terça-feira, 30 de setembro de 2014

Fascismo homofóbico no debate presidencial


“Uma civilização é julgada pelo tratamento que dispensa às minorias.” (Mahatma Gandhi)
publicado: Revista Fórum
Por Toni Reis*

Segundo sua Constituição, o Brasil é uma república democrática. Entra outras coisas, isto significa a participação igualitária direta ou indireta do povo no governo do país. Não significa que a maioria pode impor sua vontade às minorias, e nem o contrário. Significa que todos e todas têm voz e vez.

No debate na Rede Record no dia 28/09/2014 com candidatos/as presidenciais, o candidato Levy Fidelix (PRTB), numa postura que não condiz com o cargo que pleiteia, desafiou em relação às pessoas lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBT): “Vai para a [avenida] Paulista e anda lá e vê. É feio o negócio, né? Então, gente, vamos ter coragem somos maioria. Vamos enfrentar essa minoria. Vamos enfrentá-los”, demonstrando uma posição fascista de desrespeito à democracia brasileira e de incitação de ódio contra uma parcela da população.

Mais do que isso, equiparou equivocada e preconceituosamente a homossexualidade à pedofilia, taxou as minorias sexuais de doentes e incentivou a prática de sua marginalização e exclusão social; “o mais importante é que esses que têm esses problemas realmente seja atendidos no plano psicológico e afetivo, mas bem longe da gente. Bem longe, mesmo, porque aqui não dá”.


São demonstrações de intolerância como essas que contribuem diretamente para os pelo menos 310 homicídios e 9.982 denúncias de violações dos direitos humanos de pessoas LGBT no Brasil apenas no ano de 2012, registrados no “Relatório sobre Violência Homofóbica no Brasil”, publicado pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. Estes não são dados isolados; se reproduzem todos os anos inclusive em função da veiculação em meios de comunicação, incluindo concessões públicas, de falas como essas do candidato Fidelix.

E se tivesse feito afirmações depreciativas sobre a população negra ou judaica, por exemplo, qual teria sido a reação pública e a pena criminal que o candidato teria que “enfrentar”? Ele não escaparia ileso. Basta ver o caso recente do goleiro Aranha.

Peço que o Conselho Federal de Psicologia se posicione urgente e publicamente sobre a não patologização da homossexualidade, em consonância com a Resolução WHA43.24, da 43ª Assembleia Mundial da Saúde, de 17 de maio de 1990.

Peço que o Tribunal Superior Eleitoral e a Procuradoria-Geral Eleitoral atendam as representações pela cassação do registro da candidatura de Levy Fidelix.

Peço que o Supremo Tribunal Federal julgue como procedente a ação que pede a criminalização da homofobia.

Peço que a Rede Record dê direito de resposta à Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), entidade de representação nacional da população LGBT.

Acima de tudo, peço seriedade e respeito a todas as pessoas no processo eleitoral brasileiro.

Concluo com as palavras de Rosa Luxemburgo: “Por um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres”.

*Toni Reis é ex-presidente da ABGLT. É doutor em educação e é casado há 25 anos com David Harrad. São pais de 3 filhos, de 13, 11 e 9 anos. Defendem todas as formas de família e o respeito à diversidade humana..

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

"Escolhi ser o neguinho engraçado para não ser zuado por causa da cor"

publicado: pragmatismo político
“Na minha infância, pra me defender, eu era o pretinho que ria da própria condição, fazia de tudo pra passar despercebido. Tentava ser incolor. Pelé insiste em dizer que é a melhor forma pra combater o racismo”
dj cortecertu racismo pelé

Dj CorteCertu*, Escrevinhador
Na minha infância, pra me defender, eu era o pretinho que ria da própria condição, fazia de tudo pra passar despercebido. Pra não ser zoado por causa da minha cor, escolhi ser o neguinho engraçado, o moleque que não incomodava e tentava ser incolor.
Não entendia nada sobre racismo, apenas sentia o preconceito e percebia que as pessoas preferiam pretos assim. Eu estava onde achavam que eu deveria estar: sem me conhecer e sem reconhecer os meus.
O rap me tirou desta posição que o Pelé insiste em dizer que é a melhor forma pra combater o racismo.

Esconder a realidade para forjar harmonia é uma arma utilizada por vários grupos da nossa sociedade.
Uns, por falta de informação e conhecimento, utilizam como forma de defesa. Outros, por conhecerem bem as engrenagens que movem o país, utilizam como forma de dominação.

Nada é tratado de maneira mais profunda.
Para a maioria, o racismo tem o poder de existir sem racistas. O racismo sempre está lá fora.
Tente conversar sobre racismo no ambiente de trabalho e verá que muitos apenas vão lutar pra mostrar que não são racistas. Não ser racista é o começo, mas não basta para acabar com o racismo.

*Dj Cortecertu é editor do Portal Central Hip-Hop/BF

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Papo de Ubaldo

publicado: Carta na Escola

Em narrativas tão orais que podemos quase escutar os personagens ao nosso ouvido, o escrito nos leva 
à complexidade do Brasil

Por Leda Cartum
João Ubaldo Ribeiro era baiano e sergipano, escritor e jornalista, era membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), mas se entediava com o “papo de literatura”. Nem para lá nem para cá, esse que foi considerado um dos maiores escritores brasileiros de seu tempo, falecido dia 18 de julho, vítima de embolia pulmonar, adotou uma postura anti-intelectual e, às grandes discussões metafísicas preferia as conversas descompromissadas nos botecos do Leblon. Como deixou claro em seu discurso de posse na ABL, “sou apenas um romancista, um contador de histórias”. João Ubaldo nasceu em 1941, na ilha de Itaparica, na Bahia, mas mudou-se aos 2 meses para Sergipe, e ali passou toda a infância. Foi, desde pequeno, um grande leitor, incentivado pelo pai – tanto que aos 6 anos, mesmo sem entender nada, já lia Hamlet. Estudou direito na Universidade Federal da Bahia, onde foi colega de Glauber Rocha: juntos, os dois editaram revistas e jornais culturais, além de participarem de movimentos estudantis.

É a partir dessa história que Ubaldo se tornou escritor, tendo já seu segundo livro, Sargento Getúlio (1972), premiado com o Jabuti de Revelação de Autor. Mas, mesmo que tenha sido ele próprio quem traduziu alguns de seus livros para o inglês – caso raro de escritor que traduz a própria obra –, declarava, sem cerimônias: “Eu não sei nada o suficiente para escrever além de Itaparica, minha terra. Aquele universo de Itaparica me absorve inteiramente”.

Realmente, o fato de ter suas obras adaptadas para televisão, cinema e teatro, e traduzidas para línguas como alemão, finlandês, holandês ou hebraico, sendo conhecidas no mundo inteiro, não contradiz a veia regionalista que atravessa esses livros. A ilha natal de João Ubaldo torna-se, em seus romances e crônicas, um microcosmo onde o mundo todo acontece: desde os causos de oradores locais até experiências genéticas em laboratório.

Mas é importante lembrar que chamar a sua literatura de regionalista não significa associá-la ao exotismo pitoresco da ideia de “cor local” que essa palavra já caracterizou. Aqui, o romance regionalista do Nordeste é o ponto de partida para reflexões que abrangem toda a história brasileira, na sua complexidade: em meio a narrativas tão orais que podemos quase escutar o personagem falando ao nosso ouvido, nascem críticas políticas e sociais que colocam em jogo as questões fundamentais de um país subdesenvolvido e cheio de injustiças e desigualdades. Embates morais, engajamento político, dilemas metafísicos recheiam livros que, ao mesmo tempo, são muito claros e habitados por personagens típicos do povo brasileiro. Esse olhar tão particular, dialogando com autores como Graciliano Ramos e Guimarães Rosa, levou João Ubaldo a ser apadrinhado pelo grande Jorge Amado, que o considerava “um dos maiores escritores brasileiros de todos os tempos, entre os maiores ficcionistas contemporâneos do mundo inteiro”.

Seu livro mais extenso, tido como um clássico e mesmo um épico dentro da literatura nacional, surgiu, segundo o próprio Ubaldo, de uma provocação singela. Como ele conta, Viva o Povo Brasileiro (1984) começou a ser escrito porque seu então editor fez uma brincadeira, dizendo que “vocês, escritores brasileiros, só fazem esses livrinhos fininhos para ler na ponte aérea, que a gente traça num instante”: imediatamente, João Ubaldo tomou para si o desafio de compor um livro que parasse em pé. E foi muito bem-sucedido: com 640 páginas, essa foi a obra que consagrou o escritor – chamado por Haroldo de Campos de “desmedido, exorbitante, caudaloso romance-rio de Ubaldo”, é um livro que se dedica a quatro séculos da história do Brasil, misturando personagens fictícios a fatos históricos, viajando de Itaparica ao Rio de Janeiro, São Paulo e até Lisboa. É uma investigação da construção da identidade nacional, que passa por episódios como a invasão holandesa, a chegada da família real portuguesa, até outros mais recentes do século XX, como o Estado Novo e a ditadura militar. A partir da ideia de que “não existem fatos, só existem histórias”, que consta na epígrafe de Viva o Povo Brasileiro, Ubaldo desentranha o país e nos faz conhecê-lo a partir da perspectiva de seus personagens.

Além de seus dez romances, dos livros de contos e dos infantojuvenis, João Ubaldo também foi um grande cronista. Suas colaborações para jornais renderam diversas coletâneas de livros de crônicas, em que conhecemos a intimidade e as opiniões do escritor, que conversa conosco como se estivéssemos sentados com ele numa mesa de bar. Sempre com um humor muito característico, é nesses textos que ele confessa, por exemplo, que não entende nada de processo criativo e que, muitas vezes, não consegue aturar a tagarelice de seus próprios personagens. É também ali que ele nos conta suas anedotas da vida boêmia, transcrevendo detalhadamente os diálogos que surgem entre uma cerveja e outra, e que podem conter um retrato mais fiel do país e de seus habitantes do que muitos livros didáticos.

Hoje, pouco depois de sua morte aos 73 anos, podemos confirmar: João Ubaldo Ribeiro, ganhador do maior prêmio da língua portuguesa, o Prêmio Camões, coloca-se como um dos imortais de nossa literatura. Se, como dizia o autor, “um país sem seus livros, suas canções, seu cinema, suas pinturas e esculturas não é um país, é apenas um conglomerado de vizinhos malsatisfeitos”, João Ubaldo foi um daqueles que colaboraram para nos tornar muito mais do que esses vizinhos desagradáveis: é um dos artistas que compuseram e compõem o que chamamos de Brasil.

A fome é uma vergonha a menos para o Brasil

Pela primeira vez, o País deixa o mapa da fome das Nações Unidas
por Rodrigo Martins — publicado Carta Capital
Kelly Caetano
A diarista Kelly Cristina Caetano, de 44 anos, vive em um apertado barraco em Cidade Estrutural, comunidade erguida no entorno de um lixão do Distrito Federal. Basta um carro passar pela rua de terra batida para uma espessa nuvem de poeira vermelha recobrir o casebre. As paredes de madeira compensada mostram-se incapazes de aplacar o calor que castiga o Centro Oeste nesta época do ano. Tampouco protegem a família dos ataques de ratazanas. “Meu filho chegou a ficar internado após receber uma mordida. Fiquei desesperada, a mão dele inchou e não parava de sangrar”, conta. Apesar das agruras, Kelly demonstra uma inabalável confiança num futuro melhor. “Agora estamos bem melhor. Ao menos não falta comida em casa”.
Franzina e com a pele precocemente envelhecida, Kelly conhece bem a anatomia da fome. Deu a luz a 12 filhos, e buscou alimentá-los como pôde. “Muitas vezes, não tinha nem arroz ou feijão. Passávamos dias comendo polenta de fubá. Quando faltava o leite das crianças, batia chá com biscoito de maisena no liquidificador”, diz, sem esconder o desconforto. Um de seus filhos morreu bebê, por não resistir a uma infecção hospitalar. O mais novo, Augusto, de seis anos, nasceu com encefalopatia, espécie de paralisia cerebral. Para cuidar do menino, ela teve de recusar ofertas de emprego. A família depende do trabalho do marido, que faz bicos de pedreiro. Renda fixa? Só os repasses de programas socais, como Bolsa Família e DF Sem Miséria. “Sem isso, ainda estaríamos à base de fubá.”
A diarista e sua família integram um contingente de 15,6 milhões de brasileiros que superaram a subalimentação desde o início dos anos 2000. O feito permitiu ao Brasil abandonar o vergonhoso mapa mundial da fome, revela o último relatório sobre segurança alimentar da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês), divulgado na terça-feira 16. Hoje, apenas 1,7% da população não sabe se terá garantida a próxima refeição. Ainda que isso represente 3,4 milhões de bocas famintas, o País é apontado como uma referência mundial no combate à fome pela forte redução verificada nas últimas décadas. Em 1990, 25 milhões de cidadãos estavam subalimentados, 15% dos habitantes do País.

Paulo Lins: "O Brasil é um país em guerra"

Escritor de "Cidade de Deus" defende discurso de Luiz Ruffato em Frankfurt e diz que sua declaração sobre racismo foi mal interpretada por jornal
por Deustche Welle — publicado - carta capital
Paulo Lins

Não foi só Paulo Lins que ganhou o mundo. O escritor levou junto com ele uma parte muito importante de sua história, o violento bairro onde cresceu no subúrbio carioca. Seu primeiro romance, Cidade de Deus, lançado em 1997, foi um sucesso literário internacional graças à bem-sucedida adaptação cinematográfica do cineasta Fernando Meireles.

O sucesso do livro levou Lins por outros caminhos, mas sempre seguindo sua paixão: a escrita. Desde o lançamento de Cidade de Deus, ele escreveu diversos roteiros para o cinema e a televisão, onde também atuou como diretor. Um caminho trilhado desde a infância, quando escrever era o maior prazer do menino que observava a violência, o tráfico e os intensos conflitos sociais da periferia.

Lançado recentemente na Alemanha, seu mais recente livro, Desde que o samba é samba, procura resgatar momentos da formação cultural brasileira através do samba e da umbanda. Com um enredo que mistura ação, aventura, sexo, violência e amor, o autor conta uma história ficcional com personagens reais, envolvidos na fundação do primeiro bloco de Carnaval da escola de samba Deixa Falar.

Depois do lançamento do livro em Frankfurt, ele partiu em uma série de leituras por algumas das mais importantes cidades alemãs. Em entrevista à DW Brasil, Lins falou sobre racismo, violência, política e sua paixão pelo samba e pela umbanda.

DW Brasil: Como surgiu a ideia para o seu mais recente livro, "Desde que o samba é samba"?

Paulo Lins: Queria escrever sobre como o negro se inseriu na sociedade brasileira. Depois de 400 anos de escravidão, deveria ter sido por meio do mercado de trabalho, mas isso não aconteceu. Essa inserção se deu através da cultura, mais especificamente do samba e da umbanda. No entanto, a cultura negra só ganhou força quando começou a ser organizada em um grande centro urbano, no caso o Rio de Janeiro.

Foi um longo processo de pesquisa?

Meu trabalho de ficção sempre parte de um extenso trabalho de pesquisa. Foram cinco anos de pesquisa e mais cinco para escrever o livro. Eu pesquisei sobre o samba e a umbanda e contratei duas historiadoras para fazerem a pesquisa sobre a época e sua situação política. Parti desses dados históricos para construir uma história de ficção cheia de ação e aventura, mas sobretudo esse é um livro de amor. Não só entre os personagens, mas amor ao samba e à umbanda. Acredito que esse é um romance que vai mostrar um Brasil que muito pouca gente conhece.

Você tem uma relação forte com o samba?

Minha primeira relação com a arte foi fazendo samba, aprendendo a tocar, a sambar e, sobretudo, a escrever. Eu sempre escrevi. Comecei corrigindo letras de samba-enredo para os sambistas e acabei fazendo os meus próprios sambas. "Estou" escritor, mas sou sambista de coração.

Qual a importância do samba e da umbanda na emancipação do negro no Brasil?

Em toda a periferia carioca, os sambistas e as mães de santo eram líderes de suas comunidades, Eles eram muito respeitados. Quando os negros começaram a votar, os políticos tiveram que negociar votos com esses líderes culturais e religiosos. A cultura se tornou poder político.

Como você vê a situação dos negros no Brasil hoje?

Já existe uma maior inserção na sociedade, mas ainda há muitas dificuldades e racismo. A polícia ainda mata muitos negros, principalmente jovens. O Brasil é um país em guerra. Morre muito mais gente no Brasil do que no Oriente Médio, na briga entre muçulmanos e judeus.

Você acredita que houve discriminação na seleção dos autores para a Feira do Livro de Frankfurt?

Eu dei uma entrevista no Brasil para um jornal alemão e disse que havia racismo no Brasil, mas eu não estava me referindo à seleção. Queria dizer que os negros não estão em posições de destaque, mas em classe classes sociais inferiores. Essa lista é o resultado disso. A maioria dos escritores no Brasil são brancos, como a maioria dos médicos, empresários e políticos. Existem grandes escritores negros no Brasil, mas a seleção foi um reflexo do nosso mercado literário.

O que você achou do polêmico discurso do Luiz Ruffato na abertura da feira?

Eu defendi o Rufatto. Ele abriu e eu encerrei a feira, fazendo do discurso dele minhas palavras. A verdade tem que ser dita para podermos mudar. O Brasil é um país com tantas injustiças sociais e violência. Isso precisa ser dito e discutido.

Quando "Desde que o samba é samba" foi lançado no Brasil, você também recebeu críticas por divulgar que Ismael Silva era homossexual.

Acho bom o Brasil saber que o pai do samba era homossexual. O Brasil é um país homofóbico, que não aceita os homossexuais. Essa informação não era importante para a história do samba, mas fiz questão de colocar em prol da liberdade sexual, para que as pessoas não sejam assassinadas pela sua sexualidade. Mostrar que o pai do samba era homossexual foi uma atitude política.

Como está sendo seu giro pela Alemanha?

Fui muito bem recebido pelos organizadores, público e imprensa, não só em Frankfurt, mas também em Hamburgo e Colônia. Essa é minha terceira visita ao país. Os alemães gostam muito dos brasileiros. Sinto-me muito querido aqui. Amo Berlim. Acho que a cidade é o futuro da Europa. Estou muito feliz por estar aqui.
Autoria Marco Sanchez
Edição Alexandre Schossler

Pelé foi alvo de racismo na carreira, mas ignorou luta antirracista



 publicado:Uol.com.br
 
 Assim que chegou ao Santos, ainda adolescente, Edson Arantes do Nascimento passou a ser chamado de "Gasolina" pelos outros jogadores do time. O apelido se referia à cor da substância que dá origem a esse combustível, o petróleo, negro como a pele do recém-chegado. E ficou vivo tempo suficiente para Edson pensar que seria assim que ele ficaria conhecido no mundo do futebol.
A imprensa paulista preferiu chamá-lo de Pelé, apelido cunhado durante sua infância em Bauru. Mas na Copa de 1958, seus companheiros começaram a chamá-lo de outra coisa: Alemão. Era uma ironia que marcava a clara oposição entre o seu tipo físico – e a cor de sua pele – e o dos atletas europeus.

O "Alemão" foi abandonado ainda na Suécia, mas Pelé continuaria a ser chamado, ao longo da carreira, por outras palavras que remetiam à cor de sua pele, como se essa característica física fosse definidora de sua personalidade. "Crioulo" é o termo que mais aparece nos jornais dos anos 60 em referência a ele. Em geral, a palavra foi usada de maneira intencionalmente afetuosa, embora seu uso exponha um discurso que define socialmente uma pessoa negra a partir da cor de sua pele.

Quando a seleção brasileira conquistou seu primeiro título mundial, Pelé foi o personagem principal de uma reportagem da revista Cruzeiro, na qual ele é comparado à figura folclórica do Saci-Pererê. Na mesma revista, um texto que descreve a passagem dos jogadores brasileiros pela Suécia sugere que uma criança loira se assombrou com a presença negra de Pelé e exclamou ao ouvi-lo dizer alguma coisa: "Mamãe, mamãe, ele fala!". Pelé, assim, é comparado a um animal, cuja capacidade de falar seria uma surpresa.

O sociólogo Muniz Sodré, especialista em estudos sobre a mídia, vê "nesses enunciados depreciativos" sobre Pelé a ética que mostra "o diferente do paradigma branco-europeu como um 'inumano universal' ou como uma outra espécie biológica não plenamente identificável como humana."
Mesmo já considerado o maior jogador do século e inspiração para milhões de negros no mundo todo, Pelé nunca se engajou na luta antirracista e chegou a ser cobrado por isso ao longo da carreira.

Há duas semanas, ao comentar o enfrentamento do goleiro Aranha ao racismo sofrido durante um jogo, Pelé disse que o santista se precipitou. Segundo Pelé, se ele tivesse parado todo jogo em que algum torcedor o chamasse de "macaco" ou "crioulo", teriam que ser interrompido todos os jogos de que ele participou.
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PELÉ - MINHA VIDA EM IMAGENSComo o próprio nome já diz o destaque aqui são as fotos raras, inéditas e clássicas, que ilustram e complementam o depoimento do ex-jogador de futebol. Outra coisa bem bacana são os itens de colecionador que vêm junto com o livro, como uma réplica do cartaz da Copa do Mundo de 1958 e cópias de recortes de jornais da época. Montagem/UOL

De acordo com Angélica Basthi, autora de Pelé: estrela negra em campos verdes, uma biografia que foca a relação do jogador com a questão racial, o fato de ele ter reconhecido ter sofrido ofensas raciais em campo é um ponto de inflexão em sua trajetória.
"Pelé passou a vida negando que tivesse sofrido racismo. É a primeira vez que admite ter sido chamado vários momentos de macaco ou de crioulo em campo", afirma a pesquisadora. "Pode-se dizer que se trata de um pequeno avanço contar com esse reconhecimento do Pelé no debate sobre o racismo no futebol, ainda que o contexto utilizado por ele não contribua com a luta por igualdade racial. Mais uma contradição resultado do racismo produzido em nosso país."

Racismo na carne

De acordo com a pesquisa de Angélica, Pelé teve sua primeira experiência com o racismo ainda adolescente, em Bauru, quando começou a namorar uma garota branca. Assim que o pai dela soube do namorico da filha com um menino negro, deu uma surra na garota em público. O relacionamento acabou ali.
Mais tarde, Pelé também enfrentou problemas quando conheceu aquela que seria sua primeira esposa, Rosemeri, branca. "O jovem casal estava proibido de ser visto junto e a sós. Até para irem ao cinema, uma pessoa da família dela os acompanhava. Era uma situação estranha: primeiro chegava Rosemeri, acompanhada de um parente, para a sessão no cinema; só depois de começado o filme, Pelé era autorizado a entrar também. O namoro durou sete anos", conta a pesquisadora. Ela levanta duas hipóteses para isso. "Ou queriam proteger a filha do assédio por estar se relacionando com um craque famoso, ou tinham dificuldade de aceitar o relacionamento com um jovem negro, ainda que tivesse fama."
Um dia, durante uma excursão do Santos pela África, Pelé presenciou um momento de tensão racial pelo qual passavam várias nações do continente, que na década de 60 tentavam a independência das metrópoles europeias. No Senegal, a recepcionista branca do hotel onde o time se hospedou chamou de selvagens os negros que tentavam se aproximar dos santistas.
Um policial acabou prendendo a mulher. Ela alegou inocência e pediu para que Pelé testemunhasse a seu favor. O jogador se recusou a defendê-la e disse que se identificava com as pessoas que ela havia insultado. "Estar na África foi ao mesmo tempo uma lição de humildade e uma experiência gratificante. Senti que representava uma esperança para os africanos, como o negro que conseguiria fazer sucesso no mundo", escreveu Pelé em sua autobiografia publicada em 2006.

Racismo na Copa

A preparação da seleção brasileira para a Copa de 1958 foi marcada pela sombra dos fracassos nos dois Mundiais anteriores. Entre todos os diagnósticos para as derrotas em 1950, em casa, e em 1954, na Suíça, destacava-se a retomada de teorias racialistas em voga no Brasil desde os anos 1930. De acordo com setores da academia, da ciência e da imprensa, a fraqueza da seleção brasileira eram os jogadores negros e mulatos, menos maduros e disciplinados do que os europeus.
Foram os jogadores negros os mais responsabilizados pelo Maracanazzo em 1950 e pela derrota em 1954, depois de uma pancadaria nas quartas de final com os húngaros. De acordo com essa interpretação, negros e mulatos não teriam "fibra" nem sangue-frio para suportar pressões como essas.

Os cartolas responsáveis pela seleção queriam tudo diferente em 1958. Uma comissão técnica formada por médicos e psicólogos elaborou um parecer "científico" que ajudou o técnico Vicente Feola a montar o time titular para a estreia no Mundial da Suécia.
Entre os 11 que entraram em campo contra a Áustria, apenas um não era branco, Didi (tanto porque ele era o craque do time, como porque seu reserva imediato, Moacir, também era negro). Os outros negros e mulatos da seleção foram empurrados todos para a reserva: Pelé, Garrincha e Djalma Santos entre eles.

Eles só voltaram ao time de cima no terceiro jogo, contra a União Soviética, quando o treinador precisava da vitória e resolveu botar em campo os melhores jogadores e não os mais claros. Pelé e Garrincha, como se sabe, foram a sensação daquele Mundial. E jamais perderam uma partida juntos até 1966.
"O talento e a trajetória do Pelé foram fundamentais para arrancar um espaço para o negro no futebol brasileiro, mesmo ele nunca tendo se envolvido diretamente no combate ao preconceito", diz Angélica Basthi.

O discurso de Pelé sobre racismo é, e sempre foi, parecido com o de muitas pessoas de sua geração: o da negação. Ele diz que ao ouvir um xingamento racista vindo das arquibancadas, preferia ignorá-lo, como se não falar de um problema ajudasse a acabar com ele. Mesmo que ele tenha contribuído com o combate ao racismo através de sua trajetória pessoal, ele sempre foi cobrado a ter uma postura mais crítica e militante, o que nunca aconteceu.
É o oposto do discurso e da postura de Aranha, que, como muitas pessoas de sua geração (negras e brancas), preferem o enfrentamento duro de um problema que os afeta diretamente.

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

“Branco Sai. Preto Fica” vence 11 prêmios no 47º Festival de Brasília

Marcelo Brandão - Repórter da Agência Brasil Edição: Fábio Massalli

Por decisão dos seis concorrentes, o prêmio de melhor filme, vencido por Branco Sai. Preto Fica, foi dividido igualmente entre os que disputaram o prêmio Fabio Rodrigues Pozzebom /Agência Brasil

Ninguém frequentou mais o palco de premiação do 47º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro do que o diretor Adirley Queirós, de Branco Sai. Preto Fica. Foram 11 prêmios no total, dentre eles melhor ator, com Marquim do Tropa; direção de arte, além de conquistar o Prêmio TV Brasil e conquistar o prêmio mais importante da noite, o de melhor filme pelo júri oficial.

A forte crítica social apresentada por Queirós conquistou público e jurados. O filme conta a história de vítimas do descaso social, tendo como pano de fundo um caso de agressão policial ocorrido na cidade de Ceilândia, no Distrito Federal. A história mistura documentário, ficção científica e vai além, expondo um futuro onde as desigualdades mostram-se cada vez mais cruéis.

Morador de Ceilândia, Queirós sempre retrata a cidade nos filmes que faz. "Tenho seis filmes feitos em Ceilândia, nos espaços que eu moro. O que me motiva a fazer filme é trabalhar com o espaço onde eu estou morando, com os amigos, pessoas dali”. Para ele, é importante abordar questões sociais em um país que as vive rotineiramente há décadas. “Não podemos negar que o Brasil é um país racista, territorialista e homofóbico. O filme lida com isso, como acho que vai lidar sempre com essas questões. Não existe uma mudança no país em relação a isso. É um problema muito sério que temos que colocar nos filmes”.

Questões semelhantes extrapolam as vividas no filme. Cercado de microfones e repórteres, o diretor aproveitou para criticar a falta de incentivo à cultura nas periferias. Ao mesmo tempo em que se mostrou feliz por participar do festival e ganhar o prêmio, viu barreiras na popularização da cultura em locais como a sua própria cidade.

“A Ceilândia é uma cidade com 600 mil habitantes e não tem uma sala de cinema. As periferias não têm salas de cinema. Como podemos criar público sem uma sala de cinema? Temos que olhar para isso de maneira urgente, não conseguimos um cinema nacional mais pungente porque não conseguimos chegar até a exibição. Festival é maravilhoso, mas só pode ter sentido para colocar questões. A partir daí temos que pensar em políticas públicas de cinema que, na minha cabeça, são salas de cinema públicas”, disse.

O ator Marquim do Tropa se mostrou surpreso com a recepção do público. “Geralmente é muito díficil um tema de crítica social conquistar a mente da galera”. Ele celebrou muito o Troféu Candango de melhor ator, conquistado após vários obstáculos. “Chegar aqui e arrastar um monte de prêmios é uma surpresa, porque, com tantos bons atores, eu consegui me sobressair sendo novato como protagonista. E fazer o filme foi um pouco difícil para mim. Tive que engordar 8 quilos, aprender a fumar e deixar o cabelo crescer estilo black, quando, na verdade, eu era careca”.

Escolhida a melhor atriz coadjuvante de longa-metragem do Festival, Élida Silpe, de Ela Volta na Quinta, não poderia estar mais surpresa. “Eu nem sou atriz!”, exclamou ao receber o Troféu Candango. O prêmio de melhor ator coadjuvante de longa-metragem foi para Renato Tavares, também de Ela Volta na Quinta.

A melhor atriz foi Dandara de Morais, de Ventos de Agosto, e Marcelo Pedroso, de Brasil S/A, levou o prêmio de melhor direção de longa-metragem. O melhor curta-metragem eleito pelo júri oficial foi Sem Coração, de Nara Normande e Tião. Na escolha do Júri Popular, o melhor curta-metragem foi Crônicas de uma Cidade Inventada, de Luísa Caetano.

Antes do anúncio do último prêmio, o de melhor filme, representantes dos seis longas-metragens concorrentes leram uma carta opondo-se à diferença de premiação entre melhor filme, que recebe R$ 250 mil, e outros prêmios, que levam entre R$ 10 mil e R$ 30 mil. Assim, os cineastas decidiram que o vencedor dividiria o prêmio em seis partes iguais entre os demais concorrentes da categoria.

“O clima de competitividade não acrescenta em nada ao festival. Quando se cria esse clima, se afasta a relação com as pessoas, cineastas, equipes, o que é o mais importante. Se tem um montante grande para pagar esse prêmio, que se pague as exibições, tanto de longa quanto de curta-metragem, e entregue um prêmio de 30 mil, 40 mil [para melhor filme]”, disse Queirós, o grande vencedor da noite.

Página racista no Facebook é criada em "apoio" a torcedora gremista

publicado: Folha de São Paulo
FERNANDA CANOFRE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PORTO ALEGRE 23/09/2014 20h16

A auxiliar de odontologia Patrícia Moreira, 23, afirmou na última semana que pretendia se tornar "um símbolo nacional contra o racismo". Flagrada por câmeras de televisão, durante a partida entre Grêmio e Santos no dia 28 de agosto, gritando a palavra "macaco" para o goleiro Aranha, ela está sendo investigada por injúria racial, perdeu o emprego e teve de deixar sua casa porque recebeu ameaças.

Na internet, porém, o episódio envolvendo o jogador do Santos e a torcedora gremista gerou efeito colateral. Uma página criada no dia 14 de setembro no Facebook - intitulada "Apoiamos Patricia Moreira contra a hipocrisia do Politicamente Correto" - usa a imagem da torcedora para atacar críticas desde a definição do racismo até a vinda de imigrantes haitianos ao Brasil.

Em uma das postagens, uma montagem mostra jogadores de futebol como Neymar, Pelé, Tinga e Robinho acompanhados de mulheres loiras, para criticar a "hipocrisia" do "orgulho negro". Outro texto, postado pela página na terça-feira (23), traz uma mensagem a respeito de relacionamentos inter-raciais: "Diga não à miscigenação racial. Se o povo de Israel não se mistura, a gente também tem o mesmo direito de falar sobre, sem censuras politicamente corretas".
Reprodução
Reprodução de pagina criada no Facebook em apoio à torcedora do Grêmio que xingou o goleiro Aranha
Reprodução de pagina criada no Facebook em apoio à torcedora do Grêmio que xingou o goleiro Aranha
O criador por trás da página afirma ser um advogado carioca, de 27 anos, torcedor do Flamengo e simpatizante do Corinthians e do Grêmio, chamado Jeferson. Alegando preocupação por "questões de segurança", ele não aceitou conversar por telefone. "Falam que vão me denunciar, me rastrear, matar, que quem defende a 'garota racista' deve morrer, é rotina", respondeu em entrevista pelo chat da rede social.
Jeferson conta que é o único administrador do perfil. Fazendo referências ao deputado federal Jair Bolsonaro (PP/RJ), à paulista Mayara Peluso - processada em 2010 por comentários contra nordestinos em uma rede social - e ao autor de "Admirável Mundo Novo", Aldous Huxley, ele explica que criou a página para expôr contradições.
"A hipocrisia de pessoas dizendo que a torcedora é branca, nojenta que deve ser estuprada por negros, o racismo anti-branco é permitido no Brasil e saem impunes, uma lei que só vale pra um lado deve ser revogada. Fiz a página pra citar diversas patologias, contradições do movimento de esquerda", afirma.
Para ele, Aranha "aceita o coitadismo" e está entre os negros que funcionam como "massa de manobra" das políticas de esquerda. Seu contraponto seria o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa. "Eu tenho orgulho de ser Branco (sic), já fui tachado de muita coisa e nem por isso liguei, aqui tem uma parcialidade, negro pode dizer que tem orgulho, branco não, é hipocrisia, esquerdista sempre odiou Homem Branco", defende.
Reprodução/ESPN
Torcedora gremista grita
Torcedora gremista grita "macaco" para o goleiro Aranha, do Santos

INVESTIGAÇÕES DEPENDEM DE DENÚNCIAS
Segundo relatório da própria página, a maioria dos comentários da comunidade vem de São Paulo e os usuários estão na faixa etária entre 18 e 24 anos.

De acordo com o delegado substituto da Delegacia de Repressão a Crimes Informáticos da Polícia Civil do Rio Grande do Sul, Joerbert Nunes, como nenhuma denúncia foi recebida não há crime. Se investigada, no entanto, a página pode ser enquadrada por prática de injúria racial ou racismo segundo Código Penal Brasileiro. "Podemos pedir dados cadastrais sem necessidade de ordem judicial. Fora isso, temos de procurar a identificação do provedor, o IP (número de registro do computador) das máquinas e pedir interceptação das conversas. Aí sim com autorização judicial", explicou.

Sem denúncias registradas contra o perfil, o Ministério Público também não conduziu investigações.

O advogado de Patricia Moreira, Alexandre Rossato, disse desconhecer a página e seu conteúdo. "Lamentável isso, estou sabendo por intermédio de vocês", declarou por telefone à Folha. Rossato estuda tomar medida judicial contra os administradores do perfil e pedir investigação ao Ministério Público. Segundo ele, Patricia pretende se tornar um símbolo contra o preconceito, "trabalhando contra o racismo, mostrando que não é racista". Porém, "ainda não tem nada concreto" sobre de que formas irá fazer isso.

CONCLUSÃO DO INQUÉRITO

Perto do fim do prazo de trinta dias para a conclusão do inquérito, a Polícia Civil do Rio Grande do Sul diz que não tem previsão de pedir prorrogação para a entrega. O tempo legal encerra na próxima segunda-feira (29).
O inquérito está sendo montado com depoimentos, imagens de câmeras de segurança da Arena do Grêmio e de televisões, além de provas periciais como leitura labial realizada por duas fonoaudiólogas contratadas pela Polícia. Desde o dia 29 de agosto, a polícia ouviu aproximadamente dez pessoas e algumas das testemunhas devem ser chamadas para novo depoimento.

"Estou aguardando algumas diligências, inclusive a perícia, para decidir com relação a isso", afirmou o delegado responsável pelo caso Herbert Ferreira.
Marinho Saldanha/UOL


terça-feira, 23 de setembro de 2014

Convite de Faculdade Zumbi dos Palmares a Falabella gera polêmica

publicado: Revista Fórum

Entidade convidou o diretor para participar de um debate sobre o programa “Sexo e as Nêga”. Discentes e docentes do curso de Pedagogia emitiram uma nota de repúdio e criticaram a reitoria pela iniciativa

Por Jarid Arraes
Depois de receber críticas e ser alvo de protestos do movimento negro brasileiro, Miguel Falabella e sua série global “Sexo e as Nêga” enfrentam nova polêmica, desta vez envolvendo a Faculdade Zumbi dos Palmares, de São Paulo, que convidou o diretor para participar de um debate sobre o programa no FlinkSampa – Festa do Conhecimento, Literatura e Cultura Negra – que acontecerá em novembro deste ano.

Miguel Falabella chegou a publicar em seu perfil no Facebook uma nota de comemoração pelo convite, o que não foi bem aceito pelos ativistas negros que protestam contra “Sexo e as Nêga”. Por causa da repercussão negativa, a Faculdade Zumbi dos Palmares usou a página institucional na rede social para justificar o convite e negar boatos de que Falabella receberia o Troféu Raça Negra 2014, evento aclamado pela comunidade negra brasileira.

Apesar do esclarecimento, foi lançada nessa segunda-feira (22) uma nota de repúdio escrita por discentes e docentes do curso de Pedagogia da Faculdade Zumbi dos Palmares, que protestam contra o convite oferecido a Falabella e criticam a reitoria pela iniciativa.

A carta, publicada na página pessoal de Ellen de Lima Souza, coordenadora do curso de Pedagogia, afirma que a série “Sexo as Nêga” reproduz estereótipos racistas e desrespeita as mulheres negras brasileiras, indo contra os “princípios orientadores das políticas de ações afirmativas conquistadas pela luta do Movimento Negro no Brasil”. A publicação ainda afirma que “produções televisivas racistas não precisam ser debatidas, mas punidas de forma exemplar conforme assegura a Constituição Federal brasileira”.

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Moradia não é caso de polícia

Edifício é ocupado pela FLM (Frente de Luta por Moradia e fica na Av. São João, altura do número 605
publicado: le monde diplomatique/Brasil
por raquel rolnik

Na última terça-feira, mais uma vez a cidade de São Paulo presenciou cenas absurdas de violência. Mais uma vez – já que esta não foi a primeira – a reintegração de posse de um edifício que, abandonado há anos, havia sido ocupado por famílias sem teto foi executada pela Polícia Militar. Desta vez, foi o prédio do Hotel Aquarius, na Avenida São João, centro da cidade.

Crianças gritando, mulheres tentando se proteger de pauladas, gás lacrimogênio, gente sangrando… cenas de guerra. Mas… guerra de quem contra quem? As cenas que testemunhamos esta semana simplesmente indicam que está tudo errado!

Senão vejamos: seria possível argumentar que a Polícia Militar estava simplesmente executando a ordem judicial para desocupar o prédio. E que só saíram na porrada porque os moradores não quiseram deixar o imóvel pacificamente. Mas, vamos examinar ponto por ponto estas afirmações.
Em primeiro lugar: por que será que mais de 200 famílias ocuparam este – e pelo menos mais uma centena de prédios ou terrenos vazios em São Paulo? Resposta: por que não têm NENHUMA outra alternativa de moradia! Estamos vivendo uma situação de enorme alta nos preços dos imóveis e dos aluguéis, muito superior ao crescimento da renda da população, mesmo considerando o aumento das ofertas de emprego nos últimos anos. E simplesmente o que existe de política habitacional hoje na cidade para uma situação de emergência como esta é: NADA.

Como disse uma moradora à imprensa, depois da reintegração de posse, “os móveis vão para o depósito, e as pessoas pra rua”. Provavelmente, vão para outra ocupação como esta, já que até o mercado de aluguéis de barraco de favela está inflacionado!

Em segundo lugar: o juiz que decretou a reintegração de posse do prédio – e terceirizou “o serviço” para a Polícia Militar –, além de checar se o edifício realmente pertencia aos proprietários que o estavam requisitando de volta, deveria checar também alguns trechos da Constituição Brasileira, do Estatuto das Cidades e do Plano Diretor, que afirmam, com todas as letras, que imóveis vazios ou subutilizados que não estejam cumprindo sua função social estão sujeitos a sanções. Na nossa Constituição, que o juiz esquece de ler, a propriedade, além de constituir um patrimônio de seu dono, tem uma responsabilidade pública em relação à sociedade.


Este mesmo juiz também deveria saber que, no nosso país, as pessoas têm direitos e, assim como o proprietário tem direito de reivindicar de volta seu prédio, as crianças e as mulheres, os idosos e os mais vulneráveis têm o direito de ser protegidos. Isso significa que não se pode simplesmente decretar que as pessoas têm que cair fora do imóvel, sem também encaminhar, de alguma forma, a proteção para quem vai ficar vulnerável por esta situação.

Trocando em miúdos: há formas e formas de executar reintegrações de posse. A pior delas é deixar nas mãos da Polícia Militar, sem mediadores, sem que organismos de proteção dos direitos sejam acionados e respeitados, participando ativamente, e sem alternativas imediatas. Uma coisa é devolver o imóvel ao proprietário, outra, é o destino das famílias. O encaminhamento das famílias é uma questão social, não um caso de polícia.

O prédio da São João é apenas um entre as centenas de prédios vazios ou subutilizados há anos, às vezes, décadas, que poderiam ser transformados em habitação de interesse social. Mas os programas habitacionais de que dispomos hoje são totalmente inadequados para viabilizar a reforma e reabilitação destes prédios, a fim de atender famílias de tão baixa renda. Como se baseiam na aquisição da propriedade, a conta não fecha jamais…

Recentemente, estive no Uruguai para participar de um evento a convite da Federação Uruguaia de Cooperativas de Moradia (FUCVAM), e pude conhecer de perto uma iniciativa interessante desenvolvida pela Prefeitura de Montevidéu. A prefeitura tem uma carteira de imóveis, inclusive no centro histórico, que são disponibilizados para a Federação, que por sua vez os repassa para cooperativas reformarem ou construírem moradias populares.
Estes imóveis não se tornam propriedade individual de ninguém, são propriedade das cooperativas. Os moradores pagam a estas cotas mensais para cobrir parte dos custos da reforma ou construção e, posteriormente, da manutenção. As famílias moram nestes imóveis com usufruto permanente. Se alguma quiser se mudar, outra família, também cooperativada, também do mesmo extrato de renda, ocupará o seu lugar.

Hoje, em São Paulo, mais de 30 prédios ocupados na região central estão com processos de reintegração de posse em curso. Se não quisermos ver a repetição destas cenas lamentáveis, é urgente mudar os procedimentos de reintegração. Mas é urgente também avançarmos numa política de moradia capaz de oferecer alternativas.

Patrícia Moreira, envolvida em ato racista contra o goleiro Aranha, terá aulas na Central Única de Favelas

publicado:revista Fórum
Patrícia teve a casa queimada (Foto: Reprodução)
A torcedora gremista Patrícia Moreira, que gritou a palavra “macaco”para o arqueiro alvinegro” nas oitavas de final da Copa do Brasil entre Santos e Grêmio, vai participar de curso de educação racial e formação social na Central Única de Favelas do Rio Grande do Sul (Cufa-RS).

Autora dos insultos racistas, Patrícia teve sua casa incendiada e recebeu diversas ameaças. O objetivo da Cufa é “orientá-la socialmente e racialmente sobre os problemas e efeitos colaterais de atitudes racistas em nossa sociedade”.

Veja abaixo a nota da instituição.

NOTA OFICIAL

A CUFA RS informa que Patrícia Moreira, torcedora do Grêmio envolvida em ato racista contra o goleiro Aranha, a partir de 2a. feira fará parte da instituição, onde em um primeiro momento participará de um curso de educação racial e formação social.

No curso, Patrícia conhecerá bibliografias de autores como: Oliveira Silveira, Abdias do Nascimento, Elisa Lucinda, Nelson Mandela, Martin Luther King e Malcom X, além de publicações nacionais da CUFA, entre eles: Cabeça de Porco de Celso Athayde e MV Bill.

A instituição resolveu incorporá-la, pois mesmo envolvida em um ato racista durante uma partida de futebol, teve sua residência queimada, familiares espancados e diversas ameaças de morte.

Parte desse ônus estava recaindo sobre a comunidade negra e periferia gaúcha.

Nosso objetivo em tê-la na CUFA RS é orientá-la socialmente e racialmente sobre os problemas e efeitos colaterais de atitudes racistas em nossa sociedade.

A CUFA RS acredita que Patrícia Moreira, também é consequência de anos de descaso com a história e cultura negra. O não cumprimento da Lei 10.639 faz com que muitos jovens como Patrícia, não conheçam o valor da pele negra e sintam-se a vontade em proferir palavras racistas. A entidade entende também, que é de extrema importância que Patrícia responda por seu erro perante a justiça. Porém para nós é mais importante que ela adquira consciência e promova o respeito.

Coordenação Estadual
Central Única das Favelas do Rio Grande do Sul

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Edital apoia projetos de enfrentamento às desigualdades raciais nas escolas

As inscrições para o “Edital Gestão Escolar para a Equidade – Juventude Negra” estão abertas até 10 de outubro. O objetivo é contribuir para o desenvolvimento e a implementação de práticas inspiradoras de gestão escolar que busquem elevar resultados educacionais dos jovens negros e das jovens negras

O Edital resulta de parceria o Baobá, o Instituto Unibanco, a Universidade de São Carlos e o CEERT

As inscrições para o “Edital Gestão Escolar para a Equidade – Juventude Negra” estão abertas até 10 de outubro. O objetivo é contribuir para o desenvolvimento e a implementação de práticas inspiradoras de gestão escolar que busquem elevar resultados educacionais dos jovens negros e das jovens negras

O Edital resulta de parceria o Baobá, o Instituto Unibanco, a Universidade de São Carlos e o CEERT

A sua escola ou organização não governamental implementa ou deseja implementar ações para enfrentar as desigualdades raciais? Se a resposta for positiva, sua instituição pode se qualificar para concorrer a um apoio financeiro e técnico ao inscrever um projeto no Edital Gestão Escolar para a Equidade – Juventude Negra. As inscrições ficam abertas até 10 de outubro de 2014.


O Edital visa contribuir para o desenvolvimento e a implementação de práticas inspiradoras de gestão escolar que busquem elevar resultados educacionais de jovens negros e negras. A iniciativa é do ‘Baobá – Fundo para Equidade Racial’, do Instituto Unibanco e da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), com a colaboração técnica do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT).

Os organizadores justificam o Edital afirmando que o ensino médio tem se mostrado um gargalo para que jovens negros avancem em sua educação, exigindo esforços focados na construção da equidade racial também na escola. O entendimento é de que essa construção envolve diversas dimensões, entre as quais a da melhoria dos resultados educacionais desse público específico, do combate ao abandono, do desempenho e da defasagem entre idade e série.

“Para alcançarmos melhores resultados educacionais para todos os alunos e todas as alunas, a gestão escolar necessita criar condições de equidade e valorizar a diversidade, apoiando a construção da identidade e do pertencimento das novas gerações de afrodescendentes. Deve contribuir ainda para a redefinição das relações raciais entre estudantes, assim como entre estudantes e professores, através do (re)conhecimento, sobretudo pelos jovens negros e negras, de sua origem, história e cultura nos conteúdos curriculares e nos processos de ensino-aprendizagem”, informam representantes do Baobá

Aimé Césaire - e a Negritude

Aimé Fernand David Césaire (Basse-Pointe, Martinica, 26 de junho de 1913 — Fort-de-France, 17 de abril de 2008) foi um poeta, dramaturgo, ensaísta e político da negritude.
Além de ser um dos mais importantes poetas surrealistas no mundo inteiro, inclusive no dizer do líder deste movimento, Breton, Aimé Césaire foi, juntamente ao Presidente do Senegal, Léopold Sédar Senghor, o ideólogo do conceito de negritude, sendo a sua obra marcada pela defesa de suas raízes africanas.
Filho de um pequeno funcionário e uma costureira, tendo sido um estudante brilhante na Martinica, departamento ultramarino insular francês no Caribe, Césaire conquistou uma bolsa de estudos no Liceu Louis Le Grand, em Paris. Estudante em Paris, junto a outros estudantes, entre ele Léopold Sédar Senghor, funda o jornal L'Étudiant noir " (O Estudante negro), no ano de 1934. Nas páginas deste jornal aparece pela primeira vez o conceito de "negritude", formulando dentro da própria França uma crítica à opressão cultural do sistema colonial francês, não sendo propriamente um projeto político 1 .

Já tendo iniciado a produção da sua obra "Cahier d'un Retour au Pays Natal", casa-se em 1937 e regressa à Martinica em 1939, onde leciona na área de Letras, na qual se formou. Na martinica funda a revista "Tropiques", com um projeto de reapropriação do patrimônio cultural martiniquês.

Tendo Breton passado pela Martinica durante a II Grande Guerra, conhece a poesia, fica fascinado com a poesia de Césaire, e prefacia o livro "Les Armes Miraculeuses" (As Armas Miraculosas) de 1941.

Unido agora ao Surrealismo, Césaire viaja ao Haiti como adido cultural, e sua estada lá passará a marcar sua obra, inspirando-se no único país que conquistou a sua independência através de uma revolução feita por escravos negros.

Retornando à Martinica, embora o centro de sua vida fosse, então, a vida literária, foi pressionado pelas lideranças comunistas, que viam nele um símbolo. A partir daí, foi presidente da câmara (prefeito) de Fort-de-France e deputado, entre 1945 e 2001 e fundador de um partido chamado "progressista", decidido a instaurar a autonomia e um socialismo independente na Martinica, contrário ao comunismo tendente ao colonialismo de Stálin.

Em 1946, o político Césaire seria o relator da lei que elevava à categoria de Departamentos Franceses várias das suas colônias ultramarinas.

Em 1950, funda, em Paris, a revista "Presences Africaines "(Presença Africana), onde publica "Discurso sobre o colonialismo ", tecendo uma dura crítica ao colonialismo e ao racismo europeu, comparando-os ao nazismo, e conclamando os intelectuais europeus a se manifestarem sobre o assunto.

Sempre próxima do Surrealismo, embora mais precisa e concisa, portanto mais racional na construção do texto, a partir de um dado momento, a obra de Césaire era considerada por ele próprio mais influenciada por Rimbaud e Lautréamont, precursores do Surrealismo, além de Mallarmé e a poesia negra dos EUA  .

Sua obra foi traduzida para várias línguas como o inglês, o alemão, o espanhol, etc, sendo sua obra reconhecida através de vários colóquios organizados no mundo inteiro.
Œuvres complètes (três volumes), Fort-de-France, 1976.
Poesia
Cahier d'un retour au pays natal, Paris, 1939
Les Armes miraculeuses 1946
Soleil cou coupé 1947
Corps perdu (desenhos de Picasso), Paris, 1950
Ferrements, Paris, 1960
Cadastre, Paris, 1961
Moi, laminaire, Paris, 1982
La Poésie, Paris, 1994
Teatro
Et les chiens se taisaient, Paris, 1958
La Tragédie du roi Christophe, París, 1963
Une saison au Congo, París, 1966
Une tempête, d'après 'La Tempête de William Shakespeare: adaptation pour un théâtre nègre), París, 1969
Ensaios
Esclavage et colonisation, París, 1948.
Discours sur le colonialisme, Paris, 1955.
Discours sur la négritude, 1950
História
Toussaint Louverture, La révolution Française et le problème colonial, París, 1962
Aimé Césaire, Paris, "Les Voix de l'écriture", 1994
Sobre Aimé Césaire 
CAILLER, Bernadette. Proposition poétique: une lecture de l'œuvre d'Aimé Césaire, Sherbrooke (Québec), 1976.
CARPENTIER, Gilles. Scandale de bronze: lettre à Aimé Césaire, París, 1994.
CONFIANT, Raphaël. Aimé Césaire. Une traversée paradoxale du siècle, Paris, 1994.
DELAS, Daniel. Portrait littéraire, Paris, 1991.
HALE, Thomas A. Les écrits d'Aimé Césaire, Bibliographie commentée, en “Etudes françaises”, t. XIV, n° 3-4, Montréal, 1978.
HENANE, René. Aimé Césaire, le chant blessé: biologie et poétique, Paris, 2000.
HOUNTONDJI, Victor M. Le Cahier d'Aimé Césaire. Eléments littéraires et facteurs de révolution, Paris, 1993.
KESTELOOT, Lilyan. Aimé Césaire, París, 1979.
LEBRUN, Annie. Pour Aimé Césaire, París, 1994.
LEINER, Jacqueline. Aimé Césaire: le terreau primordial, Tübingen, 1993.
LOUIS, Patrice. Aimé Césaire. Rencontre avec un nègre fondamental, París, 2004.
MALELA, Buata B., Les écrivains afro-antillais à Paris (1920-1960). Stratégies et postures identitaires, Paris, Karthala, coll. Lettres du Sud, 2008.
MALELA, Buata B., Aimé Césaire. Le fil et la trame: critique et figuration de la colonialité du pouvoir, Paris, Anibwe, 2009.
MBOM, Clément. Le Théâtre d'Aimé Césaire ou La primauté de l'universalité humaine, Paris, 1979.
MOTOUSSAM, Ernest. Aimé Césaire: député à l'Assemblée nationale, 1945-1993, Paris 1993.
NGAL, Georges. Aimé Césaire, un homme à la recherche d'une patrie, Paris, 1994.
NNE ONYEOZIRI, Gloria. La Parole poétique d'Aimé Césaire: essai de sémantique littéraire, Paris, 1992.
OWUSU-SARPONG, Albert. Le Temps historique dans l'œuvre théâtrale d'Aimé Césaire, Sherbrooke (Québec), 1986.
SONGOLO, Aliko. Aimé Césaire: une poétique de la découverte, Paris, 1985.
TOUMSON, Roger e HENRY-VALMORE, Simonne. Aimé Césaire, le nègre inconsolé, Paris, 1994.
TOWA, Marcien. Poésie de la négritude: approche structuraliste, Sherbrooke (Québec), 1983.
Obras coletivas
TSHITENGE Lubabu Muitibile K. (editor). Césaire et Nous. Une rencontre entre l'Afrique et les Amériques au XXIe Siècle , Bamako, 2004.
Centre césairien d'études et de recherches. Aimé Césaire. Une pensée pour le XXIe S. , Paris, 2003.
Aimé Césaire ou l'Athanor d'un alchimiste: Atas do primeiro encontro internacional sobre a obra literária de Aimé Césaire, Paris, 21-23 de novembro de 1985, Paris, 1987.
Aimé Césaire, n° especial 832-833, Paris, 1998.
Césaire 70, trabalhos reunidos e apresentados por Mbwil a Mpaang e Martin Steins, París, 2004.
LEINER, Jacqueline (editor). Soleil éclaté: mélanges offerts à Aimé Césaire à l'occasion de son soixante-dixième anniversaire, Tübingen, 1985.
THEBIA-MELSAN, Annick e LAMOUREUX, Gérard (editores). Aimé Césaire, pour regarder le siècle en face, París, 2000.
TOUMSO, Roger e LEIER, Jacqueline (editor). Aimé Césaire, du singulier à l'universel (Atas do encontro internacional de Fort-de-France, 28-30 de junho de 1993), n° especial de ”Œuvres et Critiques”, 1994.
Filmografia a respeito do autor
1976: Martinique, Aimé Césaire, un homme une terre (52mn — documentário de Sarah Maldoror escrito por Michel Leiris), CRS, “Les amphis de la cinquième”
1986: Miami, Martinique, Aimé Césaire, le masque des mots (52mn — documentário de Sarah Maldoror)
1994: Aimé Césaire, une voix pour l'histoire (quatro partes), de Euzhan Palcy