terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Nota da UNEGRO: Ausência na posse de Dilma Rousseff


Após o resultado das urnas se confirmou a quarta vitória do povo, com isso acirrou a luta de classes com a direita, apoiada pela grande mídia, blocada tentando tirar a legitimidade da vitória de Dilma e articulando um golpe contra um governo democraticamente constituído numa eleição limpa.

Vimos mobilizações de massa organizada pelos derrotados exigindo a caçassão do mandato de Dilma e a volta dos militares no comando do Brasil.

Diante disso os movimentos sociais, principais responsáveis, pela vitória foram chamados a irem no dia 01 de janeiro em Brasilia, data da posse, para mostrar que Dilma Rousseff tem prestígio com a massa, tem forte apoio popular organizado e que o povo não admitirá golpes e retrocessos.

Face a UNEGRO ter apoiado e ser partícipe da vitória de Dilma, deliberou em sua reunião nacional compor o processo de mobilização em apoio ao resultado eleitoral e a plataforma vencedora, visto que ela expressa anseios do povo e parcela da pauta do movimento negro.
Fizemos todo esforço de mobilização, especialmente em São Paulo, Bahia, Santa Catarina, Espírito Santo e Ceará. Honrando nosso compromisso com a nação, com a democracia, com a esquerda brasileira, com os movimentos sociais e com uma agenda progressista para o pais.

Lamentavelmente houve um corte por decisão unilateral no apoio (ônibus) para todas as delegações geograficamente situadas fora de Brasília e entorno. Nós e entidade co-irmãs, várias lideranças e valorosos companheiros ficamos no caminho.
Considero um erro na interlocução com os movimentos sociais do Governo e do PT.

Malgrado esse fato, fomos surpreendidos ontem pelo anúncio no Jornal Nacional de alguns "ajustes" que o Governo está propondo que mais parece uma mini reforma que ataca direitos trabalhistas e previdenciarios, ou seja, nossa luta é árdua. Sem os movimentos sociais e o povo organizado nas ruas não há como acreditar em mudanças.
No mais, nos prepararemos para novas e necessárias lutas. Sabemos que em ambiente de crise e e perdas de direitos os negros e negras são as vítimas prioritárias.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Dra. Nilma Lino Gomes é a nova Ministra da Seppir

Nilma Lino Gomes é a atual reitora da Unilab.
Ela é pedagoga formada pela UFMG e não tem vínculo com partidos.

Nomeada pela presidente Dilma Rousseff para ocupar a Secretaria de Política de Promoção da Igualdade Racial, Nilma Lino Gomes foi a primeira mulher negra a assumir a reitoria de uma universidade federal no país. Em abril de 2013, Nilma foi empossada reitora da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), com sede em Redenção (CE).
A futura ministra não é filiada a nenhum partido. Nilma é pedagoga, graduada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde também fez o mestrado em educação. Ela tem doutorado em ciências sociais pela Universidade de São Paulo e pós-doutorado, em sociologia, pela Universidade de Coimbra (Portugal).
Entre 2004 e 2006, presidiu a Associação Brasileira de Pesquisadores Negros (ABPN) e desde 2010 integrou a Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, onde participou da comissão técnica nacional de diversidade para assuntos relacionados à educação dos afro-brasileiros.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Ava DuVernay se torna a 1ª diretora negra indicada ao Globo de Ouro

Ava DuVernay, de "Selma", primeira diretora negra a ser indicada ao Globo de Ouro
publicado: uol
A cineasta americana Ava DuVernay, reponsável pelo drama racial "Selma", se tornou nesta quinta (11) a primeira mulher negra a ser indicada ao Globo de Ouro de melhor direção. Histórico, o feito pode ainda ser repetido na próxima edição do Oscar. Os nomeados serão divulgados no dia 15 de janeiro.
Em entrevista ao site da revista "The Hollywood Reporter", Ava afirmou que esperava apenas que o ator David Oyelowo fosse indicado como ator principal. "Este homem colocou cada grama de seu coração e espírito e mente, cada pedaço de seu DNA neste filme. Isso é tudo o que eu queria."
Em 70 anos de Globo de Ouro, apenas dois fro-americanos foram indicados à categoria de melhor diretor: Spike Lee, em 1990, por "Faça a coisa certa", e Steve McQueen, em 2014, por "12 Anos de Escravidão".
A diretora tem como rivais Alejandro González Iñárritu ("Birdman"), Wes Anderson ("O Grande Hotel Budapeste"), David Fincher ("Garota Exemplar") e Richard Linklater ("Boyhood - Da Infância à Juventude").
Além de David Oyelowo, estão na disputa do Globo de Ouro de melhor ator Steve Carell ("Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo"), Benedict Cumberbatch ("O Jogo da Imitação"), Jake Gyllenhaal ("O Abutre") e Eddie Redmayne ("A Teoria de Tudo").
"Selma" retrata as marchas pelos direitos civis dos negros nos Estados Unidos, lideradas por Martin Luther King, nos anos 1960. Com produção de Brad Pitt e Oprah Winfrey, deve estrear dia 25 de janeiro no Brasil.
Os vencedores do Globo de Ouro serão conhecidos no dia 11 de janeiro de 2015, durante cerimônia em Los Angeles que novamente terá Tina Fey e Amy Poehler como apresentadoras.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Ator salva filme sobre Arthur Bispo do Rosário


publicado: gazeta do povo

A cinebiografia O Senhor do Labirinto, sobre o artista plástico Arthur Bispo do Rosário (1911-1989), uma das estreias de hoje nos cinemas, não prima pela ambição. Pouco inventiva, limita-se a apresentar os fatos mais relevantes da vida do esquizofrênico que passou cerca de cinco décadas internado na colônia Juliano Moreira, no Rio de Janeiro.

Felizmente, Bispo do Rosário é um personagem fascinante. Tomado por uma obsessão religiosa que o fazia crer ser uma representação de Jesus, criou uma obra plástica intrigante, cheia de força expressiva, que acabou reconhecida fora do Brasil.

A partir da sucata disponível no manicômio, inventou um mundo paralelo voltado a Deus povoado por peças como mantos minuciosamente bordados, estandartes e miniaturas. Ao desconstruir os objetos originais, gesto de desconstrução simbólica do mundo dos homens “normais”, gerou significados.
Trabalhando isolado em sua cela, ele se esquivou da truculência do sistema manicomial de então, em que práticas como o eletrochoque mal aplicado eram usuais. A arte o “redimiu” da desrazão do mundo, permitiu que o artista afrontasse a loucura.

Apesar do academicismo na forma de narrar, a extraordinária atuação do gaúcho Flávio Bauraqui (que encarna um Bispo do Rosário muito convincente, sem recorrer a estereótipos do louco como esgares e outros cacoetes) salva o filme.




quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Quem é o dono da “piscina nazista”?


O professor, proprietário da piscina que virou notícia no mundo, também batizou o filho de Adolf, exaltou os militares da “contrarrevolução” de 1964, chegou a afirmar que os negros eram coitados – pois ficaram “desempregados” com o fim da escravidão – e chorou, ao receber a saudação nazista em uma festa de formatura de seus alunos

Por Vinicius Gomes
publicado: Revista Fórum

Em entrevista, no dia 31 de março desse ano, Wander Pugliese rejeitou o golpe militar de 1964: “foi uma contrarrevolução” (Reprodução)

Na semana passada, durante uma ação da Polícia Civil de Santa Catarina, descobriu-se uma “homenagem” ao nazismo: uma suástica estampava o fundo de uma piscina. Em pouco tempo, a fotografia com a imagem da piscina chegou aos jornais e às redes sociais. Mas, se em grande parte do país, assim como no exterior (EUA, Reino Unido, Israel), a revelação foi chocante, isso pouco surpreendeu as pessoas que já conheciam Wandecyr Antônio Pugliese. O professor de história é o proprietário da residência localizada na cidade de Pomerode, no interior de Santa Catarina, e admirador confesso da ideologia nazista.

Vinte anos atrás, Pugliese já havia sido notícia pelo Brasil, quando em uma reportagem do programa Fantástico, da Rede Globo, em fevereiro de 1994, ele mostrou sua coleção de objetos históricos relacionados ao nazismo. Entre o material – que seria confiscado anos depois a pedido do Ministério Público Federal – estavam livros, quadros, revistas, fotografias, cartões postais, gravuras do exército alemão, objetos com a cruz suástica, além de uma camiseta estampada com a figura de Adolf Hitler. Por volta dessa época, ele foi ligado a outra denúncia de propagação de ideias racistas por conta de um revisionista do holocausto chamado Siegfried Ellwanger Castan, o qual tem em Pugliese um dos seus maiores admiradores – tanto que é a principal indicação bibliográfica do professor a seus alunos.

Em matéria para o Zero Hora, a jornalista Clara Glock entrevistou Pugliese, que previu que, em 15 anos, levantariam uma estátua para Hitler na Europa e afirmou que os negros eram coitados, pois “ficaram desempregados no dia 13 de maio”, referindo-se à data em 1888, quando foi assinada a Lei Áurea.

Outro ponto polêmico de Pugliese, também conhecido por seus alunos, é o que se refere aos militares da ditadura brasileira. Em 31 de março desse ano, nos 50 anos do golpe militar, ele afirmou na Rádio Nereu Ramos, de Blumenau, que os eventos de 1964 não foram de golpe e, sim, “uma contrarrevolução” (ouça aqui). A reportagem de Fórum buscou entrar em contato com o professor, mas sem sucesso.

Quem é o professor Wander?

Revisionista do holocausto, admirador de Hitler, militares brasileiros e do falecido Enéas Carneiro, Wandercy Antônio Pugliese há anos é professor na rede privada de educação do estado de Santa Catarina e a descoberta da suástica em sua piscina de nada surpreendeu aqueles que foram seus alunos.

“A fama dele é relativamente grande na cidade de Blumenau. Principalmente pelo fato de ele ter lecionado no [Colégio] Energia durante anos. O discurso dele fez a sua fama”, afirma Ricardo Duwe, que, apesar de não ter sido aluno de “Wander”, como é chamado, teve irmão e amigos próximos que foram. “A postura dele sempre foi muito combativa, principalmente por ele se colocar enquanto um revisionista do holocausto”, destaca.

Outros ex-alunos de Pugliese também se lembram desse posicionamento. “A atuação dele era, sobretudo, para a gente questionar a existência do holocausto. Ficava lá falando das pensões que os judeus recebem, chamando isso tudo de ‘indústria do holocausto’, e nunca em um sentido pedagógico, sempre atravessado por ódio. Era impressionante”, relembra Fabiano Garcia, que teve aula com Pugliese em 2005, no Colégio Santa Rosa de Lima, na cidade de Lages, também interior de Santa Catarina.

Larissa Beppler, que foi aluna dele no Energia de Blumenau, em 2002, lembra que, em sala de aula, Pugliese contestava o holocausto e diNa semana passada, durante uma ação da Polícia Civil de Santa Catarina, descobriu-se uma “homenagem” ao nazismo: uma suástica estampava o fundo de uma piscina. Em pouco tempo, a fotografia com a imagem da piscina chegou aos jornais e às redes sociais. Mas, se em grande parte do país, assim como no exterior (EUA, Reino Unido, Israel), a revelação foi chocante, isso pouco surpreendeu as pessoas que já conheciam Wandecyr Antônio Pugliese. O professor de história é o proprietário da residência localizada na cidade de Pomerode, no interior de Santa Catarina, e admirador confesso da ideologia nazista.

Vinte anos atrás, Pugliese já havia sido notícia pelo Brasil, quando em uma reportagem do programa Fantástico, da Rede Globo, em fevereiro de 1994, ele mostrou sua coleção de objetos históricos relacionados ao nazismo. Entre o material – que seria confiscado anos depois a pedido do Ministério Público Federal – estavam livros, quadros, revistas, fotografias, cartões postais, gravuras do exército alemão, objetos com a cruz suástica, além de uma camiseta estampada com a figura de Adolf Hitler. Por volta dessa época, ele foi ligado a outra denúncia de propagação de ideias racistas por conta de um revisionista do holocausto chamado Siegfried Ellwanger Castan, o qual tem em Pugliese um dos seus maiores admiradores – tanto que é a principal indicação bibliográfica do professor a seus alunos.

Em matéria para o Zero Hora, a jornalista Clara Glock entrevistou Pugliese, que previu que, em 15 anos, levantariam uma estátua para Hitler na Europa e afirmou que os negros eram coitados, pois “ficaram desempregados no dia 13 de maio”, referindo-se à data em 1888, quando foi assinada a Lei Áurea.

Outro ponto polêmico de Pugliese, também conhecido por seus alunos, é o que se refere aos militares da ditadura brasileira. Em 31 de março desse ano, nos 50 anos do golpe militar, ele afirmou na Rádio Nereu Ramos, de Blumenau, que os eventos de 1964 não foram de golpe e, sim, “uma contrarrevolução” (ouça aqui). A reportagem de Fórum buscou entrar em contato com o professor, mas sem sucesso.

Quem é o professor Wander?

Revisionista do holocausto, admirador de Hitler, militares brasileiros e do falecido Enéas Carneiro, Wandercy Antônio Pugliese há anos é professor na rede privada de educação do estado de Santa Catarina e a descoberta da suástica em sua piscina de nada surpreendeu aqueles que foram seus alunos.

“A fama dele é relativamente grande na cidade de Blumenau. Principalmente pelo fato de ele ter lecionado no [Colégio] Energia durante anos. O discurso dele fez a sua fama”, afirma Ricardo Duwe, que, apesar de não ter sido aluno de “Wander”, como é chamado, teve irmão e amigos próximos que foram. “A postura dele sempre foi muito combativa, principalmente por ele se colocar enquanto um revisionista do holocausto”, destaca.

Outros ex-alunos de Pugliese também se lembram desse posicionamento. “A atuação dele era, sobretudo, para a gente questionar a existência do holocausto. Ficava lá falando das pensões que os judeus recebem, chamando isso tudo de ‘indústria do holocausto’, e nunca em um sentido pedagógico, sempre atravessado por ódio. Era impressionante”, relembra Fabiano Garcia, que teve aula com Pugliese em 2005, no Colégio Santa Rosa de Lima, na cidade de Lages, também interior de Santa Catarina.

Larissa Beppler, que foi aluna dele no Energia de Blumenau, em 2002, lembra que, em sala de aula, Pugliese contestava o holocausto e dizia que a história do nazismo era mentirosa, pois Hitler “não era o monstro que pintavam e que ele fez muito pelo seu povo”.

Segundo Duwe, o professor citava constantemente essa vertente historiográfica que buscava “revisitar” o holocausto. “[O professor] negava veementemente que seis milhões de judeus tenham morrido na guerra, que as câmaras de gás possuíam outras finalidades e que, em casos extremamente raros, eram usadas para extermínio”, relembra Duwe. Ele cita ainda uma frase clássica de Pugliese: “A História é contada sempre pelos vencedores”, já que o professor atribuía a história da Segunda Guerra Mundial aos EUA e aos “judeus banqueiros”, sendo que a versão dos nazistas nunca havia sido privilegiada.


Matéria de 1995 da jornalista Clara Glock, pelo Zero Hora, do Rio Grande da Sul (Reprodução)

Beppler afirma que o professor era bastante querido por seus alunos, todos o adoravam, e como ela não chegou a encarar o discurso de Pugliese como apologia ao nazismo – nem mesmo quando ele próprio contou que seu filho se chamava Adolf, ou quando teve problemas com a justiça por conta dos objetos nazistas: “Na minha cabeça de 17 anos, o que ele fazia não era apologia. Tudo que ele dizia era muito bem argumentado, ele buscava fatos para justificar, sabe? Eu nem sonhava que ele poderia estar errado. Na minha cabeça da época, e minha colega tem hoje a mesma impressão, era uma coisa dele, um gosto pessoal. Não era apologia”.

Garcia conta que, à época, se impressionou com a facilidade que o professor tinha em elogiar o nacional socialismo alemão: “E então um dia, ao fundo da sala, numa roda, eu perguntei se ele realmente acreditava naquilo, se ele era adepto [ao nazismo], e ele respondeu que sim”.

O ex-aluno conta que, ao final do ano, ele e um colega foram à diretoria para questionar a negação ao holocausto, mas então Pugliese apareceu logo em seguida. A diretora recomendou aos alunos que conversassem com o professor, que, por sua vez, usou o material didático – com fotos e tudo mais – para dizer que eram “montagens” e que não podiam ser acreditadas.

Questionado sobre o quanto enxergava que esse discurso poderia influenciar alunos adolescentes, Garcia afirma que ele pode ser impactante: “[O discurso] tem uma força incrível porque a retórica do professor era muito boa. Era realmente convincente porque, afinal, era algo que ele acreditava. Então, se você para e pensa numa turma com jovens naquela faixa etária – onde o que você mais quer é se revoltar contra alguma coisa, contra o sistema, por exemplo – esse discurso encaixa de uma maneira terrível porque propaga o ódio e te dá a falsa sensação de solucionar alguma coisa. E, então, muita gente que passou pelas aulas dele começou a acreditar que os problemas do mundo estavam ligados aos judeus, aos negros etc.”, argumenta.

Para Beppler, a fala de Pugliese era, de fato, perigosa. “Por mais sutil que seja – porque ele não sai falando: amem Hitler, matem negros, sejam racistas, nem nada disso –, ele apenas alivia a barra de Hitler. Hoje, eu entendo como apologia, sim, mas é algo bem sutil para um adolescente se dar conta. Especialmente vindo de um cara que todos adoram”, conta.

No entanto, Beppler, hoje empresária e com 29 anos, tem uma lembrança amarga sobre esse período: “Na noite da minha formatura, a turma inteira se levantou para saudá-lo com um gesto nazista. Sim, fizemos o Heil Hitler. Morro de vergonha só de lembrar. Mas não porque éramos nazistas e, sim, para homenageá-lo. Como ele relativizou muito a questão do nazismo e de Hitler, nós não percebíamos a gravidade daquele gesto. A ideia era se despedir com algo que o agradasse. Ele até chorou”.zia que a história do nazismo era mentirosa, pois Hitler “não era o monstro que pintavam e que ele fez muito pelo seu povo”.

Segundo Duwe, o professor citava constantemente essa vertente historiográfica que buscava “revisitar” o holocausto. “[O professor] negava veementemente que seis milhões de judeus tenham morrido na guerra, que as câmaras de gás possuíam outras finalidades e que, em casos extremamente raros, eram usadas para extermínio”, relembra Duwe. Ele cita ainda uma frase clássica de Pugliese: “A História é contada sempre pelos vencedores”, já que o professor atribuía a história da Segunda Guerra Mundial aos EUA e aos “judeus banqueiros”, sendo que a versão dos nazistas nunca havia sido privilegiada.


Matéria de 1995 da jornalista Clara Glock, pelo Zero Hora, do Rio Grande da Sul (Reprodução)

Beppler afirma que o professor era bastante querido por seus alunos, todos o adoravam, e como ela não chegou a encarar o discurso de Pugliese como apologia ao nazismo – nem mesmo quando ele próprio contou que seu filho se chamava Adolf, ou quando teve problemas com a justiça por conta dos objetos nazistas: “Na minha cabeça de 17 anos, o que ele fazia não era apologia. Tudo que ele dizia era muito bem argumentado, ele buscava fatos para justificar, sabe? Eu nem sonhava que ele poderia estar errado. Na minha cabeça da época, e minha colega tem hoje a mesma impressão, era uma coisa dele, um gosto pessoal. Não era apologia”.

Garcia conta que, à época, se impressionou com a facilidade que o professor tinha em elogiar o nacional socialismo alemão: “E então um dia, ao fundo da sala, numa roda, eu perguntei se ele realmente acreditava naquilo, se ele era adepto [ao nazismo], e ele respondeu que sim”.

O ex-aluno conta que, ao final do ano, ele e um colega foram à diretoria para questionar a negação ao holocausto, mas então Pugliese apareceu logo em seguida. A diretora recomendou aos alunos que conversassem com o professor, que, por sua vez, usou o material didático – com fotos e tudo mais – para dizer que eram “montagens” e que não podiam ser acreditadas.

Questionado sobre o quanto enxergava que esse discurso poderia influenciar alunos adolescentes, Garcia afirma que ele pode ser impactante: “[O discurso] tem uma força incrível porque a retórica do professor era muito boa. Era realmente convincente porque, afinal, era algo que ele acreditava. Então, se você para e pensa numa turma com jovens naquela faixa etária – onde o que você mais quer é se revoltar contra alguma coisa, contra o sistema, por exemplo – esse discurso encaixa de uma maneira terrível porque propaga o ódio e te dá a falsa sensação de solucionar alguma coisa. E, então, muita gente que passou pelas aulas dele começou a acreditar que os problemas do mundo estavam ligados aos judeus, aos negros etc.”, argumenta.

Para Beppler, a fala de Pugliese era, de fato, perigosa. “Por mais sutil que seja – porque ele não sai falando: amem Hitler, matem negros, sejam racistas, nem nada disso –, ele apenas alivia a barra de Hitler. Hoje, eu entendo como apologia, sim, mas é algo bem sutil para um adolescente se dar conta. Especialmente vindo de um cara que todos adoram”, conta.

No entanto, Beppler, hoje empresária e com 29 anos, tem uma lembrança amarga sobre esse período: “Na noite da minha formatura, a turma inteira se levantou para saudá-lo com um gesto nazista. Sim, fizemos o Heil Hitler. Morro de vergonha só de lembrar. Mas não porque éramos nazistas e, sim, para homenageá-lo. Como ele relativizou muito a questão do nazismo e de Hitler, nós não percebíamos a gravidade daquele gesto. A ideia era se despedir com algo que o agradasse. Ele até chorou”.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Fiéis se mobilizam contra transferência de padre vítima de racismo

Comunidade católica começou a recolher adesões para um abaixo-assinado, nesta terça-feira (2), na tentativa de manter o sacerdote na Paróquia de Santo Antônio, em Adamantina
publicado: ifronteira
A comunidade católica de Adamantina iniciou nesta terça-feira (2), no Centro da cidade, uma mobilização, por meio de um abaixo-assinado, para reivindicar a permanência do padre Wilson Ramos na Paróquia de Santo Antônio.
Segundo Franciele Spina, de 22 anos, participante do movimento, desde que chegou para assumir a paróquia, há aproximadamente um ano e cinco meses, o padre recebe ofensas racistas de algumas pessoas por ser negro e, por conta disso, o bispo da Diocese de Marília, Dom Luiz Antonio Cipolini, quer mudá-lo de cidade.
“Só hoje [2], já recolhemos três mil assinaturas. A mobilização ‘Fica, Padre Wilson’ continuará até a quarta-feira que vem [10], sempre no Centro, das 9h às 16h. Além do ponto fixo, há pessoas passando com livros pelos bairros também. Pretendemos recolher aproximadamente 20 mil assinaturas até a semana que vem”, ressaltou Franciele ao iFronteira.

Padre afastado por ser Negro, mais essa!

publicado:http://www.conversaafiada.com.br/

O papa Francisco bem que poderia ser informado de uma história que está os jornais de hoje, já que ele está manifestamente preocupado com o esvaziamento da Igreja Católica. O padre Wilson Luís Ramos foi afastado da Matriz de Santo Antônio, em Adamantina, cidade do interior paulista entre Presidente Prudente e Araçatuba. O motivo? Padre Wilson é negro mas não é isso, segundo Bispo de Marília, diocese à qual a paróquia pertence, não é esta a causa de seu afastamento. Mas o racismo está lá no cotidiano da elite da cidade . O próprio Wilson admite que viu duas fiéis conversando sobre a troca do galo que fica no catavento da igreja “por um urubu”. Ele falou deste racismo logo que assumiu a Matriz: “As pessoas ainda tem dificuldade de aceitar a raça negra. As pessoas dizem que não, mas eu senti isso da parte de alguns, percebi uma certa rejeição em função da minha cor. Se doeu? Claro que doeu, sou humano, mas isso não pesou na minha missão”. A principal causa para a transferência é a divisão que Ramos teria causado na paróquia. “O padre Wilson tem sofrido com essa questão. Houve preconceito por parte de fiéis, mas o padre foi vencendo e o que está em jogo agora não é o preconceito, mas sim a divisão que ele causou na paróquia”, afirmou o bispo. Que divisão? Um grupo de fiéis tradicionais que enviou cartas ao bispo reclamando do “jeito” simples do padre e, principalmente, do fato de ele atrair pessoas pobres e jovens usuários de drogas para a igreja. O bispo de Marília mandou, então, dois padres para ouvir os fiéis. Quase 700 foram ao Instituto Pastoral de Adamantina, cidade que tem pouco mais de 30 mil habitantes. Segundo o Estadão, a maioria depôs em favor em favor de Wilson. Que, apesar disso, “rodou”. Mas, segundo o Ali Kamel, diretor da Globo, não há racismo no Brasil. Só em Adamantina, né? Com todo o respeito, isso não é um problema de religião. É um problema de humanidade.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

A subversão dos Racionais MC’s




Considerado o nome mais importante do rap brasileiro, grupo paulistano lança disco depois de 12 anos sem um álbum de inéditas Publicado gazeta do povo - em 03/12/2014 | Rafael Rodrigues Costa

O recém-lançado Cores & Valores, sexto disco de estúdio do Racionais MC’s, veio à luz na semana passada já cercado por uma expectativa pesada .

O quarteto paulistano se tornou o mais emblemático grupo de rap brasileiro ao ganhar uma projeção enorme nos anos 1990, se valendo de métodos independentes e músicas com denúncias fortes da desigualdade e do racismo, dotadas de uma lucidez que não apenas elevou os rappers a porta-vozes da juventude pobre e negra brasileira, mas que também foi legitimada e investigada por críticos e acadêmicos.

Disco
Cores & Valores
Racionais MC’s. Independente/Boogie Naipe. R$ 9,99 (digital, no Google Play Música) e R$ 23,90 (CD).

Opinião

Novo disco mostra que grupo não pretende reverenciar o passado

Com uma linguagem por vezes cifrada e ideias densas nas entrelinhas, pode ser que o novo disco não se comunique imediatamente com quem esperava a volta dos Racionais MC’s como eram conhecidos. Mas uma mensagem parece clara: o grupo, embora tenha gravado faixas de tom memorialista como “Quanto Vale o Show”, não pretende reverenciar o próprio passado e entregar aos fãs só aquilo que eles querem ouvir.

Neste sentido, é uma pequena subversão os rappers gravarem um disco de meia hora depois de 12 anos, e uma ousadia levarem diferentes afetos e dimensões mais sensíveis à sua música depois de se firmarem como gurus com um discurso mais direto. Cores & Valores, ainda que aparentemente mais despretensioso e até pop quando traz uma balada romântica, por exemplo, busca o risco, e não a comodidade do status de ícone que os Racionais MC’s conquistaram (talvez, até em parte devido ao silêncio do grupo nesse período em que tanta coisa mudou não apenas no rap). No caso deles, isso é importante para que não se tornem caricaturas de si mesmos. E para que as expectativas diante do próximo disco, que não deve demorar, sejam ainda maiores.

Depois do álbum Nada Como Um Dia Após O Outro Dia (2002), no entanto, Mano Brown, Ice Blue, Edi Rock e o DJ KL Jay entraram em um hiato de novas criações.

Foram 12 anos em que o grupo se absteve de fazer novos comentários sobre a realidade que havia retratado com tanta contundência desde o fim da década de 1980. Considerado o nome mais importante do rap brasileiro, grupo paulistano lança disco depois de 12 anos sem um álbum de inéditas Publicado em 03/12/2014 | Rafael Rodrigues Costa

Isso em pleno período de mudanças na arena política e na sociedade brasileira – em especial, nas periferias das grandes cidades que sempre foram o objeto de sua obra.

A curiosidade sobre o que os Racionais teria a dizer depois de tanto tempo ultrapassou os círculos do rap.

A resposta, um disco fugidio, fragmentado e ambíguo, subverte as expectativas por um trabalho mais concreto e de leitura fácil.

Em pouco mais de meia hora, os Racionais, envoltos por uma sonoridade pesada e francamente aberta a tendências mais recentes do rap norte-americano, dão recados em faixas que chegam a ter menos de um minuto (um choque para fãs apegados a narrativas e crônicas de discos anteriores que chegavam a durar em torno de dez minutos). E se permitem dedicar faixas de pegada pop para falar, por exemplo, de amor (“Eu Te Proponho”), citando Gilberto Gil e Cassiano.

Mas essa é a impressão superficial. Acontece que Brown, Blue, Edi Rock e parceiros como Negreta (do também paulistano Rosana Bronks) estão dizendo mais com menos palavras, em sintonia com a urgência dos tempos digitais.

Os temas (e Ice Blue já disse que, apesar da chegada da tevê, do computador e do micro-ondas, a periferia continua sofrendo com os mesmos problemas) seguem orbitando o universo de denúncia do grupo, que ainda fala sobre racismo e desigualdade – “a fábrica que exporta criminalidade” (“Mal e Bem”).

Os Racionais seguem provocando, de forma parecida com o não menos legítimo funk ostentação, ao lembrar que os bens de luxo nas vitrines dos shoppings, embora destinados a outro segmento da sociedade, podem ser fortemente desejados pelos moleques “de pé no chão, mal vestidos, sem comer” que os cercam do lado de fora (“Eu Compro”); retratam a mentalidade do crime com uma verossimilhança sempre inquietante (“A Escolha que Eu Fiz”); e denunciam a criminalização do rap e da população pobre ao contar, de seu ponto de vista, o que aconteceu na Virada Cultural de São Paulo em 2007, quando o público de seu show entrou em choque com a polícia na Praça da Sé (“A Praça”). São os mesmos Racionais, 12 anos depois. Mais maduros, talvez.

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Cultura negra ainda encontra dificuldade de reconhecimento pelo Estado

Da Agência Brasil Edição: Marcos Chagas

Cultura negra ainda tem dificuldade de ser reconhecida no BrasilMarcello Casal Jr/Agência Brasil

As culturas de matriz africana no país ainda têm dificuldades para fazer valer seus direitos de reconhecimento por parte do Estado. Durante seminário promovido pela Fundação Cultural Palmares, os debates focaram a necessidade de se aliar políticas públicas efetivas de preservação da cultura e da memória, assim como o direito à cidadania das comunidades negras. O evento contou com a parceria da Defensoria Pública da União.

Para o defensor público Carlos Eduardo Paz, do grupo de trabalho Quilombola, Cidadania, Cultura e Identidade, essas comunidades não estão realmente salvaguardadas pelo Poder Público. "A lei, muitas vezes, não tem dispositivos que atendam a todas as especificidades de cada comunidade, com seus problemas mais pontuais”. Ele acrescentou que as leis de salvaguarda da cultura negra em vigor “não dão conta da totalidade da realidade".

Essa situação de falta de políticas públicas é compartilhada por um íider jongueira, Alessandra Ribeiro Martins, da Comunidade Jongo Dito Ribeiro, na Fazenda Roseiras, em Campinas, São Paulo. Ela destaca que as políticas criadas devem estar mais presentes nas comunidades. "A Fazenda Roseiras é um importante espaço simbólico de preservação dos costumes e da memória negra para o país, por defender essa e muitas manifestações de origem africana”.

A professora Elaine Monteiro, da Universidade Federal Fluminense e coordenadora do Pontão de Cultura do Jongo, concorda com a postura de Alessandra Martins. O Pontão é um programa de salvaguarda de patrimônio cultural de natureza imaterial que tem como proposta articular e fortalecer as comunidades jongueiras, além de atender às demandas dessas comunidades para a criação de políticas públicas que contemplem suas necessidades. "Eu enxergo a situação atual de reconhecimento dessas comunidades como um paradoxo.”

O reconhecimento dessa população como patrimônio imaterial não representa, necessariamente, a melhoria de qualidade de vida dss pessoas, adverte Elaine. “Vê-se, por exemplo, esses mesmos detentores [de saberes ancestrais] morrerem de fome e a falta de reconhecimento daquela população no próprio bairro onde moram", disse a professora.

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Audiência pública alerta ao racismo em Curitiba

A Câmara Municipal debateu, em audiência pública realizada nesta quinta-feira (27), a efetivação das políticas públicas de igualdade racial e o combate ao preconceito e ao racismo em Curitiba. Proposto pelo vereador Jorge Bernardi (PDT), o evento terá os encaminhamentos analisados por uma comissão, com representantes de diversas entidades e do Poder Público, e sintetizados em uma carta.“A audiência pública faz parte das comemorações pelo Dia da Consciência Negra. A ideia é ampliar a discussão sobre políticas públicas afirmativas, leis existentes e a situação dos migrantes”, disse Bernardi. “A partir da carta poderão surgir encaminhamentos a autoridades e a realização de outros debates, como sobre o preconceito aos haitianos e a efetivação, na rede municipal, da lei federal que torna obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira.”
“Esta Câmara Municipal tem feito esforços para resgatar uma dívida histórica. O feriado é um ato simbólico de reparação”, declarou o presidente da Casa, Paulo Salamuni (PV). “Eu me pergunto por que 1.177 municípios brasileiros, sendo 11 capitais, têm o feriado do Dia da Consciência Negra instituído por lei. Vamos lutar para que reconheçam o direito de Curitiba de legislar”, acrescentou, sobre a reclamação junto ao Supremo Tribunal Federal (STF). A vereadora Professora Josete (PT) também acompanhou a audiência pública.
O presidente do Centro Cultural Humaitá e um dos organizadores da atividade, Adegmar Silva, o Candieiro, avaliou que a cidade possui um “racismo institucional”, evidenciado pela ação da Associação Comercial do Paraná (por questionar a constitucionalidade do feriado). Ele alertou que a maior parte dos assassinatos de jovens é de negros, assim como de viciados em crack.

Além de apontar a dificuldade das escolas municipais cumprirem a lei federal 10.639/2003, Candieiro afirmou que o Estatuto da Igualdade Racial (12.288/2010) determina que o racismo é crime, mas “ninguém vai preso”. Ele chamou a atenção para outras questões que também precisam de mais atenção, como as comunidades quilombolas da Região Metropolitana e a permanência na universidade dos alunos aprovados por meio do sistema de cotas raciais.

“Eu represento 21% de uma população esquecida, que sofre. Se considerarmos a Região Metropolitana de Curitiba, teremos mais de 30% de negros. Não vejo meus direitos representados na Câmara ou na prefeitura”, disse o presidente do Conselho Municipal de Política Étnico-Racial (Comper) e da União de Negros pela Igualdade (Unegro), Denis Denilto. Ele sugeriu a formação de uma comissão de vereadores para acompanhar os encaminhamentos da conferência realizada pelo conselho no ano passado.
Ex-presidente e conselheiro do Comper, Saul Dorval da Silva reiterou o alerta ao racismo institucional. “A iniciativa privada acha que nossa luta não é importante. Que não houve escravidão, racismo”, declarou. Ele apresentou propostas de lei e falou sobre o projeto de Bernardi e Mestre Pop (PSC), em tramitação na Casa, que pretende reservar vagas a afrodescendentes, pardos e indígenas em concursos municipais (005.00088.2013).
O cônsul-geral do Senegal para o Paraná e Santa Catarina, Ozeil Moura dos Santos, citou casos de racismo e pediu união aos grupos que defendem a igualdade racial. “Sem educação e cultura dificilmente vamos atingir nossos objetivos. O afrodescendente não pode mais vender o bilhete, porque quem vende o bilhete não assiste ao espetáculo”, avaliou.
O presidente da Comissão de Igualdade Racial e de Gênero da OAB Paraná, Mesael Caetano dos Santos, concorda que Curitiba é uma cidade com “viés racista”. “Da escravidão restou o preconceito e o racismo. O processo foi longo, ardiloso. O sistema canalizou uma riqueza poderosa e cravou um abismo”, afirmou. Um dos problemas apontados pelo advogado é que o negro ganha, em média, metade do salário do branco, mesmo entre os cargos de nível superior.

Líder a Associação de Haitianos em Curitiba, Laurette Bernardin pediu apoio à entidade: “Nós enfrentamos um momento muito difícil. Para trabalhar, alugar casa... Temos coragem para batalhar”. A advogada da associação, Ana Railene Siqueira, lamentou que a capital tem sido notícia na imprensa nacional devido às agressões aos haitianos. “Os relatos que ouço dão a impressão que vivemos no período anterior à Lei Áurea, quando nós, os negros, éramos considerados objetos. O racismo é uma ferida aberta, que precisa ser combatida”, completou.
“Temos que quebrar o silêncio, que é uma das grandes estratégias do racismo. Acho que precisamos (os brancos) pedir desculpas pelos nossos ancestrais pela construção do contexto que vivemos hoje”, disse a antropóloga Liliana Porto, professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR). “Não são os negros que precisam da universidade, nós é que precisamos de um espaço plural. Nossa busca é pela igualdade de direitos”, acrescentou, sobre o sistema de cotas.
A professora Letícia de Lima, da Secretaria Municipal da Educação (SME), defendeu a educação, desde o ensino infantil, para o respeito à diversidade. “Nos CMEIs, há a preocupação desde os livros e brinquedos, como as bonecas, para que a reflitam. Temos a missão de combater o racismo”, defendeu.
O presidente da Fundação Cultural de Curitiba, Marcos Cordiolli, foi representado por Jorge Rangel. A promotora Mariana Seifert Bazzo, do Núcleo da Promoção da Igualdade Étnico-Racial do Ministério Público do Paraná (MP-PR), acompanhou a audiência pública. Após os encaminhamentos dos membros da mesa, o público participou do debate.

Com representantes do Poder Público e diversas instituições, a audiência pública alertou ao racismo em Curitiba e à necessidade de se efetivar as políticas públicas pela igualdade racial. (Foto – Chico Camargo/CMC)

A audiência pública foi proposta por Jorge Bernardi. O vereador acredita que ela possa gerar outros debates, como sobre a situação dos migrantes haitianos. (Foto – Chico Camargo/CMC)


“Vamos lutar para que reconheçam o direito de Curitiba de legislar”, disse Paulo Salamuni sobre a reclamação ao SFT pela suspensão do feriado. (Foto – Chico Camargo/CMC)


“Eu represento 21% da uma população esquecida, que sofre. Se considerarmos a Região Metropolitana de Curitiba, teremos mais de 30% de negros”, disse o presidente do Comper, Denis Denilto. (Foto – Chico Camargo/CMC)


Presidente do Centro Cultural Humaitá, Candieiro avaliou que a cidade possui um “racismo institucional, evidenciado pela ação da ACP”. (Foto – Chico Camargo/CMC)


Líder da Associação de Haitianos em Curitiba, Laurette Bernardin pediu apoio à entidade: “Nós enfrentamos um momento muito difícil”. (Foto – Chico Camargo/CMC)


O público teve a oportunidade de se inscrever e participar do debate. (Foto – Chico Camargo/CMC)

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Roda de capoeira recebe título de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade

Ana Cristina Campos - Repórter da Agência Brasil Edição: Denise Griesinger
publicado: agência Brasil 
Crianças e jovens participam de oficinas de capoeira e dança oferecidas pela organização não governamental Viva Rio Haiti (Marcello Casal Jr/Agência Brasil)
Jovens  participam  de  oficinas  de  capoeira oferecidas  pela ONG  Viva Rio HaitiMarcello Casal Jr/Agência Brasil
Dança, luta, símbolo de resistência e uma das manifestações culturais mais conhecidas no Brasil, a roda de capoeira recebeu hoje (26) o título de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
Após votação durante a 9ª Sessão do Comitê Intergovernamental para a Salvaguarda do Patrimônio Imaterial, em Paris, a roda de capoeira ganhou oficialmente o título.
A presidenta do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Jurema Machado, presente na sessão do comitê, explicou que as políticas de patrimônio imaterial não existem apenas para conferir títulos, mas para que os governos assumam compromissos de preservação de seus bens culturais, materiais e imateriais.
“O reconhecimento representa um tributo à capoeira como manifestação cultural importante, que durante séculos foi criminalizada, além de dar visibilidade internacional. Além disso, reconhece que o Brasil tem políticas públicas para cuidar do seu patrimônio cultural”, disse Jurema, em entrevista à Agência Brasil.
Segundo ela, um bem registrado como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade garante mais respaldo ao governo para apoiar, com recursos públicos, iniciativas de preservação do bem cultural, com o incentivo à transmissão do conhecimento e a formas de organização dos capoeiristas. A roda de capoeira é reconhecida como patrimônio cultural pelo Iphan desde 2008.
No dossiê de candidatura, o Iphan enumerou uma série de ações para difundir a modalidade e propôs medidas de salvaguarda orçadas em mais de R$ 2 milhões, como a produção de catálogos e encontros. O documento destaca que o registro vai favorecer a consciência sobre o legado da cultura africana no Brasil e o papel da capoeira no combate ao racismo e à discriminação. Lembra, além disso, que a prática chegou a ser considerada crime e foi proibida durante um período da história. Hoje, a capoeira é praticada em muitos países.
“O reconhecimento da roda de capoeira pela Unesco é uma conquista muito importante para a cultura brasileira. A capoeira tem raízes africanas que devem ser cada vez mais valorizadas por nós. Agora, é um patrimônio a ser mais conhecido e praticado em todo o mundo”, destacou, em nota, a ministra interina da Cultura, Ana Cristina Wanzeler.
Além da presidenta do Iphan, a diretora do Departamento de Patrimônio Imaterial (DPI-Iphan), Célia Corsino, diplomatas da Delegação do Brasil junto à Unesco e capoeiristas brasileiros também acompanharam a votação, entre eles os mestres Cobra Mansa, Pirta, Peter, Paulão Kikongo, Sabiá e Mestra Janja.
Segundo o Ministério da Cultura, o Iphan deu apoio aos capoeiristas para fazer amplo inventário dos grandes grupos de capoeira e mestres no Brasil e ajudou-os a instalar comitês estaduais distribuídos pelo país. Neles, capoeiristas podem formular reivindicações e compromissos relacionados à salvaguarda e à promoção dessa manifestação cultural.
Com o título, a prática cultural afro-brasileira reúne-se agora ao Samba de Roda do Recôncavo Baiano, à Arte Kusiwa-Pintura Corporal, do Amapá, ao frevo, de Permanbuco, e ao Círio de Nazaré, do Pará, também reconhecidos como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade.

 

Catadores defendem PEC que os tornam segurados especiais da Previdência


Luciano Nascimento - Repórter da Agência Brasil Edição: Fábio Massalli


A Comissão especial da Câmara discute a PEC 309/13, que inclui o catador de material reciclável no Regime Geral de Previdência Social, na condição de segurado especial Wilson Dias/Agência Brasil

Os catadores de material reciclável pediram hoje (26), durante uma audiência pública na Câmara dos Deputados, que os parlamentares aprovem a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 309/2013, que inclui o segmento na mesma regra diferenciada de contribuição para a seguridade social já aplicada atualmente a produtores rurais e pescadores artesanais. A PEC está sendo analisada por uma comissão especial da Casa e, após ser analisada e votada na comissão especial, segue para votação em dois turnos pelo Plenário da Câmara.

Pela proposta, os catadores seriam incluídos no Regime Geral de Previdência Social, na condição de segurado especial. Para garantir o direito à aposentadoria, os catadores contribuiriam com uma alíquota diferenciada (2,3%) sobre o resultado da comercialização de sua produção.

Integrante do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis, Roney Alves, cata materiais recicláveis no Lixão da Estrutural, localizado a 15 quilômetros de Brasília. Ele contou que a atividade de catador envolve muitos riscos, por trabalharem a céu aberto e ficam sujeitos ao sol, à chuva e a muitos acidentes pelas condições insalubres dos lixões.

“Na Estrutural, só este ano, quatro catadores morreram, sem contar os diversos que foram mutilados. Por isso, essa emenda na Constituição tem uma importância fundamental para milhares de brasileiros que não tem condição de pagar a alíquota. As pessoas estão lutando para sobreviver”, disse. “Elas trabalham porque encontraram na catação de material reciclável a oportunidade de dar sustento a suas famílias, com dignidade, com respeito e com honestidade”.

A proposta, que , também dá aos catadores o direito a se aposentar por idade cinco anos antes do previsto em lei (65 anos para os homens e 60 para as mulheres), em face do desgaste da atividade do catador assemelhar-se ao enfrentado pelos trabalhadores rurais, que são beneficiados com essa redução de idade.
Quatro catadores morreram no Lixão da Estrutural este ano Wilson Dias/Agência Brasil

Segundo o integrante da Coordenação do Comitê de Inclusão dos Catadores, Galeno Moura, o desgaste provocado pela atividade faz com que muitos catadores fiquem sem condições de trabalhar, ainda com 40 anos. “Eles já não conseguem trabalhar pelo comprometimento que a imensa carga de trabalho coloca sobre o corpo deles”, argumentou.

Segundo Daniel Seidel, da Comissão Brasileira de Justiça e Paz da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) é preciso que o Estado garanta aos catadores a sua inclusão na proteção social. “A insalubridade a que estão submetidos bate todos os recordes de contaminação que outras categorias podem ter. Eles merecem um reconhecimento, por meio da sua cobertura previdenciária, justamente porque suas condições de trabalho se assemelham às condições de trabalho da escravidão”, defendeu.

Além da aprovação da PEC, a representante da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental, Kátia Montenegro, quer que o poder público também tenha mais empenho nas políticas de tratamento de resíduos, com a inclusão formal desses trabalhadores no processo de coleta seletiva. “Alguém tem dúvida de quem é responsável pela gestão dos resíduos sólidos? É o catador? Não, é o Poder Público que deveria zelar para que os catadores tivessem uma condição digna de trabalho,” disse.

Segundo Kátia, a categoria também é submetida à exploração pelas indústrias que pagam muito pouco pelo material reciclado. Kátia defendeu a contratação de cooperativas, a oferta de bolsas e de qualificação a esses profissionais pelo Poder Público. “O governo não está ajudando os catadores dando lixo para eles. Ele tem que reciclar, é o que diz a Lei de Resíduos Sólidos, o que os catadores estão fazendo é uma obrigação do Poder Público”, criticou.

“Na hora de fazer a coleta e o transporte dos resíduos, o governo contrata empresas para coletar o material e na hora de fazer o mais importante, que é separar o papel, o plástico, o vidro e colocar no mercado, ele não paga o catador”, completou.

sábado, 22 de novembro de 2014

Salve o Almirante Negro!



por:Ricardo Gomyde*
publicado: blog do Esmael

No dia 22 de novembro de 1910 iniciou-se o levante conhecido como “Revolta da Chibata”. Diversos marinheiros brasileiros assumiram o comando das mais importantes embarcações do país: o cruzador Bahia e os encouraçados Minas Gerais, São Paulo e Deodoro e posicionaram-se na Bahia da Guanabara, Rio de Janeiro, apontando seus canhões para a cidade. Pouco tempo antes, em 1888 a escravidão foi abolida, mas ainda persistiam seus reflexos. Na marinha, persistam as punições por açoite de chibatas, o que não era mais aceito pelos marinheiros que cobravam da recente república e do presidente Hermes da Fonseca o seu fim.

No dia anterior a revolta, Marcelino Rodrigues foi castigado com 250 chibatadas por ter-se envolvido em briga e ferido um colega a bordo do “Minas Gerais”. A punição ocorreu na frente dos outros marinheiros o que acendeu o estopim para a revolta. O motim foi agravado com a morte do comandante e mais três oficiais. Chegando a Bahia de Guanabara os marinheiros do “São Paulo” declararam apoio ao levante. Estava iniciada a “Revolta da Chibata”.

O fim dos açoites e melhores condições de trabalho na marinha constavam da carta que foi redigida sobre a liderança do marinheiro João Cândido. Quase todos negros, mulatos e migrantes nordestinos. Entre os dias 22 e 26 de novembro houve pânico na população brasileira, particularmente na cidade do Rio (então capital do Brasil) onde a população fugiu das regiões litorâneas ameaçada pelos canhões. Interessante destacar que parte da população e da imprensa demonstrou simpatia pelas reivindicações dos revoltosos.

O governo de Hermes da Fonseca que meses antes havia assumido após derrotar Rui Barbosa aceitou o que pediam os revoltosos que entregaram armas e embarcações e concedeu anistia a todos. Porém, poucos dias após determinou a exclusão de quase mil marinheiros dos quadros da marinha. A insatisfação retornou e em dezembro eclodiu novo movimento, desta vez na Ilha das Cobras. O governo decretou estado de sítio e massacrou os levantosos. Inúmeras prisões foram feitas.

Mais de 500 marinheiros foram enviados a Amazônia na companhia de mendigos, prostitutas e desocupados para trabalharem na extração da borracha. Boa parte deles morreu na viagem, em virtude de maus tratos ou de fuzilamento. Outro grupo foi trancado em celas solitárias na Ilha das Cobras. A maioria morreu rapidamente, sem água e após respirar cal que os carcereiros jogavam para torturar e asfixiar os prisioneiros. Houve apenas dois sobreviventes: João Lira e João Cândido, líder da “Revolta das Chibatas”.

Preso, excluído da marinha e depois enviado a uma instituição psiquiátrica, saiu de lá quase cego e segundo alguns com problemas mentais. Faleceu em 1969 aos 89 anos.

Hoje esquecido por muitos, vale aqui lembrar deste brasileiro humilde que lutou contra a injustiça em uma revolta que contou com exemplar violência contra rebeldes de classes populares. Aquelas injustiças foram emergindo a figura de um herói popular, o marinheiro João Cândido, o ALMIRANTE NEGRO.

Aldir Blanc e João Bosco imortalizaram esta luta em “Mestre Sala dos Mares”, bela canção, abaixo interpretada por Chico Buarque e Bosco:
*Ricardo Gomyde,especialista em políticas de inclusão social. Foi membro da Comissão Organizadora da Copa do Mundo no Brasil em 2014. 

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Conselheiros protestam contra a suspensão de feriado


Dênis Denilton frisou que a maioria das vítimas da violência são jovens negros e negras. (Foto – Chico Camargo/CMC)

publicado: cmc.pr.gov.br

A Câmara de Vereadores abriu espaço, na sessão desta quarta-feira (19), para que integrantes do Conselho Municipal de Política Étnico-Racial (COMPER) se manifestassem sobre o feriado do Dia da Consciência Negra, criado pela lei municipal 14.224/2013, e que permanece suspenso em Curitiba por força de decisão judicial. O presidente da Câmara Municipal, Paulo Salamuni (PV), que promulgou a lei, e o vereador Mestre Pop (PSC), também membro do COMPER, lamentaram a não realização do feriado já nesse 20 de novembro.

Na opinião de Saul Dorval, presidente licenciado do COMPER, as entidades que ingressaram na justiça contra o feriado (Associação Comercial do Paraná e Sindicato da Indústria da Construção Civil) agiram de forma “arbitrária, ao colocar o capital financeiro acima das questões relacionadas ao ser humano”. Ele lembrou que a escravidão no Brasil durou 350 anos e que, neste período, mais de 120 milhões de africanos foram escravizados. “Nós recorremos à justiça, pois entendemos que é sim competência desta Casa criar o feriado. Seria um dia de reflexão, sobre a pior escravidão que este mundo já viu”, concluiu.

“Curitiba já teve o título de capital social e hoje vemos entidades lutando para retirar direitos dos negros, com alegações vazias de prejuízo econômico. Essa data não repara nada, pois não há algo que possa ser feito para reparar todo aquele sofrimento”, completou Mestre Pop. O parlamentar questionou o fato de outras capitais, como São Paulo, terem o feriado e lembrou que “não se trata de momento festivo, mas de reflexão”.

Já o presidente em exercício do Conselho de Política Étnico-Racial, Dênis Denilton, pediu que amanhã sejam feitas orações pelas mães que, “por negligência do poder público”, perderam seus filhos para a violência, o álcool e as drogas. Ele frisou que a maioria das vítimas “desse sistema” são jovens negros e negras.

Ponto Facultativo
Conforme anunciado ontem, Salamuni confirmou que a Câmara Municipal irá realizar ponto facultativo nessa quinta-feira, como forma de “desagravo à impossibilidade de termos o feriado, haja vista as decisões liminares na esfera judicial”. “Em mais de mil cidades do país se realiza este feriado e em Curitiba não, sendo que aprovamos uma lei de maneira legítima”, protestou.

Salamuni cumprimentou a Assessoria de Comunicação do Legislativo pela produção da reportagem “A Câmara e a escravidão: registros históricos da injustiça”, publicada nesta quarta no site Nossa Memória, e que mostra a participação da instituição no sistema escravocrata, tendo a incumbência, à época, de nomear capitães-do-mato para a caça de escravos fugidos, entre outras.

“Isso mostra o porquê de termos o feriado aqui em Curitiba. É o resgate de uma dívida histórica, considerando que esta mesma Casa outrora aprovou regulamentos em detrimento dos negros”, finalizou o vereador. 


Integrantes do Conselho Municipal de Política Étnico-Racial (Comper) se manifestaram sobre a suspensão do feriado do Dia da Consciência Negra. (Foto – Chico Camargo/CMC)
Na opinião de Saul Dorval, as entidades que ingressaram na justiça contra o feriado agiram de forma “arbitrária, ao colocar o capital financeiro acima das questões relacionadas ao ser humano”. (Foto – Chico Camargo/CMC)
Mestre Pop questionou o fato de outras capitais, como São Paulo, terem o feriado e lembrou que “não se trata de momento festivo, mas de reflexão”. (Foto – Chico Camargo/CMC)
“Em mais de mil cidades do país se realiza este feriado e em Curitiba não, sendo que aprovamos uma lei de maneira legítima”, protestou Paulo Salamuni. (Foto – Chico Camargo/CMC)

Dia da Consciência Negra será respeitado na Câmara Municipal de Curitiba

publicado: cmc.pr.gov.br
A Câmara Municipal de Curitiba decretou ponto facultativo na quinta-feira (20), quando seria celebrado na cidade o “Dia da Consciência Negra”. No ano passado, os vereadores aprovaram a lei 14.224/2013, que transformava a data em feriado municipal, numa homenagem a Zumbi dos Palmares, que faleceu em 20 de novembro de 1695, após liderar um dos quilombos mais importantes da história do Brasil. Contudo, o Tribunal de Justiça (TJ-PR), liminarmente, suspendeu o feriado. 

O TJ-PR acatou solicitação da Associação Comercial do Paraná e do Sindicato da Indústria da Construção Civil, para quem a medida seria inconstitucional. Em novembro de 2013, a Câmara entrou com uma reclamação junto ao Supremo Tribunal Federal (STF), questionando a competência do Tribunal de Justiça para decidir sobre a suspensão da lei. O Legislativo municipal pediu a derrubada da decisão do TJ-PR, requerendo o vigor da norma, mas o pedido de suspensão da liminar foi negado pelo ministro Gilmar Mendes. O processo continua em tramitação no Supremo. 

“Sexta-feira teremos expediente normal na Câmara Municipal e realizaremos a primeira etapa da eleição para a Ouvidoria de Curitiba. Não queremos feriado por feriado, e sim preservar o sentido do dia, de respeito à população negra. Esta Casa votou uma lei e ela deve ser respeitada”, afirmou Paulo Salamuni (PV), presidente da Câmara Municipal. “Sob a lei não pesa irregularidade”, defendeu.
“Não queremos feriado por feriado, e sim preservar o sentido do dia, de respeito à população negra”, afirmou Paulo Salamuni (PV), presidente da Câmara Municipal. (Foto – Andressa Katriny/CMC)

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Em capitais, muros amanhecem pichados “contra o genocídio da juventude negra”

publicado: revista fórum

O Levante Popular da Juventude coordenou a ação que ocorreu nesta madrugada em São Paulo, Bahia e Ceará. Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Norte também serão alvos do mesmo tipo de protesto ainda nesta segunda-feira (17). Movimento pede, também, o fim dos autos de resistência, e que a presidenta se posicione sobre a chacina em Belém, no Pará

Contra o “genocídio do povo negro”, membros do Levante Popular da Juventude picharam muros em São Paulo, Fortaleza e Salvador, na madrugada desta segunda-feira (17). Ainda hoje, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Norte serão alvos da mesma iniciativa.

A ação coordenada começou em São Paulo, onde o movimento cobrou uma resposta da presidenta sobre a chacina em Belém do Pará, realizada no último dia 5 de novembro, que terminou com nove mortes oficializadas. Porém, a população local alega que o número é maior.

“Chacina em Belém, Dilma posicione-se. Contra a morte da juventude negra”, dizia a mensagem cravada no muro principal do Cemitério da Consolação.

Na Bahia, a ação ocorreu na avenida João Angélica, no centro de Salvador, tradicional ponto de encontro do movimento negro do estado. O muro da Universidade Federal do Ceará também amanheceu com a mensagem deixada pelo Levante, a mesma grafada pelos baianos: “Levante contra o genocídio da juventude negra”.


Universidade Federal do Ceará foi o alvo escolhido pelo Levante, no Ceará

Em nota, o Levante Popular da Juventude explicou a ação: “Deixamos nossas marcas nas ruas neste 17 de novembro de 2014 em memória à vida de cada um dos jovens, em sua maioria negros, executados pelas polícias brasileiras”.

Números divulgados no 8º Anuário Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) foram utilizados para justificar o discurso de genocídio da população negra. “Ser negro no Brasil é ter 3,7 mais chances de morrer de forma violenta. Os números da violência só crescem em nosso país. De 2009 a 2013, subiu de 44.518 para 53.646 o número de homicídios. Entre todas essas vítimas, 36.479 eram jovens negros, ou seja, 68% do total de mortos”, explica o Levante.

O movimento também lembrou a tragédia em Belém e, dessa vez em nota, cobrou a presidenta. “O genocídio do povo negro é uma realidade tão naturalizada em nosso país que, até a data de hoje, a presidenta Dilma Rousseff não prestou nenhum esclarecimento público sobre o ocorrido e não demonstrou nenhuma intencionalidade em pressionar o estado do Pará ou mobilizar para que os órgãos federais investiguem os crimes”, declarou.

Na nota, o Levante faz quatro exigências: “A imediata aprovação do PL 4471, que determina o fim dos Autos de Resistência no Brasil; posicionamento da presidenta Dilma Rousseff sobre as mortes ocorridas no Pará; a imediata investigação da chacina ocorrida no Pará no dia 5 de novembro; e o combate concreto e permanente ao genocídio do povo negro”.