IX
ENCONTRO DE EDUCADORES NEGROS E NEGRAS DO PARANÁ
(Novembro 2012)
“Os homens [e mulheres]
são movidos por sonhos, pelas imagens que os habitam, pelas representações
ideais que flutuam em suas mentes – as palavras que pronunciam e os atos que
realizam são determinados por sua imaginação, poderíamos meditar sobre as
imagens carregadas em nós, tornando-nos conscientes de como elas nos impelem
constantemente a ter certos pensamentos e realizar certos gestos, imagens,
formas, sonhos são sinetes e a matéria é cera.” (Zolla, 1978)
Os guerreiros e guerreiras, participantes do IX Encontro
Estadual de Educadores Negros e Negras do Paraná, reunidos em Pinhais nos dias
26, 27 e 28 de novembro de 2012, reafirmam que esse encontro é ação do
movimento negro, é uma conquista dos/as educadores/as negros/as, de todos/as
aqueles/as que estão aqui hoje e se identificam como negros/as, de todos/as os/as
não negros/as que vem ao longo do tempo contribuindo para a construção de uma
sociedade de igualdade.
Estamos reunidos nesse IX Encontro, não apenas para cumprir
uma lei ou ainda para que o governo faça propaganda, dizendo que governa junto com
os movimentos sociais e que preocupa-se com questões étnico-raciais, mas sim, estamos aqui
porque acreditamos que nós educadores/as negros/as somos uma chama de esperança
para nossos/as estudantes negros/as que todos os dias são desrespeitados/as
pelo simples fato de serem negros/as, de terem uma cor de pele que marca uma
história de muita dor e violência, mas também de muita luta e resistência.
Basta de piadas racistas, do uso do poder para nos humilhar,
do racismo velado ou institucional. Chega de discursos contrários às cotas, a Lei
nº 10.639/03, de preconceito contra as religiões de matriz africana.
Passados 317 anos do assassinato do herói negro Zumbi dos
Palmares, dos 124 anos da abolição inacabada, dos 09 anos da criação do Art.
26-A da LDB, dos 02 anos do Estatuto da Igualdade Racial, e de pouco mais de 2
meses da Lei de Cotas nas Instituições de Ensino Superior Federais (IES),
passou da hora de darmos um basta a todos os estereótipos racistas criados em
relação a população negra.
Os sonhos que movem os educadores negros e negras do Paraná são
que os lugares da população negra não sejam os estabelecidos pela escravização criminosa,
mas sim na educação, no direito, na medicina, na comunicação, na política, nos
espaços de direção, enfim, em todos os lugares; que a nossa cor de pele não seja
obstáculo para nada; que tenhamos nossa ancestralidade dignificada e que
políticas públicas sejam efetivamente implementadas para promoção da igualdade
racial, para o combate aos racismo e para uma efetiva reparação do escravismo
criminoso que perdurou em nosso
País por quase quatro séculos e que hoje dissimulado em uma nova
roupagem, chamado racismo institucional,
impregnado não apenas em atitudes individuais, mas em práticas coletivas da
organização do Estado Brasileiro.
Basta ver o extremo preparo das forças policiais para
agredir pobres, negros/as, homossexuais, como tristemente demonstra o mapa da
violência, a exemplo de episódios envolvendo jovens negros, no Jardim Igapó em
Londrina, e mulheres negras, no Bairro Alto em Curitiba, onde além da ofensa à
dignidade da pessoa humana, constata-se explicitamente o racismo institucional.
Ou na “sutileza” de detalhes, como nas precárias condições
para a realização desse encontro, o que reposiciona o racismo neste País, tendo
o Estado como seu protagonista, na medida em que a infraestrutura destinada ao
evento não oferecia acessibilidade, condições sanitárias ou possibilidades de interação,
congraçamento e representação cultural afro-brasileira material e imaterial
(alimentação, danças, tambores, vestimentas, artes, religiosidade, etc).
Ter prioridade na execução de políticas públicas de promoção
da igualdade racial e de combate ao racismo significa assegurar e executar
orçamento, infraestrutura condigna, respeito às conquistas sociais presente na
Constituição e na legislação brasileira, combate a violação de Direitos Humanos
e garantir o exercício da cidadania.
Ressaltamos a força do IX Encontro Estadual de Educadores
Negros e Negras do Paraná como chama de esperança para a construção de uma
sociedade de igualdade e democrática; as manifestações críticas que apontaram
os obstáculos que ainda existem na luta pela promoção da igualdade racial e as
moções de repúdio a Associação Comercial do Paraná pelo seu posicionamento
contrário a aprovação do feriado municipal do dia 20 de novembro e de apoio a
Câmara Municipal de Curitiba pela transformação do dia 20 de novembro (Dia
Nacional de Zumbi e da Consciência Negra – Lei Federal nº 12.519/2011) em feriado municipal;
bem como o conjunto de proposições elaboradas durante o encontro e anexas a
esse texto.
Considerações Críticas:
Acreditamos que não bastam palavras de solidariedade na luta
pela igualdade racial, faltam testemunhos aonde a crítica e a autocrítica, por
um histórico de naturalização da opressão, exige uma coragem de vencer uma
cultura de racismo e preconceito. As palavras quando não acompanhadas de uma
ação tornam mais distante o que perseguimos com perseverança que é a construção
de uma sociedade de igualdade e respeito à dignidade humana. E motivados pela crença
no poder das palavras apenas associado à força da ação é que manifestamos a
nossa indignação com a estrutura física disponibilizada para o IX Encontro
Estadual de Educadores Negros e Negras do Paraná, a nossa revolta com a
constatação de que a dignidade humana ainda continua ultrajada pelo racismo
presente nas denúncias de violência contra a população negra comunicadas durante
o encontro. Sentimos-nos agredidos diante do diagnóstico realizado no encontro
que indica que as políticas públicas de promoção da igualdade racial não estão
sendo conduzidas de maneira a surtir o efeito necessário ou não tem recebido o
investimento adequado. Exigimos respeito
ao que prevê a legislação brasileira, investimento nas políticas públicas de
promoção da igualdade racial e além das palavras de solidariedade, que
sinalizam uma intenção, a ação voltada para a estruturação de uma parceria
sólida na construção da igualdade racial.
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