terça-feira, 19 de julho de 2011

Netinho: “Conhecer as necessidades do povo é minha especialidade”

Depois de ser eleito vereador em São Paulo com 84 mil votos em 2008 e de ter recebido mais de 7,7 milhões de votos na disputa ao Senado em 2010, Netinho de Paula (PCdoB) se prepara agora para disputar a Prefeitura da maior metrópole brasileira. Para ele, o resultado das eleições do ano passado — quando obteve 2 milhões de votos apenas na capital paulista — foi um dos fatores decisivos para a indicação de seu nome pelo PCdoB à sucessão do prefeito Gilberto Kassab (PSD).
Por Mariana Viel

Netinho reforça que não será um representante apenas da população negra — mas de toda a periferia. “Conhecer as pessoas e suas necessidades é a minha especialidade. É isso que eu tento agregar como elemento novo na política. O que tenho de novo é a vontade de fazer o melhor para o povo que vive nessa cidade”.

O pré-candidato do PCdoB critica a falta de políticas públicas voltadas para a área social. “Cuidar dos mais carentes na cidade de São Paulo é também melhorar a vida da classe média que existe aqui. Temos que unir São Paulo em torno da melhoria e da qualidade de vida do cidadão paulistano”.

Nesta entrevista ao Vermelho, Netinho falou ainda da estruturação de sua candidatura através de coligações com partidos que estejam dispostos a fazer parte de um amplo plano de governo. “Temos feito exaustivas conversas com grandes lideranças políticas — munidos de uma pesquisa muito animadora. Temos tido respostas muito positivas”.

Vermelho: Como você vê a indicação do seu nome à Prefeitura de São Paulo?
Netinho de Paula: Em 2010, o PCdoB acreditou na minha candidatura ao Senado — e saímos da disputa com a terceira maior votação. Foi esse resultado que colocou a minha candidatura. Ela não foi anunciada publicamente por mim. Foi o Renato [Rabelo, presidente nacional do PCdoB], durante um ato organizado aqui na Câmara, que entendia que essa era uma candidatura natural e até estrutural para o partido, particularmente na capital.

A bancada de vereadores vem retomando espaço, mas precisa de maior protagonismo na política paulista. Com toda a humildade, vejo isso como a oportunidade de mostrarmos o nosso caminho ao encontro do socialismo que imaginamos, sonhamos e queremos atingir.

Vermelho: As críticas da oposição sobre sua inexperiência política já estão superadas?
NP: O reconhecimento do trabalho legislativo é fundamental para quem pleiteia disputar cargos majoritários. A força legislativa é muito grande, e a interlocução do Executivo com o Legislativo, na obtenção de resultados políticos, é essencial. Esse período em que estou aqui na Câmara, apresentando os meus projetos, debatendo e levantando questões, participando de CPIs — tudo isso traz uma maturidade muito grande para a formatação do que você pensa e do seu ideal.

Mas isso não apaga e não aumenta o compromisso que tenho com a população. Isso faz parte da minha vida e da minha história. Conhecer as pessoas e suas necessidades é a minha especialidade. É isso que eu tento agregar como elemento novo na política. O que tenho de novo é a vontade de fazer o melhor para o povo que vive nessa cidade.

Ao mesmo tempo em que São Paulo tem uma arrecadação superlativa, não encontrou ainda em uma liderança política do Executivo uma figura comprometida com as questões sociais. Acho que é nessa lacuna que eu entro, como um candidato que genuinamente representa essa nova classe C.
 

Vermelho: Que críticas você faz à atual administração?
NP: Com todo o respeito que temos, inclusive por participar atualmente de uma secretaria do governo do prefeito Gilberto Kassab, nossas críticas permanecem as mesmas nas áreas sociais. Achamos que a política de juventude no município não é a que consideramos adequada. Achamos que a área social ainda requer mais investimentos, não apenas financeiros mas basicamente estruturais.

Faltam políticas públicas voltadas para a questão da área social. Se por um lado a cidade avançou em termos de estética, temos ainda a degradação do Centro, o abandono e a falta de habitação popular, que é visível. Temos uma desestrutura na área da política de combate às drogas na cidade que também é visível para toda a população. São Paulo não pode deixar isso de lado.

Cuidar dos mais carentes na cidade de São Paulo é também melhorar a vida da classe média que existe aqui. Não pretendo ser um candidato que vai separar, que vai manter uma cidade de ricos e de pobres, de brancos e de negros. Temos que unir São Paulo em torno da melhoria e da qualidade de vida do cidadão paulistano, seja ele de qual cor for ou qual condição social ele tenha.

Vermelho: O cenário político das eleições de 2012 na capital paulista promete ser bastante acirrado. Você já iniciou o processo de discussões com outros partidos para formar alianças?
NP: Para o PCdoB, é essencial que haja mais candidaturas, independentemente da nossa. A nossa luta é para quebrar essa polarização que existe entre PT e PSDB aqui em São Paulo. Isso já deu o fruto e os resultados que tinham que dar — e também já nos mostrou as suas deficiências. Pessoas novas são muito bem-vindas na política.

A viabilidade da minha candidatura nesse momento passa por um processo de ampliar as coligações. Temos feito exaustivas conversas com grandes lideranças políticas — munidos de uma pesquisa muito animadora.

Temos tido respostas muito positivas. Há duas semanas, tivemos uma conversa muito proveitosa com o PDT, que se mostrou muito sensível em fazer parte da nossa coligação. Ainda não há nada definido, mas eles entendem que nossa candidatura é legítima, que temos chances e que a condição em que eu me encontro nas pesquisas é animadora.

No próximo mês, teremos uma conversa com o PSB para tentar entender o que eles estão pensando para 2012. Nossas conversas com todos os partidos, inclusive com o próprio PMDB, têm sido muito boas. São conversas de alinhamento político.

Até novembro, a nossa luta vai ser justamente para estruturar e buscar coligações com partidos que ideologicamente compartilhem com a minha candidatura e que estejam dispostos a fazer parte de um amplo plano de governo. Queremos partidos que possam participar e contribuir com o plano ideológico do mandato.

Vermelho: Como está sendo a repercussão da sua pré-candidatura entre os seus eleitores?
NP: Minha relação com o gueto é o que tenho de mais concreto para somar na luta política a que me predispus. É uma relação de carinho, de muito respeito, de confiança e, acima de tudo, de esperança. Eles veem muita esperança em um mandato como o meu. Fico até emocionado.
Estive na terça-feira passada em um evento na Vai-Vai, e os presidentes da Vila Maria e da Casa Verde, duas escolas de samba tradicionais de São Paulo, começaram a falar que eu estava muito “preso” na Câmara — que eu precisava ser mais presente, mais “pé no chão com a quadra”, porque sou diferente dos outros candidatos. Quando você toma um puxão de orelha desses, vê o carinho que as pessoas têm. Eles amam, defendem e estão muito confiantes de que podemos ganhar essa Prefeitura e fazer um mandato maravilhoso.

Vermelho: Ao longo de sua trajetória, como menino pobre da periferia, depois como cantor, apresentador e agora político, você sempre precisou provar sua competência para dar o passo adiante — e, mesmo assim, tem sido muito criticado. O Netinho ainda precisa provar alguma coisa?
NP: Quem nasceu e viveu na periferia passa a vida inteira tendo de provar as nossas boas intenções e atitudes. Um erro pesa muito mais do que todos os acertos — pelo fato de a gente não ter os órgãos de repercussão das coisas positivas que a gente faz. Acho que não tenho que provar nada pessoalmente. Mas todos nós, agentes políticos vindos da periferia e do povo, temos de provar nossa capacidade. O Lula fez isso e, seguindo o exemplo dele, quero fazer também. Não só pelos negros — mas particularmente por toda a periferia.

Vermelho: Como você idealiza, dentro das propostas do PCdoB, o diferencial de sua candidatura?
NP: Nossa política de estruturar e fortalecer o Estado me parece muito animadora. Poder fortalecer as estruturas políticas para que o povo tenha acesso ao que existe de melhor no mundo, entender que as políticas públicas podem beneficiar, sim, quem mais precisa, compreender que não é privatizando tudo que as coisas serão melhores é o que mais me motiva no partido.

O PCdoB busca, dentro do acúmulo de seus quadros políticos, encontrar soluções não tão complexas para problemas que são complexos. E é isso que mais me anima em fazer parte deste time. Não podemos nos fechar dentro do nosso campo ideológico — mas, sim, encontrar maneiras de difundir a nossa ideologia.


 

 

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