terça-feira, 12 de novembro de 2013

É hoje! Às 13h Manifestação de repúdio ao cancelamento do feriado de 20 de novembro

O Comitê Zumbi dos Palmares em Defesa do Feriado Municipal de 20 de Novembro, em Curitiba convoca todos e todas a participarem de manifestação pública, em frente ao Tribunal de Justiça e da ACP, de repúdio à suspensão do feriado municipal de 20 de novembro.
O Comitê é formado por dezenas de entidades do movimento social negro e dos movimentos sociais e sindicais da cidade.
Na última quinta-feira, em reunião que contou com mais de cem lideranças ficou definida a realização deste protesto. Divulguem ao maior número de pessoas possíveis. Vamos mostrar nossa indignação à mais um exemplo da presença do racismo institucional em nossa cidade.

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

19 EXEMPLOS DEPLORÁVEIS DE PRIVILÉGIO BRANCO


1. Por conta do privilégio branco, você nunca terá que se preocupar em tornar-se vítima de policiais. Lembre-se de Amarildo, do menino Juan, e tantos outros. Não é uma coincidência que centenas de incidentes como estes vêm acontecendo há anos.

2. Felizmente, você nunca terá que saber o que se sente ao ver a morte de seu filho adolescente ser comemorada ou ridicularizada. Sim, como no caso de alguém vestido como Trayvon Martin*

3. Por causa do privilégio branco, você nunca terá que informar seus filhos das duras realidades do racismo estrutural.

4. Privilégio branco significa que você pode ser articulado e falar bem, sem as pessoas fiquem "surpreendidas".

5. Com o privilégio branco, você nunca saberá o que é ter a seguinte estatística que paira sobre sua cabeça: De acordo com um relatório dos Estados Unidos, um terço dos homens negros daquele país irão para a prisão, pelo menos uma vez na vida.

6. Você pode vestir e agir como desejar, sem ser rotulado como um bandido, malandro, vagabundo, etc. Todo mundo quer "agir como um negro", mas ninguém realmente quer ser negro e sofrer as consequências neste país.

7.O Privilégio branco permite você falar sobre qualquer assunto em particular, sem ser o único representante de sua raça inteira.O Privilégio branco permite acreditar que todas as pessoas não brancas pensam da mesma forma e partilham pontos de vista semelhantes.

8. Privilégio branco significa que ninguém questiona por que você tem um ótimo emprego, e se presume que estava altamente qualificado para exercê-lo. Além disso, presume-se que você entrou naquela prestigiosa universidade com base no "mérito" e não porque uma "determinada quota tinha que ser preenchida."

9. Privilégio branco significa não ter que se preocupar com o seu cabelo, cor da pele ou acessórios culturais, como a razão de você não conseguir um emprego.

10. Privilégio branco significa que você não tem que se preocupar em ser vigiado em uma loja, só porque a tonalidade de sua pele é um pouco mais escura do que a das outras pessoas no ambiente. As pessoas não brancas são vistas como pouco confiáveis. 

11. Ter o privilégio branco significa que as pessoas nunca vão rotular você como um terrorista.

12. Privilégio branco significa não ser afetado por estereótipos negativos,que foram tão perpetuados e enraizados pelas pessoas brancas na sociedade brasileira, que as pessoas acreditam que eles sejam verdade.Algo como: " Homens negros não gostam de trabalhar ". Ou " mulheres negras tem apetite sexual insaciável."

13. Privilégio branco significa que você nunca tem que explicar o porquê apropriação cultural é uma coisa ruim.

14. Privilégio branco significa não ter que se preocupar em ser parado e revistado.

15. Se você se beneficia de privilégio branco, nunca vai ser dito para "acabar com a escravidão.” Irônico, não?

16. Privilégio branco significa que você nunca está só a sua própria pessoa. Por exemplo, Nicki Minaj é muitas vezes referida como a " Lady Gaga negra". Eu acho que as pessoas negras não podem ser peculiares ou excêntricas

17. Se beneficiar do privilégio branco significa que você pode andar na Terra sem saber de sua cor. As pessoas não brancas não tem esse luxo.

18 - Sua religião é respeitada, e não tem que fazer passeata contra intolerância religiosa, quando se tem o Privilégio branco.

19 - Quando se tem o Privilégio branco, a ajuda Emergencial de renda é dada pelo BNDES, recebe o nome de "empréstimo", "Ciência Sem Fronteira", etc. E não Bolsa-Família.

FONTE: Traduzido e adaptado a partir do texto de Michael Blackmon," 17 Harrowing examples of White Privillege".
*Trayvon Martin: adolescente americano, assassinado por um vigia branco, que afirmou ter atirado ao confundir o capuz que Trayvon vestia com um turbante.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

O Mordomo da Casa Branca e o feriado cancelado em Curitiba.

por: Daniel Hortencio de Medeiros
Vivi as duas experiências no mesmo dia. Fui assistir ao filme de Lee Daniels, “O mordomo da Casa Branca”, uma vigorosa e bem produzida história do racismo nos EUA, a mostrar a incrível violência com a qual os negros americanos foram tratados, muito tempo depois de o presidente Lincoln ter acabado com a escravidão. Violência que não poupou nem mesmo os trabalhadores que serviam os presidentes , como o mordomo Eugene Allen, interpretado pelo ator  Forest Whitaker, em brilhante atuação. Um filme para refletir sobre a força da democracia americana, capaz de viver esses horrores e , ao mesmo tempo, eleger e reeleger um negro para a presidência. Aliás, o filme mostra que o processo foi longo e contou com os cidadãos nas ruas e os políticos em seus gabinetes, trabalhando para diminuir a chama da estupidez e da ignorância racial, processo marcado por marchas e contramarchas angustiantes para os que sofriam a dor da discriminação. Assistindo ao filme aprendemos da decisão do presidente Eisenhower de enfrentar o governador do Arkansas e fazer valer a lei que permitia a brancos e negros frequentarem as mesmas escolas. Vimos o presidente Kennedy esbravejar na televisão contra a violência no Alabama e o presidente Johnson defender o direito de voto dos negros. Ou seja, poder público ( com altos e baixos) e entidades civis ( com acertos e extremismos) lutaram juntos , em um processo que não deve terminar nunca, para oferecer aos negros os mesmos direitos e benefícios que todos podem almejar em um país como os EUA.
Lembrar dele traz prejuízo, dizem os comerciantes.
Lembrar dele traz prejuízo, dizem os comerciantes.
E, não tem como ser diferente, saí do cinema pensando em nossa sociedade discriminatória, na qual pretos ( como o IBGE os define) ganham menos, tem menor formação, apanham mais da polícia, tem menor expectativa de vida, habitam as regiões mais insalubres, frequentam mais as filas do SUS e os morgues oficiais e extraoficiais. No entanto, pouco a pouco, com grande empenho da sociedade civil organizada e do poder público, ser negro no Brasil começa a deixar de ser uma “vergonha” e começa a ser uma atitude. Lógico que nada tem a ver com “raça”, no sentido científico do termo; tem a ver com uma história na qual construiu-se um conceito de raça para discriminar  e justificar diferenças que eram produzidas social e economicamente. Agora, esse mesmo critério – histórico – é usado para buscar compensar e minimizar o estrago de uma parte da elite branca que sempre viu os negros como o Outro menor e desvalorizado. Mais ou menos como as empregadas domésticas, quase todas negras ou pardas, agora portadoras de direitos que há muito eram direitos de todos mas que nossa herança escravista não admitia para elas.
Essa recuperação do lugar devido dos negros na sociedade brasileira passa também pela delimitação de momentos simbólicos de homenagens e lembranças da luta travada por muitos, ao longo dos séculos, na defesa de uma sociedade mais justa. Nos EUA, criou-se o dia para lembrar do pastor Martim Luther King, grande catalisador dessa luta pelos direitos civis dos negros americanos que é um orgulho para o mundo todo e faz dos EUA a grande democracia que é. Um dia de feriado na maior nação capitalista do mundo, para os brancos e negros americanos lembrarem que o poder público dos EUA assumiu um lado, o lado da luta contra a segregação, discriminação e preconceito. Um feriado que deve custar caro aos cofres da nação que mais dinheiro produz no mundo. Mas que tem um valor muito maior que os milhões ( bilhões, certamente) de dólares que deixam de ser arrecadados pelo comércio ávido de vendas e bons negócios: o valor da lembrança que esse  país, os EUA, só poderão olhar para seus próprios olhos, com confiança e respeito, se admitirem o erro brutal e mesquinho que cometeram e prometerem, nesses momentos solenes e sagrados, que nunca mais cometerão atos assim e se o fizerem, serão punidos exemplarmente.
Enquanto isso, em Curitiba, a associação comercial, conseguiu na justiça, a anulação do feriado municipal em lembrança e em homenagem ( e para a reflexão)  do dia da consciência negra. O motivo? O prejuízo que terá o comércio curitibano com a medida. Assim como acontece nos demais feriados – os religiosos, por exemplo – nunca questionados por nossos devotos vendilhões de templos.
Atos como esses não devem perder-se no vento. O dia 20 de novembro, dia da consciência negra, dia da lembrança de que somos ainda, e muito, um país racista e discriminatório, deve ser lembrado como um dia de não consumo. Se os comerciantes, com ajuda prestimosa e providencial do poder judiciário, negam o direito  para homenagens e reflexão, que fiquem de braços cruzados nas portas de suas lojas , esperando Godot.
Publicado: gazeta do povo

Este ano Zumbi será Ressuscitado em Curitiba

por: Mariana Raquel Costa


“Por motivos econômicos, a Associação Comercial do Paraná e o SINDUSCON-PR pediram o cancelamento do feriado municipal do dia da Consciência Negra em Curitiba, que foi concedido pelo Tribunal de Justiça do Estado.
Por motivos econômicos, por mais de trezentos anos os negros foram sequestrados de suas terras, comercializados e coisificados. 
Também por motivos econômicos, há exatamente 125 anos, quando a mão-de-obra escrava já não interessava ao sistema capitalista em desenvolvimento, os negros foram libertados e deixados a sua própria sorte. 
Ainda por motivos econômicos, os negros engrossam até hoje as favelas brasileiras, compõem a parcela mais pobre da população, possuem os empregos mais precarizados, recebem os menores salários, compõem mais de noventa por cento da população carcerária do Paraná, ocupam menos cadeiras nas universidades e menos espaços de poder. 

Não sei por que, mas para mim os tais motivos econômicos citados pela ACP, se confundem com o racismo tão profundamente enraizado no Brasil. 
O racismo que também é institucional, o racismo que nos persegue e faz parte da nossa história.
Aqueles que são contra o feriado, afirmam que a decisão pautou-se numa certa igualdade, afinal, se houver feriado para os negros será preciso garantir um feriado para os alemães, para os poloneses e assim por diante. 

Mas já não basta todo dia ser dia de branco? Todos os parques construídos em memória da sua história? Não basta que as crianças negras sejam perseguidas pela história eurocêntrica, que é incapaz de incluir a África em outro contexto que não seja o da escravidão? Não basta que a cidade esteja repleta de estátuas dedicadas aos seus heróis? Que desses heróis muitos deles foram bandeirantes, ou governantes responsáveis por manter nossa condição? Que as personalidades negras que fizeram história sejam renegadas ao esquecimento? Não basta que o herói do meu dia, tenha sido morto pelos heróis da sua história? 

Não, não basta! É preciso ridicularizar o dia da Consciência Negra, ridicularizar a nossa luta diária pela sobrevivência. É preciso menosprezar nossa cultura, demonizar as religiões de matrizes africanas, rir dos nossos fenótipos em programas de humor, propagar que nosso único talento é sambar e jogar futebol, negar a nossa beleza, adjetivar nosso cabelo como sendo ruim, defender um estereótipo de suspeito padrão cuja principal característica do bandido seja a pele escura. É preciso matar jovens negros todos os dias, em nome da justiça e do combate ao tráfico, é preciso, é necessário diminuir para governar. 

Mas não somos inocentes, não é de hoje que conhecemos a verdade. Nós sabemos que não somos representantes do imaginário curitibano de capital europeia do Brasil, que somos a história que Curitiba quer esquecer. Nós sabemos que somos o único povo que não ilustra o mural da câmara municipal que retrata as etnias que construíram Curitiba. Que nossa história em Curitiba é negada todos os dias, como se mãos negras não tivessem construído a igreja do Rosário, como se os irmãos Rebouças não tivessem construído a estrada de ferro. 

Nesse sentido, cancelar o feriado municipal da consciência negra, significa negar mais uma vez a nossa importância na construção de Curitiba. Renegar mais uma vez a nossa história à invisibilidade. Chega de negação! Não tirem das crianças negras o direito de conhecer sua história, de encontrar suas origens, sua ancestralidade. De não ter que chegar a idade adulta para construir a sua identidade racial, mas aprender cedo que não há vergonha na sua ancestralidade, mas pelo contrário, que a sua descendência é a resistência, de tantos homens mulheres que lutaram pela liberdade e pela igualdade. 

Em 20 de novembro de 1965, Zumbi dos Palmares foi morto e decapitado pelos bandeirantes. Fato comemorado pela coroa, que determinou que sua cabeça fosse exposta em praça pública.
Em novembro de 2013, em Curitiba, julgam os senhores do comércio que irão comemorar, mais uma vez, a cabeça de Zumbi exposta em praça pública. Eu digo que este ano não.

Este ano Zumbi será ressuscitado em Curitiba.”

Tudo é mais relativo quando nos tornamos classe média....


Tudo é mais relativo quando nos tornamos classe média. A dor, o passado, o sofrimento dos antepassados são suavizados, clareados, amordaçados, relativizados pelo "também" tenho sangue negro.O olhar fica enviesado e não consegue focar o olhar que tem cor, que tem dor, que tem....Neste curso, justificamos sermos um pouco diferentes: não tão negros, um pouco meio índios, talvez afro, com certeza mas pra português é, é isso! Não nos reconhecemos, não nos queremos, não nos abraçamos...quando nos tornamos classe média tudo tem mais sentido, a casa,o carro, o cargo...até mesmo essa angústia, esse princípio de depressão tem sua razão quando se é classe média.

Denis Denilto



terça-feira, 5 de novembro de 2013

Suspensão do feriado de 20 de novembro gera polêmica em Curitiba

Projeto sobre feriado da Consciência Negra foi suspenso pelo TJ-PR.
Medida que determina a suspensão ainda cabe recurso, segundo o TJ.
fonte:g1.globo.com.br
A suspensão da lei que cria o feriado do Dia da Consciência Negra, em Curitiba, determinada pelo Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR), causou polêmica entre os vereadores da Câmara Municipal de Curitiba e militantes do movimento negro da capital na manhã desta terça-feira (5). O projeto já tinha sido aprovado pela câmara em novembro de 2012 e previa a paralisação das atividades na cidade no dia 20 de novembro, quando a data é comemorada nacionalmente.
A suspensão foi anunciada na segunda-feira (4) pelo Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR), que aceitou um pedido feito pela Associação Comercial do Paraná (ACP) e pelo Sindicato da Construção Civil do Paraná (Sinduscon-PR). Ambos os órgãos relataram prejuízo calculado em R$ 160 milhões com a possibilidade do fechamento do comércio, indústria e serviços em geral. O TJ informou que a decisão não é definitiva e ainda cabe recurso.

"Nós não somos contra as comemorações do Dia da Consciência Negra. O que nós somos contra é sobre mais um feriado de tantos que já temos em Curitiba", declara o vice-presidente da Associação Comercial, Gláucio Geara.

Para o presidente do Conselho Municipal de Política Éticos Raciais, Saul Dorval da Silva, a medida deve ser reavaliada com urgência. "Do ponto de vista jurídico nós vamos tomar todas as medidas, entre elas buscar a intervenção imediata do TJ, Ministério Público (MP-PR), Câmara Municipal e também vamos procurar o prefeito Gustavo Fruet", afirma. "Está na hora da procuradoria do município se pronunciar a favor da população de Curitiba", acrescenta.

O vereador Mestre Pop (PSC) reiterou que mais de mil cidades brasileiras já aderiram ao feriado. Ele criticou a justificativa da ACP e do Sinduscon-PR e afirmou que o feriado pode trazer, também, benefícios para a capital. "Em São Paulo, por exemplo, o dia da Consciência Negra é um dia em que percebe-se um aumento no número de turistas e da rede hoteleira em geral, além do aumento de visitações nos shoppings. Enfim, é totalmente o contrário do que eles [ ACP e Sinduscon] pensam", ressalta.

De acordo com o TJ, um julgamento sobre o caso ainda deverá ser marcado. Entretanto, até que haja uma definição, a determinação é de que as empresas devem funcionar normalmente no próximo dia 20 de novembro.

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Curitiba propõe cotas nos concursos municipais

Projeto de lei apresentado nesta sexta-feira (1º), na Câmara de Curitiba, trata da implantação de cotas em concursos públicos municipais da administração direta e indireta. O líder do PDT, vereador Jorge Bernardi, propõe a reserva de 20% das vagas aos candidatos afrodescendentes, pardos e indígenas.

A matéria prevê que o candidato declare sua etnia e manifeste o interesse por uma das vagas especiais no momento da inscrição. Caso não sejam preenchidos pelas cotas, os cargos seriam redistribuídos pelos demais aprovados, por ordem de classificação. A regulamentação é atribuída ao Executivo municipal, em até 60 dias após as eventuais, sanção, aprovação e publicação da lei.

"O processo democrático está em evolução constante, assim como toda a nação brasileira, que lentamente constrói uma realidade que atenda ao bem comum, a partir de um modelo colonial fundamentado na exploração do trabalho escravo e na opressão dos demais trabalhadores que, mesmo libertos, tinham seus interesses subjugados por uma elite agrária", justificou Bernardi.

"Cada vez mais a visão de democracia vai se aperfeiçoando, permitindo que setores antes marginalizados tenham igualdade de direito", completou. O parlamentar cita políticas afirmativas do poder público federal e estadual, implantadas ao longo dos últimos oito anos, como as cotas raciais no ensino superior. A proposição, de acordo com ele, é uma sugestão do Instituto Afro-Brasileiro do Paraná, presidido pelo jornalista Saul Dorval da Silva.