por: Larissa Leiros Baroni
"Essa é a minha única esperança". É o que diz o aposentado Nelson Siqueira Filho, 51, que há 25 anos vive em cima de uma cadeira de rodas, ao explicar sua adesão ao acampamento conhecido como "Novo Pinheiro" em Embu das Artes, região metropolitana de São Paulo, que já abriga mais de 2.000 famílias.
Ele vive com os dois filhos --um de 4 anos e o outro de 14-- e a mulher em um quartinho de um único cômodo que aluga por R$ 250 mensais. O salário da aposentadoria, no valor de R$ 420, já desconta o empréstimo realizado há 12 meses para a compra de sua cadeira de rodas, o resto, segundo ele, "não dá para nada". "Gasto quase tudo com remédios para osteomielite. Muita vezes tenho que recorrer à ajuda pastoral para conseguir comer", explica.
Siqueira vê na ocupação uma chance de melhor sua situação. "Quando vi as pessoas entrando no terreno, a esperança que parecia ter morrido, renasceu", diz o aposentado.
Mesmo suando, por conta do calor da barraca, e com dificuldades para se locomover, ele afirma: "Isso não é nada perto do que passo preso dentro do cubículo em que morro, onde mal consigo me movimentar."
REALIDADE BRASILEIRA
9.000
é o número de famílias que sofrem com
a falta de moradia digna em Embu das Artes, segundo estimativa do MTST33 milhões
de brasileiros não possuem moradia,
de acordo com o Programa das ONU para Assentamentos Humanos"Não vou mais sair daqui, porque aqui será nosso lar de verdade", conta ele, ao se referir ao projeto da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo), que prevê a construção de 1.200 moradias no terreno conhecido como "Roque Valente", mas que foi barrado por ambientalistas.Quem quer participar da ocupação, segundo a coordenadora estadual do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto), Vanessa de Souza, só precisa encontrar um espaço no terreno e respeitar algumas regras básicas de convivências. "A primeira delas é não vender nada dentro da ocupação, tampouco comerciar lotes", explica. Também é proibido desmatar. "As demais regras são decididas em comum acordo com os ocupantes para a criação de um regimento interno."Para aqueles que já têm um imóvel, Vanessa alerta: "É uma perda de tempo". E embora reconheça não ter como se prevenir dos oportunistas, a duração deles na ocupação, segundo ela, é passageira. "Eles sempre acabam desistindo ao ver as dificuldades."
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