiu incluir indicadores sensíveis ao gênero que capturam as necessidades e os impactos nas mulheres, mas que também capturam a urgência das mulheres”, ressaltou a líder de origem indiana.
“Como ter saúde para todos sem saúde para mulheres, feita por mulheres e desenvolvida por mulheres. O mesmo na educação”, pontuou Puri. ”Há dias li um artigo da IPS que dizia que a meta da igualdade de gênero não é uma lista de desejos, mas uma lista de tarefas a serem feitas, e para nós isso é o chamado à ação de Santiago”, destacou.
De concreto, o documento assinado na capital chilena exige um renovado compromisso político para eliminar os obstáculos ainda persistentes e garantir a implantação plena das 12 áreas críticas da Plataforma de Ação de Pequim para 2020. Isso contempla uma representação paritária em todos os processos de tomada de decisões internacionais, incluindo a Agenda de Desenvolvimento Pós-2015, os ODS, o financiamento para o desenvolvimento e os processos de mudança climática.
Além disso, exige o empoderamento das mulheres, o cumprimento efetivo dos direitos humanos de mulheres e meninas e o fim da desigualdade de gênero até 2030, bem como acabar com a brecha de financiamento para a paridade de gênero, equiparando os compromissos com os meios disponíveis para seu cumprimento.
A ugandesa Winnie Byanyima, diretora-executiva da Oxfam Internacional, opinou à IPS que a agenda pós-2015 deve conter “objetivos claros, metas muito definidas, mas, ao mesmo tempo, indicadores que meçam o progresso em nível global e dos países nesse sentido. Os 17 objetivos devem ser medidos a partir de indicadores que estejam claramente definidos por objetivos de gênero diferenciando homens de mulheres, meninos e meninas”.
Byanyima enfatizou que “é muito importante que a equipe negociadora e a equipe técnica das Nações Unidas, que estão formulando os indicadores e os objetivos, tenham muito claro, estejam muito conscientes, de que a implantação desses indicadores e as medidas necessárias para medir os resultados dos avanços em homens e mulheres devem estar claramente definidas”. Desta forma, “os países terão um avanço preciso e poderão ir medindo cada um dos objetivos em função de uma diferenciação entre os avanços registrados com homens e com mulheres”, acrescentou.
Na sessão de encerramento do encontro a presidente do Chile, Michelle Bachelet, afirmou que “para os que participaram deste encontro não é possível pensar uma agenda de desenvolvimento com êxito que não tenha em seu coração o objetivo primordial de conseguir a igualdade entre meninos e meninas, e entre homens e mulheres”.
“Precisamos da bandeira da igualdade flamejando em breve em todas as nações, e devemos ser otimistas, pois temos a possibilidade real de fazer de cada lugar da Terra um lugar mais humano, mais justo, mais digno, para cada um dos que vivem nela”, concluiu Bachelet.
Foto de capa: Governo do Chile
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