HERANÇA CULTURAL
125 anos após a publicação da lei que extinguiu oficialmente a escravidão no Brasil, as marcas da população africana são significativas no Paraná
Uma história que tinha tudo para dar errado. Por cerca de três séculos, eles foram retirados à força de suas famílias e viraram escravos em solo brasileiro. Estima-se que de 4 milhões a 7 milhões de africanos atravessaram o Oceano Atlântico em navios negreiros. Oficialmente, a escravidão só terminou há 125 anos, quando a Lei Áurea foi publicada, no dia 13 de maio de 1888. A imigração forçada obrigou os africanos a adotarem o Brasil como sua nação.
Mas a história dá voltas e hoje é impossível imaginar o país sem a contribuição dos descendentes de escravos.
Em busca de uma casa cultural
Também prestes a completar 125 anos em Curitiba, a Sociedade Operária Beneficente 13 de Maio transformou-se em ponto de encontro entre pessoas das mais diversas etnias, que se reúnem para dançar e se divertir. Mas o sonho do presidente, Alvaro da Silva (foto), é resgatar a importância cultural do espaço. “Quero transformar a Sociedade em uma verdadeira casa cultural, onde se celebrem as mais diversas atividades características do negro. Além do samba, quero ter capoeira, maracatu e grupos de dança”, afirma.
Fundada por negros libertos no fim do século 19, a Sociedade funciona com um clube, com presidente e 15 diretores. “Aqui é a casa do negro em Curitiba e não podemos deixar que o 13 desapareça na história”, ressalta o presidente. Segundo ele, muitos avanços já são sentidos. “Tem as cotas, que podem ajudar a deixar a gente em condição de mais igualdade, o que é muito importante para todo o país. Afinal, o que seria do Brasil sem os negros?”, indaga.
Festa
Para celebrar os 125 anos da Sociedade, no dia 13 de maio haverá um missa às 17 horas na Igreja do Rosário, seguida de um arrastão de maracatu até o clube às 19 horas. A partir das 20 h começam as festividades, com presença de Tunico da Vila (filho de Martinho da Vila). Os ingressos antecipados estão à venda por R$ 25.
25,4% da população do Paraná é formada por pardos e 3,1%, por pretos (nomenclatura oficial), segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Contribuições
O que seria, por exemplo, da literatura sem Machado de Assis? Onde estaria o país do samba? O legado cultural transmitido a outros grupos pelos afrodescendentes é inegável. “A arte barroca deve muito aos negros. A música e a literatura também”, exemplifica o coordenador do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da Universidade de Brasília (UnB), Nelson Inocêncio.
No Paraná, onde muitas vezes se dá mais valor à imigração europeia, a história não é diferente. As marcas dos africanos são presentes e significativas em todo o estado. Para explorar a história quase esquecida dos negros no Paraná, a exposição “Passado e Presente: caminhos de uma identidade”, realizada pelo Museu Paranaense, em Curitiba, será aberta ao público na próxima terça-feira.
Presença no PR
A mostra conta com imagens, documentos e objetos que fizeram parte do passado dos negros no estado e também fotos de quem representa a história no presente, com pessoas trabalhando e se divertindo. “Mostramos que o negro está, aos poucos, conquistando espaço e respeito”, conta o antropólogo e curador da exposição, Jurandir de Souza.
Em Curitiba, não há como passear pelo centro histórico e não se lembrar dos negros. “Todos os prédios da região foram construídos por braços negros”, afirma Souza. Monumentos fazem menção ao passado e presente negro na capital do estado: a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, fundada por uma irmandade negra em 1737, o pelourinho da Praça Tiradentes e o antigo Largo da Fonte, construído na Praça Zacarias em homenagem ao mulato Zacarias de Góes e Vasconcellos – primeiro presidente da província do Paraná (1853-1855). A obra foi concluída em meados de 1871.
Há ainda a Praça Zumbi dos Palmares, em homenagem ao ícone da resistência à escravidão. No interior do estado as referências também existem, como a Fazenda Capão Alto, em Castro, que abrigou uma comunidade de escravos no século 19. Isso para citar só alguns exemplos.
Segundo o antropólogo, é o legado cultural o mais representativo da comunidade negra no estado e no país. “Nesse aspecto a contribuição é imensa; passa pelo carnaval, pela gastronomia, pelas danças, pela capoeira”, ressalta Souza.
Apesar de trocas culturais, faltam inclusão social e cidadania
Que o legado cultural existe e está debaixo de nossos olhos não resta dúvida. Porém, a discriminação racial ainda é apontada como motivo de preocupação por estudiosos do tema. O coordenador do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da UnB, Nelson Inocêncio, ressalta que todo século 20 foi praticamente perdido. “Não existiram políticas públicas capazes de inserir os negros na sociedade. Neste século é que se começou a discutir melhor a questão”, afirma. Ele avalia que as cotas nas universidades e a obrigatoriedade de as escolas ensinarem a história afro são avanços conquistados. “Mas isso é só o começo”, salienta.
Segundo ele, há debates tensos com setores mais conservadores da sociedade. Há pessoas intolerantes, que não respeitam o candomblé, por exemplo. Mas por outro lado temos uma lei que torna o racismo um crime”, diz.
O professor de História Luiz Geraldo Santos Silva, da Universidade Federal do Paraná, afirma que o Brasil ainda é preconceituoso. “Trocas culturais não significam cidadania e não significam respeito à cultura negra”, ressalta.
Para o antropólogo Jurandir de Souza, gradativamente os negros estão sendo mais respeitados. “As políticas afirmativas contribuem, mas ainda assim precisamos de uma inclusão social, já que temos uma massa que é excluída e os excluídos são negros.”
Influências
Confira algumas contribuições da cultura de origem africana para a construção do Brasil:
• Música: Além do samba, outros ritmos também vieram da África, como maracatu e congada. Sem falar de instrumentos popularizados no país, como agogô, atabaque e berimbau.
• Culinária: Ingredientes como o leite de coco, a pimenta malagueta, o gengibre, o milho, o feijão preto, o amendoim, o mel, a castanha, as ervas aromáticas e o azeite de dendê não eram conhecidos nem usados no Brasil antes da chegada dos africanos.
• Idioma: As línguas africanas exerceram tanta influência no modo de falar do povo brasileiro que a nossa língua já é considerada diferente do português de Portugal. Na Bahia, são usadas cerca de 5 mil palavras de origem africana.
Fonte: Agência Brasil
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