Netinho: “Conhecer as necessidades do povo é minha especialidade”
Depois de ser eleito vereador em São Paulo com 84 mil votos em 2008 e
de ter recebido mais de 7,7 milhões de votos na disputa ao Senado em
2010, Netinho de Paula (PCdoB) se prepara agora para disputar a
Prefeitura da maior metrópole brasileira. Para ele, o resultado das
eleições do ano passado — quando obteve 2 milhões de votos apenas na
capital paulista — foi um dos fatores decisivos para a indicação de seu
nome pelo PCdoB à sucessão do prefeito Gilberto Kassab (PSD).
Por Mariana Viel
Netinho reforça que não será um representante apenas da população
negra — mas de toda a periferia. “Conhecer as pessoas e suas
necessidades é a minha especialidade. É isso que eu tento agregar como
elemento novo na política. O que tenho de novo é a vontade de fazer o
melhor para o povo que vive nessa cidade”.
O pré-candidato do PCdoB critica a falta de políticas públicas voltadas
para a área social. “Cuidar dos mais carentes na cidade de São Paulo é
também melhorar a vida da classe média que existe aqui. Temos que unir
São Paulo em torno da melhoria e da qualidade de vida do cidadão
paulistano”.
Nesta entrevista ao Vermelho, Netinho falou ainda da estruturação
de sua candidatura através de coligações com partidos que estejam
dispostos a fazer parte de um amplo plano de governo. “Temos feito
exaustivas conversas com grandes lideranças políticas — munidos de uma
pesquisa muito animadora. Temos tido respostas muito positivas”.
Vermelho: Como você vê a indicação do seu nome à Prefeitura de São Paulo?
Netinho de Paula: Em 2010, o PCdoB acreditou na minha
candidatura ao Senado — e saímos da disputa com a terceira maior
votação. Foi esse resultado que colocou a minha candidatura. Ela não foi
anunciada publicamente por mim. Foi o Renato [Rabelo, presidente
nacional do PCdoB], durante um ato organizado aqui na Câmara, que
entendia que essa era uma candidatura natural e até estrutural para o
partido, particularmente na capital.
A bancada de vereadores vem retomando espaço, mas precisa de maior
protagonismo na política paulista. Com toda a humildade, vejo isso como a
oportunidade de mostrarmos o nosso caminho ao encontro do socialismo
que imaginamos, sonhamos e queremos atingir.
Vermelho: As críticas da oposição sobre sua inexperiência política já estão superadas?
NP: O reconhecimento do trabalho legislativo é fundamental
para quem pleiteia disputar cargos majoritários. A força legislativa é
muito grande, e a interlocução do Executivo com o Legislativo, na
obtenção de resultados políticos, é essencial. Esse período em que estou
aqui na Câmara, apresentando os meus projetos, debatendo e levantando
questões, participando de CPIs — tudo isso traz uma maturidade muito
grande para a formatação do que você pensa e do seu ideal.
Mas isso não apaga e não aumenta o compromisso que tenho com a
população. Isso faz parte da minha vida e da minha história. Conhecer as
pessoas e suas necessidades é a minha especialidade. É isso que eu
tento agregar como elemento novo na política. O que tenho de novo é a
vontade de fazer o melhor para o povo que vive nessa cidade.
Ao mesmo tempo em que São Paulo tem uma arrecadação superlativa, não
encontrou ainda em uma liderança política do Executivo uma figura
comprometida com as questões sociais. Acho que é nessa lacuna que eu
entro, como um candidato que genuinamente representa essa nova classe C.
Vermelho: Que críticas você faz à atual administração?
NP: Com
todo o respeito que temos, inclusive por participar atualmente de uma
secretaria do governo do prefeito Gilberto Kassab, nossas críticas
permanecem as mesmas nas áreas sociais. Achamos que a política de
juventude no município não é a que consideramos adequada. Achamos que a
área social ainda requer mais investimentos, não apenas financeiros mas
basicamente estruturais.
Faltam políticas públicas voltadas para a questão da área social. Se por
um lado a cidade avançou em termos de estética, temos ainda a
degradação do Centro, o abandono e a falta de habitação popular, que é
visível. Temos uma desestrutura na área da política de combate às drogas
na cidade que também é visível para toda a população. São Paulo não
pode deixar isso de lado.
Cuidar dos mais carentes na cidade de São Paulo é também melhorar a vida
da classe média que existe aqui. Não pretendo ser um candidato que vai
separar, que vai manter uma cidade de ricos e de pobres, de brancos e de
negros. Temos que unir São Paulo em torno da melhoria e da qualidade de
vida do cidadão paulistano, seja ele de qual cor for ou qual condição
social ele tenha.
Vermelho: O cenário político das eleições de 2012 na
capital paulista promete ser bastante acirrado. Você já iniciou o
processo de discussões com outros partidos para formar alianças?
NP: Para o PCdoB, é essencial que haja mais candidaturas,
independentemente da nossa. A nossa luta é para quebrar essa polarização
que existe entre PT e PSDB aqui em São Paulo. Isso já deu o fruto e os
resultados que tinham que dar — e também já nos mostrou as suas
deficiências. Pessoas novas são muito bem-vindas na política.
A viabilidade da minha candidatura nesse momento passa por um processo
de ampliar as coligações. Temos feito exaustivas conversas com grandes
lideranças políticas — munidos de uma pesquisa muito animadora.
Temos tido respostas muito positivas. Há duas semanas, tivemos uma
conversa muito proveitosa com o PDT, que se mostrou muito sensível em
fazer parte da nossa coligação. Ainda não há nada definido, mas eles
entendem que nossa candidatura é legítima, que temos chances e que a
condição em que eu me encontro nas pesquisas é animadora.
No próximo mês, teremos uma conversa com o PSB para tentar entender o
que eles estão pensando para 2012. Nossas conversas com todos os
partidos, inclusive com o próprio PMDB, têm sido muito boas. São
conversas de alinhamento político.
Até novembro, a nossa luta vai ser justamente para estruturar e buscar
coligações com partidos que ideologicamente compartilhem com a minha
candidatura e que estejam dispostos a fazer parte de um amplo plano de
governo. Queremos partidos que possam participar e contribuir com o
plano ideológico do mandato.
Vermelho: Como está sendo a repercussão da sua pré-candidatura entre os seus eleitores?
NP: Minha relação com o gueto é o que tenho de mais concreto
para somar na luta política a que me predispus. É uma relação de
carinho, de muito respeito, de confiança e, acima de tudo, de esperança.
Eles veem muita esperança em um mandato como o meu. Fico até
emocionado.
Estive na terça-feira passada em um evento na Vai-Vai, e os presidentes
da Vila Maria e da Casa Verde, duas escolas de samba tradicionais de São
Paulo, começaram a falar que eu estava muito “preso” na Câmara — que eu
precisava ser mais presente, mais “pé no chão com a quadra”, porque sou
diferente dos outros candidatos. Quando você toma um puxão de orelha
desses, vê o carinho que as pessoas têm. Eles amam, defendem e estão
muito confiantes de que podemos ganhar essa Prefeitura e fazer um
mandato maravilhoso.
Vermelho: Ao longo de sua trajetória, como menino pobre
da periferia, depois como cantor, apresentador e agora político, você
sempre precisou provar sua competência para dar o passo adiante — e,
mesmo assim, tem sido muito criticado. O Netinho ainda precisa provar
alguma coisa?
NP: Quem nasceu e viveu na periferia passa a vida inteira
tendo de provar as nossas boas intenções e atitudes. Um erro pesa muito
mais do que todos os acertos — pelo fato de a gente não ter os órgãos de
repercussão das coisas positivas que a gente faz. Acho que não tenho
que provar nada pessoalmente. Mas todos nós, agentes políticos vindos da
periferia e do povo, temos de provar nossa capacidade. O Lula fez isso
e, seguindo o exemplo dele, quero fazer também. Não só pelos negros —
mas particularmente por toda a periferia.
Vermelho: Como você idealiza, dentro das propostas do PCdoB, o diferencial de sua candidatura?
NP: Nossa política de estruturar e fortalecer o Estado me
parece muito animadora. Poder fortalecer as estruturas políticas para
que o povo tenha acesso ao que existe de melhor no mundo, entender que
as políticas públicas podem beneficiar, sim, quem mais precisa,
compreender que não é privatizando tudo que as coisas serão melhores é o
que mais me motiva no partido.
O PCdoB busca, dentro do acúmulo de seus quadros políticos, encontrar
soluções não tão complexas para problemas que são complexos. E é isso
que mais me anima em fazer parte deste time. Não podemos nos fechar
dentro do nosso campo ideológico — mas, sim, encontrar maneiras de
difundir a nossa ideologia.
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