segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Inclusão muda perfil de ingressantes na Medicina da USP

Da Agência Estado
Os três melhores colégios particulares do Estado de São Paulo - Vértice, Bandeirantes e Móbile - não tiveram um só aluno entre os aprovados para o curso de medicina da USP (Universidade de São Paulo) neste ano. Já o número de estudantes de escolas públicas convocados para o curso foi recorde das últimas décadas - na USP Pinheiros chegou a 37,7% do total de aprovados.
A medicina tem os candidatos com as notas mais altas e é um dos cursos mais disputados da Fuvest. Para os diretores dos colégios, o programa de inclusão da USP, o Inclusp, seria uma das razões para o resultado deste ano.
Por meio dele, jovens da rede pública recebem até 12% de pontos a mais no vestibular. As três escolas aparecem desde 2006 no topo do ranking do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), único medidor oficial do desempenho de estudantes de escolas privadas do País. Seus alunos chegam a acertar mais de 80% da prova. O quarto no ranking é o Colégio Santa Cruz, que aprovou um aluno na Medicina. Os números foram passados pelos próprios colégios para o Estado. A USP tem pesquisas semelhantes, mas não divulga.
Os dados consideram apenas alunos que terminaram o ensino médio em 2008 e não os que fizeram cursinhos depois de formados nessas escolas. O curso de Medicina na capital, um dos melhores do País, tem 175 vagas. Neste ano, 66 delas (ou 37,7%) foram ocupadas por alunos de escolas públicas. Em 2008, eram 9,7%.
Na primeira fase da Fuvest, a média dos convocados em Medicina foi de 80 acertos (em 90 questões). A USP não mais divulga a nota final dos que foram aprovados, posição que é criticada por alguns donos de colégios. Cada vestibulando recebe apenas seu desempenho em casa. A média geral de aumento da proporção de alunos da rede pública na USP foi de 15% neste ano. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Jovem em unidade prisional vence concurso de redação



Um detento surpreendeu o sistema educacional carioca. O interno do Presídio Evaristo de Moraes Leandro Santos Pontes, 27 anos, matriculado na escola prisional Anacleto de Medeiros, venceu o Concurso de Redação Camélia da Liberdade, que contou com a participação de mais de 2 mil alunos das redes pública e privada. A premiação aconteceu nesta terça-feira, no pátio da escola, em São Cristóvão.
O Superintendente Regional da Polícia Federal, Ângelo Gioia, uma das autoridades presentes, confessou na cerimônia: "é a primeira vez que conheço uma unidade prisional onde homens são levados ao conhecimento e a uma nova perspectiva de vida.
O concurso, patrocinado pela Petrobras e organizado pelo Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (Ceap), tinha o tema 100 anos de Sola Trindade, o poeta do povo, evocando um artista do começo do século 20 ligado ao movimento negro. O objetivo era levar os alunos a uma reflexão sobre a questão racial na sociedade brasileira. As redações foram selecionadas pela comissão da Fundação Cesgranrio.
Exemplo para os detentos
Para vencer estudantes de instituições como o Pedro II e o Cefet (Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca), Leandro conta seu segredo: leu cerca de 1,6 mil livros nos últimos 4 anos e 9 meses, período que passou até agora na prisão.
"Eu envio cartas às editoras pedindo doação", afirmou o campeão, frisando que seu livro preferido, fora a Bíblia, é A Cabana (Editora Sextante).
Sua meta após cumprir a pena por assalto - já entrou em semiaberto - é cursar filosofia. "Dentro deste lugar, eu aprendi muito. O colégio tem me ajudado a planejar o futuro e a provar que existe possibilidade de mudança", disse Leandro em seu discurso.
Pelo 1º lugar, ele recebeu um computador e uma impressora, que ficarão, por ora, com sua família. Além disso, a Escola Anacleto Medeiros será premiada com dez computadores, que não poderão ser conectados à Internet por tratar-se de uma prisão. Além disso, a professora de Leandro, Jane Santos, recebeu uma filmadora.
Os dois foram muito aplaudidos pelos detentos presentes na cerimônia, escolhidos pelos professores entre os quase 500 alunos da escola. O presídio inteiro, no entanto, abriga 1,5 mil internos.
Escola é exemplo raro
São 4 mil os alunos no sistema carcerário do Estado do Rio e a escola do Presídio Evaristo de Moraes não é um exemplo representativo da situação do resto do sistema educacional em prisões. Lá, são realizados festivais de música e cinema e existe até mesmo um jornal feito pelos alunos.
"Esta escola é um exemplo para as outras unidades penitenciárias. Agora começamos a ver resultados do trabalho feito aqui", discursou Mario Miranda, membro do conselho penitenciário e professor do instituto.
A freqüência às aulas contribui para a redução da pena dos presos. Cada período de 18 horas em sala de aula representa um dia a menos de reclusão. Em entrevista à revista Ciência Hoje em 2007, o pesquisador Emerson Queluz, da Universidade Federal do Paraná, explicou que o envolvimento dos presos com o ensino costuma ser até maior do que o que normalmente se percebe em alunos de escolas convencionais.
"Esse comportamento pode ser explicado pelo fato de a instituição em que o preso está lhe infligir uma pesada carga disciplinar e também porque o próprio detento costuma ter consciência da importância da escola para sua reinserção na sociedade.
Trechos da redação vencedora
"A história de Francisco Solano Trindade nos leva a uma imagem e aparência verdadeira de um herói que, através das palavras e dos seus poemas e sonhos, nos ensina que, antes de chegarmos à liberdade, precisamos estar e parecer livres."
"Solano Trindade, sendo um homem pós-escravatura, ouviu o grito de sua cor e de sua raça tão humilhada e maltratada até pelas leis abolicionistas. Leis que nunca visaram ao crescimento do povo."
"Com o crescimento e o desenvolvimento das grandes metrópoles, a cultura afro foi sendo afastada das grandes cidades pelos fatores visuais da sociedade. Se Francisco Solano não tivesse morrido em 19 de fevereiro de 1974, ainda estaria recitando o seu poema em tom de protesto e com ar de tristeza: Tem gente com fome."
"Solano, que se empenha em combater o sistema de inferioridade do negro e molda o comportamento como forma de derrubar as barreiras criadas por eles, afirma que a grandeza da fé e da civilização estaria na liberdade."
"(...) Lei do Ventre Livre, Lei dos Sexagenários e a Lei Áurea. Nenhuma dessas Leis determinava que os ex-escravos se tornariam cidadãos brasileiros."
"Acreditou que ser negro não é ser escória ou marginalizado. Ser negro é adquirir cultura, poesia e paixão pela sua cor."

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Imprensa racista



Capa Tribuna do Paraná, 02 de Outubro de 2009.
" SETEMBRO NEGRO:É o que mostra o mapa da violência de Curitba e região metropolitana, nas páginas 16 e 17. Maioria não tem mais de 25 anos. Mês passado foi o pior que agosto até quando o assunto é mulher. Participação delas aumentou 63% nos casos. São mais de cinco crimes por dia e uma vida perdida a cada quatro horas e meia".
A capa ainda trás a foto de uma negra morta com 13 facadas com o seguinte título: "Mata amásia com 13 facadas e é preso por vizinhos".
Logo acima, ainda na capa, uma foto de um jogador de futebol do negro e a seguinte chamada: "Cavalo escaldado vai de ferrolho".
No centro do Jornal a materia: Perigosos na cadeia (na foto detalhe:nenhum negro).
Depois disto só Grabiel Pensador pra expressar a indgnação:
"Não adianta olhar pro céu, com muita fé e pouca luta
Levanta aí que você tem muito protesto pra fazer e muita greve, você pode, você deve, pode crer
Não adianta olhar pro chão, virar a cara pra não ver
Se liga aí que te botaram numa cruz e só porque Jesus sofreu não quer dizer que você tenha que sofrer
Até quando você vai ficar usando rédea?
Rindo da própria tragédia?
Até quando você vai ficar usando rédea? (Pobre, rico, ou classe média).
Até quando você vai levar cascudo mudo?
Muda, muda essa postura
Até quando você vai ficando mudo?
Muda que o medo é um modo de fazer censura.
Até quando você vai levando?
(Porrada! Porrada!)
Até quando vai ficar sem fazer nada?
Até quando você vai levando?
(Porrada! Porrada!)
Até quando vai ser saco de pancada?
Você tenta ser feliz, não vê que é deprimente, seu filho sem escola, seu velho tá sem dente
Cê tenta ser contente e não vê que é revoltante, você tá sem emprego e a sua filha tá gestante
Você se faz de surdo, não vê que é absurdo, você que é inocente foi preso em flagrante!
É tudo flagrante! É tudo flagrante!
Refrão
A polícia matou o estudante, falou que era bandido, chamou de traficante.
A justiça prendeu o pé-rapado, soltou o deputado... e absolveu os PMs de vigário!
Refrão
A polícia só existe pra manter você na lei, lei do silêncio, lei do mais fraco: ou aceita ser um saco de pancada ou vai pro saco.
A programação existe pra manter você na frente, na frente da TV, que é pra te entreter, que é pra você não ver que o programado é você.
Acordo, não tenho trabalho, procuro trabalho, quero trabalhar.
O cara me pede o diploma, não tenho diploma, não pude estudar.
E querem que eu seja educado, que eu ande arrumado, que eu saiba falar
Aquilo que o mundo me pede não é o que o mundo me dá.
Consigo um emprego, começa o emprego, me mato de tanto ralar.
Acordo bem cedo, não tenho sossego nem tempo pra raciocinar.
Não peço arrego, mas onde que eu chego se eu fico no mesmo lugar?
Brinquedo que o filho me pede, não tenho dinheiro pra dar.
Escola, esmola!
Favela, cadeia!
Sem terra, enterra!
Sem renda, se renda!
Não! Não!!
Refrão
Muda, que quando a gente muda o mundo muda com a gente.
A gente muda o mundo na mudança da mente.
E quando a mente muda a gente anda pra frente.
E quando a gente manda ninguém manda na gente.
Na mudança de atitude não há mal que não se mude nem doença sem cura.
Na mudança de postura a gente fica mais seguro, na mudança do presente a gente molda o futuro!
Até quando você vai ficar levando porrada, até quando vai ficar sem fazer nada?
Até quando você vai ficar de saco de pancada?
Até quando você vai levando?"