quinta-feira, 27 de agosto de 2009

A Politica precisa do Negro


A política brasileira sempre ignorou a identidade negra. Sempre fez pouco caso de nossa luta por melhores condições de vida, principalmente porque a política costuma ser uma ferramenta para a perpetuação dos grupos dominantes no poder. A palavra elite parece estar fora de moda, mas seu significado é o mesmo de sempre: pessoas estrategicamente separadas de um todo e que sobrevivem graças ao esforço coletivo do restante da população.
É preciso que se diga: os negros jamais integraram a elite econômica ou social neste País. O Brasil mantém um sistema incomum de racismo, onde impera o descaso com o negro, com o pobre e com as demais minorias. Não bastasse o preconceito velado contra a raça negra, existe um forte sistema que joga duro contra pobres, homossexuais, crianças, mulheres, índios, portadores de necessidades especiais e idosos, fator que tem impedido a integração de causas e lutas.
Recentemente, a política tem se aproximado dos temas negros. Talvez inspirados na vitória de Barack Obama, os partidos procuram criar espaços internos para debater as causas da raça. A deputada federal Iris de Araújo (PMDB) anunciou a existência de corrente “afro” em seu partido.
Acho louvável a ação da legenda, mas recordo que o PMDB, como um dos maiores partidos políticos do Ocidente, por ter lutado contra a repressão e ditadura, chega tarde nesta causa. Deveria ter se empenhado no passado para fazer valer a voz das comunidades negras que se postam hoje segregados nas periferias. Nossas comunidades foram solenemente ignoradas nas últimas décadas de democracia. Mas é sábio o ditado do povo: antes tarde do que nunca.
É público e notório que a suposta maior potência do globo elegeu um negro para comandar sua política interna e externa. A vitória de Barack Obama representa, de certa forma, um marco para a aproximação da política aos anseios negros.
É verdade que o capitalismo descobriu este importante segmento antes de todos. As multinacionais investem tempo, esforços e pesquisas para atender e conquistar afrodescendentes.
Sabemos também que os negros foram e são usados como símbolo de pobreza e miséria para sensibilizar a sociedade. Este discurso de piedade é natural quando se deseja conquistar as atenções. Afinal, é mais do que clara a situação de injustiça sofrida pelos negros – e todos sabem o quanto a injustiça sensibiliza os seres humanos. Somos, portanto, na atualidade, duas medidas para as elites e partidos políticos: público consumidor e eleitores em potencial.
O novo comportamento político sabe que os tempos do coronelismo e da escravidão já ficaram para trás. É necessário termos igualdade e democracia que não sejam moldadas exclusivamente pela cor da pele, mas também não podemos deixar de lado o debate de fatos que ficam sempre em silêncio e sem respostas.
Até hoje o negro tem sido solicitado na política apenas para ser usado. Onde estão, afinal, os secretários e ministros negros no Poder Executivo? Que destaque temos no comando e efetivação das políticas públicas? Não enxergo o mundo separado entre negros e brancos, mas onde, afinal, estão os representantes de minha raça? Eles assinam a liberação dos recursos públicos, comandam as licitações, decidem onde e quando será efetivada tal obra? Enfim, temos poder discricionário para decidir ações que influenciam a vida das comunidades?
Não acredito na competência da pele, mas na capacidade intelectual e moral das pessoas. A política é o meio que grupos sociais encontram para conquistar o poder. Por isso é muito instável. Afinal, em um momento se é poder e noutro nos transformamos em oposição. Por isso que os partidos que estão no poder devem usar esta prerrogativa para executar serviços destinados aos afrodescendentes. Os negros querem fazer parte e integrar as decisões. Desejam, enfim, existir de fato. Não é mais uma questão de tempo novo ou de tempo velho na política, mas de ação e renovação de comportamentos – de nova consciência moral, intelectual e política.
Negro Jobs é gari e vereador de Goiânia (garinegrojobs@gmail.com)

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